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NORDESTINA: TRÍADE POÉTICA*

A María Zambrano, pensadora da aurora (I) Quando era menina, pensava como menina   aprender não era entender,   mas não podia me ocultar   do que nunca desaparece.   Verdade arrancada, lançada,   em acontecimentos decisivos   numa vida singela   em o céu fluído   no ilimitado deserto,   sem espejismos.   Com, em por, sobre, depois de   um horizonte de ecos   os que vejo em minha própria história   do EU expandido,   convertido,   reinterpretando as  sombras   Sentinela no último confín   mapa da certera noite  por viver   na geografia de um amor sonhado. (II) Falta-me a luz do meio dia é a marca de Occidente, re-vivida no claroscuro seguindo os rigores do imperativo onde o atroz corresponde por direito. Malidicencia, engano, rugido, esplendor da agonia ante uma voluptuosa objetividade que espalha e desordena. Aullando como lobos à lua, esvaziando a arqueologia do divino escavamos…e encontramos pouco, só uma f

Na invisibilidade de um triz***

                                    “A vida segura o espelho para a arte, e reproduz ou algum tipo estranho imaginado por um pintor ou por um escultor, ou então concretiza no fato aquilo que havia sido sonhado na ficção”                                                                  Oscar Wilde Existem refúgios por onde as raridades ensaiam incompletudes. Uma zona distante dos consensos e de onde nada se espera. Discurso das lacunas, falhas e sentidos obsoletos, seu sussurro descreve frestas e faz referência à palavra que escapa. Um quase ao sobressalto criativo desconsiderado. Atiçar especulativo no esboço por um triz de duração imediata. Na expressividade ainda não cooptada pelos rituais conhecidos, suas deixas, sobras ou deslizes incitam a interrogação para outras verdades. Fonte de matéria-prima ás incertezas recém-decaídas das convicções. Seu anúncio de nitidez inesperada se oferece na escassez de um porém. Sua irrealidade ainda sem fundamentação não desmerece para

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) entende que o mundo ideal está em tudo quanto apareça marcado pelo sinal da Beleza" "Aquilo que choca o filósofo virtuoso, deleita o poeta camaleônico. Não causa dano, por sua complacência, no lado sombrio das coisas, nem por seu gosto, no lado luminoso, já que ambos terminam em especulação"  "Um poeta é o menos poético de tudo o que existe, porque lhe falta identidade; continuamente está indo para - e preenchendo - algum outro corpo" "Surrealismo é cosmovisão, não escola ou ismo: uma empresa de conquista da realidade, que é a realidade certa em vez da outra de papelão e para sempre ressequida (...) já é tempo de se observar como a mais surrealismo correspondem menos traços com etiqueta surrealista" "Viver importa mais do que escrever, a não ser que o escrever seja - como tão poucas vezes - um viver" "'Se sou poeta ou ator, não o sou para escrever ou declamar poesias, mas para vivê-las', afir

Filosofar como caminho*

Heidegger apreciava a utilização da metáfora do caminho na floresta como descrição de sua filosofia. Ao nos enveredarmos por uma mata, nos deparamos com clarões, com sendas e nunca sabemos aonde vamos chegar. No caso da filosofia heideggeriana, a questão do ser que perpassou os longos anos de sua produção filosófica, é um desbravar esses caminhos. Ao lermos seus textos ficamos com a impressão de que, no fim, ficou algo a ser dito, esclarecido, mostrado. Mas é exatamente esse o modo como ele lida com a questão do ser. Uma das maiores dificuldades que um leitor habituado a textos mais sistemáticos encontra é justamente o de não encontrar uma formulação “lógica” nas linhas heideggerianas. Isto ocorre porque o pensador alemão intenta pensar, por outra via, o que não foi colocado em questão ao longo da história depois de Platão e Aristóteles. Para Heidegger, a questão que suscitou a reflexão dos autores de A República e Metafísica, trazendo contribuições, ainda que fragmentá

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"De fato, todo o filme parece dizer que não há diferença, que a vida imaginária é tão real quanto a outra, e que a vida que tomamos por real pode a qualquer momento se tornar inverossímil, absurda, anormal, perversa, levada a extremos por nossos desejos ocultos" "O indefinível era melhor do que o específico, ainda que exótico. Buñuel, além disso, sonhava em introduzir sorrateiramente algumas informações falsas em todos os seus filmes, como que para minar e desviar ligeiramente o rumo da história e da geografia; a verdade fiel o aborrecia tanto quanto um espartilho apertado" "Também sabemos que de início praticamente todas as obras-primas foram rejeitadas e vilipendiadas. É quase uma regra. Toda obra realmente forte tem que incomodar. Na verdade, isso é um sinal da sua força" "Nosso século testemunhou a invenção de uma linguagem e diariamente observa a sua metamorfose. Ver uma linguagem ganhar vida, uma verdadeira linguagem apta a dize

A colcha de retalhos na filosofia clínica e a teoria portátil na psicanálise*

A filosofia clínica traz para o campo semântico da clínica existencial algumas tradições importantes da filosofia ocidental. Traz consigo as suas linguagens. Ela não é e não faz propriamente filosofia, assim como não faz metafísica, ontologia, fenomenologia ou hermenêutica. Não é uma clínica provinda de protocolos estatísticos, “indistinta”. Institui-se como filosofia clínica, como um modo próprio em que a separação de seus termos – filosofia e clínica – desfaz a possibilidade de sua compreensão.  Mas não será por isso que se absterá de lidar com fenômenos, teorias, ou linguagens diferentes. E nessa lida, por diferenças, se dá a perceber, faz afirmações. Certamente, tem modos pressupostos de ver o mundo, mas não se institui como modo de ver o mundo. Ela não é ciência, não é filosofia. Não é e não se pretende uma teoria do conhecimento. O que lhe é próprio surge, vive, se transforma e se destina em campo semântico próprio, campo dessa relação humana peculiar – a clínica.

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Acrescentarei que o redobramento é a marca simbólica do plural. Por isso, cada um torna-se um outro. Comunga com o outro e com a alteridade em geral" "Para retomar a oposição modernidade/pós-modernidade, podemos dizer que, na primeira, a história se desenrola, enquanto que na segunda o acontecimento advém. Ele se intromete. Ele força e violenta. Daí o aspecto brutal, inesperado, sempre surpreendente que não deixa de ter"  "O excesso é simplesmente revelador de um estado de espírito latente" "(...) o estilo decadente na pintura ou na vestimenta, em resumo, o nomadismo ambiente traduz bem o retorno dos bárbaros aos nossos muros (...)" "A verdadeira vida está por toda parte, exceto nas instituições (...) Ela é feita de ensaios-erros, marca, por excelência, da vitalidade, no que ela tem de aventureira. Indico no princípio deste livro: a verdadeira vida não tem projeto porque não tem objetivo definido. Daí o aspecto pulsante

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