“pedaço de mar, iça, onde moras, sua capital, a inocupável.”
Paul Celan
Vou no som do murmúrio das águas,
das mãos estendo histórias sobre o dia até o sol se pôr. Da voz escorre a
umidade das letras em pele e olhos negros se perdendo nas entranhas do tecido.
Das vestes, cores roçando o corpo e dedos que dedilham mais uma pintura da
carne, o toque na tela, um riso perdido no ar, o arejar das pernas no vento que
traz o aroma da eternidade do tempo. Pendurar a vida nas cercas da casa próximo
ao mar, deixar escorrer na leveza do amor morto na natureza, dormir relendo o
noturno da insônia do ano que não acabou.
Acordar em frente à janela
escancarada do novo dia, um cheiro vindo da manhã com café e calor. O vento de
chuva passou longe de meu sonho, do suor da vida acumulada pela idade, o correr
cedo para ir nadar em fuga do que já é mofo, molhar a alma, folhear as ideias
em nascentes de rios e livros que insistem em viver.
Secar-se diante da solidão,
encontrar forças na respiração, arredar a máscara, tomar fôlego e colocar a
louça para lavar e secar junto às roupas perdidas no tempo. Bem antes da
tempestade fria, do esquecimento e do perigo iminente do mal, ensaiar novo
álbum dos que lutam. Mais uma viagem até o pátio, um carnaval de samba e
rappers, vozes femininas, sinfonias eternas, rufar dos acordes sem orientação
alguma, um caminho imaginário até o mar frio do norte. Chuva e sol, corpos lado
a lado partem na primeira nave diurna do primeiro domingo.
*Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes
Filósofo. Editor. Escritor.
Poeta. Livre Pensador.
Porto Alegre/RS
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