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Mostrando postagens de abril, 2015

Filosofar sobre o lance de dados*

“Os pontos singulares estão sobre o dado; as questões são os próprios dados; o imperativo é o lançar.” Gilles Deleuze O que é a sorte grande? Essa é a indagação que me faço já um bom tempo, talvez desde minha tenra idade em apostar na vida venho à busca de um método. Claro, a vida é mais complexa se olharmos do ponto de vista existencial mas nada se compara ao imbricado mundo da sorte no jogo. Digo, o “jogo de azar”, o jogo de apostar em números, em apostar na intenção de ganhar algo.  Esse algo pode ser acumulativo, pode ser o princípio do prazer e como alguns preferem que seja, a perdição de uma vida.  Chegam até profetizar, exorcizar sobre o tema, eu diria, quanto mais sorte se tem menos se ganha em qualquer coisa, até porque não sei o que é ter sorte, mesmo no ato de jogar ela vem de forma do acaso. É um impulso que me leva a apostar em algo. Penso que o ato de escolha dos números é algo que se perde no infinito combinatório dos números, isso no plano de consciên

Aprendendo a Viver*

Thoreau era um filósofo americano que, entre coisas mais difíceis de se assimilar assim de repente, numa leitura de jornal, escreveu muitas coisas que talvez possam nos ajudar a viver de um modo mais inteligente, mais eficaz, mais bonito, menos angustiado. Thoreau, por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longínquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas «melhore o momento presente», exclamava. E acrescentava: «Estamos vivos agora.» E comentava com desgosto: «Eles ficam juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladrões roubar.» A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe. Cada um de nós, aliás, fazendo um exame de consciência, lembra-se pelo menos de vários agoras que foram perdidos e que não voltarão mais. Há momentos na vida que o arrependimento de não ter t

Para fazer uma leitura da vida é preciso usar as lentes da existência*

Como fazer uma leitura de sua vida ?  Há leituras que nos aproximam de nós mesmos, e há aquelas que nos distanciam. Nossas lentes da alma se adaptam melhor aos contextos que nos ajudam a ver a vida com menor grau de miopia. Vivemos em busca de olhares que veem o mundo a partir das perspectivas de nosso ser. Talvez seja por isso que não digerimos aquela música, ou aquele autor. Por mais profundo e sensível que alguém seja, ele somente atingirá a raiz de nossa alma se aproximar-se da leitura que fazemos da vida. Há tempos tenho pensando sobre as múltiplas leituras que fazemos da vida. Em cada contexto existencial da vida nos adaptaremos a quem escreve os silêncios de nossa alma com a sensibilidade que enxergamos a vida. Talvez encontremos aqueles que questionem tal posicionamento. No entanto quando encontramos tais contestadores, eles já estão impregnados de leituras que se adaptem ao seu contexto emocional. O simples fato de não concordarem com essa premissa revela que el

Estão Todas as Verdades à Espera em Todas as Coisas*

Estão todas as verdades à espera em todas as coisas: não apressam o próprio nascimento nem a ele se opõem, não carecem do fórceps do obstetra, e para mim a menos significante é grande como todas. (Que pode haver de maior ou menor que um toque?) Sermões e lógicas jamais convencem o peso da noite cala bem mais fundo em minha alma. (Só o que se prova a qualquer homem ou mulher, é que é; só o que ninguém pode negar, é que é.) Um minuto e uma gota de mim tranquilizam o meu cérebro: eu acredito que torrões de barro podem vir a ser lâmpadas e amantes, que um manual de manuais é a carne de um homem ou mulher, e que num ápice ou numa flor está o sentimento de um pelo outro, e hão-de ramificar-se ao infinito a começar daí até que essa lição venha a ser de todos, e um e todos nos possam deleitar e nós a eles. *Walt Whitman

