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Momento de beleza vivido*

Compreendi, então, que a vida não é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de mini-sonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira. *Rubem Alves

Caminhos do neologismo*

“O desejo é fundamental polívoco, e sua polivicidade faz dele um único e mesmo desejo que banha tudo.” Kafka: por uma literatura menor “...formas de corporeidade, de gestualidade, de ritmo, de dança, de rito, coexistem no heterogêneo com a forma vocal. ” Deleuze e Guattari: Mil Platôs Ainda sobre o neologismo no pensar, o pensamento é um voo que vai além da univocidade, ele tem sua pluralidade no efeito dos significados. Está certo, o significado é preciso mas ele percorre o signo como um estilhaço de origens. O fato de existir a criação, de recriar naquilo que já existe outros existentes nomes é o que legitima a polivicidade dos nomes. Um nome sozinho é um achado no meio da linguagem, é o que faz o filósofo da contemporaneidade, não recorrer apenas o existente e não se iludir com os nomes, flexibilizar os caminhos, romper barreiras com a força da linguagem. Não existe um sem outro, o pensamento e a linguagem não estão isolados. Mesmo com o artificialismo das c

Cantiga de Malazarte*

Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo, ando debaixo da pele e sacudo os sonhos. Não desprezo nada que tenha visto, todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola. Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos, destelho as casas penduradas na terra, tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.  Desloco as consciências, a rua estala com os meus passos, e ando nos quatro cantos da vida. Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido, não posso amar ninguém porque sou o amor, tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos e a pedir desculpas ao mendigo. Sou o espírito que assiste à Criação e que bole em todas as almas que encontra. Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo. Nada me fixa nos caminhos do mundo. *Murilo Mendes

Para não esquecer*

Esse era o título do artigo de Luiz Fernando Veríssimo na Zero Hora de 22 de Setembro. Discorria sobre a escrita, uma hipótese do possível surgimento dela a partir da necessidade de ter algo escrito para não esquecer. Assim como o autor eu já perdi algumas ideias que tive durante a noite e pela manhã já tinham desaparecido, concordo, por consolo, que não eram tão boas assim, caso contrário eu as lembraria. Hoje em dia escreve-se em papel cada vez menos. O advento da internet possibilitou a facilidade da pesquisa, até surgiu a expressão "joga no Google". Existem muitas coisas boas disponíveis nesses meios e a consequência disso é que não se sabe mais escrever. A escrita é um treino, um exercício de memorização e caligrafia. Eu tenho o que chamam de memória fotográfica, se anotar alguma coisa, muitas vezes Também existem as coisas que devem ser esquecidas, o enfraquecimento de uma memória, pode servir inclusive como uma forma de terapia. É um recurso saudável, lemb

Jactância de quietude*

Escrituras de luz embestem a sombra, mais prodigiosa que meteoros. A alta cidade irreconhecível se faz violenta sobre o campo. Seguro da minha vida e da minha morte, vejo aos ambiciosos e quisesse  entendê-los. Seu dia é ávido como o laço no ar. Sua noite é trégua da ira no ferro, pronto em acometer. Falam de humanidade. Minha humanidade está em sentir que somos vozes de uma mesma  penúria. Falam de pátria. Minha pátria é um palpitado de violão, uns retratos e uma velha  espada,  a oração evidente do salgueiro nos entardeceres. O tempo está vivendo-me. Mais silencioso que minha sombra, cruzo o tumulto da sua levantada  cobiça. Eles são imprescindíveis, únicos, merecedores do amanhã. Meu  nome é alguém e qualquer. Seu verso é um requerimento de alheia admiração. Eu solicito do meu verso que não me contradiga, e é muito. Que não seja persistência de formosura, mas sim de certeza  espiritual. Eu solicito do meu verso que os caminhos e a solidão o testemu

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