Pular para o conteúdo principal

Postagens

A razão violada* “A linguagem, voltada sobre si mesma, diz o que por natureza parecia escapar-lhe. O dizer poético diz o indizível.” Octavio Paz Um dialeto dos subúrbios se oferece na palavra maldita. Sua desconexão aprecia ampliar os horizontes do discurso bem comportado. A irrealidade dessas páginas desencontradas possui o barroco das possibilidades incompreendidas. Muitas vezes se parece com uma região de exílios, onde conjecturas expõe o absurdo e tênue abismo onde ser e não-ser são. Resultante da interseção do sonho com a utopia, sua alegoria parece seguir à deriva de si mesma. Num movimento existencial difuso, semelhante ao lirismo dos super-heróis internados, parece encontrar a retórica perdida. No lugar extraordinário de todo lugar, visibilidade e cegueira ressoam mensagens cifradas. Nas entrelinhas de tudo e nada uma atenção insone se diverte a distorcer eventos do dia nos territórios da noite. Talvez esboço para saber a versão das alturas, sobrevoos, mergu
Leituras de Filosofia Clínica I* “O pastor Miguel Brun me contou que há alguns anos esteve com os índios do Chaco paraguaio. Ele formava parte de uma missão evangelizadora. Os missionários visitaram um cacique que tinha fama de ser muito sábio. O cacique, um gordo quieto e calado, escutou sem pestanejar a propaganda religiosa que leram para ele na língua dos índios. Quando a leitura terminou, os missionários ficaram esperando. O cacique levou um tempo. Depois, opinou: — Você coça. E coça bastante, e coça muito bem. E sentenciou: — Mas onde você coça não coça”. Eduardo Galeano** Na Filosofia Clínica há um elemento denominado interseção, importantíssima para a prática do consultório. Ela é dividida em interseção positiva, negativa, confusa e indefinida. Não necessariamente o exercício de consultório deverá ser totalmente baseado na interseção positiva, até mesmo porque às vezes o partilhante precisa de outras formas de interseção para que o andamento dos trabalhos em consultório
O avesso do avesso* Às vezes, há instantes que – como respirações suspensas e eternizadas pelo tênue ar que mantém a fugacidade do momento – traduzem os infinitos que nos compõem e transpiram a vitalidade da essência de que somos feitos, como se conseguissem concentrar num átimo toda a potencialidade da existência. Momentos assim são como pérolas escondidas em conchas vigorosas que resistem em se revelar, temerosas de que seu valor jamais seja devidamente apreciado. E, no entanto, expressam uma preciosidade que não pode ser transposta na insanidade da realidade que ofusca e que muitas vezes nem mesmo se percebe. A vida é mais do que o avançar do tempo, muito mais do que o contar dos batimentos. A vida não se esgota e não se permite rótulos, embora as vendas se acumulem nos olhos de quem se recusa a verdadeiramente engolir a pílula vermelha... cor do sangue de que nos alimentamos, da maçã que nos incita a não resistir tanto às tentações, da vibração que nos mantém aquecidos e atent
Fragmentos filosóficos delirantes XCXVII* "O filósofo americano Thoreau fala em algum momento de um quarto Estado. Ao lado da Igreja, do Estado e do povo, o estado do 'andarilho errante'. Que podemos entender através de todas essas figuras nômades que recusam a estabilidade sexual, ideológica ou profissional." "Claro, não é nenhuma novidade, mas, como em outros períodos de mutação, continuamos a analisar ou julgar os fatos sociais com critérios de outras épocas." "É preciso saber chamar a atenção para o fato de que os grupos sociais são constituídos do mesmo material que os sonhos que os habitam." "O imaginário social tem uma autonomia específica. É móvel, fugidio, polimorfo, mas não menos eficaz. E somente um politeísmo epistemológico pode levar a entender o advento das figuras em torno das quais se estrutura a ligação social." "O fenômeno incita à modéstia, por sua complexidade e também por sua indecisão. É nebuloso e plu
