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Mostrando postagens de 2019

Invisíveis*

               O que há com aqueles companheiros que esperam calmos e silenciosos ali na plataforma, tão calmos e silenciosos que colidem com a multidão em sua própria imobilidade”                                                                        Ralph Ellison                                                                  (Homem invisível) Não engane os vivos, a prova de amor mais bela, a oculta vem para depois do medo, o invisível luta o que pinta, quem escreve morrerá nunca. A música que toca, o texto na tela não é como marca imposta no corpo. Somos milhões pelo mundo, nunca morremos, desaparecemos, cherie. Aos poucos, nos unimos no fundo, profundezas da dor, então, estamos vivos novamente. Continuamos dançando, pintando, o canto nunca silenciará. Somos criaturas invisíveis, somos vozes e corpos que renascem da dor. Somos a mistura da arte com a vida que é ofuscada, da voz que é aterrorizada, vozes surgem de todos os lados do mundo, a invisibilidade é a p

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"Tinha prazeres diferentes: amava ser contra as ideias dos seus vizinhos de mesa e gostava de estudar almas. Correra todo Paris, dos mais aristocráticos salões aos mais sórdidos cabarés, numa volúpia de escalpelar as almas, pôr-lhes à mostra sentimentos, estudá-las..." "(...) Quero lhe dizer que os seus olhos prometem coisas absurdas, mas eu conheço todas as coisas absurdas e duvido muito que você me dê qualquer coisa nova" "(...) Se vocês fossem iguais a todos os outros, achariam a felicidade em qualquer parte. Na religião, no amor, no trabalho, em qualquer coisa. Mas, como vocês são superiores, não a encontrarão nunca. A felicidade pertence somente aos burros e aos cretinos. Felizmente, nós somos infelizes (...)" "(...) Aqueles homens sofrem a única tragédia verdadeira... A da fome... Nada. A nossa é muito maior - atalhou José Lopes. A nossa fome é a fome do espírito" "(...) Mas amar uma mulher medíocre, igual às mulhere

O atual presidente da república chamou o Paulo Freire de "energúmeno"*

Para uma corrente da nossa política, a culpa da tragédia que é a educação brasileira é de um "marxismo" que teria sido introduzido nas reformas do MEC justamente pelo Paulo Freire. Essa idéia foi expressada nesses termos inclusive pelo economista que ocupa o ministério da Educação. Mas a educação brasileira segue um projeto marxista? * * * Em primeiro lugar, é questionável que o "método Paulo Freire" de alfabetização (que, essencialmente, propõe aproximar o aprendizado das letras às circunstâncias do aluno) seja particularmente marxista - pois esse método serve perfeitamente também para a "educação para o trabalho", que de marxista não tem nada, e é oposto a outras concepções pedagógicas explicitamente marxistas, como a pedagogia histórico-crítica. Em segundo lugar, a denúncia paulofreiriana presente na "Pedagogia do Oprimido" (1968) contra a "educação bancária", que conduz o aluno ao hábito de desejar a opressão, é, a

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"É instrutivo observar que, além da 'língua oficial', a do pensamento conforme, existe uma multiplicação de idiomas, discursos tipicamente tribais, enraizados nas práticas cotidianas, de qualquer ordem que sejam: musicais, esportivas, sexuais, culturais e até políticas ou mesmo intelectuais (...)" "Claro, não é nenhuma novidade, mas, como em outros períodos de mutação, continuamos a analisar ou julgar os fatos sociais com critérios de outras épocas" "O imaginário societal tem uma autonomia específica. É móvel, fugidio, polimorfo, mas não menos eficaz. E somente um politeísmo epistemológico pode levar a entender o advento das figuras em torno das quais se estrutura a ligação social" "(...) a conexão social é feita mais de afinidades eletivas que de contratos racionais. Ter ou não o 'feeling' será o critério essencial para julgar a qualidade de uma relação. E é nesse aspecto no mínimo evanescente que repousará sua durabi

