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Mostrando postagens de julho, 2015

Sonhar*

"Será que um sonho, depois de sonhado, acomodará mudanças no sonhador?", essa é uma pergunta intrigante que o protagonista do livro "Quando Nietzsche Chorou" elabora. Longe de responder ou concluir o tema, que penso ter raízes na poesia, gostaria sim perguntar mais, esquadrinhar uma série de dúvidas destinadas aos sonhadores que estão lendo essas linhas. A quem os sonhos são mais que um gosto doce ou amargo ao acordar, mas um alento na dureza dos dias. Penso que o próprio sonho, para alguns, pode ser um submodo, ou seja, uma maneira da pessoa lidar com suas questões íntimas. Ao lembrar e reviver o que foi sonhado, em alguns casos, se encerram questões existenciais, significados são atribuídos, para que a vida tome outros rumos. Mas ainda assim, o que é lembrado e o que é esquecido? Qual o sentimento que cada um traz de um sonho? O que acalenta ou o que atormenta? Como saber o universo de possibilidades em tantos infinitos particulares de quem sonha?

Pensamento vem de fora*

Pensamento vem de fora e pensa que vem de dentro, pensamento que expectora o que no meu peito penso. Pensamento a mil por hora, tormento a todo momento. Por que é que eu penso agora sem o meu consentimento? Se tudo que comemora tem o seu impedimento, se tudo aquilo que chora cresce com o seu fermento; pensamento, dê o fora, saia do meu pensamento. Pensamento, vá embora, desapareça no vento. E não jogarei sementes em cima do seu cimento.   *Arnaldo Antunes

Porque é Primavera*

Da natureza em cores e formas Do esplendor das açucenas De tantas flores De novos tempos Tantos afazeres e desfazeres Desprezamos um amor-perfeito Caminhamos por entre as flores Sem perceber o tempo Desperte minh'alma Para alcançar as rosas Sentir o vento Florescer nesse tempo *Fernanda Sena Filósofa. Filósofa Clínica. Poeta. Barbacena/MG

A Fragilidade dos Valores*

“Todas as coisas 'boas' foram noutro tempo más; todo o pecado original veio a ser virtude original. O casamento, por exemplo, era tido como um atentado contra a sociedade e pagava-se uma multa, por ter tido a imprudência de se apropriar de uma mulher (ainda hoje no Cambodja o sacerdote, guarda dos velhos costumes, conserva o jus primae noctis). Os sentimentos doces, benévolos, conciliadores, compassivos, mais tarde vieram a ser os «valores por excelência»; por muito tempo se atraiu o desprezo e se envergonhava cada qual da brandura, como agora da dureza. A submissão ao direito: oh! que revolução de consciência em todas as raças aristocráticas quando tiveram de renunciar à vingança para se submeterem ao direito! O 'direito' foi por muito tempo um vetitum, uma inovação, um crime; foi instituído com violência e opróbio. Cada passo que o homem deu sobre a Terra custou-lhe muitos suplícios intelectuais e corporais; tudo passou adiante e atrasou todo o movimento,

A noite em mim...*

Transformo minha dor em poesia, música e movimento. Sinto saudades de coisas ainda não vividas. Essa é minha vida! Desencontros familiares me chegam dizendo que muitos dos meus, pessoas do meu sangue, são estrangeiros na minha estrada. Tão estranho ter e não ter pessoas verdadeiras e reais no convívio familiar. Buracos emocionais foram construídos dentro do meu ser, procuro explicação para tentar aliviar a dor. Mas, nem sempre teremos acesso a todas as explicações de nossa existência, pois a própria existência escorre pelos dedos da mão. Apesar de tudo, eu acredito na lua, acredito na noite perfumada e acredito no movimento para anestesiar os dramas do dia a dia. Cada um sabe quais são os vãos de seu existir. Nunca devemos, ou deveríamos julgar atitudes do nosso irmão, mais ou menos próximo de nós. As feridas existenciais têm me mostrado o quão pequenos somos diante da imensidão da vida e do universo, seja o universo particular ou o universo em que estamos inseridos como s

