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Mostrando postagens de março, 2011
VOCÊS SÃO RIDÍCULOS* "Em qualquer tipo de civilização, cada costume, objeto material, idéia ou crença, satisfaz alguma função vital" B. Malinowski Antropólogo polonês. Vou tentar validar esta proposta analisando o casamento. Será que alguns costumes realmente foram criados visando contemplar a função do acasalamento? A virgindade pode servir de exemplo. Na antiguidade não existia a pílula anticoncepcional, as mulheres mal conheciam seu corpo, não sabiam o que era orgasmo e o resultado de uma noite de sexo tinha grandes chances de terminar em gravidez. A mulher que sonhasse em ter seu príncipe encantado, deveria se manter virgem para evitar filhos indesejados antes do casamento. Além disso, os homens eram educados para ter uma mulher em casa e quantas quisessem na rua, enquant
Escrever pra quê? Cantar pra quê? Viver pra quê? Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre/RS A paixão pela música latino-americana me acompanha já faz algum tempo e uma das vozes que mais aprecio é da argentina Mercedes Sosa. Nas últimas semanas, tenho me embriagado ao som de “Solo le Pido a Dios”, que me arrepia toda vez que ouço o verso em que pede a Deus para que a morte não a encontre vazia e só, sem ter realizado o suficiente. É canção para visionários, sonhadores e idealistas, que se soma uma capa dos discos da Mercedes em que ela afirma: “Io no canto por cantar”, sugerindo a existência de um propósito maior em seu trabalho. Arte engajada é o nome que se dá a este fenômeno e está presente na música, na pintura e, também, na literatura. Existem os artistas que querem mostrar seu trabalho, extravasar e tocar emoções, manifestar seu eu interior, deixar sua veia artística livre e solta, sem classificações, sem amarras, sem causa que não a própria arte, em si. Exis
Cactos Idalina Krause Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Horizontes que não visitei Arde sol na pele Terra batida Passos sonhados Pajé me espreita nas pedrarias Cactos replantados Círculo mágico Axés de obediência Gea de cantos e mudas Chuva fina regando tardes Apagar de dias Espera de lua minguante Ventos de todos os cardeais Rondam festa de estrelas Topo do mundo Varanda encantada...
VIDA Olympia Filósofa Clínica São João del Rei/MG MENINO NEGRO/FACÃO/MORTE ADOÇÃO/MÃE BRANCA/ABANDONO ACOLHIDO/MÃE/ELZA CÓ JEQUITINHONHA/BARRO/BRINCADEIRA COTIDIANO/RURAL/URBANO VOZ/MÚSICA/POESIA MOVIMENTO/COR/SERENO OLHAR/DISTANTE/BRILHO LÉO/BATISTA/ARTISTA
Aventuras do olhar* “O devaneio nos dá o mundo de uma alma, que uma imagem poética testemunha uma alma que descobre o seu mundo, o mundo onde ela gostaria de viver, onde ela é digna de viver.” Gaston Bachelard As interseções entre um vislumbre e outro podem mudar a vida. Alterar desfechos tidos como inevitáveis, prenunciar novidades, dialogar com a utopia em frente aos olhos. Inventar aquilo que se procurava apenas no mundo estabelecido. Compartilhar perspectivas, sensações, devaneios. Acreditar ser possível sonhar e realizar. Existem circunstâncias a iludir o real com sua atração irresistível. Vontades excessivas e ao alcance da mão. Atenção a se re-voltar para longe do extraordinário agora, em moldes refugiados na própria sombra. Ao notar que isso também pode ficar em uma zona intermediária, entre ver e não ver, um esboço persegue apontamentos sobre o refém da sua desconsideração. Ao ser possível acessar outras verdades pelo foco das ilusões (de ótica), outras realidades
Fragmentos filosóficos delirantes XXXIII* "Eu amo Aquele que caminha Antes do meu passo É Deus e resiste. Eu amo a minha morada A Terra triste. É sofrida e finita E sobrevive. Eu amo o Homem-luz Que há em mim. É poeira e paixão E acredita. E recriaste a Poesia Na minha Casa." "Vida da minha alma: Um dia nossas sombras Serão lagos, águas Beirando antiqüíssimos telhados. De argila e luz Fosforescentes, magos, Um tempo no depois Seremos um só corpo adolescente. Eu estarei em ti Transfixiada. Em mim Teu corpo. Duas almas Nômades, perenes Texturadas de mútua sedução." "Aflição de ser eu e não ser outra. Aflição de não ser, amor, aquela Que muitas filhas te deu, casou donzela E à noite se prepara e se adivinha Objeto de amor, atenta e bela. Aflição de não ser a grande ilha Que te retém e não te desespera. Aflição de ser água em meio à terra E ter a face conturbada e móvel. E a um só tempo múltipla e imóvel Não saber se
