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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"(...) creio que o hábito precoce da solidão é um bem infinito. Ela ensina, até certo ponto, a dispensar as criaturas. Ela ensina também a amar ainda mais as criaturas (...) sou tocada por ela quando observo as crianças: vivem em um mundo que é delas. E tenho a impressão de que eu vivia em um mundo meu (...)"

"(...) Ele gostava que se soubesse exatamente o que se sabia, gostava que se julgasse lentamente um livro: se líamos juntos não sei o quê, uma peça de Ibsen, por exemplo, ele queria que nos colocássemos exatamente no lugar dos personagens, que não envolvêssemos nosos próprios sentimentos"

"Esses grandes escritores do século XIX eram frequentemente refratários, subversivos, em oposição a toda a sua época e todo o seu grupo, contra toda a mediocridade humana. Ibsen, Nietzsche e Tolstoi eram desses, e foi com meu pai, não obstante, que li os três"

"Eu não imaginava nada, mas tinha a impressão de ser alguém importante porque eu existia (...) fiquei muito tocada com o fato de que cada ação, mesmo a menor, abre ou fecha uma porta"

"(...) mostrando às pessoas de nosso tempo que o que elas creem ser único pertence ao ritmo da condição humana, e que as soluções propostas, ou que não são propostas, podem ser superpostas por outras soluções, que foram tentadas em outro lugares"

"Esse momento presente, de tal forma curto, é também muito vasto e rico em coordenadas que nos escapam, e só através de um retrocesso nos é possível perceber algumas delas"

"(...) nós dirigimos a realidade, a canalizamos através de palavras, cujo uso nos parece indispensável, pois elas são aplicadas à nossa volta. Mas até que ponto correspondem à realidade, ou a dissimulam, ou a escondem ?´(...)"

"(...) subsistiria o problema do nascimento do músico e do poeta, do ser que se serve de tudo que ele é, de suas próprias bases sensuais, e que recusa, pelo menos momentaneamente, o que ele não é, para alçar à condição de artista (...)"

"(...) o pintor que tem dons, que inclusive já fez alguma coisa de bastante bom, mas que adota uma técnica de ateliê, que se põe a pintar segundo as regras e que cai no mais tedioso academicismo"

"Até um certo ponto, todo escritor joga com o desejo ao mesmo tempo de ser lido e de não ser lido. Isso é válido para muitos poetas. Sem isso. eles não colocariam em suas obras tantas armadilhas para desencorajar a leitura"

*Marguerite Yourcenar in "De olhos abertos - Entrevistas com Matthieu Galey". Ed. Nova Fronteira. RJ. 1980. 

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