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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A rua continua, matando substantivos, transformando a significação dos termos, impondo aos dicionários as palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônio clássico dos léxicos futuros" "Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes - a arte de flanar" "(...) Eu fui um pouco esse tipo complexo, e, talvez, por isso, cada rua é para mim um ser vivo e imóvel" "Balzac dizia que as ruas de Paris nos dão impressões humanas. São assim as ruas de todas as cidades, com vida e destinos iguais aos do homem" "(...) são ruas da proximidade do mar, ruas viajadas, com a visão de outros horizontes" "Se as ruas são entes vivos, as ruas pensam, têm

Dançar e Punir*

“E assim, à medida que o sol se punha, uma visão foi se impondo aos meus olhos.”                                        Antonin Artaud Nas redes sociais as pessoas que gostam de legitimar a cultura do óbvio, da constatação, da quantidade, essas, emburreceram de vez. Jogam suas frustrações na falta de tempo para compreender a vida, naquilo que ela possa nos apresentar de novo, de desconhecido. A vida é o tempo de todas as coisas, o mais simples é o extremo, destruidor ou construtivo: arrasar ou adorar. É mais fácil primeiro adorar, depois, em outro sentido, destruir o pensamento contrário; sem se dar conta, pode-se estar cavando o próprio erro: o fim é o limite para o pensamento duro. O que vem a ser o pensamento duro, bruto? É o pensar dentro da construção cultural dual, em que existem os polos do bem e do mal. Essa religiosidade racional é parte da vida, é claro, não serei eu a refutar todas as manifestações pelo simples fato de pensar diferente. Eis a reflexão d

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Cada indivíduo é o centro do universo, e é apenas porque o universo está repleto de tais centros que ele é precioso. Este é o sentido da palavra 'homem': cada indivíduo é um centro ao lado de incontáveis outros que são tão centros do universo quanto ele próprio" "(...) os nomes das poucas pessoas que nos possibilitaram respirar, e sem as quais jamais teríamos suportado todos os outros dias (...)" "Um ser humano possui muitas facetas, milhares delas, e só por algum tempo pode viver como se não as possuísse" "(...) comecei a compreender que cada indivíduo tem uma configuração linguística própria, que o distingue de todos os demais. Compreendi que embora os homens falem uns com os outros, não se entendem; que suas palavras são golpes que ricocheteiam nas palavras dos outros; que não existe ilusão maior do que a opinião de que a língua é um meio de comunicação entre seres humanos" "Possuímos uma acentuada tendência

A palavra inesperada*

        Uma suspeita de imensidão aprecia os deslizes da palavra refugiada na palavra. Ponto de fuga em subterfúgios de especulação, ao exibir renúncias de ser previsível, amplia o mundo das possibilidades.      A admissão compreensiva desses desvãos se oferece no acolhimento de um talvez. Uma de suas características é o descompromisso em sustentar verdades a qualquer preço. Seu estado de espírito sobressaltado qualifica deslocamentos pela arquitetura subjetiva de um mundo fatiado. Aqui o vislumbre repentino das pequenas coisas permite o acesso as zonas de exclusão.     Por esses episódios a perder de vista, um teor extemporâneo pode desconstruir as fronteiras conhecidas. Seu saber ameaça os fundamentos conhecidos daquilo que se tinha definitivo. Nesse viés de aparência deslocada anuncia novos horizontes, esparrama indícios de originalidade para se fazer ciência.   O discurso imprevisível onde ela se esboça, procura inseri-la num contexto de notícia compartilhável. Mesm

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Chladenius chega a uma conclusão interessantíssima: constata que compreender plenamente um autor não é o mesmo que compreender inteiramente um discurso ou um escrito. A norma para a compreensão de um livro não seria, de modo algum, a intenção do autor. Pois, como os homens não são capazes de abranger tudo com sua visão, assim suas palavras, discursos e escritos podem significar algo que eles próprios não tiveram a intenção de dizer ou de escrever (...) quando se busca compreender seus escritos pode-se chegar a pensar, e com razão, em coisas que aos autores não ocorreria" "O verdadeiro problema da compreensão aparece quando, no esforço de compreender um conteúdo, coloca-se a pergunta reflexiva de como o outro chegou à sua opinião. Pois é evidente que um questionamento como este anuncia uma forma de alteridade bem diferente, e significa, em último caso, a renúncia a um sentido comum" "O artista livre cria sem receber encomenda. Parece que o que o ca

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