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Fragmentos de clínica e poesia existencial*

"(...) é preciso ser bem ousado e criativo para moldar uma nova terapia para cada paciente" "Acho que Belle gostou de mim porque eu a tratava como gente. Fiz exatamente o que o senhor está fazendo agora, e quero lhe dizer, dr. Lash, que gosto de como o senhor o faz. Não olhei nenhum dos gráficos dela. Fui às cegas, queria ser inteiramente novo. Belle nunca foi um diagnóstico para mim, não era uma personalidade limítrofe, nem um transtorno alimentar, nem um transtorno compulsivo ou anti-social." "(...) espero que nunca me torne um diagnóstico para o senhor" "(...) sei que vocês que estão se formando agora e toda a indústria de psicofármacos vive do diagnóstico" "Já parou para pensar como é fácil fazer um diagnóstico na primeira vez que examinamos um paciente e como fica mais difícil à medida que o conhecemos melhor ?" "Pacientes limítrofes são manipuladores ? Foi o que você disse ? Ernest, você nunca será um

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"No líquido, os opostos passam mais facilmente um no outro. O líquido é o elemento do Phármakon. E a água, pureza do líquido, se deixa o mais facilmente, o mais perigosamente, penetrar e depois de corromper" "Lembrando Górgias: 'A potencia do discurso tem a mesma relação com a disposição da alma que a disposição das drogas com a natureza do corpo. Da mesma forma que algumas drogas evacuam do corpo alguns humores, cada uma o seu, e umas estancam a doença, outras a vida; do mesmo modo alguns discursos afligem, outros revigoram, uns aterrorizam, outros animam os auditores; outros, por uma má persuasão, drogam a alma e a enfeitiçam" "(...) o lógos é um ser vivo selvagem, uma animalidade ambígua. Sua força mágica, farmacêutica, deve-se a esta ambivalência, e isso explica que ela seja desproporcionada a esse quase nada que é uma fala"  "Ainda Górgias: 'Os encantamentos inspirados pelos deuses através das palavras trazem o prazer, af

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Assim como a vida é sempre mais rica que as teorias que pretendem expressá-la, uma história é sempre mais que mera ilustração das teorias de quem a conta" "Manipulando e organizando astutamente os ingredientes da realidade, o narrador construiu outra realidade" "Cada época tem a sua irrealidade: seus mitos, seus fantasmas, suas quimeras, seus sonhos e uma visão ideal do ser humano que a ficção expressa com mais fidelidade que qualquer outro gênero" "Basta um fantasma numa reunião para que todos os presentes adquiram um ar fantasmal, basta um milagre para que a realidade se torne milagrosa" "(...) todas as ficções fazem o leitor viver 'o impossível', tirando-o do seu eu particular, ultrapassando os limites da sua condição, e fazendo-o compartilhar, identificado com os personagens da ilusão, uma vida mais rica, mais intensa, ou mais abjeta e violenta, ou simplesmente diferente daquela em que estão confinados nesta

Em outras palavras*

Um indício do novo padrão existencial é a desestruturação do raciocínio. Noutras palavras, a vida se reapresenta numa perspectiva diferente. Um esboço por onde o vocabulário transgride suas origens. Reconhecíveis por fora pela aceitação, discriminação ou incompreensão, sua tradução aprecia acolher novos territórios. Essa inadequação linguística anuncia um desconhecido se aproximando. O universo das novas expressões insinua uma estética própria. Sua pronúncia, nem sempre legível às anterioridades, convive em vias marginais, nos arredores da literalidade. Ao se aproximar dessa fonte de equivocidades, é possível sentir a singularidade tentando acontecer. Aquilo sem possibilidade numa língua, ao refugiar-se na imensidão de si mesmo, quando encontra a ocasião, o lugar, os meios, pode ressurgir como transgressão dos próprios limites, uma suspeita de algo por vir. Em outras palavras, aquilo indescritível numa semiose passa a ter visibilidade compreensiva noutra. As lonjuras e

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Dizer e ser, palavra e coisa, pertencem um ao outro num modo velado, pouco pensado e até impensável" "(...) tanto o milagre como a quimera valem para o poeta como o que verdadeiramente lhe concerne, mas cujo ser, longe de querer guardá-lo para si, ele quer somente apresentar" "Os trechos nos quais e com os quais medimos a proximidade e a distância como intervalos constituem a sequência de agoras, ou seja, o tempo" "Hermes é o mensageiro dos deuses. Traz a mensagem do destino; é a exposição que dá notícia, à medida que consegue escutar uma mensagem. Esta proposição se transforma em interpretação da mensagem dos poetas que, nas palavras de Sócrates: 'são mensageiros dos deuses'" "Como se pode dar um nome específico ao que ainda se procura ?" "A linguagem da poesia é essencialmente polissêmica e isso de um jeito muito próprio. Não conseguiremos escutar nada sobre a saga do dizer poético enquanto formo

Onde eu moro não existe pecado*

Lá longe onde eu moro Não se fazem casas Fazem-se asas. Lá longe onde eu moro Não se fazem paredes Dorme-se em redes. Lá longe onde eu moro Moramos debaixo do mesmo teto De um céu azul. Onde eu moro, lá longe Não existe pecado Vivemos em estado De graça Uns pelos outros. E se eu não me cuidar Me apaixono de novo Mais forte e mais fundo Do que antes. Onde eu moro, bem distante O teto que nos cobre Se chama bem-querer..!! *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Especialista em Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

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