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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Todavia, é no momento em que nos liberta da realidade que o devaneio é mais salutar" "A primeira tarefa do poeta é libertar em nós uma matéria que quer sonhar" "Há no céu tantos sonhos que a poesia, embaraçada pelas velhas palavras, não conseguiu nomear!" "(...) o mundo sonha em nós dinamicamente" "Se a imaginação é realmente o poder formador dos pensamentos humanos, compreender-se-á facilmente que a transmissão dos pensamentos não se possa fazer senão entre duas imaginações afinadas" "Jack London desenvolve, a este respeito, uma teoria da dupla personalidade humana: personalidade onírica e racional, que distingue profundamente a vida de nossos dias e a vida de nossas noites" "Para a imaginação dinâmica, o primeiro ser que voa num sonho é o próprio sonhador. Se alguém o acompanha em seu voo, é antes o silfo ou a sílfide, uma nuvem, uma sombra; é um véu, uma forma aérea envolvida, envolv

O viajante de amanhãs*

“O filósofo é uma das maneiras pela qual se manifesta a oficina da natureza – o filósofo e o artista falam dos segredos da atividade da natureza.”                      Friedrich Nietzsche O espírito aventureiro impróprio à cristalização do saber, se refaz nas escaramuças de um território movido a movimento. Seu viés de intimidade precursora se alimenta das ruas, estradas, subúrbios desmerecidos. É incomum ser facilmente compartilhável, esses eventos anteriores ao gesso conceitual. A irregularidade narrativa como propósito sem propósito, se reveste de uma quase poesia, para tentar dizer algo sobre os eventos irreconciliáveis com a ótica dos limites bem definidos. Essa lógica de singularidade flutuante se aplica as coisas irreconhecíveis ao vocabulário sabido. Seu desprezo pelas fronteiras, objetivadas pelos acordos e leis, é capaz de antecipar amanhãs no agora irrecusável. Num caráter de existência marginal entre o cotidiano e a miragem das lonjuras, parece querer se

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Cada época tem a sua irrealidade: seus mitos, seus fantasmas, suas quimeras, seus sonhos e uma visão ideal do ser humano que a ficção expressa com mais fidelidade que qualquer outro gênero" "Basta um fantasma numa reunião para que todos os presentes adquiram um ar fantasmal, basta um milagre para que a realidade se torne milagrosa" "(...) as ficções fazem o leitor viver 'o impossível', tirando-o do seu eu particular, ultrapassando os limites da sua condição, e fazendo-o compartilhar, identificado com os personagens da ilusão, uma vida mais rica, mais intensa, ou mais abjeta e violenta, ou simplesmente diferente daquela em que estão confinados nesta prisão de segurança máxima que é a vida real" "Só temos uma vida, e os nossos desejos e fantasias nos exigem ter mil" "(...) mostrar como é precário e sujeito a erros o conhecimento que o homem pode ter de outros homens e como, por isso mesmo, seu juízo moral é insufi

Filosofia e autonomia*

A filosofia deve conduzir à autonomia de quem a estuda. Adquirir cultura filosófica sem filosofar, equivale a decorar o nome e o formato de todas as peças do motor de um automóvel sem ser capaz de montá-lo. O valor de ler um pensador como Aristóteles não está em apenas compreender ou, pior, decorar como ele percebeu a realidade, mas em nos ajudar a enxergá-la. A autonomia acontece justamente no momento em que a partir da compreensão da realidade através dos “olhos” aristotélicos, enxerguemos essa mesma realidade por nós mesmos, tornando-nos capazes de descrevê-la levando em conta a nova experiência adquirida. Esta sempre será única, tal como as distintas perspectivas filosóficas. Portanto, quando lemos um livro ou assistimos a alguma aula, o conteúdo todo deve ser compreendido. Mas, o que deve ser assimilado, guardado, questionado, remoído e aprofundado é somente o que interessa de fato. Você não é convidado a ser uma cópia de Aristóteles quando o estuda. Ele buscou compreende

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O excesso é uma forma de gozo. Gozo que pode pôr abaixo os pensamentos e as maneiras de ser pusilânimes. Gozo que pode virar do avesso as covardias das formas de ser, isoladas e temerosas, as quais, podemos estar certos, geram o ressentimento que é, no fim, mortífero" "(...) o excesso sobrevém com uma vibração que legitima e dá sentido à monotonia cotidiana. A transgressão e a anomia necessitam de limites, ainda que seja somente para serem ultrapassadas" "(...) nenhum problema é definitivamente resolvido, mas que encontramos, pontual e empiricamente, respostas aproximadas, pequenas verdades provisórias, postas em prática no cotidiano, sem que se acorde um estatuto universal, oralmente válido em todo lugar, em todo tempo, e para cada um" "O excesso é simplesmente revelador de um estado de espírito latente" "Ela é feita de ensaios-erros, marca, por excelência, da vitalidade, no que ela tem de aventureira. Indico no princí

O Tempo Outro*

“Não há outro tempo que o agora, este ápice Do já será e do foi, daquele instante...” Jorge Luis Borges (O passado) Ao descobrir o que há por detrás daquela parede, descubro o outro lado, ao descobrir o outro lado, busco o que existe dentro de mim, o desconhecido. Vivemos trancafiados no mundo real, ideias desviam-se dos acontecimentos. O Real nos deixa mais vulneráveis às extremidades da mente, fazer o resumo das coisas, viver a realidade que inventaram, forjar outra. A tentativa de viajar no Outro é a busca de si no que há de diferente no tempo presente; ao passado, a tentativa de olhar com os olhos livres da realidade, que se afirmaram por estar indo ao futuro. A engrenagem, dizia Sartre. Digo, reatividade, se o tempo é descontínuo, Levinas estaria a me levar ao descontínuo do tempo que constitui a reserva das ideias sobre o Tempo. Pensar e viver o tempo, como o filósofo pergunta, por que é preciso ir para o bem, o mal, a evolução, as fraturas, as separações? Por es

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