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Mostrando postagens de maio, 2020

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"Não gosto de conclusões. Conclusões são chaves que fecham (...) Cada conclusão faz parar o pensamento. Como nos livros de Agatha Christie: resolvido o crime, nada sobra em que pensar. E não adianta ler o livro de novo. Quando o pensamento aparece assassinado, pode-se ter a certeza de que o criminoso foi uma conclusão" "A ciência normal, diz T. S. Kuhn, 'não procura nem novidades de fato nem de teoria. Quando é bem-sucedida, ela não encontra novidades'" "'Estou muito curioso sobre aquilo que o senhor irá dizer', alguém comentou a Wilfriede Bion, pouco antes de uma de suas conferências. Ao que ele retrucou: 'Eu também...'" "(...) os poetas buscam as palavras que moram no silêncio (...)" "Palavras de ordem não toleram as brumas, pois é lá que moram os sonhos. Luminosidade total para tornar impossível sonhar. Pois os sonhos são testemunhos de que a alma se recusa a se tornar um pássaro engaiolado&quo

Copie e cole*

Foi nossa primeira quarentena, não tínhamos experiência alguma. Fomos pegos de surpresa,   pensávamos que seria apenas ficar sem sair pra rua e se proteger do vírus. Imaginávamos que talvez durasse uns quinze a vinte dias. Arrumaríamos armários, assistiríamos filmes, leríamos livros, descansaríamos. Enfim, colocaríamos em ordem todas aquelas coisas que reclamávamos não ter tempo pra fazer. Estamos conseguindo dar jeito nas coisas materiais, só que a ordem das coisas sentimentais não estava prevista e o furo foi mais embaixo. E bem mais profundo. Meio insegura do que estava por vir, cheguei a te convidar pra ficarmos juntos aqui em casa. Estava disposta a tentar viver vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana trancada com meu amor entre quatro paredes. Teríamos um tempo só para nós. Seria uma experiência arriscada, nossa intimidade seria colocada à prova. Talvez acabasse com nossa relação, mas se desse certo, seria maravilhoso, a quarentena dos sonhos. Percebendo mi

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"O verdadeiro problema da compreensão aparece quando, no esforço de compreender um conteúdo, coloca-se a pergunta reflexiva de como o outro chegou à sua opinião. Pois é evidente que um questionamento como este anuncia uma forma de alteridade bem diferente, e significa, em último caso, a renúncia a um sentido comum" "(...) pode-se compreender tudo sobre o que se tem interesse, somente se reconhecermos 'historicamente' o espírito do autor, isto é, superando nossos preconceitos, não pensamos noutras coisas do que nas que o autor pôde ter em mente" "Ganhar um horizonte quer dizer sempre aprender a ver mais além do próximo e do muito próximo, não para apartá-lo da vista, senão que precisamente para vê-lo melhor, integrando-o em um todo maior e em padrões mais corretos" "(...) Por isso, deve ser uma tarefa constante impedir uma assimilação precipitada do passado com as próprias expectativas de sentido. Só então se chega a ouvir a tr

Ressonância*

Sei que eu sou eu Mas não sou somente eu Sou eu e meus outros "eus" Sou único, sou singular Sou também minhas circunstâncias Condicionado pelos que me cercam Mas em liberdade De fazer-me a cada dia. Sou presente na vida dos outros Os outros também em mim Mesmo aqueles que ainda desconheço Se não sou nem inteiramente meu Como poderia ser de alguém Ou alguém ser meu??? Assim era ela Que tão bem aprendeu A cuidar de tudo e de todos E de si não sabia cuidar!! E fazia um bom tempo Que estava se esforçando Para conseguir escrever Em linhas coloridas A história curva de sua vida E por vezes, durante a noite Escrevia coisas esquisitas Que ao amanhecer do dia seguinte Não faziam mais sentido algum... *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Filósofo Clínico. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"A Filosofia não propõe questões e não traz as respostas que preencheriam paulatinamente as lacunas. As questões são interiores à nossa vida, a nossa história: nascem aí, aí morrem, se encontraram resposta, o mais das vezes aí se transformam (...)" "A abertura para o mundo supõe que o mundo seja e permaneça horizonte, não porque minha visão o faça recuar além dela mesma, mas porque, de alguma maneira, aquele que vê pertence-lhe e está nele instalado" "(...) a cada movimento de meus olhos varrendo o espaço diante de mim, as coisas sofrem breve torção, que também atribuo a mim mesmo (...)" "Assim, a relação entre as coisas e meu corpo é decididamente singular: é ela a responsável de que, às vezes, eu permaneça na aparência, e outras, atinja as próprias coisas; ela produz o zumbir das aparências, é ainda ela quem o emudece e me lança em pleno mundo" "A literatura, a música, as paixões, mas também a experiência do mundo visí