A Clínica do Filósofo***

"Qual é esse projeto secreto, inacessível e inexistente cuja pressão constante se exerce, de fato, sobre os homens, e particularmente sobre os homens problemáticos, os criadores, os intelectuais, que estão, a cada instante, como que disponíveis e perigosamente novos ?"                                                                          Maurice Balchot Venho pensando sobre o lugar onde a clínica acontece. Não o endereço físico dos atendimentos, seja ele na beira da praia, em um café, no consultório. Essas ideias buscam dar visibilidade ao território onde a interseção se realiza. Uma transcendência no esboço dos propósitos, os contornos, as derivações, os significados. Essa inquietude sobre as dialéticas do instante terapêutico quer pensar sobre a natureza desse encontro. A própria eficácia das sessões é refém desse vazio à espera de preenchimento. Nesse vislumbre de foco caleidoscópico, o filósofo clínico exercita sua arte cuidadora. Seu perambular aprendiz d

Fragmentos Filosóficos, Poéticos, e algo mais*

"Quando se deixa dizer pela palavra poética, a Terra reserva-se sempre fora e toda proximidade (...)" "Lembra Merleau-Ponty: 'No escritor o pensamento não dirige a linguagem do lado de fora: o escritor é ele próprio como um novo idioma que se constrói' (...)" "Falar mete-me medo, porque, nunca dizendo o suficiente, sempre digo também demasiado" "(...) Esta superpotência como vida do significante produz-se na inquietação e na errância da linguagem sempre mais rica que o saber, tendo sempre movimento para is mais longe do que a certeza pacífica e sedentária (...)" "O ser que se anuncia no ilegível está para além destas categoriais, apar além do seu próprio nome ao escrever-se" "Husserl sempre acentuou a sua aversão pelo debate, pelo dilema, pela aporia, isto é, pela reflexão sobre o modo alternativo em que o filósofo, no termo de uma deliberação, pretende concluir, isto é, fechar a questão, parar a ex

O fim das certezas*

Heráclito com o devir, Platão com sua dialética, Aristóteles com potência e ato, Kant com os limites da razão, Kierkegaard com a angústia, Husserl com as críticas às certezas das ciências contemporâneas, e tantos outros pensadores, dos quais esses são apenas de caráter ilustrativo, mostram o limite e as incertezas diante da busca de dar um caráter absoluto ao saber humano.   Filosofia é busca pelo saber. O que há de mais comum no universo filosófico é o reconhecimento de que não se está dando a certeza absoluta para suas buscas. Não há frustração por isso. Aqui a humanidade mostra uma de suas realidades mais originais, o reconhecimento da limitação. Albert Camus postula que diante do mundo, o homem vive o sentimento de absurdo quando reconhece que sua razão não pode abarcá-lo. Heidegger apresenta a angústia diante da limitação humana com a morte, como passo necessário para existir autenticamente. Sartre apresenta a falta de determinação ou destino e a angústia diante da lib

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam (...)" "(...) A cada trinta anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado" "A peruca é o símbolo mais apropriado para o erudito puro. Trata-se de homens que adornam a cabeça com uma rica massa de cabelo alheio porque carecem de cabelos próprios" "(...) só se dedicará a um assunto com toda a seriedade alguém que esteja envolvido de modo imediato e que se ocupe dele com amor,. É sempre de tais pessoas, e não dos assalariados que vêm as grandes descobertas"  "Quand

Em qualquer lugar*

Sem ódio Sem tempero Eu posso estar em qualquer lugar Habitar vários mundos Sentir sem estar... Eu posso ir, Mas não gosto de voltar Eu vou sem passagem Só com as roupas do corpo Meus problemas ficam na rodoviária... Mente perdida Cansada Eu posso estar em qualquer lugar Habitar mentes carentes Soltas no mar Eu posso sentir seu perfume No seu lugar Brincar de esconder sem aparecer Jogar o jogo Eu posso mentir sem a verdade Ler o livro proibido No fluxo incorreto Eu posso mas não quero Por estar em qualquer lugar Eu posso me atrasar Esquecer do seu beijo Antes do jantar Com rima ou sem Eu posso estar Onde você não está Eu posso rir Sem chorar... Ah eu posso tudo Em qualquer hora Sem chave entrar No coração sem vida Gritar antes da morte... Sem sorte eu posso jogar E ainda acertar você Buscar suas malas Ainda sujas com o passado... Metáforas da existência Meramente um vício meu Sem sentido Procurando endereços Fixos ou não Na tard

