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Reflexões e Partilhas*



Hoje vi uma propaganda na qual dizia que o brasileiro lê em média quatro livros por ano. O que, segundo o anúncio, é ridículo.

O problema, segundo a narrativa, era que o brasileiro lê devagar e, dispondo de trinta minutos por dia, teria dificuldade de ler um número considerável de livros anualmente.

Diante do problema apresentado, a solução proposta é que se faça um curso de leitura dinâmica.

A solução é a mais ridícula possível por algumas razões:

1) Não se tem notícia de nenhum grande intelectual que tenha se dedicado à Leitura Dinâmica (LD). (Ler muito não significa ler mil palavras por minuto).

2) Nos raros casos em que é honesto, o curso de LD afirma sua eficácia em textos mais informativos e naqueles que temos mais domínio do assunto. No caso de conteúdos novos e/ou densos, é inevitável ter que diminuir a velocidade para que haja compreensão. (Vocês não têm ideia de quanto tempo já passei em uma página de um texto de Heidegger).

3) Li artigos de internet e livros sobre LD e a limitação para raciocínios mais elaborados é clara nos autores. São conteúdos extremamente rasos para autores que dizem ler tantos livros obtendo 90% de assimilação.

4) Ser capaz de decorar informações a ponto de responder questões de múltipla escolha não significa que houve aprendizado. Mesmo assim, esse é o método mais comum para a avaliação de assimilação da LD.

5) Por fim, se qualquer um de nós dedicar trinta minutos por dia à leitura, não tem lentidão que impeça um crescimento considerável na velocidade de leitura e assimilação do conteúdo. Mas, em nenhum caso será igual aos números fantasiosos apresentados pelas propagandas dos cursos de LD.

Portanto, apenas leia com interesse, frequência e os resultados reais aparecerão. Os benefícios da leitura de boas obras são incontáveis. Vá sem pressa e curta o caminho.

*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo
Filósofo. Doutor em Filosofia. Escritor. Filósofo Clínico. Livre Pensador.
Teresópolis/RJ

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