Sobre a Filosofia Clínica dialogar ou não com as outras linhas Terapêuticas.
Estudei por sete anos
Psicologia e por questões circunstanciais, tive contato direto com a
Psiquiatria, estudando e aprendendo durante 12 anos. Convivi com terapeutas do
Brasil inteiro, tive uma clínica de terapia comportamental e eu mesma como
paciente fiz terapia cognitiva, Gestáltica, psicanalítica até chegar na
Filosofia Clínica.
Com isso, acredito que
posso dizer alguma coisa enquanto paciente e como estudante e pesquisadora.
Entendo que se tem uma linha que dialoga com as outras é a Filosofia Clinica, primeiro
por ser honesta no sentido de dar o mérito de sua fundamentação a mãe de todas,
ou seja a própria Filosofia, que por si só já é um oceano tão grande e recheado
de conteúdos que poderíamos dela já ter múltiplas e infinitas linhas
terapêuticas.
Segundo porque
profissionais de todas as áreas podem fazer o certificado B, que dá a base
teórica a clínica filosófica, porem para a prática e para o certificado A é
preciso antes ter feito filosofia.
Outra, quem estudou Filosofia,
sabe como encontrar conteúdos e fundamentos. Em Aristóteles, sua lógica
silogista as suas Causas, Categorias, Psicologia, ideias de Ato e Potência e
Primeiro Motor. Também em sua metafísica que da a filosofia o primado da
investigação causal, bem como a teoria das essências como reveladora da
identidade. Já em Descartes, tem-se o método (Verificar, analisar, Sintetizar,
Enumerar). E a teoria do Cogito, dando a existência a partir do pensamento?
Quem copia o que de quem? Quem deu a dica que no pensamento do homem está a
validação da sua existência?
Foi a Filosofia, é certo!
Assim como foi e é nela, que primeiramente a FC se fundamenta. E Kant? Quando
nos apresenta seu juízo estético, relacionado ao princípio de prazer que temos
em relação às coisas? Em apenas uma das suas frases celebres já podemos ver por
exemplo uma das raízes que irá despontar em uma das teorias que irá falar em Id
e Super Ego -"o céu estrelado por sobre mim e a lei moral dentro de
mim" - Aqui também está redescoberta a ideia de sensibilidade e
consciência, já revirada por Platão.
Há também a Crítica da
Razão Pura, sobre juízos e a coisa da coisa em si? E as condições de
sensibilidade e de possibilidade? O Imperativo categórico, que entre outras
coisas convida o sujeito a olhar para suas ações, como uma forma de legislar
seus limites e os do outro. Quem mergulhar profundamente na Filosofia vai
descobrir estas e muitas outras ferramentas infalíveis para criar um método e
para mudar a visão de mundo construir um arsenal de novas concepções e
ferramentas para ajudar o ser humano. Para tanto, é claro, tem que ter o pó da
genialidade, pois ideias sem este tempero ficam insípidas.
Com Freud o pai da
Psicanálise, não foi diferente, quem conhece Psicanálise e Filosofia sabe que
este entre outros bebeu do saber em Sócrates, Aristóteles, Descartes, Hume, Kant,
mergulhou profundamente em Schopenhauer e achou seus grandes insights em
Nietzsche. Poderia ficar páginas e páginas fazendo ligações com outros grandes
filósofos que contribuíram de forma contundente as linhas terapêuticas, mas
isso fica pra outra hora.
Quem estudar Filosofia e
depois estudar qualquer uma das linhas terapêuticas modernas, não mais cometerá
o engano de pensar que tudo começou com essa ou aquela linha terapêutica.
Contudo, só posso dizer que a Filosofia Clínica é puro diálogo e está muito
mais aberta do que imaginamos.
Para tanto se faz
necessário, ampliar o olhar e despertá-lo das paixões cegas. Basta abrir os
olhos, para ver no núcleo de estudos e formação de Filosofia Clínica , médicos,
psiquiatras, enfermeiros, professores, biólogos, teólogos, matemáticos, psicólogos,
pedagogos, terapeutas e muito mais, isso por si mesmo já é a prova mais clara e
eficiente de que o diálogo entre a Filosofia Clinica e as outras linhas
acontece, seu método aplaca inúmeras possibilidades.
*Alba Regina Bonotto
Psicóloga, Filósofa
Clínica
São Paulo/SP
Comentários
Postar um comentário