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Ela tem olhos verdes*

Estou lendo um livro de 84 32 anos, exatamente minha idade Não busco nele ciências Quero a versão de uma mulher Encontro o avesso de várias Variadas versões dela Poderiam ser as nossas Mas uma predomina ser Menina, eu vi! ela é fogueira Tanto esquenta quanto aquece Você acha que a conhece? Ardente e mansa, Se metade dela eu fosse... Não mudaria, nem se quisesse Tem alma leve quando enlouquece Desnuda-se e atravessa oceanos Navega em mares que não conhece Ama o mistério dos olhos Sai do mar, põe os pés na areia Fala por nós, dores e amores... Séculos de dominação E ainda assim estamos soltas Se não em nossas almas, Na alma das outras! A natureza nos chama... *Dionéia Gaiardo Filósofa Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O pleno cumprimento da compreensão da história é, como a compreensão de um texto, 'atualidade espiritual'" "(...) um autor não necessita ter reconhecido por si mesmo todo o verdadeiro sentido de seu texto, e que, por consequência, o intérprete pode e deve entender, com frequência, mais do que aquele. Entretanto, isso tem um significado realmente fundamental. O sentido de um texto supera seu autor não ocasionalmente, mas sempre. Por isso a compreensão não é nunca um comportamento somente reprodutivo, mas é, por sua vez, sempre produtivo" "(...) a compreensão começa aí onde algo nos interpela. Essa é a condição hermenêutica suprema. Sabemos agora o que ela exige com isso: a de suspender por completo os próprios preconceitos" "Horizonte é o âmbito de visão que abarca e encerra tudo o que é visível a partir de um determinado ponto. (...) ter horizontes significa não estar limitado ao que há de mais próximo, mas poder ver para alé

Os sonhos da poesia*

Por convenção dizem que hoje é o dia do poeta. Mas como isso pode ser assim? O poeta e as convenções jamais se deram bem, são incompatíveis, sobretudo, porque enquanto um quer padronizar, ajustar e tolher asas, o outro deseja por inteiro libertar e impulsionar sonhos até a sua concretude. Quem crê nas convenções, quase sempre são tradicionalistas demais, realistas demais e seguramente dotados de dois pés e um coração bem presos ao chão. Já os poetas - pelo menos um - justamente esse que vos fala é um desajustado, não passa de um sonhador com coragem suficiente para ousar sentir e fazer mesmo em tempos de tanta descrença e cegueira. A verdade é que talvez, ser poeta não caiba num dia inteiro nem em lugar nenhum, com efeito, pelo simples fato de que ser poeta é tão somente agora, nem ontem, nem hoje, nem amanhã, apenas agora e sempre do início a eternidade presente em cada átomo, em cada célula, em cada pulso, impulso ou pausa; ser poeta se dá nos gritos e nos silêncios

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O texto é plural. Isso não significa apenas que tem vários sentidos, mas que realiza o próprio plural do sentido: um plural irredutível (e não apenas aceitável). O Texto não é coexistência de sentidos, mas passagem, travessia; não pode, pois, depender de uma interpretação, ainda que liberal, mas de uma explosão, de uma disseminação" "A redução da leitura a simples consumo é evidentemente responsável pelo 'tédio' que muitos experimentam diante do texto moderno, do filme ou do quadro de vanguarda: entediar-se quer dizer que não se pode produzir o texto, jogar com ele, desfazê-lo, dar-lhe partida" "Fico imaginando hoje, um pouco à moda do grego antigo, tal como o descreve Hegel: interrogava, diz ele, com paixão, sem esmorecimento, o rumor das folhagens, das fontes, dos ventos, enfim, o estremecer da Natureza, para ali captar o desenho de uma inteligência. E eu, é o estremecer do sentido que interrogo escutando o rumor da linguagem - desa ling

Os deslimites da palavra*

Ando muito completo de vazios. Meu órgão de morrer me predomina. Estou sem eternidades. Não posso mais saber quando amanheço ontem. Está rengo de mim o amanhecer. Ouço o tamanho oblíquo de uma folha. Atrás do ocaso fervem os insetos. Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino. Essas coisas me mudam para cisco. A minha independência tem algemas *Manoel de Barros

Uma vida de poesia*

A vida, cavalo selvagem Anda a galope Sem tempo de espera Sem perdão pelo tempo perdido Não aceita explicações Impassível, segue adiante Impiedosa Não ri , nem chora. Deus, não está nem aí Não tem nada a ver Com tudo isto Mas viver é necessário A vida é neutra Depressa, levanta, vai, corre Gira Roda Atropela Tritura Mói Dói. A noite parece minha salvação Escrevo palavras, palavras, palavras Abraço-me a poesia Minha tábua de salvação Tudo sempre ainda em vão Poderia a poesia salvar-me da morte? Mas, o que me salvaria da vida? *José Mayer Filósofo. Livreiro. Estudante de Filosofia Clínica na Casa da Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Falar mete-me medo porque, nunca dizendo o suficiente, sempre digo também demasiado" "No escritor o pensamento não dirige a linguagem do lado de fora: o escritor é ele próprio como um novo idioma que se constrói" "Contrariamente ao Ser e ao Livro leibnizianos, a racionalidade do Logos pela qual a nossa escritura é responsável obedece ao princípio da descontinuidade." "Esta superpotência como vida do significante produz-se na inquietação e na errância da linguagem sempre mais rica que o saber, tendo sempre movimento para ir mais longe do que a certeza pacífica e sedentária" "Husserl sempre acentuou a sua aversão pelo debate, pelo dilema, pela aporia, isto é, pela reflexão sobre o modo alternativo em que o filósofo, no termo de uma deliberação, pretende concluir, isto é, fechar a questão, parar a expectativa ou o olhar numa opção, numa decisão, numa solução" "A palavra proferida ou inscrita, a letra, é sempre

Criando particulares*

Por uma questão de conhecimento científico, conhecimento aquele que pretende ser o mais acurado e rigoroso, muitas vezes destacamos uma parte do todo para dar mais ênfase no estudo, na averiguação, na pesquisa, enfim, para aprofundar o conhecimento deste tópico. Assim, por exemplo, falamos coisas do tipo: “Na armadilha conceitual o ponto cego acaba por nos deixar prejudicados. Pois o ponto cego acaba por tomar decisões por nós e nos impossibilita de perceber ou sentir com mais clareza”, e por aí vai. Quando falamos dessa forma, quando abstraímos uma parte do todo para melhor entendimento ou pesquisa daquele tópico, sem querer, muitas vezes, acabamos criando um particular excluído do todo, isto é, fazemos ontologia . O ponto cego, no exemplo, acaba por ser entendido e tratado como se fosse um ente de subsistência própria, destacada do todo. Criamos ontologicamente um particular e, portanto, como consequência, um universal . O universal é aquilo que identifica os particula

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