Fragmentos filosóficos delirantes XXXII* TRADUZIR-SE "Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim alomoça e janta: outra parte se espanta. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir uma parte na outra parte _ que é uma questão de vida ou morte _ será arte?" SUBVERSIVA "A poesia quando chega não respeita nada. Nem pai nem mãe. Quando ela chega de qualquer de seus abismos desconhece o Estado e a Sociedade Civil infringe o Código de Águas relincha como puta nova em frente ao Palácio da Alvorada. E só depois reconsidera: beija nos olhos os que ganham mal embala no colo os que têm sede de felicidade e de justiça E promete incendiar o país" *Ferreira Gullar
DAR SENTIDO AO ACORDAR Ildo Meyer Médico e Filósofo Clínico Porto Alegre/RS Você não dormiu direito. Pode ter sido insônia, um filho doente, uma festa que se prolongou ou um projeto a ser finalizado. O fato é que seu corpo não descansou, o sono não foi reparador e você tem um compromisso agendado. Qual sua estratégia para pular da cama cedo pela manhã e ir trabalhar, estudar ou cuidar da saúde praticando exercícios? O bom e velho despertador ainda é um dos métodos mais utilizados, mas infelizmente é muito primitivo. . Você já deve ter tido a experiência desagradável de estar deitado, tentando ainda desesperadamente recuperar o sono e de repente aquele susto. Um barulho tão incômodo invadindo seus ouvidos que a freqüência cardíaca aumenta, a respiração fica ofegante e o corpo molhado de suor. Envolto por tal perturbação você instintivamente levanta e desliga aquele som. O dia já iniciou, o calendário mudou, porém você ainda não teve o tempo necessário para sair do ontem. Mais
COLHEITA E PROCESSAMENTO Vânia Dantas Filósofa Clínica Uberlândia - MG A historicidade é a base para a análise de dados e compreensão do processo do partilhante e algumas abordagens podem ser utilizadas na sua observação para elucidar a vida que se apresenta, até por meios não-verbais e intuitivos. Na contação da história de vida, cada palavra será importante, assim como a constituição sintática, a relação entre os termos, e a semântica, ou seja, o significado deles. Agora, como se pode colher uma história de vida? Qual a lucidez necessária para que o partilhante fale do que lhe vai por dentro? Qual é a sua epistemologia? Quais são os instrumentos dos quais o ser se utiliza para conseguir dizer de si, coisa para ele tão difícil, porque muitas vezes ele não se conhece? De quais dados de semiose se vale a pessoa para se dirigir a você? Na verdade, há agendamentos nos mínimos detalhes envolvidos na clínica, desde o momento em que a pessoa toma contato com o desejo de fazer tera
O tempo em que se vive Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Houve um tempo, até poucos anos atrás, que eu me olhava no espelho e tinha quase a certeza de ser uma grega ou romana perdida no tempo. Tudo que se referia ao mundo dos castelos, batalhas e simbolismo religioso me interessava. Estudei as guerras antigas, armas brancas, arquitetura sagrada, códigos de honra das sociedades de guerreiros, paganismo, civilizações desaparecidas, alquimia, mitologia, astrologia, numerologia... Adotei a filosofia estoica como modo de viver (tanto quanto possível), enrijeci uma disciplina para uma vida verticalizada nos pilares de honra e caráter, defini uma estratégia própria para fazer render meus dias. É desta época minha forte admiração pelo imperador filósofo Marco Aurélio e suas meditações, pelos cavaleiros templários e guerreiros samurais. Prevalecia a premissa do ‘faça o que tem que ser feito, independente do quanto doa’. Depois me entreguei a uma nova fase, mas ainda
