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Intervalos*

No intervalo... A chuva lá fora Linda neblina convida A recolher sobre os lençóis Com ou sem parceiro Ler aquele livro Que te namora faz tempo Ao som de um blues Sem ter que... Não é Londres, mas Um chá de ervas... Não é Paris, porém Madeleines... Porque é sexta e, O outono sussurra ventos E tu estás ai, aqui No Olimpo a Atender aos deuses! *Rosangela Rossi Psicoterapeuta, escritora, filosofa clínica Juiz de Fora/MG

Entradas e saídas*

“Não joga fora não, um dia posso precisar para alguma coisa”. Existem pessoas que juntam tudo o que podem e guardam com a justificativa de que um dia podem precisar. Elas guardam desde pequenos objetos, que realmente podem ter uso até objetos que não terão serventia alguma. Existem casos extremos em que chegam a guardar alimentos, sementes, pedaços de madeira, tecidos, ou qualquer outro objeto.  Os objetos que elas juntam ocupam espaços, precisam de um lugar para serem alocados na casa e pela falta de arrumação acabam por servir de esconderijo para insetos, ratos e outras coisas. Por serem objetos velhos, muitos deles sujos, logo começam a criar mofo e espalhar doenças. Quem convive com pessoas assim logo nota que sua “mania” não é saudável e tentam intervir para mostrar os males que podem decorrer disso. Esse procedimento de juntar recebe o nome de adição em Filosofia Clínica, a pessoa soma uma coisa a outras que já existiam naquele local. Assim como algumas pessoas traze

Um bilhete em branco*

Digo eu: Oba!!! Hoje escrevi um bilhete em branco. Quem teria que ler, leria o bilhete em branco. Olhos e coração atentos. O que poderia conter um bilhete em branco? Ah, tudo, tudo.... ou nada mais... Em branco, de propósito. Para impressionar mais. Quem teria que ler o bilhete em branco, o leria. Tudo tão claro. Tudo tão nítido. Sem letras e sem palavras, para tudo conter.... Por Deus compreenda-me. Foram tantos outros bilhetes escritos. Rabiscados. Rasurados. Amassados. Manchados. Acabaram-se minhas folhas. Meus cadernos. Meus blocos. Minhas agendas. Os papéis acabaram.... Agora o coração escreve... Não vês as manchas vermelhas? Acabou-se a paciência. A espera cansou. O retorno não vinha. O amor entregou os pontos, vencido, por hora. Sobrou este bilhete em branco. Parecendo nada querer dizer. Pelo contrário: repete tudo o que já foi escrito. E o muito que ainda há para escrever. Olhe bem e verás. Tudo está neste bilhete em branco. Tentativa última e inútil, talvez, d

Penetração do Poema das Sete Faces*

(A Carlos Drummond de Andrade) Ele entrou em mim sem cerimônias Meu amigo seu poema em mim se estabeleceu Na primeira fala eu já falava como se fosse meu O poema só existe quando pode ser do outro Quando cabe na vida do outro Sem serventia não há poesia não há poeta não há nada Há apenas frases e desabafos pessoais Me ouça, Carlos, choro toda vez que minha boca diz A letra que eu sei que você escreveu com lágrimas Te amo porque nunca nos vimos E me impressiono com o estupendo conhecimento Que temos um do outro Carlos, me escuta Você que dizem ter morrido Me ressuscitou ontem à tarde A mim a quem chamam viva Meu coração volta a ser uma remington disposta Aprendi outra vez com você A ouvir o barulho das montanhas A perceber o silêncio dos carros Ontem decorei um poema seu Em cinco minutos Agora dorme, Carlos. *Elisa Lucinda 

Fragmentos de amor, sexo e poesia*

Como você se conecta nos ambientes e nas pessoas para escrever seus contos?  É mais ou menos como sintonizar uma estação de rádio. Você tem uma possibilidade enorme de emissoras e programas, mas você sabe bem o que quer escutar. Vai girando o dial. Escuta uma música que lhe incomoda os ouvidos, passa por um comentarista que não fala nada que lhe interesse, pula a estação que só apresenta desgraças, até que finalmente encontra aquele programa que estava procurando ou algum outro que lhe prendeu a atenção. A partir dali, você pode escolher entre voltar a fazer as outras coisas que estava fazendo (dirigir o carro, cozinhar, escrever, fazer amor) ou ficar prestando atenção à entrevista que está no ar, deixar-se envolver pela música que está tocando, imaginar-se dentro da narrativa que está sendo apresentada...Em outras palavras, você pode escolher sintonizar “o” programa de rádio ou se sintonizar “com” o que está acontecendo no programa de rádio.. Quando entro em um café com

Sobre as palavras*

Andei perdendo palavras por aí. Talvez por falar em excesso elas me faltem agora. As que saíram aos gritos duvido que voltem. Escaparam e deixaram vítimas durante a fuga. Uma pena. Mas em esforço de guerra dizem que perdas são justificáveis. Nunca acreditei muito nisso. Andei perdendo palavras por aí. Talvez por ficar em silêncio elas me sobrem agora. E por serem excesso ocuparam o espaço antes reservado ao agrupamento ordenado delas. O crescimento desordenado de palavras é mais perigoso. Jamais pensei na possibilidade de um motim de palavras. Andei perdendo palavras por aí. Das soltas e guardadas. Algumas entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Outras entupiram narinas e muitas desceram pelos olhos. Ainda ontem me olhei no espelho e vi que engordei. Ando comendo palavras saturadas. Um perigo. Preciso perder peso, perder palavras para reencontrá-las. *Sergio Fonseca

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