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Postagens

Aceite críticas: notas sobre minha tese e o Facebook*

Pouco depois de defender minha tese de doutorado e ver alguns debates enraivecidos no Facebook, acabei refletindo sobre algumas coisas e, na medida em que as ideias surgiram, escrevi postagens avulsas sobre a dificuldade de algumas pessoas de serem criticadas. Dessas postagens, três acabaram se tornando a reflexão que segue, com ligeiras alterações para dar uniformidade ao raciocínio. A experiência de defender minha tese foi, antes de tudo, um exercício de humildade. Por mais que eu aconselhe os meus colegas a ficarem confiantes, uma vez que a maior autoridade no trabalho de pesquisa que fazemos somos nós mesmos, isso não isenta o trabalho de erros que podem ser encontrados pelos avaliadores.  Eles provavelmente não leram tudo o que você leu, na ordem em que leu e com a perspectiva que você interpretou para escrever seu trabalho. Mas eles são os primeiros – em muitos casos, os únicos – receptores de seu trabalho e alguns dos mais atentos que o lerão. Desde sua monografia d

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Todo mundo elevado requer que se tenha nascido para ele; ou melhor, que se tenha sido cultivado para ele: direito à filosofia - no sentido mais amplo - obtém-se apenas em virtude da ascendência, os ancestrais, o 'sangue' decide também aqui. Muitas gerações devem ter trabalhado na gênese do filósofo; cada uma de suas virtudes deve ter sido adquirida, cultivada, transmitida, incorporada, e não apenas o passo e curso ousado, leve e delicado de seus pensamentos, mas sobretudo a disposição para grandes responsabilidades, a elevação de olhares que dominam e olham para baixo, o sentir-se apartado da multidão e seus deveres e virtudes, a afável proteção e defesa do que é incompreendido e caluniado (...)" "Todos os deuses até aqui não foram demônios rebatizados e santificados ?" "(...) todos grandes descobridores no terreno do sublime (...) Com misteriosos acessos a tudo que seduz, atrai, compele, transtorna, inimigos natos da lógica e da linha ret

Ressurreição*

Desta vez Não haveria volta Ela havia decidido Falou de si Para si mesma: - Desta vez, ou vai , ou racha... Rachou seu coração Quebrou a casca E a borboleta saiu Tropeçou Caiu Levantou Quase desaprendera a voar. Ele ainda tentou falar: - Cuidarei da casa Cuidarei do jardim Cuidarei das flores E dos beija flores E das borboletas. Afinal, borboletas Sempre voltam! Ela disse-lhe: - A borboleta sou eu...!!! *José Mayer Filósofo. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"É necessário lembrar que a classificação das vozes humanas - como toda classificação elaborada por uma sociedade - nunca é inocente" "(..) o corpo dispensa o sujeito e a pintura de Réquichot vai, então, ao encontro do que seria a extrema vanguarda: aquela que não é classificável e cujo caráter psicótico a sociedade denuncia, pois que, assim fazendo, pode, pelo menos, nomeá-la" "Ora, é mais u menos o que ocorre na cura analítica: a própria ideia de 'cura', inicialmente muito simples, transforma-se, torna-se distante: a obra, como a cura, é interminável: trata-se, em ambos os casos, menos de obter um resultado do que modificar um problema, isto é, um tema: livrá-lo da finalidade em que se encerra seu início"  "A metáfora é a única maneira de nomear o inominável (transforma-se, então, em catacrese): a cadeia de nomes substitui o nome que falta" "A polissemia desenfreada é o primeiro episódio (iniciático) de uma asc

A cegueira nossa de cada dia*

Tenho refletido bastante sobre o uso das mídias digitais... Tudo tem os dois lados. Usar o caminho do meio nem sempre é fácil. Usar este espaço para divulgar cultura, reflexões e trocar afetos, para mim é sempre bom. Preocupo-me com os discursos agressivos, o excesso de exposição, as falsas imagens e tanto desrespeito. Preocupo-me principalmente com o vício do uso excessivo destes canais que tiram as pessoas das relações olho no olho. Preocupo-me com o tempo perdido no uso excessivo destas mídias que roubam a leitura de um bom livro, dos encontros com amigos, família e colegas. Que roubam tempo no trabalho, no estudo e fazer bem feito coisas simples do dia a dia. Administrar o Tempo do uso destas mídias se faz urgente, senão seremos cegos e máquinas e perderemos nossas vidas, como bem diz Saramago em seu livro e filme: "Ensaio sobre a Cegueira". Pensem nisto! *Dra. Rosangela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Livre Pensadora. Juiz

Com licença poética*

Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos -- dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou. *Adélia Prado

Ame mais, fale menos*

Será que isto é amor? Esta é uma pergunta que muitos morrem angustiados sem saber responder. Felizes daqueles que afirmam categoricamente sim. Ainda que não tenha durado para sempre, que tenham sido anos, meses ou dias, esta certeza é melhor que a dúvida ou a negativa. Se o amor foi correspondido ou não, é outra história. A questão é saber se amou ou não amou.  Passar uma vida inteira e ao final constatar jamais ter amado alguém é um desperdício. Ou pior, passar anos fazendo análise para saber se realmente era amor aquilo que sentia e morrer na dúvida. Desperdício dobrado. Houve um tempo em que amar significava comprometimento. Dizer “eu te amo” era declaração de um sentimento único e raro em uma relação diferente de todas as outras. Um envolvimento sólido, uma ligação pra valer. Eram necessários meses ou anos de convívio e muita coragem para solenemente declarar amor por aquela pessoa especial. Jamais seria escrito via whatsapp seguido de figuras de coraçõezinhos ou beiji

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Independência é algo para bem poucos - é prerrogativa dos fortes" "É inevitável - e justo - que nossas mais altas intuições pareçam bobagens, em algumas circunstâncias delitos, quando chegam indevidamente aos ouvidos daqueles que não são feitos e predestinados para elas" "Livros de todo mundo sempre são livros malcheirosos: o odor da gente pequena adere a eles. Ali onde o povo come e bebe, e mesmo onde venera, o ar costuma feder. Não se deve frequentar igrejas, quando se deseja respirar ar puro" "É preciso livrar-se do mau gosto de querer estar de acordo com muitos" "(...) as grandes coisas ficam para os grandes, os abismos para os profundos, as branduras e os tremores para os sutis e, em resumo, as coisas raras para os raros" "Fomos maus espectadores da vida, se não vimos também a mão que delicadamente - mata" "A mulher aprende a odiar na medida em que desaprende a enfeitiçar" "

Descrituras*

“(...) Deram-me esta bela gravata... como um presente de desaniversário! (...) o que é um presente de desaniversário ? – Um presente oferecido quando não é seu aniversário, naturalmente.”                                                                                Lewis Carroll Uma redação se faz página cotidiana na vida de qualquer pessoa, quer ela entenda ou não. Algo que restaria esquecido, não fora a ousadia semiótica a tentar decifrar essa trama de códigos imperfeitos. Por esse esboço a lógica descritura se incompleta para prosseguir inconclusa, aberta, viva.  Nem sempre se escolhe escrever, algumas vezes são as palavras a escolher um sujeito para se dizer. Conteúdos de rascunho, ilação, percepção extemporânea, reflexão. Aproximações com a zona interdita nas margens de cada um. O tempo aprecia conceder eficácia de tradução aos traços persistentes. O sujeito prisioneiro dessa armadilha conceitual experimenta liberdades nem sempre possíveis de mencionar na forma

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