Grotão Olympia Filósofa Clínica São João del Rei/NG Nos caminhos do vale Andando pelos grotões Vendo o Rio Jequitinhonha Contemplando o Universo Vejo uma nuvenzinha Conversando com as montanhas Conversa de pé de ouvido Trocam segredos e carinhos
O discurso de cada um Luana Tavares Filósofa Clínica Niterói/RJ Cada um de nós tem um discurso próprio, uma forma de verbalizar o mundo. Às vezes compreensível, estruturado, coerente, mas tantas outras vezes nem tanto assim. Muitos apenas deixam transparecer o que lhes vai à alma; outros se descabelam de tanta expressão. Algumas destas expressões são múltiplas e abrangem olhares, toques, sons, paladares e cheiros e também muitos outros sentidos que não podem sequer ser mencionados, tomando a atenção do outro por inteiro. Inúmeras outras expressões, entretanto, se recolhem e se manifestam somente para poucos escolhidos. Muitos mesclam momentos de recolhimento com outros de euforia, nos lembrando que podemos ser imprevisíveis até mesmo dentro de nossa linearidade. Não há um discurso igual ao outro, como não há necessariamente uma imposição de padrões nos discursos já conhecidos, simplesmente porque estes podem mudar. Quantas vezes, quando supomos já conhecer nossos partilha
Fragmentos filosóficos delirantes XXXI* "Vivo no infinito; o momento não conta. Vou lhe revelar um segredo: creio já ter vivido uma vez. Nesta vida também fui brasileiro e me chamava João Guimarães Rosa" "Às vezes, quase acredito que eu mesmo, João, seja um conto contado por mim" "Não gosto de falar em infância. É um tempo de coisas boas, mas sempre com pessoas grandes incomodando a gente, intervindo, estragando os prazeres. Recordando o tempo de criança, vejo por lá excesso de adultos, todos eles, os mais queridos, ao modo de policiais do invasor, em terra ocupada" "Mas, tempo bom, de verdade, só começou com a conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me num quarto e trancar a porta. Deitar no chão e imaginar estórias, poemas, romances, botando todo mundo conhecido como personagem, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas" "Quando a gente dorme, vira de tudo: vira pedras, vira flor. O que sinto, e esfor
Fragmentos filosóficos delirantes XXX* "Não mais trarei justificações Aos olhos do mundo. Serei incluído ” Pormenor Esboçado ” Na grande bruma. Não serei batizado, Não serei crismado, Não estarei doutorado, Não serei domesticado Pelos rebanhos Da terra. Morrerei inocente Sem nunca ter Descoberto O que há de bem e mal De falso ou certo No que vi." "Se a noite persegue minha vida, deposito monstros no aquário. Os peixes caminham no asfalto e as mulheres usam gravatas. Minha alma, meu desejo, minha imobilidade. Apenas eu! Danço a quimera dos solitários e o presságio dos carecas." "Dêem-me um anestésico. A vida dói e arde. Não sei controlar meus impulsos demoníacos. Não acredito em forças de outro mundo. Sou eu, meus versos e o perigo das frações." "Um poema, um segmento refratário. Não sei de mim. As idéias são espasmos, e as palavras, coisa inútil. Seria senil e insano se acreditasse no amanhã. Vivo esse segundo que se
Estando em meio a criação de uma obra Rosângela Rossi Psicoterapeuta e Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG Isso mesmo. Em meio as palavras , lá vou, caminhando Mergulhada até a alma... Sentindo, chorando e rindo Escrevendo, criando e fluindo Pura alma, coração aberto as acontecências Que o texto traz de surpresa. Nem mais sei, quem são os personagens ou eu. Sou todos no exercício da criação Como diz o poeta Walt: "sou vasto, contenho multidões". E multidões de mim, meus vários eus Vão construíndo a obra e me construindo. Não sou mais a de antes destas 400 páginas Que se prepara para o parto na revelação desvelada. Entregar- me é um também um exercício de coragem Basta ler o título da obra Que vem arrepios dos quatro cantos da terra Na transgressão a tradição. Fica a curiosidade... A ansiedade do guardar a hora certa Faz pulsar os muitos em mim. Louca ou artista. Não sei definir. Mas, que tem sido incrível Não posso negar nesta confissão, Que sai n
