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Produzimos uma Cultura de Devastação*

Todos os anos, exterminamos comunidades indígenas, milhares de hectares de florestas e até inúmeras palavras das nossas línguas. A cada minuto extinguimos uma espécie de aves e alguém em algum lugar recôndito contempla pela última vez na Terra uma determinada flor. Konrad Lorenz não se enganou ao dizer que somos o elo perdido entre o macaco e o ser humano. Somos isso, uma espécie que gira sem encontrar o seu horizonte, um projeto por concluir. Falou-se bastante ultimamente do genoma e, ao que parece, a única coisa que nos distancia na realidade dos animais é a nossa capacidade de esperança. Produzimos uma cultura de devastação baseada muitas vezes no engano da superioridade das raças, dos deuses, e sustentada pela desumanidade do poder econômico. Sempre me pareceu incrível que uma sociedade tão pragmática como a ocidental tenha deificado coisas abstratas como esse papel chamado dinheiro e uma cadeia de imagens efémeras. Devemos fortalecer, como tantas vezes disse, a tr

Flores e mais Flores*

Há em nosso tempo, uma urgência , quase uma obrigação, a de que temos que descobrir os porquês de tudo que fazemos ,desejamos e pensamos.  Parece que o ser humano evoluiu muito neste movimento, mas isso tem uma contrapartida, porque a pergunta insistente e repetitiva, muitas vezes o faz girar em torno de si,  tal como um pneu roda na lama, fazendo buracos inertes, falta-lhe atrito e aderência.  Há uma parte de nós, que precisa ficar desconhecida, para garantir que o movimento intelectivo aconteça livremente e para permanecer a salvo de nossas ideias preconcebidas, carregadas de prejuízos culturais.  Desconhecida, se mantém como a coisa em si , e eu diria ainda como " a mais original das coisas de si" que habitam nossa mente. Entendo que é justamente esta zona neutra, este país desconhecido, que nos ajuda a criar novas rotas para vida.  Enquanto alguém,  sai das sombras, abandonando seus fantasmas para ser, mais e mais o que é de fato, cria uma rota de seu

Minha musa*

Minha musa é a lembrança Dos sonhos em que eu vivi, É de uns lábios a esperança E a saudade que eu nutri! É a crença que alentei, As luas belas que amei E os olhos por quem morri! Os meus cantos de saudade São amores que eu chorei, São lírios da mocidade Que murcham porque te amei! As minhas notas ardentes São as lágrimas dementes Que em teu seio derramei! Do meu outono os desfolhos, Os astros do teu verão, A languidez de teus olhos Inspiram minha canção... Sou poeta porque és bela, Tenho em teus olhos, donzela, A musa do coração! Se na lira voluptuosa Entre as fibras que estalei Um dia atei uma rosa Cujo aroma respirei... Foi nas noites de ventura, Quando em tua formosura Meus lábios embriaguei! E se tu queres, donzela, Sentir minh'alma vibrar, Solta essa trança tão bela, Quero nela suspirar! E dá repousar-me teu seio... Ouvirás no devaneio A minha lira cantar! * Álvares de Azevedo 12 de setembr

No entre*

fresta, intervalo onde o indizível se revela. o que é se desfaz em pensamentos. o que não é como bolor fermenta. no entre este eu desconhecido brota. um ser que eu não era confronta com ser que eu era. da explosão nasce uma estrela! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Poeta, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Sonhar é Preciso*

Sem sonhos, as pedras do caminho tornam-se montanhas, os pequenos problemas são insuperáveis, as perdas são insuportáveis, as decepções transformam-se em golpes fatais e os desafios em fonte de medo. Voltaire disse que os sonhos e a esperança nos foram dados como compensação às dificuldades da vida. Mas precisamos de compreender que os sonhos não são desejos superficiais. Os sonhos são bússolas do coração, são projetos de vida. Os desejos não suportam o calor das dificuldades. Os sonhos resistem às mais altas temperaturas dos problemas. Renovam a esperança quando o mundo desaba sobre nós. John F. Kennedy disse que precisamos de seres humanos que sonhem o que nunca foram. Tem fundamento o seu pensamento, pois os sonhos abrem as janelas da mente, arejam a emoção e produzem um agradável romance com a vida. Quem não vive um romance com a sua vida será um miserável no território da emoção, ainda que habite em mansões, tenha carros luxuosos, viaje em primeira classe nos aviõ