O Poeta*

Já te despedes de mim, Hora. Teu golpe de asa é o meu açoite. Só: da boca o que faço agora? Que faço do dia, da noite? Sem paz, sem amor, sem teto, caminho pela vida afora. Tudo aquilo em que ponho afeto fica mais rico e me devora.   *Rainer Maria Rilke

Todos recebem a mesma luz*

Uns se assemelham A superfícies brancas Que refletem a luz - São os que tem mais inocência - Outros assemelham-se A superfícies coloridas Que absorvem e refletem os raios de luz Mudam de brilho e tonalidade ao longo do dia - São as almas mais sensíveis - Outros, ainda se assemelham A superfícies transparentes Deixam passar toda luz, sem nada reter - São os mais próximos de Deus - Alguns outros Podem ser comparados a espelhos Onde a natureza e os amigos Se refletem e se vêem - São os mais próximos de nós - Alguns, enfim Imitam prismas multicores Onde a luz branca Se abre em arco-iris - São os que cantam a glória da natureza Pela arte, pela música, pela poesia.... (Inspirado em Louis Lavelle - O Erro de Narciso.) *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Tempos Difíceis*

“Inteiramente diverso é o que se passa com o tempo linear.” Karl Jaspers Estamos vivendo tempos difíceis, essa evangelização nos sentimentos, na cultura, na forma desapegada que se tem para levantar os braços e agradecer a torto e a direito a tudo que é de ordem divina, do esforço de cada um, do cérebro de cada um, o que é da Vida passa a ser a mão do senhor.  A criação dos homens virou uma dádiva, logo agora que não existe nada de criativo nas atitudes e nem no que se apresenta como sendo cultura, música, literatura e outros fazeres dos homens que se acham donos da Terra. Estamos vivendo esse tempo de gerúndio, de poente nas histórias; na política, o pensamento de esquerda está mais perdido que papel ao vento, a direita, está cada vez mais orgulhosa de suas atitudes, de seus propósitos e agradece ao senhor do egoísmo...  Mas esse tempo é mortal. Felizmente. Estamos a viver todos os tempos num só século.  A água está suja, o plástico é uma ilha para os olhos

Poéticas*

tudo é...não é... impermanente, imanente. no ver o invisível, a arte transcende o artista. em sua inutilidade tão útil... permite a liberdade. *Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Escritora Juiz de Fora/MG

Fragmentos filosóficos, delirantes, libertários*

"(...) o cotidiano é o verdadeiro princípio de realidade, melhor ainda, da surrealidade" "A verdadeira vida está por toda parte, exceto nas instituições. Não se reconhece mais esses escritores e escritos vãos e em suas múltiplas imposições. Ela é feita de ensaios-erros, marca, por excelência, da vitalidade, no que ela tem de aventureira. Indico no princípio deste livro: a verdadeira vida não tem projeto porque não tem objetivo definido. Daí o aspecto pulsante de suas manifestações" "O excesso é simplesmente revelador de um estado de espírito latente" "(...) o estilo decadente na pintura ou na vestimenta, em resumo, o nomadismo ambiente traduz bem o retorno dos bárbaros aos nossos muros, isso significa a fragmentação do universo policiado, ordenado pacientemente por três séculos de modernidade" "Mas além ou aquém desta aparente submissão, existe uma não menos sólida resistência, a de 'ficar na sua' ou a da secessão,

