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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Nos poemas manifestam-se forças que não passam pelos circuitos de um saber" "A imagem torna-se um ser novo da nossa linguagem, expressa-nos tornando-nos aquilo que ela expressa - noutras palavras, ela é ao mesmo tempo um devir de expressão e um devir do nosso ser. Aqui, a expressão cria o ser" "(...) todo leitor que relê uma obra que ama sabe que as páginas amadas lhe dizem respeito" "Tornar imprevisível a palavra não será uma aprendizagem de liberdade ? Que encanto a imaginação poética encontra em zombar das censuras!" "Os verdadeiros bem-estares têm um passado. Todo um passado vem viver, pelo sonho, numa casa nova" "Assim uma imensa casa cósmica existe potencialmente em todo sonho de casa. De seu centro irradiam-se os ventos e as gaivotas saem pelas janelas. Uma casa tão dinâmica permite ao poeta habitar o universo. Ou, noutras palavras, o universo vem habitar sua casa" "Começara por ter a

O caminho singular*

Chega um momento que não mais queremos seguir o caminho dos outros... e qual é o meu caminho? Não é fácil esta decisão, pois é preciso desapegar de muitos agendamentos e prejuízos colecionados durante toda vida. A faxina necessita de muita meditação. Importante reencontrar as incertezas, os abismos, os intervalos, as frestas, a pausa e o caos. Os modelos se tornaram formas insólitas, moldes de fantoches, seitas teóricas... folhas mortas. Estes eu descarto com alegria. As cores do meu caminho eu quero criar. As palavras da minha escrita eu escolho do meu jeito sem jeito. Vou respeitando seu caminho, sem julgar ou criticar. A escolha é sua, como a escolha é minha. Quem sou eu para dizer qual melhor caminho para você? As cópias são de plástico e poluem mares, rios e alma. Não posso ser outra além de mim mesma. Admirar e contemplar as diversidades, sem desejar imitar, enriquece meu olhar, hoje desaprendiz. E pela estrada a fora eu vou bem contente, leva

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) por mais que se diga o que se vê, o que se vê não se aloja jamais no que se diz (...)" "Lembrando Paracelso: 'que o que ele (Deus) cria para o benefício do homem e o que lhe deu permaneça escondido... E ainda que ele tenha escondido certas coisas, nada deixou sem sinais exteriores e visíveis com marcas especiais - assim como um homem que enterrou um tesouro marca a sua localização a fim de que possa reencontrá-lo" "(...) a linguagem não é um sistema arbitrário; está depositada no mundo e dele faz parte porque, ao mesmo tempo, as próprias coisas escondem e manifestam seu enigma como uma linguagem e porque as palavras se propõem aos homens como coisas a decifrar" "(...) o poeta é aquele que, por sob as diferenças nomeadas e cotidianamente previstas, reencontra os parentescos subterrâneos das coisas, suas similitudes dispersadas" "(...) gramática geral, ciência dos signos pelos quais os homens reagrupam a singula

Apontamentos sobre a ótica das lacunas*

“(...) o que se encontra lá onde ninguém o tinha ainda encontrado (...)”                                            Jacques Derrida Uma incerta busca para oferecer depoimentos sobre os incríveis momentos na década de 90 me fez acreditar na possibilidade de divulgar, tal qual se apresentavam, os desdobramentos das primeiras sessões. Hoje vejo os eventos de consultório como instantes únicos, irrepetíveis e nem sempre possível de compartilhar. Naqueles dias pensava em ter um registro das primeiras repercussões: críticas e ressentimentos, inseguranças e temores, esperanças e sonhos. Agora consigo ver melhor as desavenças iniciais como aliadas na legitimação do novo paradigma. Longe de desmerecer o método da filosofia clínica fortaleceram a ideia de paradoxo com aquilo que se buscava superar. A conversação com amigos e colegas ia mostrando a melhor resposta para o infortúnio das verdades satisfeitas: trabalho, trabalho, trabalho. Não tínhamos tempo para o famigerado e i

