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Mostrando postagens de dezembro, 2021

Somos Instantes**

Aconteceu num instante, foi sem querer, não havia planejamento ou expectativa alguma. Ele a convidou para passarem juntos a noite em sua casa e ela aceitou. Só por hoje, respondeu timidamente. Nem havia clareado o dia, ela saiu para o trabalho, mal tiveram tempo de se despedir. Foi tão maravilhosa a companhia que ele a convidou novamente no sábado. Só por hoje foi como confirmou sua vinda. Muitas outras vindas aconteceram, mas a senha era sempre a mesma: só por hoje (SPH), jamais perguntava ou confirmava nada sobre o amanhã. Não necessitava dele para nada, mas era parceira para tudo. Era livre e assim o deixava. Numa destas noites frias do inverno gaúcho, enquanto se aqueciam em abraços, sussurrou em seu ouvido esquerdo que estava apaixonada. Com voz rouca e melosa frisou que “estava” apaixonada, não que “era” apaixonada. Especialmente naquela noite estava se sentindo muito apaixonada. Muitas outras declarações, agora mútuas, aconteceram seguidas da já bem conhecida senha “só por hoj

As dores e as delícias do estudo da Filosofia Clínica*

Andei perdida de textos escritos, pensei que esse lado escritora meu havia se perdido por entre a vida corrida do dia a dia. As palavras iam e vinham na minha mente, mas eu não conseguia capturá-las com precisão. Terminando a pós esse ano me deparo com o trabalho final e petrifico entre mil e uma ideias. Conflitos, incertezas, questionamentos, dúvidas quanto a tudo o que aprendi e tudo que experienciei... Sinto-me mais conhecedora das minhas sombras e da minha luz. Entretanto, questiono o porquê dessa escolha dentre tantas outras que envolvem a filosofia. Sempre tive vocação para as questões existenciais, seja na minha representação de mundo, como na representação de mundo de outros. Mas vir a ser - filósofa clínica - é uma tarefa delicada que me faz temer muitas coisas. Ser cuidadora é algo muito frágil e precioso. Tenho percebido carências tão primárias nas pessoas com as quais convivo que penso se realmente há uma segurança de "melhor viver" através de qualquer terapia

El ángulo de las perplejidades***

Uno de estos días vi una reseña, de esas que sigues pensando en la representación de la que partió. La persona dijo: “ese nombre extraño: Filosofía Clínica, no me suena bien”. A partir de entonces, surgieron algunas notas sobre este lugar donde la gente dice lo que dice, incluso cuando cree saber lo que sabe. El precepto socrático: “Solo sé que no sé nada”, ofrece una pista de aprendiz para vivir con la dialéctica de las originalidades. Tienen una fuente única de rituales y dialectos, inaccesible al contacto superficial. Su expresión suele tener un sentido obtuso, una lectura alejada de su origen. A un punto de vista excepcional le gusta ser inesperado. Le toca al sujeto moverse para ser el protagonista con la amplitud inconmensurable de cada medida; aun así, su aspecto de incomprendido sigue deconstruyendo convicciones. Una descripción de esta naturaleza precursora parece elegir a quién revelar su óptica. Las medallas, las condecoraciones, los títulos no son suficientes para justi

Pretéritos Imperfeitos*

“A experiência trivial do dia-a-dia sempre nos confirma alguma antiga profecia (...)”           Ralph Waldo Emerson   Existem eventos que possuem um começo sem fim. Perseguem uma in_de_termin_ação futura na travessia pelas antigas pontes. Neles é possível vislumbrar uma sombra suspeita, como algo mais a perturbar a lógica bem ajustada das convicções. Assim a grafia parece se orientar por um ontem a perdurar. Atitude rarefeita de olhares a perseguir buscas contaminadas. Esse contágio parece querer singularizar a pluralidade de cada um. Aprecia a menção de fatos acontecidos no prolongamento do instante. Aparecem como atuação simultânea de um em outro, seu paradoxo dilui-se numa dialética de integração.     Uma de suas características é realçar fatos no momento em que ocorriam. Essa incerteza quanto ao amanhã, parece coincidir com o desfecho provisório de seu inacabamento.   Nessa terra de ninguém uma infindável trama de acontecimentos se refugia. Parece com algo que não se deix

