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A Rua dos Cataventos*

Da vez primeira em que me assassinaram, Perdi um jeito de sorrir que eu tinha. Depois, a cada vez que me mataram, Foram levando qualquer coisa minha. Hoje, dos meu cadáveres eu sou O mais desnudo, o que não tem mais nada. Arde um toco de Vela amarelada, Como único bem que me ficou. Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada! Pois dessa mão avaramente adunca Não haverão de arracar a luz sagrada! Aves da noite! Asas do horror! Voejai! Que a luz trêmula e triste como um ai, A luz de um morto não se apaga nunca! *Mário Quintana

Deixem que digam que pensem que falem!*

Leveza é a palavra de ordem em qualquer circunstância da vida. Naturalidade, autenticidade, segurança e principalmente, certeza de estar aonde deveria e desejaria estar. A chave para isto? Paciência, autoconhecimento, trabalho neste sentido e cuidado. E no amor, a regra também é válida?  Como em tudo na vida, no amor e no sexo não é diferente. Cultivar é o segredo. Conhecer-se e conhecer ao outro, somam-se a ele. Saber exatamente quem é aonde e com quem deseja estar.  Regra tão simples e tão desprezada por nós. Porque é que temos essa estranha mania de acharmos que somos deuses ou bruxos, que nada nos atingirá e que em um passe de mágica tudo se resolverá e ficará rosa e azul? Nada mais gostoso que estar nos braços de alguém que sabe exatamente onde queremos chegar. Nada melhor que a certeza de estar sinalizando de uma maneira tranqüila e leve o que gostamos de sentir. Nada melhor, quando tudo isto é transmitido através de olhares e sentidos captados pelo profundo entendim

Artaud por Artaud*

“Quem sou eu? De onde venho? Sou Antonin Artaud e basta que eu o diga Como só eu o sei dizer e imediatamente hão de ver meu corpo atual, voar em pedaços e se juntar sob dez mil aspectos diversos. Um novo corpo no qual nunca mais poderão esquecer.Eu, Antonin Artaud, sou meu filho, meu pai, minha mãe, e eu mesmo. Eu represento Antonin Artaud! Estou sempre morto.Mas um vivo morto, Um morto vivo. Sou um morto Sempre vivo. A tragédia em cena já não me basta. Quero transportá-la para minha vida. Eu represento totalmente a minha vida. Onde as pessoas procuram criar obras de arte, eu pretendo mostrar o meu espírito. Não concebo uma obra de arte dissociada da vida. Este Artaud, mas, por falta do que fazer… Eu, o senhor Antonin Artaud, nascido em Marseille no dia 4 de setembro de 1896, eu sou Satã e eu sou Deus, e pouco me importa a Virgem Maria. *Antonin Artaud

As palavras e os sonhos*

Palavras dançam em mim Imagens me aconchegam Viver na estrada abrem horizontes Liberto-me a cada amanhecer Amo para além das esquinas Porque os sonhos me invadem E, me permito desbravar o porvir *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Escritora. Juiz de Fora/MG

Fragmentos filosóficos delirantes*

"Que coisa morro quando sou ?" "Toda a vida da alma humana é um movimento na penumbra. Vivemos, num lusco-fusco da consciência, nunca certos com o que somos ou com o que nos supomos ser. Nos melhores de nós vive a vaidade de qualquer coisa, e há um erro cujo ângulo não sabemos. Somos qualquer coisa que se passa no intervalo de um espetáculo;" "Damos comumente às nossas ideias do desconhecido a cor das nossas noções do conhecido: se chamamos à morte um sono é porque parece um sono por fora; se chamamos à morte uma nova vida é porque parece uma coisa diferente da vida. Com pequenos mal-entendidos com a realidade construímos as crenças e as esperanças, e vivemos das côdeas a que chamamos bolos, como as crianças pobres que brincam a ser felizes." "Reconhecer a realidade como uma forma da ilusão, e a ilusão como uma forma da realidade, é igualmente necessário e igualmente inútil. A vida contemplativa, para sequer existir, tem que considerar

A Palavra e o Silêncio*

Desconstruindo consensos Isto é assim para mim... Feriram-me palavras Duras e suaves Olhares me atravessaram Condenaram-me sorrisos e choros Gestos me apavoraram Mas nada doeu mais fundo Do que aquele silêncio Naquela hora Em que mais precisava Ouvir uma voz. Tentaria explicar-me Por palavras Não deu tempo, não... Por este silêncio Encaminhei-me para o cadafalso Cabisbaixo, calado Condenado por antecipação Sem apelação Perdão.... perdão Não aprendi a adivinhar almas Não escuto vozes não ditas E o silêncio me falou Tudo, tudo Que eu não necessitava ouvir. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Momento de beleza vivido*

Compreendi, então, que a vida não é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de mini-sonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira. *Rubem Alves

Caminhos do neologismo*

“O desejo é fundamental polívoco, e sua polivicidade faz dele um único e mesmo desejo que banha tudo.” Kafka: por uma literatura menor “...formas de corporeidade, de gestualidade, de ritmo, de dança, de rito, coexistem no heterogêneo com a forma vocal. ” Deleuze e Guattari: Mil Platôs Ainda sobre o neologismo no pensar, o pensamento é um voo que vai além da univocidade, ele tem sua pluralidade no efeito dos significados. Está certo, o significado é preciso mas ele percorre o signo como um estilhaço de origens. O fato de existir a criação, de recriar naquilo que já existe outros existentes nomes é o que legitima a polivicidade dos nomes. Um nome sozinho é um achado no meio da linguagem, é o que faz o filósofo da contemporaneidade, não recorrer apenas o existente e não se iludir com os nomes, flexibilizar os caminhos, romper barreiras com a força da linguagem. Não existe um sem outro, o pensamento e a linguagem não estão isolados. Mesmo com o artificialismo das c

Cantiga de Malazarte*

Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo, ando debaixo da pele e sacudo os sonhos. Não desprezo nada que tenha visto, todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola. Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos, destelho as casas penduradas na terra, tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.  Desloco as consciências, a rua estala com os meus passos, e ando nos quatro cantos da vida. Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido, não posso amar ninguém porque sou o amor, tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos e a pedir desculpas ao mendigo. Sou o espírito que assiste à Criação e que bole em todas as almas que encontra. Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo. Nada me fixa nos caminhos do mundo. *Murilo Mendes

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