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A cidade e os livros*

O Rio parecia inesgotável àquele adolescente que era eu. Sozinho entrar no ônibus Castelo, saltar no fim da linha, andar sem medo no centro da cidade proibida, em meio à multidão que nem notava que eu não lhe pertencia — e de repente, anônimo entre anônimos, notar eufórico que sim, que pertencia a ela, e ela a mim —, entrar em becos, travessas, avenidas, galerias, cinemas, livrarias: Leonardo da Vinci Larga Rex Central Colombo Marrecas Íris Meio-Dia Cosmos Alfândega Cruzeiro Carioca Marrocos Passos Civilização Cavé Saara São José Rosário Passeio Público Ouvidor Padrão Vitória Lavradio Cinelândia: lugares que antes eu nem conhecia abriam-se em esquinas infinitas de ruas doravante prolongáveis por todas as cidades que existiam. Eu só sentira algo semelhante ao perceber que os livros dos adultos também me interessavam: que em princípio haviam sido escritos para mim os livros todos. Hoje é diferente, pois todas as

Interseções*

mesmo da cabana, memo que distante... apenas no acender a tela a tocar com um dedo conectamos com todos que estão ligados! aqui e agora. magia. futuro presente. encontro das subjetividades. representação. desejos revelados - pouco importa se verdade ou mentira - presenças distantes. é um novo tempo. é uma nova forma de amar. é assim e pronto. comunicação midiática no sair de si e estar com... para quem isto é bom, basta. para quem não é, não é. sem interpretações intelectuais. simples. distâncias se apagam e num toque podemos *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Poeta, Filosofa Clínica Juiz de Fora/MG

A música é um livro, o livro é um filme*

“Meu amor, acredite Que se pode crescer assim pra nós Uma flor sem limite É somente por que eu trago a vida aqui na voz.” Caetano Veloso (Minha voz, minha vida)   A música é a expressão mais afinada da linguagem num país que tem a tradição cultural em sua musicalidade como uma das marcas mais profundas. A geração que me marcou, não esquecendo toda a história da música, foi ao tempo, a geração que me fez romper com um certo tipo de passado. Um necessário fim chegou ao fim quando ouvi pele primeira vez alguns, uns, Caetano, Gil e Chico. Quantas coisas se pode fazer na vida, nobre ou simples, as do cotidiano ou as da alta-cultura? A linguagem nos leva a todos os lados da vida, a música é o impulso mais cru, sua natureza vem do ventre, do berço, vem das casas, das ruas, dos amigos, dos amores. Só a música nos inspira mais que a leitura. Quem um dia já não saiu do livro para música, do filme para música como se as imagens fosse o clarão do mundo num roteiro para vida? N

Toma lá, da cá*

Por que mulheres estão se anulando, representando serem perfeitas, mais do que são capazes? A humanidade muito teria a ganhar se dedicasse ao amor tempo e dinheiro para estudo e compreensão de como agimos na falta dele ou quando estamos abastecidos desse sentimento que plenifica, até quando nos faz sofrer. A verdade é que a ciência ainda não admita a contento, comprovação, veracidade, validade ao estudo do amor e do comportamento que abrange as questões da sexualidade e o que passa no âmbito neural, psicológico, cognitivo do homem que ama e que fica ainda, passível do que é julgado ridículo e sem importância sobre as questões consideradas relevantes para a humanidade, como armas de guerra, conforto material exagerado, beleza física a nível dos deuses. É possível que o erro ocorra exatamente aí, a meu ver. Pouco interesse em atender a essa necessidade que considero básica e pouco interesse em entender como ela se processa dentro de nós. Algumas teorias são lançadas em o

A Palavra*

Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol, dentro da qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a. *Carlos Drummond de Andrade

No início era o tempo*

E o tempo habitava o vácuo E pairava sobre o caos. Existe o tempo das chuvas Como o de hoje Onde se escondeu o sol? Existe o tempo urgente Parece não poder ser adiado Não dou procuração em branco ao tempo Para decidir meu abraço... Existe ainda o tempo Que precisa de tempo Como o tempo do luto De perdas sem volta Deito-me inteiro nos braços deste tempo Para curar o que não tem jeito.... Existe o tempo de se escrever Tempo de se ler Tempo de se rabiscar E tempo de se apagar. E tão generoso é o tempo Que nos dá tempo de se reescrever.... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O Auto-Retrato*

No retrato que me faço - traço a traço - às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore... às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança... ou coisas que não existem mas que um dia existirão... e, desta lida, em que busco - pouco a pouco - minha eterna semelhança, no final, que restará? Um desenho de criança... Corrigido por um louco! *Mário Quintana

Wittgenstein*

                                                                                                    Ludwig Wittgenstein fundamenta a linguagem como abertura, ressalta inexistir um único modelo discursivo. Seu esboço de saber interminável acolhe a descrição pessoal como algo insubstituível. Um pensamento de anúncio da expressividade como o subsolo da singularidade. Os usos diferenciados dos termos agendados no intelecto encontram, na historicidade do sujeito, sua fonte de inspiração. Essa pronuncia, sob muitos aspectos, compartilha a trajetória de sua movimentação existencial. A expressividade se movimenta num viés de deslocamento na direção da autoria.     Um vocabulário assim descrito aparece como o esboço de uma forma de vida. Para compreender o significado de um discurso, é necessário saber a intenção do autor. Esse endereço existencial onde nasce e se desenvolve, constitui a pessoa como inédita. A filosofia analítica, na reflexão de Wittgenstein, se qualifica como

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