Quem é sua família? Beto Colombo Filósofo Clínico Criciúma/SC Você provavelmente já viu atrás dos automóveis aqueles adesivos representando a família do condutor ou da condutora do veículo, esses adesivos tornaram-se um modismo nas grandes cidades, ou como se diz por aqui, tornaram-se uma febre. Como fica uma situação em que o homem separa-se da primeira mulher, onde teve uma filha, depois ele se casa novamente com outra mulher e atualmente tem dois filhos nesse segundo casamento? E para complicar um pouco mais, a esposa atual resolve representar sua família com bonequinhos do pai de um lado, a mãe do outro lado e no meio, como que bem protegidos, os dois filhos, excluindo a filha do primeiro casamento? Sobre a ótica da nova esposa está correto, pois para ela a sua família é aquela. E como fica a cabeça da adolescente ao visitar o pai e, no passeio do fim de semana, descobre que foi excluída da nova “família” do pai, representada pelas figuras no adesivo da traseira do seu aut
MULHERES NA INTERNET Ildo Meyer Médico e Filósofo Clínico Porto Alegre/RS Em seu famoso livro “Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus”, John Gray sustenta que o comportamento já vem codificado nos cromossomas: homens se retiram para “suas cavernas” para resolverem problemas, enquanto mulheres “se reúnem e conversam abertamente”. Homens são diferentes de mulheres. A mulher entra no elevador, aperta o botão do décimo andar e antes de chegar ao destino, já está conversando animadamente com outra mulher e descobrindo um novo restaurante nas redondezas. O homem entra no elevador e fica olhando para o piso ou para o relógio. Mulheres adoram fazer contatos, se relacionar, perguntar, responder. Mulheres costumam ir ao médico com mais freqüência que homens. Cuidado: nem todas as mulheres são assim, e quando se trata de saúde, 82% das mulheres sentem-se desconfortáveis para discutir o assunto com familiares e amigos. Por motivos variados, também não procuram imediatamente o médi
Filosofia Clínica ajuda a educar Mônica Aiub Filósofa Clínica São Paulo/SP É possível adaptar alguns métodos da Filosofia Clínica para melhorar o aprendizado dos alunos na escola. Caminho passa por construir uma pedagogia regional, adaptada às necessidades locais dos estudantes. Uma análise sobre a história da Educação brasileira demonstra que, desde os jesuítas, importamos modelos educacionais de outras culturas e realidades, tentando adaptá-los a nossas necessidades. Nossa história demonstra, também, o fracasso de tais modelos, visto não terem sido pensados a partir de nossa realidade e, por isso, não serem, em sua maioria, compatíveis com as necessidades educacionais de nosso país. Diante do desafio de trabalhar com a diversidade humana, o professor necessita, cada vez mais, ser um pesquisador. Não apenas um pesquisador da área em que atua, mas da realidade em que vive e dos seres humanos com os quais trabalha. O professor precisa saber ler as necessidades de seus educa
Emoções Marcelo Osório Costa Filósofo Clínico Belo Horizonte/MG Vamos supor que o partilhante relata que gosta muito de trabalhar, que a sua grande paixão é levantar de manhã e ir para o trabalho, conversar com as pessoas e atendê-las como merecem: com respeito e dignidade. O trabalho é mais prazeroso que minha própria família, diz esse partilhante. A narrativa dessa pessoa diz respeito ao Tópico 4 (Emoções). O que podemos entender pelas Emoções? Lúcio Packter, idealizador da Filosofia Clínica, diz que “É o movimento em partes da Estrutura de Pensamento (EP) que a pessoa vivencia como um estado afetivo qualquer: prazer, dor, alegria, tristeza, amor, ódio, bem-estar, mal-estar, esperança, desejo, saudade, carinho, etc. Assim, engloba o sentimento”. É possível entender que as emoções têm sua origem através de combinações tópicas. Vamos a um exemplo para elucidar melhor tal possibilidade. Pedro tem como Pré-Juízo (Tópico 5) que todas as mulheres são carinhosas, afetivas e que t