Sem discípulos*

“Objeto é apenas o que pode ser ocupado e abandonado.”                       Peter Sloterdijk (Esfera I – Bolhas) Nenhum homem, nenhum momento, nem a flor do pensamento, meio olho e uma frota de navios imaginários a se perder na linha do tempo. De nunca mais poder retornar à terra segura, mesmo sendo o que ilumina as ideias, anda, por ora, a procurar o fantasma do passado, uma obsessão do demônio da igualdade nos poros biológicos predestinados a sobreviver ao sol. O novo tempo é a estranha forma de matar e limpar as ruas em nome de uma integridade tenebrosa. A moralidade se impõe como ordem dos néscios de alma que evocam a religião, a ciência e até a arte de matar o próximo. O homem deste século sabe tudo, até mesmo crê que é inferior a deus para matar em nome de um deus. Prefiro ver o rio caudaloso de ideias se perder em ruas, túneis profundos, em pedras que escondem os desconhecidos a morrer na ordem do exército de mosquitos que sugam o sangue da maioria que pondera

Fragmentos Filosóficos, Literários, Delirantes, e algo mais*

"(..) tudo no mundo tivesse seu próprio nome secreto, um nome que não pode ser transmitido por nenhuma linguagem e que é simplesmente a visão e a sensação da própria coisa" "(...) continua aperfeiçoando a mente (...) Ela, Laura, gosta de imaginar (é um de seus segredos mais cuidadosamente guardados) que ela também possui algum brilho, só um tiquinho, embora saiba que com certeza a maioria das pessoas anda pela vida com semelhantes suspeitas esperançosas crispadas como pequenos punhos lá no íntimo, sem jamais divulgá-las (...)" "Você tenta prender o momento, bem aqui, na cozinha, ao lado das flores. Tenta habitá-lo, amá-lo, porque é seu e porque o que existe à espera do outro lado destes aposentos é o saguão, com seus ladrilhos escuros e lâmpadas de luz fraca, sempre acesas (...)"  "(...) Teria tido uma vida tão intensa e perigosa quanto a própria literatura (...) Aventure-se muito além no amor, diz consigo mesma, e você renuncia à cid

Divagações sobre o convencimento e a verdade*

Não importa o quanto um argumento seja bem elaborado, ele não necessariamente convencerá. Nem todos vivem a partir dos princípios lógicos. Nem os versados na ciência das construções racionais e investigações empíricas necessariamente baseiam suas vidas nos princípios de uma racionalidade. Nossos pressupostos são de diversas naturezas desde aquelas recebidas ao longo da vida até aquelas criadas por meio de derivações abstratas. As verdades que norteiam nossas vidas, por mais objetivas que pretendam ser, revelam nossos limites e alcances de percepção, jamais a apreensão absoluta daquilo sobre o que nos remetemos. Bem disse o filósofo espanhol Julián Marías ao constatar que um filósofo acerta na medida em que fala a respeito do que foi capaz de alcançar ou ver e erra quando fala além do que suas capacidades permitiram. Nesse caso, até para avaliar um filósofo deveríamos nos dar conta de que aquilo que consideramos um erro pode ter sido por nossa impossibilidade de ver – ai

