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Pretéritos Imperfeitos*

“A experiência trivial do dia-a-dia sempre nos confirma alguma antiga profecia (...)”           Ralph Waldo Emerson   Existem eventos que possuem um começo sem fim. Perseguem uma in_de_termin_ação futura na travessia pelas antigas pontes. Neles é possível vislumbrar uma sombra suspeita, como algo mais a perturbar a lógica bem ajustada das convicções. Assim a grafia parece se orientar por um ontem a perdurar. Atitude rarefeita de olhares a perseguir buscas contaminadas. Esse contágio parece querer singularizar a pluralidade de cada um. Aprecia a menção de fatos acontecidos no prolongamento do instante. Aparecem como atuação simultânea de um em outro, seu paradoxo dilui-se numa dialética de integração.     Uma de suas características é realçar fatos no momento em que ocorriam. Essa incerteza quanto ao amanhã, parece coincidir com o desfecho provisório de seu inacabamento.   Nessa terra de ninguém uma infindável trama de acontecimentos se refugia. Parece com algo que não se deix

O que é a Filosofia Clínica?***

A resposta geralmente adotada pelos filósofos clínicos é: “a Filosofia Clínica é a filosofia acadêmica aplicada à terapia”. Esta resposta é boa. E não é. É uma boa resposta porque é exatamente isso que a Filosofia Clínica faz: aplica a filosofia da tradição ocidental, a filosofia acadêmica, à terapia. Por outro lado, é uma resposta abrangente demais. Afinal, o conjunto da “filosofia acadêmica” tem uma quantidade muito grande de elementos, que podem ser tão diferentes entre si quanto podem ser diferentes variadas espécies de, digamos, frutas. Por essa razão, a afirmação de que “a Filosofia Clínica é a filosofia acadêmica aplicada à terapia” é inútil. Aos olhos do leigo – e mesmo de muitos estudiosos – a filosofia é um emaranhado de teorias contraditórias, quando não bizarras; parece que qualquer coisa pode ser filosofia, e que filosofia pode ser qualquer coisa. Mas isso não é verdade. A filosofia tem um fio condutor muito claro. Para explicar isso, vou fazer uma analogia com a

Anotações e Reflexões em Filosofia Clínica*

  Existem duas maneiras de começar a tecer o comentário sobre a obra de Hélio Strassburger: a primeira é descrever um pouco do que é o livro, do que ele trata, quais as referências que alcança para trazer de volta ao texto; a segunda é falar do autor que é sua própria obra, a construção do pensamento pela compreensão do que se pensa.  Isso não é pouca coisa, é a grandiosidade e a humildade de quem se propõe a fazer a reflexão sobre o elo entre a abstração e a construção diária do pensamento com olhar crítico e quase, por que não, terapêutico. Dedico-me a fazer este breviário do autor, que vive a filosofia clínica como se vivesse se alimentando da arte, da música, das letras, do voo intelectual. E esta obra é contemplada com uma leitura maravilhosamente casada, entre o que se pensa e o que se sente, através das gravuras de Márcia Baroni. Escutar é tarefa do filósofo clínico, mas Strassburger é um exímio ouvinte de sua vida, de suas viagens filosóficas, dos voos entre imagens e a t

Filosofia Clínica: retomada do olhar filosófico*

“Somente quando a estranheza do ente nos acossa, desperta e atrai ele a admiração. Somente baseado na admiração [...] surge o ‘porquê’. Somente porque é possível o porquê enquanto tal, podemos nos perguntar, de maneira determinada, pelas razões e fundamentar. Somente porque podemos perguntar e fundamentar foi entregue à nossa existência o destino do pesquisador.” (HEIDEGGER, Martin. O que é Metafísica?. Col. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 242.) Hoje a filosofia acadêmica ensinada nas faculdades e universidades tende a ser uma grande assimilação dos conteúdos escritos dos pensadores que nos precederam. Heidegger nos advertia em suas obras sobre a possibilidade mais comum entre os homens, que é o de estar na inautenticidade. Esta consiste no olhar derivado do mundo, na perspectiva mais cotidiana, vivendo segundo o que “se diz”. Ao contrário da autenticidade, que se dava com o olhar mais voltado para o espanto e admiração diante do que nos rodeia ou constitui nossa e

Bom dia! Mais uma noite de festa na Casa da Filosofia Clínica. Gratidão e construções compartilhadas! Em breve mais novidades...!

