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O Homem que Lê*

Eu lia há muito. Desde que esta tarde com o seu ruído de chuva chegou às janelas. Abstraí-me do vento lá fora: o meu livro era difícil. Olhei as suas páginas como rostos que se ensombram pela profunda reflexão e em redor da minha leitura parava o tempo.  De repente sobre as páginas lançou-se uma luz e em vez da tímida confusão de palavras estava: tarde, tarde... em todas elas. Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já as longas linhas, e as palavras rolam dos seus fios, para onde elas querem. Então sei: sobre os jardins transbordantes, radiantes, abriram-se os céus; o sol deve ter surgido de novo.  E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança: o que está disperso ordena-se em poucos grupos, obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas e estranhamente longe, como se significasse algo mais, ouve-se o pouco que ainda acontece. E quando agora levantar os olhos deste livro, nada será estranho, tudo grande. Aí fora existe o

Sobre flores e anjos*

Estava eu com meus botões, fazendo umas pesquisas de trabalho na internet, quando de repente me veio uma avalanche de pensamentos e uma imagem específica veio a minha mente. Como uma flor pode as vezes brotar no meio do caos?  Parei pra pensar sobre ela. Como é interessante o fato de mesmo depois de um turbilhão de acontecimentos, e parecer que se está no meio de furação ainda assim um flor linda consegue sobreviver a todos os fatos e aparecer lá, linda, singela, colorida, cheia de vida onde só há destruição. Ela ignora tudo ao seu redor e não se importante onde está ou quem está ao seu lado ela simplesmente é o que sabe ser: linda, cheirosa, alegre. Não deixa abalar sua essência mesmo quando tudo parece estar de cabeça pra baixo. Ela simplesmente vive, da forma que sabe, da maneira que dá. E isso tudo me fez refletir. Tem momentos na vida da gente que parece que um caminhão desgovernado veio e resolveu nos atropelar e deixar tudo de cabeça pra baixo, mais bagunçado im

As flores*

Que estranha magia devia possuir neste momento a linguagem humana para guindar a frase à altura da magnificência deste certame, a que a natureza pródiga emprestou, na pompa radiosa desta primavera doirada, toda a essência sutil da sua própria alma! E que palavra, por mais ungida que seja de requintado lirismo, por mais nimbada que seja de angelical meiguice, poderá celebrar, com segurança de expressão, toda a poesia infinita que vem de ti, ó flor, que és na missa da natureza, mal levanta a manhã, a hóstia perfumada que a terra agradecida eleva em oferenda ao sol! Companheira inefável do homem, expressão da sua ternura, celebradora dos seus ritos, mensageira do seu amor, canto da sua alegria, selo do seu afeto, tu és a simbolização da própria vida, presente sempre, com a tua fragrância e a tua graça, a tua irisação de felicidade ou a tristeza do teu destino, a toda a nossa existência tumultuária, desde as primeiras rosas, alfinetadas com carinho ao cortinado de um berço, até as de

Sabedorizar*

Querer e poder poder e querer querer e não poder poder e não querer não querer e poder não poder e querer não querer e não poder não poder e não querer querer e querer poder e poder querer e não querer poder e não poder não querer e não querer não poder e não poder salve o “e” e todas as suas possibilidades _/|\_ bem como o início de todas elas *Renata Bastos Filósofa, Mestre em Filosofia, Astróloga Clínica, Filósofa Clínica São Paulo/SP

Procura da poesia*

"(...) Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. Espera que cada um se realize e consume com seu poder de silêncio. Não forces o poema a desprender-se do limbo. Não colhas no chão o poema que se perdeu. Não adules o poema. Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço. Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave ? (...)" *Carlos Drummond de Andrade

A palavra crítica*

  “As obras de arte são de uma solidão infinita: nada pior do que a crítica para as abordar. Apenas o amor pode captá-las, conservá-las, ser justo em relação a elas”                                 Rainer Maria Rilke Outro dia uma aluna escreveu dizendo: “Hélio, dá uma olhada nesse e-mail que recebi sobre meus poemas publicados na Casa da Filosofia Clínica. (...) seu conteúdo me deixou arrasada! (...) travei, não consigo mais expressar minhas ideias, desabafos, sentimentos.” Ao me aproximar de seu sofrimento, pelo teor do conteúdo em anexo, realizei um exercício de reflexão sobre o tema. As palavras que li e reli atentamente, inclusive vigiando o próprio leitor (suspensão provisória dos juízos) da crítica, possibilitou ter em mãos uma peça retórica interessante, de um mestre e doutor em literatura e filosofia, além de poeta (o qual fez questão de ressaltar a titulação). A primeira sensação que tive, pela descrição do dado literal, foi de uma não-crítica literária. Me parecia um

O fracasso*

Ninguém inicia um projeto para que ele dê errado. Sempre se começa porque se acredita na possibilidade de obter sucesso, mas nem sempre isso acontece, algumas vezes fracassamos! E fracassar não é para qualquer um, dar-se por vencido é coisa para poucos. Creio que somente quando nos damos conta de que um projeto chegou ao fim podemos admitir novas possibilidades, abrindo espaço para o fechamento de um ciclo e simultaneamente iniciando um novo. O fracassado não é um pobre coitado, ele correu o risco de entregar-se a um plano e por isso já é um vencedor, no entanto é difícil lutar quando se chega ao fundo do poço, é um momento muito delicado que deve ser considerado com todo respeito, como se diz: não se chuta cachorro morto! Ninguém pode ter a dimensão da dor do outro, a dor de cada um cabe somente a si mesmo. Há os que preferem ter planos B e C, todos podem prever, de acordo com seus padrões, como será o futuro, ao meu ver, aí já começa o fracasso. A

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