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"(...) Naqueles anos, sondava-se cada rosto em busca daquilo que ele pudesse involuntariamente revelar, e apurava-se o ouvido para as nuanças e os indícios" "(...) algo que escrevera antes e que destruíra cuidadosamente. Parecia-lhe estranho (...) que tivesse produzido e publicado tanto, que tivesse exposto tantas coisas pessoais, e que no entanto aquilo que ele mais precisava escrever nunca viesse a ser visto ou publicado, nunca viesse a ser conhecido ou compreendido por ninguém" "Ler era algo tão silencioso, solitário e íntimo quanto escrever" "Ansiava pelos anos futuros, quando escreveria novos personagens e observaria os atores criarem os papéis e representá-los a cada noite até que a temporada terminasse e eles voltassem ao descolorido mundo de fora do teatro" "Sentiu desejo de estar no meio da escrita de um livro, sem nenhuma necessidade de terminá-lo antes da primavera (...) Sentiu desejo de poder trabalhar silenc

QI, Educação e Literatura*

O QI médio em praticamente todos os países do mundo cresceu muito nos últimos 100 anos. Na Alemanha e nos EUA, o crescimento do QI médio foi de mais de 30 pontos. No Quênia e na Argentina, foi de cerca de 25 pontos. Na Estônia e no Sudão, foi cerca de 12 pontos. Fonte: https://ourworldindata.org/…/change-in-average-fullscale-iq… No Brasil aconteceu justamente o contrário. A queda do QI foi de quase 10 pontos nos últimos 100 anos. Talvez esse emburrecimento generalizado seja único na história da humanidade. O nosso QI médio é de 87, o que nos coloca, na média, no limite da deficiência intelectual. * * * Esse fenômeno bizarro tem tudo a ver com o nosso modelo de (des)educação escolar. Nada a ver com Paulo Freire, amigos. A coisa vem de muito antes. Em 1915, Lima Barreto revelava a cultura das aparências no Brasil: ao saber que Policarpo Quaresma tinha uma biblioteca, o doutor Segadas pergunta para que tantos livros, se não era nem formado. Não ocorre ao doutor que

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"O que é realizado, aqui, é a escritura. De todas as matérias da obra, só a escritura, com efeito, pode dividir-se sem deixar de ser total: um fragmento de escritura é sempre uma essência de escritura. Eis por que, quer se queira quer não, todo fragmento é acabado, a partir do momento em que é escrito" "(...) o escritor está condenado a trabalhar sobre signos, para variá-los, desabrochá-los, não para deflorá-los: a sua forma é a metáfora, não a definição" "(...) o sentido de um signo não é mais do que a sua tradução num outro, o que é definir o sentido não como um significado último, mas como um outro nível significante" "(...) o real nunca é mais do que um sentido (...)" "A interdisciplinaridade consiste em criar um objeto novo que não pertença a ninguém. O Texto é, creio eu, um desses objetos" "(...) o mundo: um sistema sempre provisório de diferenças" "A redução da leitura a simples consumo

No deserto*

Vastidão na solitude. Saudade ou nostalgia, Nem sei mais o que sinto. Caminho no sem fim. O sol me queima e Me dissolvo no não saber. Filosofias não consolam. Na noite, Ventos gélidos me congelam De medo do invisível. Não tenho máscaras Nem maquiagem do fingir. Os números humanos Falam das mortes. Sinto-me humana Na solidariedade. Não me tirem o percepcionar. Quero enfrentar o real. Não sou Pollyanna, Prefiro agora Anne Frank. Estou no deserto Onde fantoches dançam E esperam o Oásis. E tenho aprendido. E como? Aprendido que não há Nada a controlar. Que cada dia é um mistério. Caminho... descalça. Com a sede de um milagre. *Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Poeta. Filósofa Clínica. Livre Pensadora. Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"(...) é preciso saber abrir caminho no espesso matagal das opiniões autorizadas que proliferaram a respeito da coisa humana, e que ocupam o alto das cátedras institucionais (...) é diante dessas análises institucionais que devemos submeter a razão ao teste da plasticidade do que é vivo. O que não significa aniquilá-la, mas, pelo contrário, enriquecê-la" "Devo frisar que, desde sempre, o ato de pensamento esteve voltado para os que se fazem perguntas, e não para os que já têm as respostas" "As máscaras pós-modernas estão sob influência. Influência de coisas, de problemas ancestrais. Traduzem a força impessoal que, de forma subterrânea, vem de muito longe, e às vezes se exprime à luz do dia" "(...) É instrutivo observar que, além da 'língua oficial', a do pensamento conforme, existe uma multiplicação de idiomas, discursos tipicamente tribais, enraizados nas práticas cotidianas, de qualquer ordem que sejam: musicais, esportivas,