A Maternidade, esse coelho saltitante*

Alice, quando se aventura atrás do coelho no País das Maravilhas, percebe ao cair que: "ou o poço era muito fundo, ou ela caía muito devagar, porque enquanto caía teve tempo de sobra para olhar à sua volta e imaginar o que iria acontecer em seguida." Penso que muitas das situações que eu já me deparei como mãe, são semelhantes às aventuras de Alice, correndo atrás do coelho. Seja esse coelho o meu filho pequeno, seja esse coelho as questões que ele me trouxe, e continua trazendo. A aventura de Alice, em analogia com a minha e de tantas mães, é a da transformação através da experiência, ou ainda, da jornada da maternidade que nos transforma, ao mesmo tempo em que criamos e transformamos nossos filhos em adultos. Pois estamos também, a cada passo, nos transformando em mães e pais. O que vai acontecer em seguida, ser mãe, sempre é uma surpresa, mesmo a Alice quando cai no poço, "tentou olhar para baixo e ter uma ideia do que a esperava, mas estava e

Poema*

Se morro universo se apaga como se apagam as coisas deste quarto se apago a lâmpada: os sapatos - da - ásia, as camisas  e guerras na cadeira, o paletó -  dos - andes,  bilhões de quatrilhões de seres  e de sóis morrem comigo.  Ou não: o sol voltará a marcar este mesmo ponto do assoalho onde esteve meu pé; deste quarto ouvirás o barulho dos ônibus na rua; uma nova cidade surgirá de dentro desta como a árvore da árvore.  Só que ninguém poderá ler no esgarçar destas nuvens a mesma história que eu leio, comovido. *Ferreira Gullar

Prefácio***

Esta obra é uma descontinuidade das 'poéticas da singularidade' publicada em 2007 no RJ. Busca tecer críticas, provocar reflexões e insinua caminhos para a desconstrução das práticas ideologizadas a partir das tipologias do desatino. Compartilhar vivências de atendimentos, impressões e pesquisas sobre a raridade existencial da pessoa em refúgios de internação, sejam eles dentro ou fora dos muros do manicômio. Lugar onde a palavra usual encontra dificuldades para chegar e manter interseção com a epistemologia da loucura.  A singularidade desfigurada pelas intervenções da tradição mostra, antes de mais nada, a aptidão de exclusão das analíticas da correção discursiva. Ao se levar em consideração a distorção, o erro e as contradições do sujeito, reivindica-se o estudo do entorno da pessoa em crise: o contexto, família e o psiquiatra, que são coadjuvantes com poder (jurídico) para transformá-lo em paciente, ao prescrever suas drogas de lógica normal.  No saber desajustad

Como quem ouve uma sinfonia*

Um grande e verdadeiro amor pode ser sutil, encabulado, assustado e no fundo encantado. Esconder um sentimento pode ser um ato de caridade, de compaixão e mesmo de verdadeiro amor. Não dizer eu te amo, mesmo diante de uma certeza inexorável, pode ser muito sábio. É possível que o ser amado não esteja passando pelo melhor momento em sua vida e que isto transmita a ele uma responsabilidade difícil de assumir no momento. Muitas vezes ele te ama muito mais do que você ou ele possam imaginar, mas não consegue ou tem medo de expressar. Pode estar traumatizado, pode ter sido golpeado recentemente, pode estar sendo vitima de uma pessoa doente que o persegue. Talvez ele não te ame mesmo, mas existem varias maneiras de sentir isso. E isto é um direito. Talvez ele ainda não tenha descoberto o que sente ou mesmo não queira admitir e é importante respeitar. Entender que existe o tempo de cada um, o tempo que se leva para aceitar que estamos amando alguém. Às vezes, as pessoas t

Tudo que é sólido desmancha no ar*

"Se encararmos o modernismo como um empreendimento cujo objetivo é fazer que nos sintamos em casa num mundo constantemente em mudança, nos damos conta de que nenhuma modalidade de modernismo jamais poderá ser definitiva. Nossas construções e realizações mais criativas estão fadadas a se transformar em prisões e sepulcros caiados; para que a vida possa continuar, nós ou nossos filhos teremos de escapar delas ou então transformá-las. É o que sugere o homem do subterrâneo de Dostoievski em seu infindável diálogo interior." "Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas ao redor - mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana.

