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Poéticas do espaço*

não me prendo escrevo sem rima e sem métrica vou sentindo no papel virtual teclando expiro sensações retalhos e fragmentos de sonhos e desejos deixo de lado sem medo normas e regras e me lanço no espaço da tela vazia faço e desfaço das linhas coloco meu porvir e devir sou poeta corre em minhas veias sons que surgem da alma e gritam para se atirar no mundo e se libertar da forma que me limita e escraviza! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Poeta, Filósofa Clínica, Membro das Academias de Letras de Juiz de Fora/MG e Cabo Frio/RJ. Juiz de Fora/MG

Sobre a origem da poesia*

A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem. Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não-poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas. Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa — que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história. A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades — significante e significado. Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tud

O mito de Sísifo*

Enigmático. Sísifo, condenado pelos deuses a rolar, infinitamente, uma pedra montanha acima. Que lhe escapava, sempre, antes da chegada ao topo. E ao fim e a cabo de tudo sentindo-se feliz. E, por que não? Sísifo. A pedra. A montanha. E sua tarefa. Mas existia também o bosque ao pé da montanha.... A vida. Suas lidas. Suas repetições. Suas rotinas. E os seus encantos.... e desencantos. Pois é. A filosofia fala-nos da vida. Nasce com a vida. Cresce com a vida. Expande-se com a vida. Filosofia e vida andam de mão dadas. Ou deveriam.... Que seria de uma filosofia sem ligação com a vida?. Palavra morta. De significados vazios. Grito, sem eco.... Seria a tarefa de Sísifo necessariamente uma condenação? Teria que haver alguma chegada , afinal? Algum início de caminhada? Não existiria apenas o caminho e o caminhar...? Ah, a vida e o nosso viver! E a construção da nossa caminhada. A vida que necessita ser vivida. Nunca em estagnada resignação. Nem incurável tristeza. Nem

Ter ou não ter namorado, eis a questão*

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.

A palavra horizonte*

                                "Quando se tem algo em mente, tem-se a si mesmo em mente"                      Ludwig Wittgenstein Talvez sua maior virtude seja retratar o universo de eventos possíveis em cada um. O exercício de seus dons deriva das origens estruturais, da aplicabilidade, do teor discursivo a fundamentar novas vivências. Seu sentido pode ser cura, loucura, alento ou desilusão.  Ao exibir uma estranha aptidão de transformar a pessoa naquilo que menciona, muitas vezes, ultrapassa o dado literal para traduzir-se. Ao dizer exilado de alguma coerência interna pode se desdobrar com a eficácia do agendamento bem colocado. As arquiteturas contraditórias reafirmam os deslizes de toda certeza. Parecem realizar escolhas ao ressoar dos movimentos da interioridade.  Mesmo a competência narrativa não é capaz de aprisionar por inteiro esses desdobramentos da subjetividade no esboço da linguagem. A expressividade de cada pessoa, ao dizer para si mesma, menciona

A palavra*

   Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito - como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.    Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.    Agora sei que outro dia eu disse uma palvra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque senti no momento - e depois esqueci.    Alguma coisa que eu disse distraído - talvez palavras de algum poeta antigo - foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao co

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