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O amor e a criança*

Eu estava apenas deixando de ser criança. Mas já sabia subir em árvores. E havia um caquizeiro no pomar. Eu gostava de caqui. A árvore era alta. A fruta difícil de apanhar. Esfolei meus braços. Arranhei meu peito. Cortei minhas pernas. Mas consegui... Na volta a fruta madura caiu da minha mão. E se amassou no chão. Cara, mas que droga!! Mas eu estava apenas deixando de ser criança. Então chorei, mas não desisti. Subi mais alto. Apanhei a fruta mais difícil. A mais bonita e a mais perigosa.... Na volta, segurei com todo o cuidado. E a menina que eu sempre amei estava de passagem. E disse que adorava caqui. _É sua, apanhei para você! - disse-lhe. Ela sorriu E eu descobri Que era amor. Mas eu e ela Estávamos apenas Deixando de ser crianças. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Por uma certa parte de nós mesmos, vivemos todos além do tempo. Talvez só tomemos consciência de nossa idade em certos momentos excepcionais, sendo, na maior parte do tempo, uns sem-idade" "Vivera com a mãe em sua casa, passeara com ela no jardim, acolhera suas irmãs e suas sobrinhas, fingira escutá-las, mas durante esse tempo, na imaginação, ele vivera só em seu apartamento de solteiro; depois da morte da mãe, não fizera senão mudar-se para onde há muito tempo já morava em espírito" "Existe uma fronteira quantitativa a não ser ultrapassada; mas essa fronteira não é vigiada por ninguém, e talvez até mesmo ninguém saiba de sua existência" "A vocação da poesia não é nos deslumbrar com uma ideia surpreendente; mas sim fazer com que um instante do ser se torne inesquecível e digno de uma insustentável nostalgia" "Outra coisa, retoma Agnes, mesmo que minha pergunta lhe pareça boba. Os que vivem lá, onde você está, têm rostos

As mulheres e as cidades*

Penso nas cidades como mulheres com seus becos e ruelas sinuosas cantinhos onde descansar. Os suspiros de Marília de Dirceu em Ouro Preto, águas em calda em Araxá e Rio Quente, areias perdidas para o mar em Fortaleza, construções também arrancadas em Atafona; as que se erigem em torno do córrego nascedouro, como Sacramento, estrada acarinhando as curvas do rio Doce até Valadares, tanta pedra em Delfinópolis até a Serra da Canastra virar poeira em Medeiros, as trilhas para as cachoeiras, veias da terra, em Pirenópolis, Campinas dando os braços a São Paulo, os mandacarus de Caicó, e minha querida Carnaúba, de todos os Dantas. *Vânia Dantas Filósofa Clínica Uberlândia/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) entender é uma vivência específica, indefinível" "Não se pode adivinhar como uma palavra funciona. É preciso que se veja a sua aplicação e assim se aprenda" "(...) e esta linguagem, como todas as outras está fundada em acordo" "Os nominalistas cometem o erro de interpretar todas as palavras como nomes, portanto, de não descrever realmente o seu emprego" "Na linguagem, tocam-se expectativa e realização" "Seria engraçado dizer: 'Um processo, quando acontece, é diferente de quando não acontece.' Ou: 'Uma mancha vermelha, quando está presente, é diferente de quando não está - mas a linguagem se abstrai dessa diferença, pois ela fala de uma mancha vermelha, quer esteja presente ou não'"  "Quando se tem algo em mente, não há então nenhuma imagem morta (não importa de que espécie), mas é como se fôssemos ao encontro de alguém. Nós vamos ao encontro daquilo que temos em mente&qu

O sol e a lua*

Um dia descobri que tinha asas... comecei a voar por horizontes perdidos. E percebi qu e não mais ciscava como Galinha. Que não mais seria o que o mundo queria que eu fosse. Doeu tirar as velhas penas e me tornar Águia. O sol se fez meu guia. A lua minha mestra. Deixei o medo de lado, subi a montanha e abri minhas asas. Olhei para baixo, pensei no quanto o comodismo alimenta a zona conforto e nos paralisa. Tentam nos aprisionar no galinheiro e nos convencem que devemos ser como a maioria- normopatas. Porém, quando abrimos nossas asas e descobrimos que o Shangrilá está dentro de nós, as cores do mundo se tornam mais nítidas e nos tornamos donos de nossas escolhas. Isto tem um nome: Liberdade. Voando não buscamos ter poder, mas utilizamos nossa potência infinita. Potência Criativa. E voando livremente vi que é possível ser feliz apesar da tristeza em ver a escravidão do mundo. Só assim tive forças para agir e chamar ao voo as galinhas que não são gali

O Mapa*

Olho o mapa da cidade Como quem examinasse A anatomia de um corpo… (É nem que fosse o meu corpo!) Sinto uma dor infinita Das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei… Há tanta esquina esquisita, Tanta nuança de paredes, Há tanta moça bonita Nas ruas que não andei (E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei…) Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada Invisível, delicioso Que faz com que o teu ar Pareça mais um olhar, Suave mistério amoroso, Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!) E talvez de meu repouso… *Mario Quintana

O poeta e a poesia*

A poesia nasce! Ela sempre nasce de um quando, de um onde e de porquês nunca exatos nem demais nem de menos. A poesia transborda ou preenche, ela sempre viraliza se muito ou pouco, não importa. E se nasce, a poesia é originalmente feminina tão somente porque tudo que nasce depende de um útero seja ele ideal ou seja ela real. Poesia é profana e é sagrada, ela simplesmente é manifestação porque toca e causa expressão. A poesia emociona porque comove, me comove. A poesia revolta porventura quando indigna quem escolhe ser surdo e ouve de repente. Não existe poesia indiferente! E por mais sensatos ou abstrato que tendamos a ser, por mais criativos ou objetivos que pretendamos querer, inevitável mesmo é reconhecer que todo e qualquer ímpeto quando surgi já é, já foi e será... A poesia é plural e singular também, é coletiva, é subjetiva; é visceral. E o exato começo da poesia é um mistério, pois como tão bem disse Ferreira Gullar, "a poesia nasce de repente". Si

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