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Feira do Livro*

Anuncia-se no horizonte a Feira do Livro de POA, junto com a primavera e os ipês floridos. Preparar uma Feira do Livro é uma obra quixotesca. E é bom que se ande de mãos dadas com Dom Quixote. Anda-se, assim, em harmonia com moinhos de vento. Ou de montanhas de livros. E livros bons e fantásticos. Circula-se entre a Feira do Livro de Caxias do Sul e de Porto Alegre. Os olhos da gente voltando-se para duas direções. Um olho direciona-se em obras e autores criteriosamente selecionados. O outro olho, antecipadamente, no contentamento dos leitores ao encontrar os livros que procuram. Supera-se, assim, qualquer cansaço físico pela alegria da alma. E da alma do leitor. Tranquiliza-me esta preparação para a Feira. Sei que noventa por cento dos livreiros focam-se num frenesi desesperado em busca dos best-sellers. Uma saturação da mesmice. Uma repetição do mesmo. Estive ontem numa distribuidora e recolhia o que os outros deixavam para trás. Acho que não conheciam. Ou não

Pensar é transgredir*

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos - para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos. Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.  Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo. Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!"  O problema é que quando menos se espera e

Futebol: uma paixão pelo ridículo!*

Quando vejo um estádio de futebol com as pessoas apontando e denunciando um torcedor como aquele que atirou o tênis para dentro do campo para assim livrarem o time que trocem de sofrer uma punição, lembro que é exatamente assim que agem as pessoas dentro de uma ditadura onde o poder superior incute na mente do povo que devem agir como polícia de seus próprios vizinhos e familiares.  Na Alemanha nazista chegou um momento em que filhos denunciavam os pais, filhas acusavam mães e vizinhos deduravam qualquer vizinho que estivesse agindo contra seu país, isso na visão manipulada pelo poder superior. Não estou nem discutindo o mérito da ação de quem atirou o tênis para dentro do gramado, mas de uma massa que acaba por aceitar e ser subserviente de um poder maior, seja a CBF ou o tribunal que julga e decide as questões esportivas. Outra questão é a da punição contra o jogador que falou mal ou desabafou em campo contra a entidade máxima do futebol. O problema é que contra entidade

Lembranças de morrer*

Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro, - Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh’alma errante, Onde fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade - é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. Só levo uma saudade - é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas. De ti, ó minha mãe, pobre coitada, Que por minha tristeza te definhas! Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Se um suspiro nos seios treme ainda, É pela virgem que sonhei. que nunca Aos lábios me encostou a face linda! Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta deste flores. Se viveu, foi por ti! e de esperança De na vida gozar de teus amores. Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo. Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz

Efeito Borboleta*

Como dizia o saudoso Rubem Alves: “quem ajuda uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar um broto a sair da semente o destrói. Há certas coisas que não podem ser ajudadas. Tem de acontecer de dentro para fora”. Falecido há pouco tempo, este grande pensador brasileiro lembra algo importante: que ajudar em muitos casos é destruir. Para que uma borboleta possa sair do casulo não é necessário mais que condições de temperatura adequadas para que isso aconteça naturalmente. O mesmo pode se dizer de um broto: na terra corretamente adubada e em condições de temperatura e umidade corretas a semente germina e segue seu curso natural. O processo acontece de dentro para fora, os que tentam auxiliar no processo, por mais que tenham boas intenções, destroem o que estava ocorrendo. Há em Filosofia Clínica um procedimento clínico que se chama Em Direção ao Desfecho. Este consiste em levar a pessoa ao fim, à conclusão de algo que estava em curso. Cada pessoa tem pensamentos o

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