Fragmentos filosóficos delirantes XXIX* "Já o ser inquieto não está em nenhum lugar porque a inquietação já é uma forma de não estar nunca estaR que se dirá então do ninguém que mora em mim por não ter não onde morar na terra no ar no maR" "Não amo o espaço que o meu corpo ocupa Num jardim público, num estribo de bonde. Mas o espaço que mora em mim, luz interior. Um espaço que é meu como uma flor Que me nasceu por dentro, entre paredes. Nutrido à custa de secretas sedes. Que é a forma? Não o simples adorno. Não o corpo habitando o espaço, mas o espaço" "Dou-lhe tudo do que como, e ela me exige o último gomo. Dou-lhe a roupa com que me visto e ela me interroga: só isto? Se ela se fere num espinho, O meu sangue é que é o seu vinho. Se ela tem sede eu é que choro, no deserto, para lhe dar água: E ela mata a sua sede, já no copo de minha mágoa Dou-lhe o meu canto louco; faço um pouco mais do que ser louco. E ela me exige
Fragmentos filosóficos delirantes XXVIII* "Quer ganhe ou perca, sou verdade e minto. Se pergunto, a resposta é dos assombros. No sol a pino finjo a madrugada." "Não tenho mais canções de amor. Joguei tudo pela janela. Em companhia da linguagem fiquei, e o mundo se elucida." "Posso agora comunicar-me e sei que o mundo é muito grande. Pela mão, levam-me as palavras a geografias absolutas." "Sou um homem que perdeu tudo mas criou a realidade, fogueira de imagens, depósito de coisas que jamais explodem." "Ó mistério do mundo, nenhum cadeado fecha o portão da noite. Foi em vão que ao anoitecer pensei em dormir sozinho protegido pelo arame farpado que cerca as minhas terras e pelos meus cães que sonham de olhos abertos. À noite, uma simples aragem destrói os muros dos homens. Embora o meu portão vá amanhecer fechado sei que alguém o abriu, no silêncio da noite, e assistiu no escuro ao meu sono inquieto." *Lê
Ilhas de risco Luana Tavares Filósofa Clínica Niterói/RJ Desde que nascemos, ou melhor, antes mesmo de sermos concebidos, quando bilhões de metades percorrem longos e vagos impulsos para cumprir metas que sequer têm consciência, perdendo-se e chocando-se contra o desconhecido e contra si mesmos, parece que temos impressa uma característica de risco, de um ‘não sei o que pode acontecer’, tal como um caminhar no vazio, por entre penumbras e sensações desavisadas, sempre expostos ao inusitado ato de sobreviver. O exercício da vida pode ser traduzido como uma constante respiração suspensa, onde desafios nos remetem a desbravar trilhas sinuosas e realizar escolhas, como se os desdobramentos existenciais futuros dependessem da nossa capacidade intrinsecamente humana de resistir e se sobrepujar aos acontecimentos e devires a que estamos constantemente nos expondo. Estranho é supor que há risco em qualquer momento, talvez a todo instante, e não importa a que representação de mundo
A Pior das Rivais Jussara Haddad Filósofa Clínica Rio de Janeiro/RJ É muito frequente a queixa das mulheres sobre o interesse do seu amado por aquela que rouba todas as cenas e os melhores momentos. Que anula aquela escapadinha de domingo à tarde naquela horinha em que as crianças saíram para brincar. Que afasta do casal aqueles instantes da noite, depois do jantar e bem antes do sono incontrolável que reflete o cansaço do trabalho diário, aqueles momentos gostosos, de brincadeiras e caricias que sustentariam a vida de quem quer viver junto, casado, compartilhando. Aquela que é iluminada, animada e fascinante nas suas cores e sons. Aquela que seduz e conquista a grande maioria dos homens que, materialistas acima de tudo, se encantam com suas propostas indecentes de aquisição de bens de consumo de qualquer natureza. Aquela que petrifica, hipnotiza e leva ao total estado de alienação. Que produz o prazer do riso e possibilita a libertação da ira e traz com facilidade inigualáv