Oi Amiga.... Aninha*

Compreenda-me Mas não me "prenda com"... Vejo um deserto Tenho perambulado Por terras áridas Arde o sol. Queima Sopra um vento norte Dizem que é vento Que deixa gente "maluca" "O vento da loucura" Corta a carne. Aí tu me falas: - Zé e teus escritos? Está bem amiga Acho que você entende É que o pó da terra seca Envolveu minhas palavrinhas Entrou areia Nas dobradiças das letrinhas. Juro Estou preparando o terreno Virando e revirando a terra Cavoucando... suando... Calejaram minhas mãos Trago água de longe E minhocas. E outros bichinhos Visite-me amiga Daqui a algum tempo Verás que florescerá aqui Um pequeno jardim.... Posso te pedir uma coisinha... Almoce comigo, amiga Vez em quando.... Aninha *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

A que bebeu poesia*

A louca que passa Deixou na vidraça Um olhar que no fundo Tem muita desgraça. Será minha mãe A pobre da louca Que nada mais tendo Conserva a ternura? Será minha noiva Que louca ficou Depois que parti No barco da guerra? Será minha filha A louca do bairro Que a vida judiou Depois que morri?                   Ou foi a poesia Que a louca bebeu Que lhe deu esse ar De ser doutro mundo? *Luiz Guilherme do Prado Veppo

Poéticas*

brinco com as letras com as palavras sem regras sem normas vou rebelde transgredindo. há um impulso de expressar de compartilhar de libertar. sem ter que... vive em mim frida khalo hilda hilst clarice lispector. e, eu sem limite rompo agendamentos. teço as teias de minhas profundidades *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Filósofa Clínica, Escritora, Poeta Juiz de Fora/MG

Ode I*

O poeta se dirige ao silêncio. E o diálogo, sua vida. — Eu vos amo a todos, ventos, rios, mares, eu vos amo, meus irmãos. Ao redor, nenhuma voz entrecorta sua solidão palpitante. Mas ele crê: de um pequeno murmúrio, tece ao menos um eco. Vida de poeta, no apelo de um brilho, no encontro de um reflexo. *Lupe Cotrim Garaude

Memória*

“Tom é palavra que presta serviços a mais de uma arte.” Herbert Read Eu sou antigo, muito antigo, quase uma pintura paleolítica, Uma imagem na pedra, bosquímane da África do Sul, Eu sou muito antigo, só não envelheci o suficiente, Eu sou tão antigo, existo antes do indivíduo, sou parte do coletivo. Atravessei os tempos, sou milenar, sou o risco da arte pagã, Vim de longe, sou de todos os lugares eu hoje só a memória pode falar. Vim do retrato, escalei o adorno da história, morri muitas vezes, Sou um traço tão antigo, as rugas não conseguem mostrar os tempos existentes em minha carcaça de bronze. Sou mais antigo que o sentido das coisas, dentro de mim existe o tempo, existe uma máquina de som cromático. O Outro, a curva do olhar que se perde na abstração da forma, sou mais antigo do que isso, o pólen das estações. O Outro, o que existe é único – do primitivo não vivi mais do que vivo hoje, Envelheço nos conceitos, nas cores e nos dias. Sou muito antigo

Não te Arruínes, Alma, Enriquece*

Centro da minha terra pecadora, alma gasta da própria rebeldia, porque tremes lá dentro se por fora vais caiando as paredes de alegria? Para quê tanto luxo na morada arruinada, arrendada a curto prazo? Herdam de ti os vermes? Na jornada do corpo te consomes ao acaso? Não te arruínes, alma, enriquece: vende as horas de escória e desperdício e compra a eternidade que mereces, sem piedade do servo ao teu serviço. Devora a Morte e o que de nós terá, que morta a Morte nada morrerá. *William Shakespeare, in "Sonetos"

Saber Poder*

Foucault diz que há um "Saber Poder", que é o saber que tem o poder de dar diagnósticos de valor em função daquele que tem o saber contra aquele que não tem o saber. A partir daí se desenha uma engenharia social baseada em um suposto saber que é efetivo poder, autorizado, é claro pelas instituições e, obviamente, defendido por elas.  Mas há também muito Poder para um Saber: a psiquiatria. Ela está em todos os âmbitos de nossas vidas, crianças e adultos. Em exércitos, hospitais, empresas e, claro, em escolas. Esse saber tem muito poder (além do Saber Poder) e acaba por definir a sanidade mental daqueles que estão em sua órbita.  A primeira coisa que as escolas deveriam fazer é cortar esse Poder desse Saber pela raiz e não permitir que desse Saber se marque, principalmente crianças, de forma tão covarde e embrutecedora. Como o Poder desse saber já se espalhou pela sociedade em geral, não apenas pseudo-médicos (os psiquiatras), mas coordenadoras de escolas, supervis

