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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Poder-se-ia dizer que um texto, depois de separado de seu autor (assim como da intenção do autor) e das circunstâncias concretas de sua criação, flutua no vácuo de um leque potencialmente infinito de interpretações possíveis"

"Um texto é um universo aberto em que o intérprete pode descobrir infinitas interconexões"

"O pensamento hermético afirma que nossa língua, quanto mais é ambígua e polivalente, e quanto mais usa símbolos e metáforas, tanto mais é particularmente adequada para nomear a Unidade onde ocorre a coincidência dos opostos" 

"(...) é possível muitas coisas serem verdadeiras ao mesmo tempo, mesmo que se contradigam"

"No mito de Hermes, encontramos a negação do princípio de identidade, de não-contradição, e do terceiro excluído, e as cadeias causais enrolam-se sobre si mesmas em espirais: o 'depois' precede o 'antes', o deus não conhece limites espaciais e pode, em diferentes formas, estar em diferentes lugares ao mesmo tempo"

"O novo irracionalismo hermético oscila, por um lado, entre místicos e alquimistas e, por outro, entre poetas e filósofos, de Goethe a Gérard de Nerval e Yeats, de Schelling a Franz von Baader, de Heidegger a Jung. E em muitos conceitos pós-modernos de crítica não é difícil reconhecer a ideia do contínuo deslocamento do significado"

"Para salvar o texto - isto é, para transformá-lo de um ilusão de significado na percepção de que o significado é infinito - o leitor deve suspeitar de que cada linha esconde um outro significado secreto; as palavras, em vez de dizer, ocultam o não-dito; a glória do leitor é descobrir que os textos podem dizer tudo, exceto o que seu autor queria que dissessem; assim que se alega a descoberta de um suposto significado, temos certeza de que não é o verdadeiro; o verdadeiro é um outro e assim por diante; os hylics - os perdedores - são aqueles que terminam o processo dizendo: 'compreendi'" 

"O leitor real é aquele que compreende que o segredo de um texto é seu vazio"

*Umberto Eco in "Interpretação e superinterpretação". Ed. Martins Fontes. SP. 1993.

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