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Traço de estrelas*

Traço a rasgar desalinha, esconde raro porvir, inquieta vastidão. Surgem humores, deslizam sonhos, quebram espelhos, desatina alma. Buraco Negro que tudo engoli para além brotar estrelas! Que sabemos nós? O resto é vaidade! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Poeta, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos poéticos, filosóficos, delirantes*

                         “Uma intuição não se prova, se vivencia” “O tempo é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas” “(...) ela leva em conta não apenas os fatos, mas também, e sobretudo, as ilusões – o que, psicologicamente falando, é de uma importância decisiva, porque a vida do espírito é ilusão antes de ser pensamento” “Para as concepções estatísticas do tempo, o intervalo entre dois instantes é apenas um intervalo de probabilidade; quanto mais seu nada se alonga, maior é a chance de que um instante venha termina-lo” “Como realidade, só existe uma: o instante. Duração, hábito e progresso são apenas agrupamentos de instantes, são os mais simples dos fenômenos do tempo” “Ensina-nos a ver e a escutar o Universo como se só agora tivéssemos dele a sã e súbita revelação. Reconduz a nossos olhares a graça de uma Natureza que desperta. Devolve-nos as horas encantadoras da manhã primitiva banhada de criações novas” *Gaston Bachelard  

Silêncio dos Dias*

Na tarde que esconde o poente das inquietações, faço do cansaço minha prece diante da poeira de minhas dúvidas. No pássaro solitário a cantar as tristezas de não saber qual o rumo certo para migrar, elevo no silêncio que cala minh’alma a poesia que nasce no entardecer dos cantos destes cantos sem fim. Poetizo a vida na dor que muitas vezes chega sem nome e aos poucos cicatriza na alma ferida a melodia de uma tarde de saudades. Nada além do vento frio que anuncia a noite que chega de mansinho. O sol se esconde das minhas esperanças e nas estrelas o anuncio de que Alguém olha por mim. Descrevo a vida de acordo com os aprendizados de cada dia. Nada além do que a vida me ensina nas duras tardes de sertões que povoam regiões sem norte ou sul de estações que ainda hão de chegar. Refaço a vida no amor que junto à mesa é sacramento de bondade. No arroz e feijão a certeza do alimento que é fruto do suor e cansaço de cada dia. Nada mais que uma simples oração, sem palavras ou ri

André Breton ou a busca do início*

Escrever sobre André Breton com uma linguagem que não seja a da paixão é impossível. Além do mais, seria indigno. Para ele os poderes da palavra não eram distintos dos da paixão e esta em sua forma mais alta e tensa, não era outra coisa que a linguagem em estado de pureza selvagem: poesia. Breton: a linguagem da paixão, a paixão da linguagem. Toda a sua busca, tanto ou mais que a exploração de territórios psíquicos desconhecidos, foi a reconquista de um reino perdido: a palavra do princípio, o homem anterior aos homens e às civilizações. O surrealismo foi sua ordem de cavalaria e sua ação inteira foi uma Quète du Graal . A surpreendente evolução do vocábulo querer exprime muito bem a índole de sua busca; querer vem de quaerere (buscar, inquirir), mas em espanhol logo mudou de sentido para significar vontade apaixonada, desejo. Querer: busca passional, amorosa. Busca não para o futuro nem o passado e sim para esse centro de convergência que é, simultaneamente, a origem e o fim

As poesias*

Porque me acompanham, se prestam Me fazem emergir, inflar, Repleta do gás que me emprestam. Porque vivem comigo, relato e retrato São tontas, são tantas, são soltas São sobras das minhas vazantes. E me atormentam insanas Fazem pares ao meu ouvido E nem sei se fazem sentido; Elas, balelas… eu sôfrega…vício, Perdidas no ar que respiro Incontrolo esse afã bendito. Me olham do canto da sala – solenes Me aguardam no quarto – decorosas ou não Invadem momentos de angústia e de gratidão No trânsito, dentro do carro Onde, aflição, as esbarro E imploro que permaneçam. Mas me acolhem, e me seguem Elas perseguem, eu as hospedo fiel; Inferno regado de tanto céu. *Sônia C. Prazeres Filósofa, Poetisa, Filósofa Clínica São Paulo/SP

Quem não Ama a Solidão, não Ama a Liberdade*

"Nenhum caminho é mais errado para a felicidade do que a vida no grande mundo, às fartas e em festanças (high life), pois, quando tentamos transformar a nossa miserável existência numa sucessão de alegrias, gozos e prazeres, não conseguimos evitar a desilusão; muito menos o seu acompanhamento obrigatório, que são as mentiras recíprocas. Assim como o nosso corpo está envolto em vestes, o nosso espírito está revestido de mentiras. Os nossos dizeres, as nossas ações, todo o nosso ser é mentiroso, e só por meio desse invólucro pode-se, por vezes, adivinhar a nossa verdadeira mentalidade, assim como pelas vestes se adivinha a figura do corpo. Antes de mais nada, toda a sociedade exige necessariamente uma acomodação mútua e uma temperatura; por conseguinte, quanto mais numerosa, tanto mais enfadonha será. Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está

A escuta das palavras*

A palavra, em deslocamento por seus muitos territórios, também busca uma legibilidade para sua escuta escutando-se. Aptidão rara em meio as ditaduras da semiose verbal. Ao conviver sempre no mesmo lugar, ainda que em línguas diferentes, é excepcional vivenciar as dialéticas da aventura.   Em um mundo apropriadamente imperfeito, pode ser indizível, ao dicionário conhecido, encontrar o melhor para si. Essa suspeita se insinua nas possibilidades do instante perfeito nas entrelinhas da imperfeição. Essa transgressão da zona areia movediça de conforto existencial, se aproxima de um mundo razoável e suas contradições. Assim pode acolher e dialogar com a mutante medida de todas as coisas em cada um.     Ao destacar o viés dessas poéticas da irreflexão, se esboça uma negação de que tudo já foi dito, pensado, tentado. Nele um espaço desconhecido se abre como proposta.  Talvez a escola, ao ensinar a ler e escrever, também pudesse incluir aprendizados na arte de ouvir, sonhar, flu

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