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O Poema Original*

Original é o poeta que se origina a si mesmo que numa sílaba é seta noutra pasmo ou cataclismo o que se atira ao poema como se fosse ao abismo e faz um filho às palavras na cama do romantismo. Original é o poeta capaz de escrever em sismo. Original é o poeta de origem clara e comum que sendo de toda a parte não é de lugar algum. O que gera a própria arte na força de ser só um por todos a quem a sorte faz devorar em jejum. Original é o poeta que de todos for só um. Original é o poeta expulso do paraíso por saber compreender o que é o choro e o riso; aquele que desce à rua bebe copos    quebra nozes e ferra em quem tem juízo versos brancos e ferozes. Original é o poeta que é gato de sete vozes. Original é o poeta que chega ao despudor de escrever todos os dias como se fizesse amor. Esse que despe a poesia como se fosse mulher e nela emprenha a alegria de ser um homem qualquer. *Ary dos Santos

Ler o passado*

Estava eu, aqui perdido, estava eu na minha infância Perdido, perdido nos livros, em livros. Estava eu na minha infância, perdido, perdido E os livros, são os mesmos caminhos, da minha vida, encontrei eles em sonho, que perdidos eu os li no mundo que inventei, o que era meu era de outros. Nunca nos vimos, nos reconhecemos em livros, só em livros. Perdidos, estava eu,  Todos perdidos nos livros, Ver era viver ‒ Ler! Me via nos lugares mais distantes. Estava eu, aqui em minha sala, perdido, perdido. Na vida, na infância encontrei todos, hoje todos moram Em livros. Minha vida perdida em livros, Envelheço em lidos mais vividos. Se pudesse ler o passado, certamente eu o leria, em livros, Perdidos. Luis Antônio Gomes Prof. Dr. PUC/RS. Editor Sulina. Poeta. Porto Alegre/RS

Do Juízo Estético*

Toda a arte pressupõe regras na base das quais uma produção, se deve considerar-se artística, é representada, em primeiro lugar, como possível; mas o conceito das belas-artes não permite derivar o juízo sobre a beleza da produção de qualquer regra que tenha um conceito como princípio determinante, em virtude de pôr como fundamento um conceito do modo por que tal é possível.  Assim, a arte do belo não pode inventar ela mesma a regra segundo a qual realizará a sua produção. Mas, como sem regra anterior um produto não pode ser artístico, é necessário que a natureza dê a regra de arte ao próprio sujeito (na concordância das suas faculdades), isto é, as belas-artes só podem ser o produto do gênio. Daí se conclui:  1º Que o gênio é o talento de produzir aquilo de que se não pode dar regra determinada, mas não é a aptidão para o que pode ser apreendido consoante uma qualquer regra; portanto, a sua primeira característica é a originalidade.  2º Que as suas produções, visto

Herói [1]*

A figura do herói como aquele que passa por dificuldades e, através de força interna e externa, persistência, coragem e determinação, vence seus obstáculos serve hoje de motivação para empreitadas pessoais. E este herói, diz-nos a sociedade e o conceito de resiliência (devidamente mal aplicado, diga-se de passagem), está no nosso lado, no dia-a-da, naquele ou naquela que luta diariamente pelo sucesso no jogo da vida.  É, como em Homero, um herói solitário e individual, mas também é como em Hesíodo, um herói que dá conta não de ações guerreiras em favor de uma pátria, mas de ações mundanas que dignificam sua luta e dão valor à sua vida de trabalhador. Partindo desse pressuposto moderno de herói é que o senso comum, aqui entendido como o modo de ser de pensamento cotidiano (Márcia Tiburi, Filosofia Prática – ética vida cotidiana e vida virtual) divulga essas atitudes, posturas e condutas éticas como modelo de virtude. Assim até os participantes do Big Brother tornam-se herói

Produzimos uma Cultura de Devastação*

Todos os anos, exterminamos comunidades indígenas, milhares de hectares de florestas e até inúmeras palavras das nossas línguas. A cada minuto extinguimos uma espécie de aves e alguém em algum lugar recôndito contempla pela última vez na Terra uma determinada flor. Konrad Lorenz não se enganou ao dizer que somos o elo perdido entre o macaco e o ser humano. Somos isso, uma espécie que gira sem encontrar o seu horizonte, um projeto por concluir. Falou-se bastante ultimamente do genoma e, ao que parece, a única coisa que nos distancia na realidade dos animais é a nossa capacidade de esperança. Produzimos uma cultura de devastação baseada muitas vezes no engano da superioridade das raças, dos deuses, e sustentada pela desumanidade do poder econômico. Sempre me pareceu incrível que uma sociedade tão pragmática como a ocidental tenha deificado coisas abstratas como esse papel chamado dinheiro e uma cadeia de imagens efémeras. Devemos fortalecer, como tantas vezes disse, a tr

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