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Não podemos mensurar um estado de espírito, como não podemos contar qualidades. Vivemos de comparações, semelhanças, dessemelhanças, equivalências e diferenças, que são sempre vazias de um conteúdo objetivo. Nunca podemos repetir uma experiência da maneira como fazemos com um experimento objetivo. Os modos, as modulações, as formas e transformações da alma carecem não só de uma experiência objetiva, como muitas estão fora do alcance da imaginação" "Há cientistas que adoram repetir que não são filósofos, teólogos, ontólogos, metafísicos, filósofos morais ou mesmo simples psicólogos. Se isto for um testemunho de sua modéstia é conveniente e apropriado, mas comumente trata-se de um descarte superficial de tudo o que eles não conseguem ver pelos seus métodos de ver" "Olhar para o outro como um objeto não é só mudar a pessoa em coisa, mas, exatamente por isto, cortar qualquer relação pessoal entre mim e ela, enquanto a estiver olhando desse modo"

Valéry angustiado*

Leio em "Monsieur Teste", livro do genial Paul Valéry relançado, em edição ampliada, no ano de 1946, um ano após a morte do escritor: "Enfastiado de ter razão, de fazer o que tem sucesso, da eficiência dos procedimentos, tentar outra coisa". Na metade do século passado, Valéry ataca, assim, alguns dos valores mais divinizados em nosso século 21: o império da razão, a necessidade do sucesso a qualquer preço, o endeusamento da eficiência e do desempenho. A idolatria da vitória. Não vacila: diz. Não se poupa: expõe-se. Foi também um crítico de grande coragem intelectual. Em "Monsieur Teste", um dos livros mais importantes de Valéry (1871-1945), o filósofo se dedica a pensar o pensamento. Seu objeto não é o mundo, não está interessado em refletir a respeito das coisas a seu redor. Interessa-se, apenas, por sua própria maneira de pensar. Na edição ampliada que tenho nas mãos, estão incluídos fragmentos e anotações que Valéry pretendia acrescentar a seu

Migrante na linguagem*

“Eis como meu gosto pessoal, ligado à finitude dos prazeres materiais, adquire uma dimensão infinita, imaterial, espiritual.” José Gil (A imagem-nua e as pequenas percepções) Ainda existe o jamais ouvido, o nunca lido, aquele que nunca foi trilhado pelos olhos? Há! O que vive é o que já está prestes ao vivido. Depois é tudo passado. Pois, o que o corpo quer é só mesmo mostrar ao Outro o que a ele não lhe pertence. O desejo de pertencimento deixa de ser o melhor, o que vive do outro lado do rio é que se quer. A meu ver, só para ser manter no espaço do inaudito, o que quero primeiro é ter este pertencimento. Por dentro, até o fundo de todas as cores, o que o olho alcança não é limite para o sentir. A letra tem sua tradução. O purista que me perdoa, ele só quer ser inaudito para dificultar o olhar do que possa deslegitimá-lo.  Esse é só um mais tradutor seco, não é um transcriador. Precisamos de quem possa ler ao mundo toda a produção, que possa ir além de sua fronteira

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O estilo é o modo de formar, pessoal, irrepetível, característico; a marca reconhecível que a pessoa deixa de si na obra: e coincide com o modo como a obra é formada. A pessoa forma-se, portanto, na obra: compreender a obra é possuir a pessoa do criador feita objeto físico" "(...) organiza de um modo cuja característica é precisamente a possibilidade de se apresentar sempre completo sob mil pontos de vista" "(...) e cada abordagem é um modo de possuir a obra, de a ver inteira e, no entanto, sempre passível de ser percorrida por novos pontos de vista" "(...) a idade média não é uma ilha histórica, mas uma dimensão do espírito" "(...) mas ao afirmar que a simplicidade poética, tal como tinha sido entendida até então, parecia estar morta, esclarecia afinal com extremo vigor que a poesia se tinha simplesmente transformado, que estava a despontar uma nova ideia de arte; deixando entender que a arte se situa para além destas

Letras ao vento*

Vai, folha de minha vida, vai que o verão não te conhece, melancólica estação passada. Voem, folhas de anos verdes, que o tempo me quer mais tempo e não me descreveis mais. Mas as dou para o vento, quem sabe achadas pelos meninos nas praias desertas sejam motivo de curiosidade, pois para os adultos, desdém. De que adiantam letras escritas num mundo de objetos elétricos que amainam tudo no ramo das sensações, se ao coração ninguém quer chegar-se. *Vania Dantas Filósofo Clínica Uberlândia/MG

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