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"Graças ao caráter unitário da estrutura, cada estilema apresenta características que o reassociam aos outros estilemas e à estrutura original, de tal modo que de um estilema se pode inferir a estrutura da obra completa, ou, da obra mutilada, se pode reintegrar a parte destruída" "(...) O caráter de unidade dessa estrutura, o que constitui sua qualidade estética, é o fato de ela aparecer, a cada um de seus níveis, organizada segundo um processo sempre reconhecível (...)" "Cada um de nós pode ser um e outro, em diferentes momentos de um mesmo dia, nu caso, buscando uma excitação de tipo altamente especializada, no outro, uma forma de entretenimento capaz de veicular uma categoria de valores específica" "(...) com o variar do período histórico, ou do público, também a fisionomia da obra de arte poderá mudar, adquirindo o objetivo, um novo sentido" "Por mais que o estudioso de estética se esforce por considerar a possibilid

Paradoxo das Sincronias - Nunca se está sincronizado totalmente com o mundo*

     “Mas sem a integração da crueldade pela vida, também não haveria vida.”                                          Edgar Morin  Recolher a dor, deixar o tempo tomar conta do instante vivido, deixar de ir ao encontro do que anos atrás se fazia presente, quando a memória podia ser a guardiã. Nesta viagem de agora não estar nem no início e já temer o fim abrupto do mal que surge no horizonte: estrondos e explosões.  O tempo que não foge do corpo, está colado nas paredes da alma, invisível é parte de todo o universo. Um breve esquecimento, o tempo que te salva é o mesmo que passa sem retorno programado. É como ter o controle da memória sem mesmo saber o caminho certo por onde ela anda esse tempo todo. Reprogramar a vida, autoanálise, pensar que os encontros sempre foram parte importante da formação da pequena história de cada corpo. Aqui estou. Reflito sobre a capacidade de encarar a vida sem perder os fios que ligam a memória ao tempo. Se o passado é feito de portas qu

Fragmentos Filosóficos, Clínicos, Devaneios, e algo mais*

"Podemos ver nossa linguagem como uma velha cidade: uma rede de ruelas e praças, casas velhas e novas, e casas com remendos de épocas diferentes; e isto tudo circundado por uma grande quantidade de novos bairros, com ruas retas e regulares e com casas uniformes"  "A gramática não diz como a linguagem tem que ser construída para cumprir com sua finalidade, para agir desta ou daquela maneira sobre as pessoas. Ela apenas descreve o emprego dos signos, mas de maneira alguma os elucida" "Os nominalistas cometem o erro de interpretar todas as palavras como nomes, portanto, de não descrever realmente o seu emprego" "Não se pode adivinhar como uma palavra funciona. É preciso que se veja a sua aplicação e assim se aprenda" "(...) Não existe um método em filosofia, o que existe são métodos, por assim dizer, diferentes terapias" "Acredita-se estar indo sempre de novo atrás da natureza, e vai-se apenas ao longo da form

Anotações e Reflexões de Um Filósofo Clínico*

Agora existem escolas "modernas" cheias de computadores, tablets, quadros didáticos que são um grande monitor de computador. Livros didáticos digitais. Portais na internet com exercícios e avaliações. Em suma: telas por todos os lados, em nome de uma educação divertida. Então eu me lembro de que os executivos do Vale do Silício não permitem que os seus filhos utilizem celulares e gadgets afins e valorizam as escolas que não seguem a moda da "inovação tecnológica": bit.ly/35KU6ZQ Vejam, amigos: aqueles que melhor conhecem os efeitos da internet e das telinhas, que são justamente os executivos das empresas de informática, não permitem que os seus filhos pequenos se envolvam com celulares, tablets, redes sociais. Eles sabem muito bem que o futuro de uma criança "conectada" é um adulto emocionalmente inepto. Eles querem a conexão digital para todos nós - mas, evidentemente, não para os seus próprios filhos. * * * Essa é uma das razões pe

