Pular para o conteúdo principal

Postagens

O Homem que Lê*

Eu lia há muito. Desde que esta tarde com o seu ruído de chuva chegou às janelas. Abstraí-me do vento lá fora: o meu livro era difícil. Olhei as suas páginas como rostos que se ensombram pela profunda reflexão e em redor da minha leitura parava o tempo.  De repente sobre as páginas lançou-se uma luz e em vez da tímida confusão de palavras estava: tarde, tarde... em todas elas. Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já as longas linhas, e as palavras rolam dos seus fios, para onde elas querem. Então sei: sobre os jardins transbordantes, radiantes, abriram-se os céus; o sol deve ter surgido de novo. — E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança: o que está disperso ordena-se em poucos grupos, obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas e estranhamente longe, como se significasse algo mais, ouve-se o pouco que ainda acontece. E quando agora levantar os olhos deste livro, nada será estranho, tudo grande. Aí fora exist

O enigma do mundo*

Vida, vida vasta Gozos e sabores Sem culpa Vou cavalgando Pelo caminho afora Escolha livre Olhar curioso Cada detalhe um deleite Espinhos e sombras Magia e encanto Fenômenos Deliro e decifro O grande enigma Do mundo em mim. *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Escritora Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos Delirantes*

"(...) no ato de reação à teia dos estímulos e de compreensão de suas relações, cada fruidor traz uma situação existencial concreta, uma sensibilidade particularmente condicionada, uma determinada cultura, gostos, tendências, preconceitos pessoais, de modo que a compreensão da forma originária se verifica segundo uma determinada perspectiva individual. No fundo, a forma torna-se esteticamente válida na medida em que pode ser vista e compreendida segundo multiplices perspectivas, manifestando riqueza de aspectos e ressonâncias, sem jamais deixar de ser ela própria (...)" "O fenômeno da obra em movimento , na presente situação cultural, não está absolutamente limitado ao âmbito musical, mas oferece interessantes manifestações no campo das artes plásticas, onde encontramos hoje objetos artísticos que trazem em si mesmos como que uma mobilidade, uma capacidade de reproduzir-se caleidoscopicamente aos olhos do fruidor como eternamente novos." "(...) dão l

Coração tecno*

“Quando eu fico, como hoje, mexendo nesses velhos cartões-postais, percebo que de repente tudo se misturou, se confundiu.” Danilo Kiš Nunca diga não a tecnologia de seu coração. Não se assuste, o coração é o mesmo; acontece que ele e a tecnologia não viveriam longe um do outro. Sucumbiriam na mesmice do nascer, crescer e morrer.  A metáfora ‒ coração ‒ é aqui a força do texto, o lúdico do pensar é apenas a carga para o movimento, o batimento é como os dedos que percorrem o resto da imaginação sem pressa de terminar sua exploração.  A poética diz ser: o coração é a precisão mais perfeita do viver, o bater, o pulsar das incertezas.  Mesmo assim, o coração é como a tecnologia para o corpo que precisa ir adiante dos dias, além do tempo, mergulhar nas possibilidades do que nos abastece a vida, no ritmo de cada um, outros pulsam, vivem de forma diferente. *Prof. Dr. Luis Antônio Paim Gomes Editor. Escritor. Pensador. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos Delirantes*

"Terreno da liberdade, a crônica é também o gênero da mestiçagem. Haverá algo mais indicativo do que é o Brasil ? País de amplas e desordenadas fronteiras, grande complexo de raças, crenças e culturas, nós também, brasileiros, vacilamos todo o tempo entre o ser e o não ser. Somos um país que se desmente, que se contradiz e que se ultrapassa. Um país no qual é cada vez mais difícil responder à mais elementar das perguntas: - Quem sou eu ?" "Os poetas que valem realmente fazem a poesia dizer mais coisas do que dizia antes deles." Morrem, mas continuam a falar a nos surpreender." "'Não é a simplicidade que se deve recomendar e elogiar'. Para Mário, a lei moral do artista digno era 'se realizar cada vez melhor em sua personalidade'. Ser simples, ou ser confuso, é uma consequência, não uma escolha." "A literatura é um poço profundo, em que o chão nos escapa. Uma vez em seu interior, nada mais devemos esperar. Ficções não

O inverno da alma...*

Percebo a cada dia, um frio que sai de dentro do meu coração, sequioso por sol. O calor aquece a alma dolorida e recupera a caminhada cansativa de cada dia. Estive hibernada em mim durante muito tempo. Precisei entender processos escondidos dentro de um compartimento secreto que só foi possível acessar depois de muita dor e sofrimento. Não gosto do inverno e confesso que quando sinto que ele está indo para longe trazendo a primavera, meu coração se enche de flores perfumadas de plenitude. Moro na serra de Petrópolis, onde há dias cinza e de nevoeiro. As tardes são úmidas e frias nessa estação temida por quem se encolhe e se esconde debaixo de várias peles para aquecer o corpo e o coração. Olho pela janela do meu quarto e vejo o céu. Isso me anima. Como o céu de inverno é bonito!!! Quase romântico. A lua sempre exuberante me lembra vida ainda existente em algum lugar perto ou distante de meus pensamentos que caminham em direção ao nada e à melancolia. Volto para dentro do m

Tu tens um medo*

Tu tens um medo: Acabar. Não vês que acabas todo o dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que te renovas todo o dia. No amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que és sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas. Até não teres medo de morrer. E então serás eterno. *Cecília Meireles

Sobre Dar e Receber*

Dizem que ninguém nunca pode receber Senão o que ele mesmo pode dar O bem maior que podemos fazer aos outros É fazer com que descubram , eles mesmos, sua riqueza maior Toda dádiva recebida é a descoberta Dentro de si de algo que já se possuía sem suspeitar Compreende-se que o único A ter consciência do bem é quem o recebe E não quem o dá Pois quem o dá age conforme o que já é E quem o recebe enriquece, deveras, sua vida Com um poder que trazia dentro de si Mas que não exercia enquanto sozinho É estéril uma dádiva não recebida Por certo é quem recebe a dádiva Que possibilita a sua eficácia... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Se eu fosse um Padre*

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções, não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições... Se eu fosse um padre eu citaria os poetas, Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma ... a um belo poema ainda que de Deus se aparte um belo poema sempre leva a Deus! *Mário Quintana

Visitas