O que é a Filosofia Clínica?***

A resposta geralmente adotada pelos filósofos clínicos é: “a Filosofia Clínica é a filosofia acadêmica aplicada à terapia”. Esta resposta é boa. E não é. É uma boa resposta porque é exatamente isso que a Filosofia Clínica faz: aplica a filosofia da tradição ocidental, a filosofia acadêmica, à terapia. Por outro lado, é uma resposta abrangente demais. Afinal, o conjunto da “filosofia acadêmica” tem uma quantidade muito grande de elementos, que podem ser tão diferentes entre si quanto podem ser diferentes variadas espécies de, digamos, frutas. Por essa razão, a afirmação de que “a Filosofia Clínica é a filosofia acadêmica aplicada à terapia” é inútil. Aos olhos do leigo – e mesmo de muitos estudiosos – a filosofia é um emaranhado de teorias contraditórias, quando não bizarras; parece que qualquer coisa pode ser filosofia, e que filosofia pode ser qualquer coisa. Mas isso não é verdade. A filosofia tem um fio condutor muito claro. Para explicar isso, vou fazer uma analogia com a

Anotações e Reflexões em Filosofia Clínica*

  Existem duas maneiras de começar a tecer o comentário sobre a obra de Hélio Strassburger: a primeira é descrever um pouco do que é o livro, do que ele trata, quais as referências que alcança para trazer de volta ao texto; a segunda é falar do autor que é sua própria obra, a construção do pensamento pela compreensão do que se pensa.  Isso não é pouca coisa, é a grandiosidade e a humildade de quem se propõe a fazer a reflexão sobre o elo entre a abstração e a construção diária do pensamento com olhar crítico e quase, por que não, terapêutico. Dedico-me a fazer este breviário do autor, que vive a filosofia clínica como se vivesse se alimentando da arte, da música, das letras, do voo intelectual. E esta obra é contemplada com uma leitura maravilhosamente casada, entre o que se pensa e o que se sente, através das gravuras de Márcia Baroni. Escutar é tarefa do filósofo clínico, mas Strassburger é um exímio ouvinte de sua vida, de suas viagens filosóficas, dos voos entre imagens e a t

Filosofia Clínica: retomada do olhar filosófico*

“Somente quando a estranheza do ente nos acossa, desperta e atrai ele a admiração. Somente baseado na admiração [...] surge o ‘porquê’. Somente porque é possível o porquê enquanto tal, podemos nos perguntar, de maneira determinada, pelas razões e fundamentar. Somente porque podemos perguntar e fundamentar foi entregue à nossa existência o destino do pesquisador.” (HEIDEGGER, Martin. O que é Metafísica?. Col. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 242.) Hoje a filosofia acadêmica ensinada nas faculdades e universidades tende a ser uma grande assimilação dos conteúdos escritos dos pensadores que nos precederam. Heidegger nos advertia em suas obras sobre a possibilidade mais comum entre os homens, que é o de estar na inautenticidade. Esta consiste no olhar derivado do mundo, na perspectiva mais cotidiana, vivendo segundo o que “se diz”. Ao contrário da autenticidade, que se dava com o olhar mais voltado para o espanto e admiração diante do que nos rodeia ou constitui nossa e

Bom dia! Mais uma noite de festa na Casa da Filosofia Clínica. Gratidão e construções compartilhadas! Em breve mais novidades...!

 

El Instante Aprendiz*

Traducción:  Prof. Dra. Arantxa Serantes                                Todas las cosas son de tal naturaleza que, mientras más abundante es la dosis de locura que concluyen, tanto mayor es el bien que proporcionan a los mortales.                                              Erasmo de Rotterdam                    Al esbozar apuntes sobre una lógica de la locura, un envés del absurdo se desvela en astillas de múltiples caras. Frontera donde la normalidad se reconoce en sus paradojas. Una de las características de la expresividad delirante es ensimismarse en desacuerdo con el mundo alrededor. Crea dialectos de difícil acceso para proteger sus versiones de mayor intimidad. El papel de la Filosofía Clínica en la intersección con la crisis inmediata también es presentación indeterminada en un proceso caracterizado por la exageración de la manifestación del que comparte. Un no saber vehicula provisionales verdades en el compartir deconstructivo de las sesiones. Representaciones exi

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