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Apontamentos, poéticas noturnas VIII* Marginal é quem escreve à margem, deixando branca a página para que a paisagem passe e deixe tudo claro à sua passagem. Marginal, escrever na entrelinha, sem nunca saber direito quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. * Paulo Leminski 1944 - 1989
Sobre a solidão* Se eu perguntar o que é solidão, o que você me responderá? Talvez que solidão é se retrair em seu quarto, se afastar de pessoas, coisas, lugares, ocasiões. Ou que solidão é sentir-se sozinho ou sozinha, mesmo que em meio de um tumulto de gente. Quem sabe, ainda, que nunca se percebeu em um estado assim. Enfim, são tantas as possibilidades de resposta, visto que não existe uma definição universal para este fenômeno. Nos dicionários encontramos como sinônimo de afastamento, distanciamento, isolamento. Isso, além de outros aspectos sociais, é indicativo que, em nossa época, a solidão é vista com maus olhos. Se a solidão for, de fato, algo doloroso para a pessoa, ela deve receber atenção adequada no sentido de tentar alterar o que está se passando. Mas se for verificado que a solidão é apenas um indicativo do modo de ser da pessoa, ou de um determinado papel existencial dela, não temos que tentar mudar isso. Pode ocorrer, ainda, que o peso da solidão no todo da pess
CABELO É COISA DE MULHER* Quando o homem passa a viver ao lado de uma mulher, seu cabelo passa a ser dela. Vai dar palpites sobre o comprimento, tipo de corte, xampu, condicionador, freqüência de lavagens e até mesmo indicar o salão. Palpites são, na verdade, ordens. O homem, por mais atento que seja, dificilmente percebe quando a mulher muda o penteado ou corta as pontas. Não tem autoridade. Talvez contando minha história, possa alertar outros homens a consultar uma mulher antes de mexer em seus pelos. Foi em Atlântida, num verão dos anos 80, quando era moda “parafinar” as cabeças. Os jovens ficavam com os cabelos descoloridos e amarelados, como se houvessem sido queimados de tanto sol. Quis entrar nesta onda. O farmacêutico, muito solícito, explicou que aplicando água oxigenada nos cabelos, ou mais precisamente, um produto chamado Blondor, e depois se expondo ao sol, alcançaria a malandragem. A idéia era fazer surpresa para minha companheira. Antes de ir para a praia, f
Amor a primeira vista* Nós já acreditamos em amor a primeira vista. E hoje, depois de tanto estudar a vida e o amor, descobrimos até explicação cientifica para isto. Deus e as artimanhas de sua máquina de procriar nos pregando peças. Apaixonar-se no primeiro olhar, realmente é maravilhoso. Sentir o peito apertar, o coração acelerar, as mãos tremerem, compõe um conjunto de emoções e sensações que induzem pensar querer ficar para o resto da vida, até morrer, ao lado da outra pessoa. Entretanto há de se levar em conta que amar assim, com esta intensidade, também é possível depois de uma jornada de conhecimento do outro. Este “start” pode acontecer mais tarde, quando se pensa que está tudo sob controle. Quando se vê, não dá mais pra imaginar a sua vida sem aquela pessoa que a principio era apenas um passa tempo. Olhar, gostar, se encantar e se ver apaixonado, amando tudo que o outro tem, pode ser muito gratificante e, o mais importante, pode ser muito mais seguro a partir daí. Uma
Apontamentos, poéticas noturnas VII* Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: - mais nada. *Cecília Meireles 1901 - 1964
Arqueologias do texto* “Os sonhos que viveram numa alma continuam a viver em suas obras.” Gaston Bachelard De onde vem e quem escreve aquilo que se escreve? Uma interrogação superposta busca dialogar com a estrutura das fontes. Tratativas para objetivar as franjas da subjetividade onde a concepção se faz autoria. Buscas por rascunhar a frequência existencial de onde o texto se faz contexto. Um devaneio parece se inspirar em narrativas inacabadas, como a própria essência de viver. Desse mirante intuitivo as regiões inexploradas sussurram dialetos ao reviver a letra desgastada pelo excesso interpretativo. Diante das antigas impressões um convite à admiração reaparece e inaugura o milagre da palavra reinventada. A leitura marginal contorna a intencionalidade primeira, transpõe a inclinação natural das representações do autor e ressurge como esboço em uma nova inscrição. Uma leitura_escritura assim pensada possui mensagens híbridas de versão interminável. O discurso

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