A Palavra Mágica*

"Vive a tua hora como se gravasses o teu nome na epiderme de um tronco novo.  Mas não voltes mais tarde para junto dessa árvore, porque podes não reconhecer o teu nome nas cicatrizes das velhas letras"                                                                                                 Fellipe D’Oliveira     Sua tez de singularidade maldita refere uma simbologia em viés de encantamento. Na veemência discursiva compartilha uma fatia generosa de paraíso. O sagrado-profano esboça uma íntima convivência com a reciprocidade. Os significados apreciam aliar-se aos papéis existenciais de travessia. Assim o feitiço da palavra como medicamento desenvolve as estruturas mutantes envolvidas na interseção. Ao sugerir a cidade das maravilhas, é possível um novo entendimento e relação com o universo interior. Sua fonte de inspiração, muitas vezes, faz-se menção em dialetos de esquiva. A magia, um pouco antes de ser representação traduzível, aprecia transbordar nalguma

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"Mas a função do filósofo não será a de deformar o sentido das palavras o suficiente para extrair o abstrato do concreto, para permitir ao pensamento evadir-se das coisas ?" "(...) Veremos então que a vida não pode ser compreendida numa contemplação passiva; compreendê-la é mais que vivê-la, é efetivamente impulsioná-la" "O tempo é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas" "(...) uma intuição não se prova, se vivencia" "Menciona Roupnel: '(..) Ensina-nos a ver e a escutar o Universo como se só agora tivéssemos dele a sã e súbita revelação. Reconduz a nossos olhares a graça de uma Natureza que desperta. Devolve-nos as horas encantadoras da manhã primitiva banhada de criações novas'" "Como realidade, só existe uma: o instante. Duração, hábito e progresso são apenas agrupamentos de instantes, são os mais simples dos fenômenos do tempo  (..) Os instantes são distintos porque são f

Reflexões de um Filósofo Clínico*

Quando praticamos a empatia é porque o ser que a precede também tende a definir com amor cada passo dado. E isso é contagiante, pois nos conectamos facilmente num propósito maior, capaz de superar as distâncias, as ausências necessárias, tantas faltas lamentáveis e o tempo devido. E somente conectados poderemos juntos vencer essa dor que os sem coração tem nos causado, provocando secas em tantos jardins de almas que deixaram de florescer nessa fase somente por estarem vulneráveis demais. Infelizmente, há uma onda de covardia e egoismo que nos maltrata e que, contrapartida, causa um abismo que vai engolir os seus próprios algozes. Mas como tudo tem consequências, por outro lado, é justamente quando jardins sem flores perecem é que lágrimas brotam até transbordarem rumo ao solo onde habitam tantas almas que florescerão numa nova primavera. E nesse ciclo, toda vez que essa estação volta, ela aquece os corações de quem tem, fazendo o sol sorrir para anunciar de novo mais um

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"A produção literária de Mário Quintana parece exigir de nós uma nova atenção, talvez um novo tipo de atenção, dirigida à objetividade dos seus poemas, sem esquecer jamais que essa objetividade é impregnada de subjetividade. Podemos projetar no poeta o nosso entorno intelectual e emocional, contanto que não o sobrevalorizemos. A linguagem permanece, nós passamos" "É bom desconfiar de esquematismos acadêmicos, embora os aprecie até certo ponto. Servem para podermos falar sobre aquilo que no poeta é indizível. Contudo, valorizo mais a intuição pessoal, o empenho em realizar uma leitura recriadora dos poemas, o desejo sincero de captar a fosforescência íntima da inspiração do autor (...) A poesia necessita de um certo tato de alma" "(...) Por ser uma arte de linguagem, a Poesia é inesgotável. Ler um poeta pela segunda vez é lê-lo como se ele nunca tivesse existido. Com uma vantagem: o poeta já existiu uma primeira vez" "Quintana foi um u

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