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Respeite a vida e o tempo do outro* Por que todo ser humano tem a pretensão de achar que pode interferir na vida alheia? Ou dando palpites, ou pitacos, opiniões… Diferente de um psicólogo, psicanalista ou terapeuta que faz a pessoa buscar suas verdades, suas razões, seus princípios e ir em busca da sua individuação, as pessoas em geral acham que têm o direito de invadir a vida alheia e opinar sobre aquilo que lhes convém, da forma que lhes convém, esquecendo que o outro tem uma trajetória diferente, gostos diferentes, escolhas diferentes e principalmente uma história de vida diferente da sua. Talvez seja porque temos a triste ideia de que todos devem seguir como nossa cabeça e nosso coração manda. É estranho saber que outros pensam de forma diferente. O esquisito disso tudo é que na maioria das vezes nós mesmo não sabemos em que direção seguir, pra que lado ir ou com quem ficar. Pior ainda quando cismamos de dar uma de Santo Antônio, Santo Casamenteiro, Cupido ou coisa que o va
Fragmentos filosóficos delirantes XCXVI* "As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou" "As obras de arte são de uma infinita solidão; nada as pode alcançar tão pouco quanto a crítica. Só o amor as pode compreender e manter e mostrar-se junto com elas" "(...) se possuir este amor ao insignificante; se procurar singelamente ganhar como um servidor a confiança daquilo que parece pobre - então tudo se lhe há de tornar fácil, harmonioso e, por assim dizer, reconciliador (...)" "Numa ideia criadora revivem mil noites de amor esquecidas que a enchem de altivez e altitude" "Amar também é bom: porque o amor é difícil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e última prova, a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparaçã
Divagações V* Mais uma divagação no Alétheia. Estava no ônibus seguindo de Juiz de Fora (MG) para Teresópolis (RJ) enquanto ouvia algumas músicas do Teatro Mágico e lembrava uma série de coisas que a música me suscita (e que já relatei num texto anterior). Nesse caminho me vieram aulas que ando assistindo, textos que ando lendo, ideias, etc., enfim, conteúdos que geram o movimento (devir) de meus pensamentos e concepções acerca das coisas. Isso me fez repensar o que ando escrevendo na série Divagações. Repensei, mas não desfiz o que construí nos textos anteriores. Somente senti a necessidade de pensar alguns aspectos não tratados e tratar outros pouco tratados nos escritos precedentes. Encontro-me em um momento ímpar da vida (talvez todos o sejam). Instante em que, racionalmente, critico a tentativa de minha própria razão de querer dar conta de tudo. Tenho voltado a fazer uma coisa que há tempos não havia dado atenção: ouvir música com mais frequência. Isso me trouxe uma série
Diante da folha em branco* Escrever é uma catarse... quase um delírio. Difícil até mesmo dimensionar. Um movimento que transborda, vindo do que ainda falta ser dito, do que nem mesmo se entende, do que se pretende ou não e até do que não se consegue dizer. Vindo do âmago ou da superfície, não importa. O que conta é que costuma vir da alma, do que reconhecemos em nós mesmos; daquilo que se desafia, se precipita e se extingue. Uma eterna página inacabada; um eterno devir. Escrever é quase solitário, imprevisível, incrivelmente confortador! Mas não é um caminho simples. Que ninguém pense que é corriqueiro ou mesmo obviamente possível externar o que se sente ou o que se pensa. Pode ser até doloroso... de uma dor que machuca, mas que também compensa e se redime pelo sofrimento provocado, curando e renovando. Por conta do seu movimento, é uma ação autorreflexiva, autoflageladora, de onde não se prevê a consequência... quase uma loucura, exacerbada pela irresistível ação que a motiv
Bonde do amor* Era uma vez... Um homem e uma mulher que, sentados ao pé do Cristo, no Morro de Imperador, se prometeram amor eterno. Seus cabelos brancos, as rugas e o tremor de muitos anos de separação lembravam o início de uma história inacabada no Parque Halfeld. Chovia muito quando o bonde chegou. Ela vestia o uniforme engomado do colégio Santa Catarina e ele, o uniforme bem passado do exército. Seus olhares se encontraram por instantes. Ela desviou o rosto, envergonhada, com a face queimando, e fez que não o viu. Ele tossiu, tentando disfarçar o coração disparado de tanta emoção. O bonde passou na vida dos dois. E eles nunca mais se viram. Ficou apenas o olhar e a imagem. Os anos sopraram como os ventos. Ela casou com um amigo. Ele foi para capital. Tiveram filhos, criaram histórias opostas de amor e dor. Até que, em uma tarde, na Catedral Metropolitana, ao som da marcha nupcial, ele entrou com sua bela filha, vestida de noiva. Ele, que foi morar para além-mares, voltou na
Os sonhos* Chegou de mansinho... Sentou-se ao meu lado. O dia era frio e senti o calor de sua mão que esbarrou quase sem querer na minha. Gelo no estômago. Emoções confusas. Balanço de cabeça e pés no chão. Onde estaria eu com minha cabeça? Como um estranho que chegava em uma manhã de inverno poderia fazer adiantar a germinação das flores de uma primavera tão distante? Será que William Shakespeare teria razão quando escreveu: “Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor”? Por um rápido instante pensei em todas as estações nas quais busquei o meu príncipe encantado. Esperava que ele chegasse em um momento especial. Talvez na minha festa de aniversário de quinze anos. Não chegou. Talvez que ele viesse no baile de formatura de minha Faculdade de Filosofia. Não veio. Lembro-me muito bem daquela noite de formatura: tive que dormir frustrada e desiludida ao lado de Platão, Aristóteles e toda a milícia filosófica... Impossível! De fato a manhã estava fria, mas aquele frio q
O Tonel e a Gota D'Água* O que está em profundidade é muito maior do que a gota d’água que transborda o copo. Mas é ela que aparece. Não vejo mais sinais para seguir. Sou um cão farejador, preciso do outro para seguir, não consigo ir sozinha. Sim. Tentei sozinha, mas creio não ter conseguido; o caminho tortuoso, a montanha alta demais. Minha intuição me levou ao exótico que não acreditava ser-me possível viver. Mergulhei para os corais e peixes coloridos dentro do tambor de água da chuva. Estou a milhares de quilômetros das estrelas e uma delas caiu cadente em minha mão. Estrela micro, nem sabia brilhar direito, também o cisne se imaginava pato. Sento-me sozinha para escrever novamente para entender o bumerangue afiado da vida. O impulso para voar dá medo. As pequenas aves sempre planam? O gelo vira uma superfície no chão pálido, oco. Já não é mais nada, disforme, isento, inodoro, insosso. Só deitar e olhar para o teto procurando ver imagens. Esta semana um estuda
Fragmentos filosóficos delirantes XCXV* "Com pedaços de mim eu monto um ser atônito" "Tudo que não invento é falso" "Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira" "Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou" "Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia" "Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário" "Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas" "O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito" "A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos" "Não preciso do fim para chegar" "Do lugar onde estou já fui embora" "Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos" &quo

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