Onde há fumaça, há fogo*

Então você tem uma vida romântica e sexual esplendorosa? Então você grita, esperneia, fala coisas que nem está pensando de verdade para demonstrar o seu nível de prazer na cama? Você grita? Pode ser que o seu prazer seja mesmo do tamanho do seu grito, que ele seja de nível incontrolável, inacreditável do tipo, vou morrer aqui agora e nem ligo. Pode mesmo ter a ver esta coisa do grito, dos gemidos enlouquecidos, próprios de um beijo sufocante para abafar o caso, com um clímax merecedor de fogos e fanfarras. Isto pode até corresponder a uma realidade, pode mesmo ser o seu jeito de expressar prazer, contudo cabe avaliar alguma hipótese de descontrole, ou medo, ou aflição, ou desejo sincero de nem estar ali. Você fala coisas que nem percebe, nem concebe de verdade? Jargões decorados, palavras de baixo calão daquelas bem diferentes, mas bem diferentes mesmo das que você usa para conquistar o parceiro ou viver em sociedade? Então você tem uma vida romântica e sexual espl

A Arte e a Filosofia*

Nunca será de mais insistir no carácter arbitrário da antiga oposição entre arte e a filosofia. Se quisermos interpretá-la num sentido muito preciso, é certamente falsa. Se quisermos simplesmente significar que essas duas disciplinas têm, cada uma delas, o seu clima particular, isso é verdade sem dúvida, mas muito vago.  A única argumentação aceitável residia na contradição levantada entre o filósofo fechado no meio do seu sistema e o artista colocado diante da sua obra. Mas isto era válido para uma certa forma de arte e de filosofia, que aqui consideramos secundária. A ideia de uma arte separada do seu criador não está somente fora de moda. É falsa. Por oposição ao artista, dizem-nos que nunca nenhum filósofo fez vários sistemas. Mas isto é verdade, na própria medida em que nunca nenhum artista exprimiu mais de uma só coisa sob rostos diferentes. A perfeição instantânea da arte, a necessidade da sua renovação, só é verdade por preconceito. Porque a obra de arte também é u

O Pensar*

Em seu prólogo do livro: A condição humana, Hannah Arendt o finaliza dizendo: “O que proponho, portanto, é muito simples: trata-se apenas de pensar o que estamos fazendo”. Ayn Rand, filósofa russa naturalizada norte-americana, no final de seu livro: Objetivismo relata: “Salvar o mundo é a coisa mais simples do mundo. Tudo que se tem a fazer é pensar”. Se olharmos o mundo que aí está, verificaremos que o problema dele não é o fazer: edifícios, carros, tecnologia, construções, rodovias e todo tipo de produto do fazer humano está espalhado ao nosso redor mostrando a capacidade humana de realizar coisas. O que nos falta é o pensar mais profundo, aquele que antecede o projeto do fazer. Se nosso fazer é produto de nosso pensar, na medida em que dermos mais atenção ao pensar profundo, mais qualidade poderá sair para um futuro fazer, ou até a decisão, muitas vezes sábia, de não fazer nada. Havia um ditado que dizia: se tivesse dez horas para derrubar uma árvore, passaria oito

Imaginação e mobilidade*

(...) Pretende-se sempre que a imaginação seja a faculdade de formar imagens. Ora, ela é antes a faculdade de deformar as imagens fornecidas pela percepção, é sobretudo, a faculdade de libertar-nos das imagens primeiras, de mudar as imagens.  (...) Graças ao imaginário, a imaginação é essencialmente aberta, evasiva. É ela, no psiquismo humano, a própria experiência da abertura, ela especifica experiência da novidade. (...) O poema é essencialmente uma aspiração a imagens novas. Corresponde à necessidade essencial de novidade que caracteriza o psiquismo humano. (...) O ser torna-se palavra. A palavra aparece no cimo psíquico do ser. A palavra se revela como o devir imediato do psiquismo humano.  (...) O sonhador deixa-se ir à deriva. Um verdadeiro poeta não se satisfaz com essa imaginação evasiva. Quer que a imaginação seja uma viagem. Cada poeta nos deve, pois, seu convite à viagem. Por esse convite recebemos, em nosso ser íntimo, um doce impulso, o impulso que nos abala,

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