Pular para o conteúdo principal

Postagens

Fragmentos filosóficos delirantes XCXXVI* "A presença do caos impede que o mundo se imobilize. O mundo não é só uma coleção de coisas, é também o arranjo das coisas, tocadas pelos projetos dos que nele habitam. O mundo está e não está pronto" "Tanto no líquido derramado quanto nas folhas levadas pelo vento, a desordem existe só para o observador incauto. Águas e folhas movem-se rigorosamente dentro de leis estabelecidas pela natureza" "O homem define-se nas suas muitas relações. Define-se ao se indefinir. Onde procurar o homem se a cada instante quebra grilhões ?" "A busca da verdade empreende-se no silêncio, longe do ruído das multidões. Estas exigem palavras claras, consagradas, familiares. Como esperar que aplaudam intrincadas oposições ? Os que se embrenham no matagal do saber carregam a singularidade como sacrifício. Isolam-se, porque a poucos interessa tão insólita aventura. Forma-se uma elite marginalizada, porque colocada sem recursos
O Palhaço das Ilusões* A alegria no picadeiro prometia ao meu coração triste uma manhã com sabores de eternidade. O sorriso atrás da maquiagem que lhe roubava o seu verdadeiro semblante escondia um olhar que descobri somente quando me ofereceu uma flor enquanto eu esperava a pipoca ficar pronta. Enquanto ela estourava na panela meu coração estourava de alegria dentro de um sorriso que não conseguia disfarçar. Enquanto o circo arrastava multidões, você arrastava meu coração para os seus braços. Nada conseguia esconder minha felicidade diante do espetáculo do amor que a cada noite se tornava mais belo. Foi assim que em muitas noites que pareciam nunca terminar que planejamos um futuro sem máscaras ou tristezas. No palco eu contemplava seu olhar a distância. Em meio à multidão eu colhia cada sorriso seu como as mais belas flores no jardim dos meus sonhos. Naquela noite em que a chuva chegou sem avisar, voltei para casa contemplando as estrelas que se emocionavam com minha felicidade
O que vale a pena* “O mais absurdo é o encontro entre o irracional e o desejo desvairado de clareza cujo apelo ressoa no mais profundo do homem”. (Albert Camus) Pode ser tudo ou nada... ou o que há poucos instantes não possuía significado algum e ainda navegava impreciso no âmbito da subjetividade indecisa de seus anseios. Quem sabe limitada aos devaneios ineficazes em criar compor melodias de embriaguez, como Dioniso a espreitar seu próprio delírio. Pode ser até o que nem sequer se suspeita Talvez o que valha a pena seja o que faça com que algo ou alguém nos permita olhares singulares – mais profundos, mais densos, mais translúcidos – e que surpreendem até a quem os carregam. Olhares que fascinam, encantam e se tornam especiais sem maiores dizeres ou até sentires. É ficar em êxtase simplesmente pela existência ou pela constatação de que amanhãs são possíveis. E ainda que não o sejam, que algo da nossa essência se perpetue, como um legado a transcender o que possa valer para a
A situação e a interpretação* Cada vez mais tenho me dado conta de que a fenomenologia, hermenêutica, a filosofia em geral e a Filosofia Clínica têm me ensinado é que em si as coisas são o que são. Mas, que diante disso, não é o que a coisa é que verdadeiramente importa, e sim como ela é para nós. Todas as coisas em si são o que são e elas não precisam ser mais do que isso, pois simplesmente são. Entretanto, o que cada coisa é para nós, assim torna-a influente em nossa vida. Há uma velha história do copo de água. Colocaram um copo com água na exata metade. Quando perguntaram para um indiferente sobre o que ele vê, ele disse que era apenas um copo com água. O pessimista disse que era um copo quase vazio. E o otimista disse que era um copo quase cheio. Indiferença, otimismo ou pessimismo diante da vida, influi fortemente no modo como agimos no mundo, e não com a coisa, fato ou situação na qual estamos quando estas não podem ser mudadas. Contudo, nós mudamos a cada novo olhar sobre o
Expressividade 1, 2, 3* Expressividade é o quanto cada pessoa revela dela mesma e quanto guarda para si. Quanto fica retido e quanto flui em direção ao outro. É uma característica individual na relação consigo mesmo e depois em direção ao outro. Não pode ser quantificada com exatidão. Algumas pessoas são completamente fechadas, não conseguindo liberar nada. Outras se abrem por inteiro, deixando passar de forma bruta tudo aquilo que vivenciam. A maioria filtra o que pode sair e o que deve ficar. Não existe certo nem errado, entretanto tanto a falta como o excesso podem causar dificuldades - UM - Às vezes não consigo entender nem expressar direito o que estou sentindo no exato momento em que as coisas estão acontecendo. Fico com aquilo apertando ou alisando m
Sombras* Tentava desvendar seu intimo por fotos sobradas Em álbuns públicos frases ermas.. Com poemas sem linha Era suave e mergulhava fundo Tinha fôlego e anunciava Uma dor refinada diluída quase liquida Tudo tão esteticamente pensado Que parecia ter um espelho sempre a mão Escondia-se claramente entre as algas Seu lugar é ao fundo do mar por isso sofria Sobrava-lhe brânquias ideias onde só tinha ar No mar, faltavam-lhe as sombras. *Alba Regina Bonotto Psicóloga, Filósofa Clínica Curitiba/PR

Visitas