Síntese do Vagar*

 “Nada mais fácil do que dizer o eu é multiplicidade ou que é unidade ou que é a síntese de ambas.” Henri Bergson Nada mais fácil do que viver em meu espaço, nele consigo refazer a casa do pensar. Digo que é um espaço livre, absoluto, de todas as imposições de ordem moral... por que da moral, se não estou aqui me refazendo do mundo totalitário das coisas? Apenas aqui, é o espaço do pensar. Estou a dedilhar o acontecimento, o mundo dentro do mundo, o fora do mundo, o mito de viver bem, o mito da solidão etc. No meu espaço, convivo com os sonhos, as maquinações desse pensar, as tentativas de inventar o menor espaço possível para escapar com a palavra, atravessar a imaginação de mundos possíveis. É óbvio, a razão diria, isso é um monstro. Não quero meus sonhos em companhia da sensatez, prefiro a música, o pensamento, o livro que invade o tempo dos contrários. A contramão das ideias pode tudo mas não corrompe as pontas do pensar nesse meu espaço que bifurca em ruas do sé

A Grande Literatura*

Os romances nunca serão totalmente imaginários nem totalmente reais. Ler um romance é confrontar-se tanto com a imaginação do autor quanto com o mundo real cuja superfície arranhamos com uma curiosidade tão inquieta. Quando nos refugiamos num canto, nos deitamos numa cama, nos estendemos num divã com um romance nas mãos, a nossa imaginação passa o tempo a navegar entre o mundo daquele romance e o mundo no qual ainda vivemos. O romance nas nossas mãos pode-nos levar a um outro mundo onde nunca estivemos, que nunca vimos ou de que nunca tivemos notícia. Ou pode-nos levar até às profundezas ocultas de um personagem que, na superfície, parece-se às pessoas que conhecemos melhor. Estou a chamar a atenção para cada uma dessas possibilidades isoladas porque há uma visão que acalento, de tempos a tempos, que abarca os dois extremos. Às vezes tento conjurar, um a um, uma multidão de leitores recolhidos num canto e aninhados nas suas poltronas com um romance nas mãos; e também t

Expressividade*

Sou assim... Às vezes as pessoas não sabem Se falo sério Ou se brinco Nem eu... É que é assim ó: Preciso me falar por brincadeiras Pinto-me através de fantasmas Desnudo-me por entre sombras... Para conseguir dizer Um pouco Destas minhas complicações.... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clinica Porto Alegre/RS

As Virtudes de Cada Um*

Não desprezo os homens. Se o fizesse, não teria direito algum nem razão alguma para tentar governá-los. Sei que são vãos, ignorantes, ávidos, inquietos, capazes de quase tudo para triunfar, para se fazer valer, mesmo aos seus próprios olhos, ou simplesmente para evitar o sofrimento. Sei muito bem: sou como eles, pelo menos momentaneamente, ou poderia tê-lo sido.  Entre outrem e eu, as diferenças que distingo são demasiado insignificantes para que a minha atitude se afaste tanto da fria superioridade do filósofo como da arrogância de César.  Os mais opacos dos homens também têm os seus clarões: este assassino toca corretamente flauta; este contramestre que dilacera o dorso dos escravos com chicotadas é talvez um bom filho; este idiota partilharia comigo o seu último bocado de pão.  Há poucos a quem não possa ensinar-se convenientemente alguma coisa. O nosso grande erro é querer encontrar em cada um, em especial, as virtudes que ele não tem e desinteressarmo-nos de culti

A morada do ser*

Pelas ruas, Extensos bairros, Estradas de chão. A morada que abriga, Os devaneios íntimos, A imaterialidade, A estrutura que fala. As vivências, isolamentos, Segredos e liberdade, Daquela morada... A morada do Ser.   *Fernanda Sena Filósofa, Filósofa Clínica, Poeta Barbacena/MG

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