Fragmentos Filosóficos, Literários, Devaneios, e algo mais*

"(...) O homem parece ter desertado o próprio corpo, flácido invólucro de carne, lançando o espírito num lugar onde ninguém pode encontrá-lo (...)" "(...) Ele assobia, ela sorri, ele grita espere, no instante em que a cantora faz uma pausa. Ela se distancia, mas seu espírito fica para trás" "(...) Ele lembra alguém, mas alguém que ela nunca teria conhecido" "(...) Achou a estação de metrô, mas não entrou. Continuo a andar sem conhecer o caminho, seguindo apenas a intuição. Esticou o quanto pôde o percurso para não chegar tão rápido em casa" "Se possuísse uma máscara, teria escolhido aquele momento para colocá-la (...) A máscara seria de polietileno (...) com a efígie de um indivíduo X. Este teria a mesma profissão que ela, realizaria o mesmo serviço, mas, cada noite após o expediente, conseguiria viver uma vida diferente da sua" "Um ato despercebido, perdido entre milhares de outros, não detectado por um a

De onde vem ?*

O título deste texto já nos remete para uma pergunta comumente feita ao longo do curso de formação em Filosofia Clínica (FC) e que, pela sua relevância, pretendo desenvolver brevemente.  No referido curso, quando alguém é muito enfático para afirmar “sua verdade” sobre alguma coisa, o professor olha para os demais alunos e pergunta: “De onde vem essa fala?”. Ela se refere à fonte de nossas afirmações. E essas fontes podem ser didaticamente compreendidas em dois sentidos: o da (1) historicidade formadora do que somos e o do tópico de nossa (2) Estrutura de Pensamento (EP), que por sua vez expressa como somos. Quando afirmamos algo, seja pela fala ou pelas crenças que nos levam a agir de determinado modo, muitas vezes são convicções originadas das experiências adquiridas ao longo de nossa vida. A lembrança que nos foi legada por nossos pais, parentes e pessoas próximas, que diziam como era nossa família antes de nascermos, as primeiras lembranças da infância, as experiências d

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"(...) Depois do trabalho, Kafka saía para caminhar pelas ruas da velha Praga (...) Era só mais um solitário entre tantos. Em meio à multidão, gozava o prazer do anonimato e da indiferença, que lhe davam a sensação, valiosa, de desaparecer. Quem levaria a sério aquele homem reservado e esquisito, que parecia sempre em fuga ? Ainda hoje, um século depois, Kafka continua a se esquivar de seus perseguidores"  "(...) Caeiro tem a consciência de que a existência é móvel, é fluida, é infiel. Daí sua aposta no valor da ignorância: é muito perigoso dar um nome ao que está sempre mudando" "A literatura não tem chaves (se oferece chaves, não é literatura), nem traz soluções (se oferece soluções, é antiliteratura). Apresenta, apenas, hipóteses provisórias, fantasias que nos ajudam a experimentar o mundo, a suportá-lo, e a dele tirar algum sentido e alguns momentos de prazer" "Em um mundo obstruído por dogmas e slogans, a função da literatura não

A cidade das palavras esquecidas*

"É possível que desde Sófocles todos nós sejamos selvagens tatuados. Mas na arte existe alguma outra coisa além da retidão das linhas e do polido das superfícies. A plástica do estilo não é tão ampla como toda a ideia (...) Temos coisas demais para as formas que possuímos"                                                                                  Flaubert Num cotidiano de atividade limite existe uma aproximação com a subjetividade do não dito. O não sentido concede vestígios ao artesão das palavras. Uma nova conjugação se anuncia na rasura do texto conhecido. Manuscritos assim costumam se expressar em linguagem própria. A expressividade desses fenômenos, um pouco antes de significar-se no traço da autoria, insinua-se nalguma forma de transbordamento. Sua subjetividade acolhe essa intencionalidade para resignificar seus dias. Busca compartilhada da contradição com a estrutura do delírio.  Um leitor de incompletudes desvenda esse horizontes por vir. Sua a