Vontades alheias* Alguns cogumelos vivem no mundo real; para eles, o devir é o que existe: a grama, a pedra, o orvalho que bebem, o tronco das árvores que eles mesmos ajudam a decompor. Há os que sonham, saltitam no imaginário, um outro mundo no qual Platão preferiria viver e no qual plantava a sua verdade. Era assim pra ele, diria o Hélio. É assim para muitos. Lá eles são fortes, têm bolinhas azuis na sua copa de guarda-chuva vermelho e por dentro são uma sanfona macia e doce. E há ainda os seres simbólicos, metafóricos, psicodélicos, mitológicos, que existem em outra dimensão, flutuam para não se espatifarem sobre os blocos duros da realidade – e nem do sonho, imagina! Conseguem sumir do espaço insosso, espaço grosso no qual vivem e que não conseguem mudar. A rotina de ir à missa, diz minha mãe, é um meio de vida para se ter condições para sobreviver na vida a que se reservou o cogumelo bege. Quero passar algumas coisas maravilhosas que as aulas do Mestrado em História me me
Apontamentos de uma estudante de Filosofia Clínica* "Hoje sou toda poesia... Sem melancolia, a vida segue seu rumo mais feliz, mais inteira, mais em paz! Se ontem fui tristeza, garanto que hoje sou paz. Por horas me sinto sentindo um contentamento contente de quem já viveu tanto em tão pouco tempo. Sou fardo, sou muito, sou "over", sou paz... Meu coração bate acelerado, de uma forma tão desordenada dentro da ordem da paixão que não caibo em mim Mas... De repente... Lembro Lembro do abismo que vivi em tão pouco tempo e percebo o quão arriscado é existir. Tudo tão incerto e desorientado que não há bússola para conseguir guiar essa louca delícia que se chama existir!" "O frio lá fora me faz querer ficar aqui dentro, agasalhada e quentinha. Um bom livro ou um programa de entrevista será uma boa! Refletir sobre a vida também faz sentido! Penso que reflito mais quando estou encolhida em mim mesma e isso o frio faz. Quase em posição fetal, posição de
Sobre a amizade* O tempo passa rápido e a distância não consegue sepultar um sentimento verdadeiro. Plantamos as sementes do amanhã no solo que cultivamos hoje. Assim é a amizade. Uma verdade plantada no jardim dos mistérios da vida. Cultivar é preciso. Regar também. Concordo com Sócrates quando sabiamente disse: “Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolver em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos”. No mundo competitivo em que vivemos uma amizade verdadeira torna-se tão rara como as pérolas escondidas em ostras no fundo do oceano. Talvez seja por isso que quando as encontramos sua beleza é inexplicável e seu valor incalculável. Pérolas são raras e especiais. Amizades verdadeiras também. Há um provérbio popular que diz: “Nunca foi um bom amigo quem por pouco quebrou a amizade”. Amizades verdadeiras não se quebram por futilidades. Elas resistem às duras tempestades das diferenças e se fortalecem com as esperanças partilhadas. Não gosto de sent
Direito ao Delírio* Querido leitor, paz! Hoje vamos refletir sobre um artigo do uruguaio, prêmio Nobel da Paz, Eduardo Galeano. Intitulado “Direito ao Delírio”, o artigo, que é originalmente apresentado de viva voz em um programa de televisão na Espanha, atravessa o mundo em diversos idiomas. Ele escrevia justamente na virada do milêncio, do século XX para o XXI e focava esperanças para o novo milênio que se apresentava. Existem coisas que são irretocadas. Este artigo é uma delas. Não vou lê-lo na íntegra, pois tomaria mais tempo que este programa tem, mas vou resumi-lo, tomando o cuidado de manter a sua originalidade. Ele diz assim: “Nasce o novo milênio. Nada de levar a questão muito a sério. Embora não possamos adivinhar o tempo que vai ser, nós temos pelo menos o direito de imaginar o que nós queremos. Em 1948 e 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a grande maioria da humanidade só tem o direito de ver e não ouvir. Então, que tal come

Visitas