Livro do Amor*

O mais singular livro dos livros É o Livro do Amor; Li-o com toda a atenção: Poucas folhas de alegrias, De dores cadernos inteiros. Apartamento faz uma secção. Reencontro! um breve capítulo, Fragmentário. Volumes de mágoas Alongados de comentários, Infinitos, sem medida. Ó Nisami! — mas no fim Achaste o justo caminho; O insolúvel, quem o resolve? Os amantes que tornam a encontrar-se. *Johann Wolfgang von Goethe

Outonos que há em mim*

A poética do outono nos contextos da vida. Outonos que há em mim Silenciosamente as folhas vão perdendo seu vigor de outrora. O verde das esperanças dá lugar aos tons avermelhados e amarelos do entardecer.  Tempo de despedidas e recomeços. Na vida os ciclos se despendem para dar início a novas estações. Alma povoado de tempos, que se perdem e confundem com o ainda não conhecido. Não há despedidos quando o desejo é de recomeçar. Na saudade do que se foi a alegria de novas chegadas. De novos portos que esperam o desembarque para novas experiências.  No incerto futuro da vida o desejo é apenas de chegar. Nas imprevisões de uma tarde de outono se escondem as sementes que silenciosamente estão em processo de germinação no coração de novos tempos. Silenciar a alma para ouvir a si mesmo. Sem perder-se. Mas com a calma necessária para encontrar-se. Nada além de sonhos possíveis.  Os impossíveis pertencem as estações que ainda não foram geradas. Viver. Sem deixar de lado

Recado aos Amigos Distantes*

Meus companheiros amados, não vos espero nem chamo: porque vou para outros lados. Mas é certo que vos amo. Nem sempre os que estão mais perto fazem melhor companhia. Mesmo com sol encoberto, todos sabem quando é dia. Pelo vosso campo imenso, vou cortando meus atalhos. Por vosso amor é que penso e me dou tantos trabalhos. Não condeneis, por enquanto, minha rebelde maneira. Para libertar-me tanto, fico vossa prisioneira. Por mais que longe pareça, ides na minha lembrança, ides na minha cabeça, valeis a minha Esperança. Cecília Meireles, in 'Poemas (1951)'

Escuto histórias de amor*

Escuto a minha história de amor e a minha história acerca do amor no mundo e em você. Escuto a sua história, a minha história, a história do mundo do amor romântico, a história que vai contra a necessidade de amor. Escuto falar bem e mal dele. Escuto com paciência, às vezes com emoção, com todo meu coração. Escuto sem julgar. Escuto a sua história e não me apresso em querer consertar nada, não pretendo mudar nada, não entendo escuta sem amor, sem entrega, sem desejo sincero de simplesmente colocar você no colo e deixar você despejar ali, todo seu amor. Escuto a minha história de amor e pretendo, tento filtrar no meu entendimento, todo ensinamento possível e pretendo ainda, juro que sempre pretendo a proeza, a delícia de racionalizar o mínimo possível sobre as lições que a vida a dois me ofereceu, mas apenas, seguir em frente, cada dia mais alegre e capaz de amar. Apenas isso. Escuto a sua historia de amor. Sertaneja, seresteira, sambista, roqueira, não importa

A Espantosa Realidade das Cousas*

A espantosa realidade das cousas É a minha descoberta de todos os dias. Cada cousa é o que é, E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo. Tenho escrito bastantes poemas. Hei de escrever muitos mais. Naturalmente. Cada poema meu diz isto, E todos os meus poemas são diferentes, Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto. Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra. Não me ponho a pensar se ela sente. Não me perco a chamar-lhe minha irmã. Mas gosto dela por ela ser uma pedra, Gosto dela porque ela não sente nada. Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo. Outras vezes oiço passar o vento, E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido. Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto; Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo, Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar; Porque o penso sem pensamentos

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