 

El Instante Aprendiz*

Traducción:  Prof. Dra. Arantxa Serantes                                Todas las cosas son de tal naturaleza que, mientras más abundante es la dosis de locura que concluyen, tanto mayor es el bien que proporcionan a los mortales.                                              Erasmo de Rotterdam                    Al esbozar apuntes sobre una lógica de la locura, un envés del absurdo se desvela en astillas de múltiples caras. Frontera donde la normalidad se reconoce en sus paradojas. Una de las características de la expresividad delirante es ensimismarse en desacuerdo con el mundo alrededor. Crea dialectos de difícil acceso para proteger sus versiones de mayor intimidad. El papel de la Filosofía Clínica en la intersección con la crisis inmediata también es presentación indeterminada en un proceso caracterizado por la exageración de la manifestación del que comparte. Un no saber vehicula provisionales verdades en el compartir deconstructivo de las sesiones. Representaciones exi

Super-Heróis do Cotidiano*

  Se você só vê gente viva e já acha que está de bom tamanho; se o mais próximo que chegou de um gnomo ou fada foi através de desenhos animados; e se até considera viagem astral uma ideia bem bolada, mas prefere apreciá-la em relatos alheios, esta crônica é pra você. Pra você que, assim como eu, também é uma pessoa comum. Ou seja: nunca viu espírito, não tem o dom da clarividência, não faz ideia de como se hipnotiza alguém e também não consegue ir muito além do ascendente nas interpretações de mapa astral.  Somos pessoas comuns, com nossas limitações, mas também com potencialidades e é sobre elas que quero falar. Muito embora não consigamos acessar esses níveis mais sutis da existência, nós, seres humanos comuns, também temos poderes. Super poderes, pra falar a verdade! Cito quatro, primordialmente: autoconhecimento, autogoverno, auto-superação e auto-esquecimento. Autoconhecimento é olhar com honestidade e franqueza pra si mesmo, analisando virtudes e qualidades, mas também fragil

Poéticas da Singularidade*

Ainda escuto seu caminhar por entre a Relva. Contemplo seu poema “Song My Self” e mergulho na sonoridade de cada verso. Raios de sol tênues acordam a natureza outonal. Identifico-me de corpo e alma, sou ele em mim, sou natureza e Deus. Barba Branca clamam a sabedoria do mestre neste prenuncio dos setenta anos que se aproxima de mim. Desapego-me da superficialidade e dos excessos deste mundo seduzido pelo consumismo midiático. Sou ET em meio a loucura da cegueira branca dos homens robôs maquiados pela ilusão. Liberto-me da hipocrisia dos jogos que disfarçam para ter poder. Saudo-te velho Walt Whitman! Rendo-me a tua sabedoria e aprendo humildemente o caminho do servir e amar. Ainda nas sombras das árvores robustas, expiro e relaxo. Nada quero a não ser viver com menos e poder caminhar contemplando sem mais ter que. Rastro da lua minguante ainda me penetram… desapego-me. E me basta, neste agora! O Sol e Mercúrio se abraçam e me convidam a um novo caminhar, e m

Porta-Retratos*

  “Quando não chega carta planejo arrancar o calendário da parede, na sessão de dor.”                                                  Ana Cristina Cesar                                                                                                       Andas beijando meninas e meninos, claro, não na mesma ordem. Eu beijei por última vez uma parede, aquele velho porta-retratos, enquanto voltavas de viagem, anos 1980 dos velhos amores. Estou pronto ao novo tempo, o distanciamento trouxe na bagagem a solidão, o passado das outras vidas que vivi se aproxima na mesma intensidade viral da poesia em movimento. Foi como um tsunami, a força das águas levou meus sentimentos para além desta cidade. O vírus espalha sombras do esquecido, ele não consegue entrar no que se fecha, cerrado, o peito fortalecido pelo respeito, a solidariedade, não o medo, este já existe em todos os cantos deste país. Janelas abertas, sol que entra junto com a lua, invasora dos acontecimentos.   Ando relendo os

Bom dia! Em pré-venda na Editora Sulina.

