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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Nas horas de grandes achados, uma imagem poética pode ser o germe de um mundo, o germe de um universo imaginado diante do devaneio de um poeta. A consciência de maravilhamento diante desse mundo criado pelo poeta abre-se com toda ingenuidade." "(...) como pode um homem, apesar da vida, tornar-se poeta ?" "(...) o devaneio nos dá o mundo de uma alma, que uma imagem poética testemunha uma alma que descobre o seu mundo, o mundo onde ela gostaria de viver, onde ela é digna de viver." "Que benefícios nos proporcionam os novos livros! Gostaria que cada dia me caíssem do céu, a cântaros, os livros que exprimem a juventude das imagens. Esse desejo é natural. Esse prodígio, fácil. Pois lá em cima, no céu, não será o paraíso uma imensa biblioteca ?" "Em seu ser atual, as palavras, acumulando sonhos, fazem-se realidades." "(...) ouvindo certas palavras, como a criança ouve o mar numa concha, um sonhador de palavras e

O Filósofo Clínico e a Misericórdia*

Para os católicos este é um ano em que a misericórdia deve ser vivenciada de um modo mais concreto. O Papa Francisco proclamou 2016 como o Ano Santo da Misericórdia. Mas você filósofo clínico que não é católico, nem mesmo cristão, deve estar se perguntando: “O que a misericórdia tem haver com a Filosofia Clínica?”. O termo “misericórdia” é formado pela junção de duas palavras em latim: miseratio (compaixão) + cordis (coração). Assim podemos dizer que misericordioso é todo aquele que tem um coração compassivo. Isto significa que você filósofo clínico que tem um coração compassivo é misericordioso, e isto independe se você professa alguma religião ou não. Até mesmo você que é ateu não deixa de ser misericordioso se cultiva na vida a misericórdia. A Filosofia Clínica é a arte do cuidado. Quem cuida ama e quem ama é misericordioso. A Filosofia Clínica não é dogmática e nela há espaço para reflexões de todas as ciências, inclusive a teológica. Santo Tomás de Aquino, cujas obras

Fragmentos Filosóficos Delirantes*

"Não existe nenhum organismo individual que viva em isolamento. Os animais dependem da fotossíntese das plantas para ter atendidas as suas necessidades energéticas; as plantas dependem do dióxido de carbono produzido pelos animais, bem como do nitrogênio fixado pelas bactérias em suas raízes; e todos juntos, vegetais, animais e microorganismos, regulam toda a biosfera e mantêm as condições propícias à preservação da vida." "A dinâmica dessas estruturas dissipativas caracteriza-se, em específico, pelo surgimento espontâneo de novas formas de ordem. Quando o fluxo de energia aumenta, o sistema pode chegar a um ponto de instabilidade, chamado de 'ponto de bifurcação', no qual tem a possibilidade de derivar para um estado totalmente novo, em que podem surgir novas estruturas e novas formas de ordem." "Na evolução, portanto, as bactérias são capazes de acumular rapidamente suas mutações ocasionais, bem como grandes porções de DNA, através da tro

Compreensão e Interpretação*

    “Não pretendo convencer ninguém, nem sequer ser convencido.” Paul Valéry (parte 2) Interpretar um acontecimento passa pela forma de como compreender um pouco do mundo, diria a voz no cotidiano. E que toda “interpretação se funda na compreensão” daquilo que pensamos como algo parte de nós, do que está no lado externo, no cotidiano a percorrer a significância de que o que se é compreendido se é projetado à interpretação. Existe a abertura ao mundo a partir da compreensão, o ser está presente no que está pensado. As circunstâncias movem o que está em curso, “o mundo já compreendido se interpreta”[1]. Não estou aqui a pensar a interpretação na esteira lógica do uso da linguagem, mas não posso deixar de lado as tentativas da hermenêutica na contribuição de como a interpretação poderá ser a via por onde os caminhos do olhar direciona-se em busca do compreendido. Poderia estar neste terreno seguro e verdadeiro, porém, demasiado superficial, para o curso das águas deste ri

O livro sobre nada*

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou. O meu amanhecer vai ser de noite. Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção. O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo. Meu avesso é mais visível do que um poste. Sábio é o que adivinha. Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições. A inércia é meu ato principal. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore. Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma. Peixe não tem honras nem horizontes. Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando nã

Beija Flor***

Nem sei se posso dizer isto. Há no ar uma interrogação. Faz-se no ar silêncio. No entre, uma pausa. Desamor pulula no egoísmo. Vaidades tomam o poder. Comparações criam complexos. Julgamentos são revólveres de projeções. Críticas se tornam jogos de saber/poder. Fofocas exaltam a inveja dos impotentes. Ressentimento alimentam mágoas. E, os ventos sopram... Os raios rasgam horizontes. Outono queima as matas. Num ato intenso de amor, Chega o Beija-flor. Em seu bico uma gota de amor. Treme beijando o orvalho. Seduz encantando e despertando. Analisa e se desfaz em graça. O mínimo se torna mais. Como mágica acende a lua. Distribui amor sem nada esperar. Entrega-se às flores e goza Na dança de SerAmor! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG ** do livro: Ser Amor que está no prelo

Valéry angustiado*

Leio em "Monsieur Teste", livro do genial Paul Valéry relançado, em edição ampliada, no ano de 1946, um ano após a morte do escritor: "Enfastiado de ter razão, de fazer o que tem sucesso, da eficiência dos procedimentos, tentar outra coisa". Na metade do século passado, Valéry ataca, assim, alguns dos valores mais divinizados em nosso século 21: o império da razão, a necessidade do sucesso a qualquer preço, o endeusamento da eficiência e do desempenho. A idolatria da vitória. Não vacila: diz. Não se poupa: expõe-se. Foi também um crítico de grande coragem intelectual. Em "Monsieur Teste", um dos livros mais importantes de Valéry (1871-1945), o filósofo se dedica a pensar o pensamento. Seu objeto não é o mundo, não está interessado em refletir a respeito das coisas a seu redor. Interessa-se, apenas, por sua própria maneira de pensar. Na edição ampliada que tenho nas mãos, estão incluídos fragmentos e anotações que Valéry pretendia acrescentar a seu

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