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"A própria natureza é o médico interior que palpita em cada criatura desde o seu nascimento e que, por isso, sabe sobre enfermidade mais do que qualquer especialista, que tem de limitar-se ao exame dos sintomas externos"  "O povo prefere, em vez do técnico, possuidor da ciência das moléstias, o homem que cura, o que tem poder sobre a doença. Não importa que há anos a bruxaria e o demonismo se tenham volatilizado e transformado em luz elétrica; a fé nestes homens maravilhosos e feiticeiros tem permanecido mais viva do que parece e do que não nos atrevemos a confessar publicamente" "O povo continua preferindo ao frio instrumento, o homem vivo, de sangue ardente, de onde emana o poder . O herbanário, o pastor, o exorcista e o hipnotizador, precisamente por não exercerem suas práticas de cura como ciência, e sim como arte (...)"  "(...) Mesmer, assim como Colombo, deu um novo continente à ciência, com infindáveis arquipélagos e terras vir

Para além da perfeição*

Quando fixamos nos defeitos,ao invés de admirar o todo e contempla-lo, estamos longe de entender a assimetria da existência e da vida. Jesus diante do grupo que iria jogar pedras na prostituta disse: - Quem não tem pecado que atire a primeira pedra. L.V. Cole escreveu no seu belo livro, O Universo e a Xícara de Chá: “É o argumento profundamente pessoal de um cientista para aceitar e admirar o universo como ele é: com suas ricas e criativas imperfeições.” O universo é imperfeito, explica Marcelo Gleiser, físico, prêmio Nobel da Espiritualidade.  Estamos tão acostumados a julgar(projetar nossas sombras no outro), criticar (nos arvorar no lugar de saber/poder), que perdemos a capacidade de admirar e contemplar o que nos apresenta.  Muitas vezes nos engessamos nos dogmas, nos títulos e perdemos a inocência infantil.  O amor sai quando o poder entra.  Limpar nossos pensamentos da busca da perfeição, liberta nossa psiquê das inúteis ansiedades e desejo de sempre agra

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"(...) Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo (...)" "Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. (...) Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo ?" "Toda a literatura consiste num esforço para tornar a vida real. Como todos sabem, ainda quando agem sem saber, a vida é absolutamente irreal, na sua realidade direta (...) São intransmissíveis todas as impressões salvo se as tornarmos literárias" "(...) Sou o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim, a média abstrata e carnal entre coisas que não são nada, sendo eu nada também" "(...) Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo que assisto é um espetáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu. (...) Encontro `s vezes, na confusão vulgar das minh

Desfabricar*

“[...] mas só porque tínhamos de nos cingir aos fatos não queria dizer que devíamos deixar de pensar ou não era permitido usarmos a nossa imaginação...”                                                                              Paul Auster – 4 3 2 1 A verdade é que quando escrevemos, digo, escrevo no impulso. A razão nunca abandonou-me, exceto no momento em que tenha perdido totalmente a fé na lei sonhada pelos homens, regida por uma onipotência, vontade acima dos homens, exceto, diante da razão traiçoeira.  A razão ou fé, pensei: a luz no fim do túnel, é a única que me engana [...] Andei pensando em fazer uma saída do Rio Grande do sul, ou seja, esquecer por lapso de tempo não compreendido, levar a bandeira da vitória ou da derrota, pior, achar que se é na identidade que a alma deva ser reconfortada... Me perco, estou à deriva. Os braços avançam pretensamente à margem do nunca encontrado outro lado da paz. Um rio tem sua extensão de medo e finitude. A existência req

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"O filósofo americano Thoreau fala em algum momento de um quarto Estado. Ao lado da Igreja, do Estado e do povo, o estado do 'andarilho errante'. Que podemos entender através de todas essas figuras nômades que recusam a estabilidade sexual, ideológica ou profissional" "(...) Claro, não é nenhuma novidade, mas, como em outros períodos de mutação, continuamos a analisar ou julgar os fatos sociais com critérios de outras épocas" "(...) a pessoa plural, à imagem de suas múltiplas identificações, tem 'sinceridades sucessivas' e verdades provisórias" "A escolástica tem medo da vida. E toma a si a missão de inculcar por todos os meios esse temor" " (...) Nietzsche, naturalmente, para quem a filosofia é uma autobiografia. O que quer dizer que ele pensa com o corpo, os afetos, os humores, e também sua loucura. E nisso ele encontra eco cada vez maior, para além da dogmática acadêmica a seu respeito, junto à rebeliã

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