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Ter ou não ter namorado, eis a questão*

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remunerada de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega do lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado é quem não tem amor, é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar... Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de pada

A gente não faz amigos, reconhece*

Facebook informa: Carlos Alberto lhe enviou uma solicitação de amizade. Querido Carlos: Agradeço sua solicitação, mas infelizmente não  posso aceitá-lo agora, de imediato, em minha lista de amigos. A amizade, assim como a confiança, não chega através de um mero pedido. Envolve um elenco de condições que não cabem na formalidade de um protocolo. Não são qualidades, ações ou comportamentos adequados ou rígidos que vão determinar o vínculo da amizade. São os sentimentos que brotam em conjunto, sem preocupações acerca de como ou porque iniciaram ou quanto tempo vão durar. Atingida esta cumplicidade inexplicável, surge um princípio de verdade e a amizade torna-se vitalícia.   Meus amigos só deixarão o posto quando morrerem, e torço para que este dia nunca chegue. Até mesmo quando não estiverem mais nesta vida terrena, a amizade continuará nos unindo. Procuro fazer com meus amigos o que faço com bons livros. Guardo-os com todo o cuidado e carinho onde os possa encont

Todos os dias te descubro*

Segundo um poema de Fernando Pessoa Todos os dias descubro A espantosa realidade das coisas: Cada coisa é o que é. Que difícil é dizer isto e dizer Quanto me alegra e como me basta Para ser completo existir é suficiente. Tenho escrito muitos poemas. Claro, hei de escrever outros mais. Cada poema meu diz o mesmo, Cada poema meu é diferente, Cada coisa é uma maneira distinta de dizer o mesmo. Às vezes olho uma pedra. Não penso que ela sente Não me empenho em chamá-la irmã. Gosto porque não sente, Gosto porque não tem parentesco comigo. Outras vezes ouço passar o vento: Vale a pena haver nascido Só por ouvir passar o vento. Não sei que pensarão os outros ao lerem isto Creio que há de ser bom porque o penso sem esforço; O penso sem pensar que outros me ouvem pensar, O penso sem pensamento, O digo como o dizem minhas palavras. Uma vez me chamaram poeta materialista. E eu me surpreendi: nunca havia pensado Que pudessem me

Partilha*

Uma máscara aparece aleatoriamente no meio da multidão é o "V" de vingança, resta saber: que vingança é essa? São estarrecedoras as  razões distorcidas, que muitas vezes, ignoram  completamente a raiz de sua determinação. A politica sempre foi um prato cheio para projeções, quando alguém se enche de ódio para falar de um determinado politico ou partido, o exagero e a exacerbação pode estar  denunciando algo inversamente oposto ao discurso, aproveitando o personagem como um veiculo para desaguar frustrações de outra ordem. Algumas represas afetivas podem dar conta de justificar silenciosamente tais respostas comportamentais, quando se trata por exemplo, de sentimentos antagônicos ligados a uma figura de  laço afetivo profundo, com  a proximidade de tal evidência, que não permitiria nem um tipo de sentimento se quer parecido com ódio.  A hera tecnológica sistematizou  a coisa da infestação humana excluindo o isolamento por percepção cognitiva, este a quem da noção

Bernardo é quase uma árvore*

Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe E vêm pousar em seu ombro. Seu olho renova as tardes. Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho; 1 abridor de amanhecer 1 prego que farfalha 1 encolhedor de rios – e 1 esticador de horizontes. (Bernardo consegue esticar o horizonte usando três Fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.) Bernardo desregula a natureza: Seu olho aumenta o poente. (Pode um homem enriquecer a natureza com a sua Incompletude?) *Manoel de Barros

Falta de imunidade...*

Ah, como era difícil para ele amar. Calculava a sua dor antes. Antevia o fim a partir do primeiro abraço. Já havia se proposta a não amar mais. Continuava amando, porém. Era perigoso o amor para ele. É que não tinha criado autodefesas Sua alma não aprendeu imunidades Quando amava falava coisas que não imaginava que conseguiria falar algum dia. O amor fazia dele um homem confuso e incoerente. Verdadeiro e mentiroso. Sério e brincalhão ao mesmo tempo. Para conseguir dizer do jeito que amava.. Quando deixava de amar, ainda assim continuava amando. Não superava a perda, apenas se acostumava com a dor... E tomava os seus chazinhos.... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O Herói*

"— Papai, o que é um herói? Eu pergunto porque tenho grande vontade De ser herói também ... Será que posso ser herói sem entrar numa guerra? Será que posso ser herói sem odiar os homens E sem matar alguém?" O homem que já sofrera as mais fundas angústias E as mais feias misérias Trabalhando a aridez de uma terra infecunda Para que não faltasse o pão no pequenino lar; O homem que as mais humildes ilusões perdera No seu cotidiano e ingrato labutar; Aquele homem, ao ouvir a pergunta do filho: — "Papai, o que é um herói?" Nada soube dizer, nada pôde explicar... Tomou de uma peneira E cantando saiu, outra vez, a semear! *Judas Isgorogota

Compreensão*

“O que seria a vida sem esquecimento.” Hans-Georg Gadamer Que bom envelhecer e esquecer, e que não devemos esquecer de viver, e que todo esquecimento é viver mais um pouco, é lembrar viver mais um tanto outro muito de vida. Porque viver é esquecer um pouco de tudo, é viver um tudo de nada dos poucos instantes vividos.  Viver e não deixar de sentir as imagens, de não deixar de provar o vento como se o olfato fosse um som a cruzar um eterno campo de vida, e nosso voltar para o tempo é cheirar mais um pouco do esquecido, do ar que passa sobre a cabeça. E um vasto oceano e todo movimento a desaguar na vida. E morder a vida com aquilo que o esquecer nos deixou sentir: Viver os últimos dias como se vivesse os primeiro anos de vida, viver por viver sem deixar de cuidar da vida. Viver sem as certezas da exatidão, das verdades, e sentir todas as verdades vividas nesse caminho de vida intensa. *Dr. Luis Antônio Paim Gomes Professor. Escritor. Editor Sulina.  Porto Aleg

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