"Nossa língua reencontra no fundo das coisas a fala que as fez"
"(...) Seja mítico ou inteligível, há um lugar em que tudo o que é ou que será prepara-se ao mesmo tempo para ser dito"
"Na terra, já se fala há muito tempo, e a maior parte do que se diz passa despercebido"
"Mas o livro não me interessaria tanto se me falasse apenas do que conheço. De tudo que eu trazia ele serviu-se para atrair-me para mais além. Graças aos signos sobre os quais o autor e eu concordamos, porque falamos a mesma língua, ele me fez justamente acreditar que estávamos no terreno já comum das significações adquiridas e disponíveis. Ele se instalou no meu mundo. Depois, imperceptivelmente, desviou os signos de seu sentido ordinário, e estes me arrastam como um turbilhão para um outro sentido que vou encontrar"
"Entro na moral de Stendhal pelas palavras de todo o mundo, das quais ele se serve, mas essas palavras sofreram em suas mãos uma torção secreta. À medida que as interseções se multiplicam e que mais flechas apontam para esse lugar de pensamento onde jamais estive antes, onde talvez, sem Stendhal, jamais teria ido, à medida que as ocasiões nas quais Stendhal as emprega indicam sempre mais imperiosamente o sentido novo que ele lhes dá, aproximo-me cada vez mais dele até finalmente ler suas palavras na intenção mesma com que as escreveu"
"(...) Uma vez adquirida essa linguagem, posso perfeitamente ter a ilusão de tê-la compreendido por mim mesmo: é que ela me transformou e tornou-me capaz de compreendê-la"
"(...) nos lança à intenção significante de outrem para além de nossos pensamentos próprios (...)"
"(...) a percepção nos lança às coisas mesmas para além de uma perspectiva da qual só me dou conta depois (...) esse poder de ultrapassar-me pela leitura (...)"
*Maurice Merleau-Ponty in "A prosa do mundo". Ed. Cosac & Naify. SP. 2002.
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