A lógica dos casos perdidos* “Sabendo que não há causas vitoriosas, gosto das causas perdidas: elas exigem uma alma inteira, tanto na derrota quanto nas vitórias passageiras.” Albert Camus É incrível tentar descrever os atendimentos de casos perdidos. Àqueles bem depois da sentença diagnóstica do médico ou da interdição jurídica. Um mundo de recursos pessoais desmerecidos a se encontrar na subjetividade confusa. Algo permanece invisível nas entrevistas da razão. Uma geografia insinuante e sedutora costuma cegar a pessoa na relação consigo mesma, sob as mais variadas justificativas. Nesses casos é comum a cumplicidade para sustentar suas rotas de colisão. A atração das axiologias, imperceptíveis quando desejam ofuscar epistemologias, por exemplo, é capaz de desconstruir os raciocínios mais bem postados. Elaborar armadilhas e sustentar paixões dominantes podem se esboçar nalguma forma de dependência, na relação do personagem com os princípios de verdade, recém inventad
Neurônios pensam? O que acontece na relação entre os neurônios na visão da Filosofia Clínica Lúcio Packter Pensador da Filosofia Clínica O que acontece nas relações entre neurônios, no modo como cada um interage com outro e com muitos outros? Podemos imaginar que se associam, que lutam por espaço e energia, que formam grupos que travarão animosidades, ambivalências, lutas com outros grupos? Há neurônios que armam competições, renúncias, que atacam e exterminam neurônios isolados? Uma resposta plausível a partir da Filosofia Clínica é que sim, isso também acontece. Mas muito provavelmente esta é uma parte entre os eventos, não a principal. Caso a investigação se aprofunde, temos alguns elementos surpreendentes que chamam e instigam a atenção. O que podemos conjecturar a respeito de neurônios que aparentemente promovem o suicídio? Ou de grupos de neurônios que promovem a associação pacífica entre redes neuronais? Haveria talvez uma política democrata de relações neuronais?
Diário de um retorno* "Eu sou como eu sou pronome pessoal intransferível do homem que iniciei na medida do possível." Torquato Neto Diante de circunstâncias desfavoráveis à busca pré-estabelecida, a expressividade pode se ocultar esperando o momento oportuno para seu regresso. Aguardando esse instante encontram-se homens e mulheres escondidos em si mesmos, construindo uma historicidade de aparência. O brilho existencial, inerente daqueles que transmitem o bem estar de suas vivências, se confunde com reflexos internos tentando disfarçar suas faces cansadas e sem esperança. Alguns, de tão afastados de sua originalidade, perderam-se pelo caminho, e as possibilidades de volta não são mais consideradas. Outros, sustentados por suas buscas e valores, seguem confiantes nas possibilidades oriundas da dialética existencial. Esses desacordos são singulares. Cada história de vida apresentará seu roteiro. Nas convivências autoritárias é comum se encontrar indivíduos vive
Fragmentos filosóficos delirantes XXVII* "Sempre subindo a ladeira do nada, Topar em pedras que nada revelam. Levar às costas o fardo do ser E ter certeza que não vai ser pago. Sentir prazeres, dores, sentir medo, Nada entender, querer saber tudo. Cantar com voz bonita prá cachorro, Não ver "PERIGO" e afundar no caos. Fumar, beber, amar, dormir sem sono, Observar as horas impiedosas Que passam carregando um bom pedaço da vida, sem dar satisfações. Amar o amargo e sonhar com doçuras Saber que retornar não é possível Sentir que um dia vai sentir saudades Da ladeira, do fardo, das pedradas. Por fim, de um só salto, Transpor de vez o paredão." "Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela (…). Quem não se arrisca não pode berrar." *Torquato Neto 1944-1972
Fragmentos filosóficos delirantes XXVI* "Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar." "Amor é bicho instruído Olha: o amor pulou o muro o amor subiu na árvore em tempo de se estrepar. Pronto, o amor se estrepou. Daqui estou vendo o sangue que escorre do corpo andrógino. Essa ferida, meu bem às vezes não sara nunca às vezes sara amanhã." "Cuidado por onde andas, que é sobre os meus sonhos que caminhas." "O problema não é inventar. É ser inventado hora após hora E nunca ficar pronta Nossa edição convincente." "A loucura é diagnosticada pelos sãos, que não se submetem a diagnóstico. Há um limite em que a razão deixa de ser razão, e a loucura ainda é razoável. Somos lúcidos na medida em que perdemos a riqueza da imaginação." "Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria." "
