Vivemos num tempo de crise. Todavia, a crise de nosso tempo não tem quatro anos, nem onze, nem vinte e três ou sessenta: tem quatro séculos. Consideramos a crise deste momento mais séria e mais urgente que muitas outras não porque ela seja realmente mais séria e mais urgente, mas porque ela é 𝘯𝘰𝘴𝘴𝘢 . A nossa crise é a conseqüência mais evidente de um processo de transformação da visão de mundo na Modernidade: antes a realidade, concebida como um Cosmos, multiplicava-se em diversos campos ontológicos – reunidos na compreensão humana por meio dos símbolos. Assim, todos os objetos do mundo eram ontologicamente complexos: participavam de vários campos do real, e por isso não podiam ser compreendidos a partir de uma única perspectiva. É esta a razão pela qual o ideal de sabedoria não era a super-especialização do intelecto, mas a síntese de vários campos numa única inteligência. Contudo, os filósofos modernos – e os cientistas, e depois quase todas as pessoas – passaram a enxergar
A metodologia da Filosofia Clínica contempla elementos que constituem a estrutura de pensamento e os modos de agir de cada pessoa. Alguns elementos, como a inversão e a recíproca, podem estar tanto na espacialidade intelectiva quanto nas ações do indivíduo. Simplificadamente, inversão é o movimento de trazer o outro ao seu próprio mundo, enquanto a recíproca é ir em direção ao outro. No espaço terapêutico, a recíproca pode fazer parte da qualificação da relação terapeuta/partilhante, sendo utilizada pelo terapeuta que escuta, acolhe e, principalmente, se isenta de suas perspectivas do mundo e das relações diante do discurso existencial do partilhante. Assim, considera essencialmente o outro para possibilitar o espaço da construção compartilhada. Em um esboço preliminar, através do discurso existencial do partilhante, a recíproca pode aparecer como tópico importante da estrutura de pensamento. Com a evolução do tempo terapêutico, através do acesso à historicidade, às circunstâncias, à