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Quem é o Filósofo Clínico e quem é o Partilhante na concepção de Hélio Strassburger***

Parte III Outro ponto que merece destaque na obra de Strassburger, e em sua concepção de quem é o filósofo clínico, é a “interseção”. Além de empatia, amizade e confiança entre filósofo e partilhante, o autor nos apresenta a mesma com algo mágico e dedica, dentro da obra, um capítulo inteiro a esta questão tão importante no processo terapêutico. Já no início de sua narrativa nos adverte: “Existe um ponto de frágil equilíbrio nas relações entre as pessoas. Alianças para aproximação com o extraordinário da condição humana. Pelas rotas de  acesso, a representação de cada um, vastos e inexplorados continentes podem se mostrar.” (Strassburger, 2007) Aqui o autor nos coloca frente à natureza da interseção que deve ser sempre alvo de cuidado do cuidador, pois qualquer agendamento indevido pode abalar a qualidade da interseção. Por isso Hélio a trata como algo inebriante, algo que envolve numa só nuvem de clareza tanto o filósofo quanto o partilhante. Essa é a mescla entre fil

Quem é o Filósofo Clínico e quem é o Partilhante na concepção de Hélio Strassburger***

Parte II (...) Contudo, Hélio Strassburger, ícone de grande significação na construção da Filosofia Clínica como atividade terapêutica e não apenas como filosofia teórica, nos apresenta em suas obras reflexões mais profundas e complexas, de quem é o filósofo clínico e quem é o partilhante, advindas da prática clínica e que veremos a seguir. Vejamos o que nos diz Strassburger em sua obra Filosofia Clínica: a arte de encantar a vida, (2005): “...Ser terapeuta é uma arte, através da qual podem se desenvolver raridades e talentos, os quais, impregnados de humanidade, vão constituindo a pessoa em seu melhor lugar no mundo. As crises e transformações pessoais por onde passa, na direção de um viver melhor, lhe confere uma legitimidade singular, não no sentido de ter respostas prontas, mas de exercitar a plasticidade na direção do outro, experienciando em sua alma, aspectos e desdobramentos, cujos reflexos podemos alcançar pela via da relação clínica, através da compreensã

Quem é o Filósofo Clínico e quem é o Partilhante na concepção de Hélio Strassburger*

Parte I Entre as reflexões, conceituações e concepções sobre quem é o filósofo clínico e quem é o partilhante podemos citar, antes de qualquer outra, a do sistematizador da Filosofia Clínica, Lúcio Packter. Para ele, há não apenas a definição de quem é o filósofo clínico, mas sua possível identidade: “O filósofo clínico é inicialmente o estudante de filosofia disposto a compartilhar um caminho incerto com outras pessoas, a atuar filosoficamente em cada endereço desse caminho tal, pois é em cada endereço que sua identidade se modela. Partilhando um período da existência de outro ser, sob a responsabilidade que o nomeou filósofo, sua identidade reside em sua posição dentro da situação vivenciada.” (PACKTER, 1997) Ao prestar mais esclarecimentos sobre a sua concepção da identidade do filósofo clínico Packter acrescenta-lhe três características básicas: um amigo que lança mão de seus conhecimentos filosóficos com o objetivo de ajudar na terapia; um pesquisador das filosofi

Prefácio*

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) — sem nome. Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé. Insetos errados de cor caíam no mar. A voz se estendeu na direção da boca. Caranguejos apertavam mangues. Vendo que havia na terra Dependimentos demais E tarefas muitas — Os homens começaram a roer unhas. Ficou certo pois não Que as moscas iriam iluminar O silêncio das coisas anônimas. Porém, vendo o Homem Que as moscas não davam conta de iluminar o Silêncio das coisas anônimas — Passaram essa tarefa para os poetas. *Manoel de Barros

Filosofia Clínica é Método*

Hans-Georg Gadamer, filósofo alemão (1900-2002), em sua obra “Verdade e Método” nos aponta um marco para a procura da verdade e como o método é determinante nessa busca, aludindo que a hermenêutica* não se reduz a uma ciência, mas é uma condição da existência, i. é, a compreensão e a interpretação do mundo fazem parte da experiência humana. Aí se insere a filosofia: não filosofamos porque temos posse da verdade, mas justamente porque ela nos falta. Nesse livro, o autor defende a tese de que a consciência é modelada histórica e culturalmente e que o sujeito é parte do processo efetivo da história, inserido numa cultura e num tempo específicos. Tendo a história como “pano de fundo” e como o “grande palco” da ação humana, o sujeito é parte efetiva dela. A essência da história não consiste na investigação do passado, e sim na mediação do pensamento com a vida atual. A investigação se dá no presente, influenciada pelas circunstâncias da atualidade. Considerando isso é que o suj

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A arte talvez seja uma das mais poderosas formas de o homem arranhar certos mistérios da transcendência" "A arte está sempre nos oferecendo inesperadas possibilidades, potenciais saídas surpreendentes e alternativas para os labirintos em que nos encerramos" "(...) é próprio da criação artística se constituir na expressão de uma individualidade, de uma subjetividade - muitas vezes, daquilo que é único, incomum, de uma exceção. E a mídia se orgulha, em sua racionalidade, de querer ser objetiva, mediana, comum, global - tanto numa linguagem média, acessível a todos e imediata, quanto nos temas abordados e nos pontos de vista com que eles são tratados" "(...) a mídia tende a uma homogeneização crescente e redutora enquanto o caminho da arte valoriza o original, o diferente, o heterogêneo, o outro" "O estereótipo injeta preconceito nos corações e mentes. E poucas áreas culturais são tão cheias de estereótipo quanto o que é t

Uma mitologia das aparências*

A notícia mais comentada no Brasil nesta segunda-feira foi um erro de goleiro num jogo de futebol. Sintoma da mais grave doença do espírito brasileiro: a ausência de desejo de compreender qualquer coisa que não seja vistosa aparência. Nossa filosofia profunda tornou-se pirrônica desde o fim do século XIX. Como os pirrônicos, recusamo-nos a procurar qualquer verdade além do que o mundo espetacular da mídia nos oferece, pois consideramos que nada é, no fundo, verdadeiramente digno, nobre ou real. Assim, tomamos a liberdade de viver como todos, sem nenhuma problematização, resolvendo tudo com "jeitinho", o que é exatamente o que faziam os pirrônicos no mundo helênico. Será essa recusa de fundamento uma consequência do positivismo de nossas classes militares e científicas do fim dos anos 1800? Será essa negação da metafísica um resultado do antiintelectualismo dos românticos franceses que influenciaram os nossos escritores desde então? Talvez nossa cabeça de ve

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o homem experimentado é sempre o mais radicalmente não dogmático, que, precisamente por ter feito tantas experiências e aprendido graças a tanta experiência, está particularmente capacitado para voltar a fazer experiências e delas aprender" "(...) o homem compreensivo não sabe nem julga a partir de um simples estar postado frente ao outro de modo que não é afetado, mas a partir de uma pertença específica que o une com o outro, de modo que é afetado com ele e pensa com ele" "(...) o horizonte do presente está num processo de constante formação, na medida em que estamos obrigados a põe à prova constantemente todos os nossos preconceitos" "A essência da pergunta é a de abrir e manter abertas possibilidades" "O verdadeiro objeto histórico não é um objeto mas é a unidade de um e de outro, uma relação na qual permanece tanto a realidade da história como a realidade do compreender histórico" "Quando se ouve

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