A vida não tem Control Z Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Nos programas de computador existe um comando chamado ‘desfazer’. Ele pode ser acionado pressionando-se a tecla Control, seguida da letra Z. Trata-se de um importante recurso para quando cometemos pequenos erros, digitando textos ou preenchendo planilhas, por exemplo. É como pisar numa poça de lama e tirar o pé, sem nos sujarmos. A vida não tem Control Z. Adequado, ou não, o que está feito está feito. Por mais que às vezes possamos desejar, é impossível voltar no tempo para mudarmos a rota. No máximo nos é dado tentar um conserto, mas nem sempre a emenda resolve (às vezes até piora!). Por ignorância, descuido, ou impulso, quantas vezes agimos de forma equivocada, sem pensar, sem medir pós e contras, e logo em seguida nos arrependemos? Pequenos deslizes resultam em brigas, preocupações, desentendimentos que poderiam ser evitados, caso fosse viável um Control Z na realidade! Claro que um mundo sem dor
Renascimento Beto Colombo Filósofo Clínico Criciúma/SC Pablo Neruda, poeta chileno, diz que morre lentamente quem não lê, quem não viaja, quem não houve música, quem não acha graça em si mesmo, quem destrói seu amor próprio, quem não se deixa ajudar... Se você está lendo este artigo, logo você gosta de ler. Meu singelo pedido é que você leia para alguém que não tenha o hábito da leitura, aí então você provavelmente estará ajudando o despertar e colocando em prática o dizer de Pablo Neruda. “Morre lentamente quem não lê, quem não se deixa ajudar...” O mestre Jesus Cristo diz que “a semente tem que cair na terra, morrer para depois renascer”. Ele estava falando dele mesmo, da sua paixão, de sua morte e, acredito, do nascimento do Cristianismo. Algumas pessoas são como mortos vivos, apenas respiram, comem e caminham, mas não sabem eles que “estão mortos”. Não sentem mais o gosto da comida, da bebida, não gostam do canto dos pássaros, não percebem a beleza das flores, não sentem
Nas entrelinhas Rosângela Rossi Psicoterapeuta e Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG Um suspiro, nas entre linhas do meu texto. Olhar vagando a espera da nova idéia. Entre o consciente e inconsciente, Eu e minha obra. Em suspenso o delírio alucinado do porvir. Talvez um café ou Coca Cola para me despertar. Segundos a olhar a tecla do laptop. Tempo fugit no carp diem. Nem para frente,nem para atrás. Intervalo da alma a conspirar. Nem o coração bate igual. É o mistério querendo se revelar, Ou desvelar nas tramas invisíveis do meu cordel. Ponto ou vírgula. Espaço que pode ser um nada. Relógio parado, luz desligada. Nas entre linhas um universo pulsante a esperar.
O orgasmo é meu. E daí? Jussara Haddad Filósofa Clínica Rio de Janeiro/RJ Para mim e para vários outros especialistas, a qualidade de um orgasmo está diretamente ligada à vontade que cada um tem de senti-lo. É óbvio que fatores externos, como um parceiro inábil pode influenciar na qualidade do prazer, contudo se você estiver a fim mesmo, ninguém te segura. Você diz: pega ali, aperta aqui, não para não e se a pessoa for atenciosa, acaba tudo bem. E esta regra costuma se aplicar bem mais às mulheres que aos homens. Muitas mulheres entendem o orgasmo ou a forma como ele acontece como um alvo inatingível ou inerente a milhares de condições, tendo, entre elas, a pouca habilidade do parceiro em fazer com que elas cheguem lá. Vibrador com pilha fraca também dificulta o trabalho, mas o orgasmo é seu e só quem pode fazer acontecer de verdade, é você. O fato é que, hoje em dia, o orgasmo virou uma obrigação moral. Ou imoral, melhor dizendo, que visa atender aos conceitos sem sentido q

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