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Fragmentos filosóficos delirantes XCVI* "O encantamento é sempre o efeito de uma representação, pictural ou escultural, capturando, cativando a forma do outro, sobretudo em seu rosto, na sua face, fala e olhar, boca e olho, nariz e orelhas: vultus" "A cura pelo lógos, o exorcismo, a catarse anularão pois o excedente. Mas esta anulação, sendo de natureza terapêutica, deve apelar àquilo mesmo que ela expulsa e ao excesso que ela põe fora. É preciso que a operação farmacêutica exclua-se de si mesma" "A filosofia opõe, pois, ao seu outro, essa transmutação da droga em remédio, do veneno em contraveneno" "Sócrates mostra que o todo do corpo só pode ser curado na fonte - a alma - de todos os seus bens e males" "O contra-encantamento, o exorcismo, o antídoto é a dialética" "Eros, que não é nem rico, nem belo, nem delicado, passa sua vida filosofando; é um temível feiticeiro, mágico (...) indivíduo que nenhuma lógica pode rete
Uma resenha* Strassburger, Hélio. Editora E-papers. Rio de Janeiro/RJ. 2009. Filosofia Clínica, diálogos com a lógica dos excessos *Por prof. Dr. José Mauricio de Carvalho Chefe do Departamento de Filosofia da UFSJ O livro de Hélio Strassburger apresenta um olhar sobre o fenômeno da loucura nascido de sua experiência de trabalho em clínicas psiquiátricas. Não se trata propriamente de uma descrição detalhada do fenômeno da loucura, mas de um enquadramento poético que baliza uma futura descrição. Vamos esclarecer: o método usado é o fenomenológico, mas o procedimento metodológico para tratar a linguagem delirante é a poética. Para o autor tal linguagem revela mais adequadamente os meandros da loucura. A linguagem delirante, ele lembra, não é lógico-discursiva. Os delírios e alucinações traduzem um modo singular de expressão, própria de um mundo desestruturado. Afirma: “No saber desajustado dos delírios, algo se anuncia entrevista de tradução” (p. 7). A chamada loucura corres
Uma metafísica dos refúgios* “Deram-me um corpo, só um! Para suportar calado, tantas almas desunidas, que esbarram umas nas outras.” Murilo Mendes Um íntimo estranhamento chega á superfície na forma do dizer desencontrado. O gesto inseguro, a voz trêmula, a lágrima bailarina no canto dos olhos, parecem querer falar da indefinição em curso dentro de si. Assim, em nuanças de antigas vivências, a linguagem faz voltar o que parecia esquecido. Ao descrever invisibilidades seu olhar insinua uma tradução para as mil mensagens interditas. A contenção física não fora capaz de desarrumar o caos precursor, aliás, amarrar o corpo serviu para liberar a alma. O espanto inicial multiplica os acessos a uma nascente, através das miragens, franjas, detalhes quase imperceptíveis, na sutileza de parágrafo maldito. O movimento especulativo se disfarça de realidade aparente, insinua segredos, se esquiva na pluralidade dos labirintos de si mesmo. Um sonho acordando-se para dentro, numa alma exil
Fragmentos Lúcio Packter Pensador da Filosofia Clínica Principalmente a partir do feudalismo, e provavelmente antes dele, havia alguns princípios lineares nos quais valores, éticas, preceitos, arrumações gerais usadas em casa serviam para a atividade pública, para o comércio, para a vida. Um indivíduo poderia manter-se como era nos vários âmbitos de sua existência. Com os séculos XVII e XVIII uma tendência em andamento se aprofunda: a fragmentação das vivências, da mente. Nos séculos seguintes a fragmentação mostrou que determinadas especificidades nos relacionamentos, na família, no trabalho, na religiosidade não poderiam mais ser conciliadas segundo algum critério que levasse à paz, ao convívio harmonioso. Alguns aprenderam a viver com estas peculiaridade, seguem altivos para um novo tempo. Muitos não têm como viver o que consideram paradoxos. E muitos andam quebrados ao meio por angústias referentes a terem uma mente feudal que vive em um mundo de 2009. Quando Jacy veio
Rituais de fé Pe. Flávio Sobreiro Poeta, Filósofo Clínico Cambuí/MG Na cores da manhã cubro meus dias de verdes esperanças na tarde do dia que se foi despeço-me das tristezas dou lugar às estrelas que me guiam pelas noites do medo nos outonos da estação deixo as folhas cumprirem seu ritual de despedida a vida cumpre seu papel no cotidiano de chegadas e despedidas reconcilio-me comigo mesmo e descubro novos horizontes de um tempo novo que nasce a cada novo aprendizado
Reinventar Vânia Dantas Filósofa Clínica Uberlandia/MG Reinventar. Revi essa palavra num cartão que recebi, com a linda fênix de fogo subindo ao céu.... Sim, se pode reescrever o passado. A tentativa de ser outra pessoa persiste. Afinal, Por todos os lados se propaga a famigerada correção. O passado que nos fez ser quem somos. Para deixarmos de sê-lo há que se ressignificar vivências, memórias e valores, embora estes estejam mais próximos ao essencial e ao presente... ou estaria ancorado em eventos mudos para o dia de hoje? Procura-se a chave da prisão da casa corpo. Procura-se a vida nas dimensões sutis quando a matéria é campo minado. Os alunos percebem que, além da letra há o intertexto, o contexto, a intenção, a entonação e a falácia. Os mundos dentro de mundos sugam para o interior do redemoinho o espírito indócil. Fatalmente, as roupas velhas, ainda no corpo, já não servem mais.
O Silêncio que fala Alto Beto Colombo Empresário, Escritor, Filósofo Clínico, Coordenador da Filosofia Clínica na UNESC Criciúma/SC Querido leitor, aceite o meu fraternal abraço. Nos últimos anos, tenho procurado valorizar a simplicidade da vida, até de forma lúdica e ingênua, se é que dá pra falar assim. E o silenciar é um caminho tão intenso quanto profundo. Na verdade, para mim, o silêncio mostra muito. Ainda na infância lembro de dias silenciosos sem televisão, sem rádio, passávamos boa parte do tempo ouvindo e discernindo o cantar dos pássaros, se arrepiando com os sons uivantes do vento. Na tenra idade, marcou-me muito os poucos momentos em que esse silêncio era quebrado e um deles era quando o leiteiro de charrete tocava sua buzina avisando que estava passando e era a deixa para trocar a vasilha. Há poucos anos, precisamente em 2006, quando fiz o Caminho de Santiago pela primeira vez, tenho saudade dos dias inteiros em que fiz companhia para mim, em silêncio, ouvindo

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