 

Subjuntivos*

Talvez esse imenso lugar nativo ficasse inexplorado, não fora o movimento desconcertante a acessar as inéditas regiões. Essa aptidão de estranhamento, tão desmerecida, aprecia desnudar o espaço novo diante do olhar, interseção limiar com as demais teias discursivas. Através do viés desconsiderado é possível apreender e dialogar com a pluralidade transgressora das fronteiras conhecidas. Ao fazer possível o impossível se pode vislumbrar a ótica selvagem, um pouco antes de ser cooptada pelo saber instituído.   A cogitação sobre a origem dessa matriz já contém, em si mesma, a multiplicidade de versões. As lógicas da incerteza elaboram seus vocabulários brincando com os vestígios da irrealidade. O devir instintivo ensaia relatividades ao querer mostrar paradoxos, alternâncias, dialetos para se entender ou sentir que a perfeição de toda imperfeição nem sempre vai ser explicável. Sua opinião escolhe desmerecer todo beco sem saída. Seu saber especulativo, recheado de incertezas, promove

O preço de escrever*

Este é o artigo número 200 deste blog. Nunca imaginei que manteria essa atividade por tanto tempo com tamanho entusiasmo e regularidade. Começou como uma brincadeira e foi ficando. Antes de qualquer coisa, quero agradecer aos leitores que me acompanharam, criticaram, aconselharam e, especialmente, tiveram paciência comigo na riqueza e na pobreza dos textos. Preciso de vocês, mas também devo confessar algo que talvez não gostem de saber. Escrever é o verdadeiro prazer, ser lido é uma satisfação complementar. Jamais tive obrigação alguma de produzir textos. Escrevo porque gosto, sinto prazer, relaxo, me forço a pensar, desligo do cotidiano e no final, quando nasce o texto, quase sempre, sou possuído por um sentimento de arrebatamento. Em cada argumento que produzo, me dou o luxo de viajar com as ideias para qualquer lugar. Posso também ser quem eu quiser e, se me der vontade, utilizar minha caneta como uma arma potente e terrível, criticando, polemizando, elogiando, detonando, fazendo

Prêmio Jacarandá - Editora do Ano! Parabéns ao Luis Antonio Gomes e o time Sulina! Há mais de 70 anos compartilhando inovação e cultura.

 

Filosofia Clínica e os Rótulos*

Os Papéis Existenciais são rótulos em Filosofia Clínica. Segundo Lúcio Packter, o tópico estrutural XXII – Papel Existencial diz respeito aos rótulos, aquilo que a pessoa utiliza como princípio de identificação, mas, em alguns casos, esta identificação pode ser uma roupagem.  Como podemos identificar um Papel Existencial ? Na historicidade da pessoa aparecem os Papéis Existenciais ou rótulos por nomeação direta, como: “eu sou filho”, “eu sou pai”, “eu sou terapeuta” e assim por diante. Esta pessoa está dando um parecer sobre uma roupagem existencial com a qual se apresenta em diferentes âmbitos da existência dela. A própria pessoa é quem confere nomes ao Papel Existencial. Ele é atribuído por ela mesma, muitas vezes, para cada circunstância de sua vida. Compete à própria pessoa assumir e ter isso para com ela como um Papel Existencial ou não. É possível um Papel Existencial fazer parte da pessoa, mas sendo atribuído de fora para dentro por outra pessoa, isso via agendamentos. P

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