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Mostrando postagens de dezembro, 2017

O livro sobre nada*

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou. O meu amanhecer vai ser de noite. Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção. O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo. Meu avesso é mais visível do que um poste. Sábio é o que adivinha. Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições. A inércia é meu ato principal. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore. Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma. Peixe não tem honras nem horizontes. Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; m

Imagens do Pensar*

  "O imaginário e o real tornam-se indiscerníveis.” Gilles Deleuze “Quando tudo foi dito, quando a cena maior parece terminada, há o que vem depois.” Michelangelo Antonioni Minha, a letra que vem do pensamento, A roupa, visto ‒ a música, sinto na pele. Transfiguro em tua boca, triste é viver neste buraco, A solidão é o começo da liberdade, me faz cantarolar, Acordar noturno é o começo do tempo que se despede. A narrativa em filigranas discorre no tempo, Folhas perdem a força, sequência do pensar disperso, O presente está depois da imagem, em signos, na nuvem. O movimento é de Antonioni, reúne os tempos, O vazio mescla com o tempo morto. O que está aí, feito está. O que foi dito, está aqui. Presa do tempo, o homem, inventa o que vem depois, O Imaginário e o Real é o café da manhã à linguagem da vida. O mundo é feito não mais de heróis, os excessos perderam para os subjetivos obsedantes das Redes. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gom

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Mais uma vez, muito obrigado pelos livros. Eles distraem-me mais que qualquer outra coisa. Por quase cinco meses tenho vivido exclusivamente de minhas próprias provisões - ou seja, de minha própria mente e apenas dela" "Fico imensamente feliz por ter descoberto que trago paciência em minha alma por tanto tempo, que não desejo as coisas materiais e não preciso de nada mais que livros e a possibilidade de escrever e de estar sozinho por algumas horas todos os dias. Esse último desejo é o que mais me angustia. Por quase cinco anos tenho estado sob constante vigilância, ou com várias outras pessoas, e nem uma hora sequer sozinho comigo mesmo" "A constante companhia de outros funciona como um veneno u uma praga(...)" "(...) mas sei que compreendes que a rotina da caserna não é uma piada e que a vida de soldado, com todas as suas exigências, não é nada fácil para alguém com a saúde frágil como a minha, com a vida interior que tenho"

A proposta husserliana do mundo vivido como originário*

Podemos dizer que um dos intentos de Husserl com sua proposta fenomenológica é o de reivindicar o mundo vivido como a origem de nossos conhecimentos, de modo que o mundo conhecido ou objetivo não pode ser, como propõe o psicologismo de seu tempo, o único considerado verdadeiro. Desse modo, a ciência astronômica, por exemplo, que apresenta a Terra como um planeta ao lado dos demais, isto é, como mais um objeto como os outros, nasceu na própria Terra. Em outras palavras, o astrônomo parte da Terra como referencial vivido para definir objetivamente o movimento da terra, bem como a questão do repouso, do espaço e do caráter objetivo em geral. Com isso, a Terra não é mais um lugar possível de se referenciar dentro da infinidade de possibilidades que o universo apresenta. O astrônomo parte de suas experiências, do mundo vivido, para expor seus enunciados científicos. O que nos leva à seguinte proposta de Husserl: o mundo vivido é a origem do mundo conhecido ou objetivo. A pr

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A natureza da loucura é ao mesmo tempo sua útil sabedoria; sua razão de ser consiste em aproximar-se tão perto da razão, ser-lhe tão consubstancial que formarão, ambas, um texto indissolúvel, onde só se pode decifrar a finalidade da natureza: é preciso a loucura do amor para conservar a espécie; são precisos os delírios da ambição para a boa ordem dos corpos políticos; é preciso a avidez insensata para criar riquezas" "(...) a razão reconhece imediatamente a negatividade do louco no não-razoável, mas reconhece a si mesma no conteúdo racional de toda loucura" "No momento em que quer alcançar o homem concreto, a experiência da loucura encontra a moral" "A loucura da loucura está em ser secretamente razão" "O desatino é que a verdade da loucura é a razão" "Mas o louco tem seus bons momentos, ou melhor, ele é, em sua loucura, o próprio momento da verdade; insensato, tem mais senso comum e desatina menos que os

Terceira margem*

Ser capaz de abandonar o âmbito da subjetividade [ou de negá-la em função de um novo lugar existencial] significa um passo um tanto arriscado. Há que lançar-se numa aventura, como se estivesse diante de um rio e, num instante de inquietude, lançar-se, saltar. Há que mudar de margem. E este mudar de margem não significa um salto para o outro lado do rio, para a outra margem. Lá também existe a promessa de um solo seguro, sustentador de vida, acalentador da subjetividade. Não! este salto deve ser mais ousado...deve ser o salto no infundado...na terceira margem, onde não há solo cristalizado sustentador da vida. Falamos aqui do salto realizado pelo personagem de Guimarães Rosa no conto "A terceira margem do Rio”. A subjetividade estava encarnada na figura do Pai, um senhor até então ordeiro que um dia ousou abandonar o solo seguro da margem em que estava e empreitou-se na construção de um barco. Mas o intuito do Pai com a fabricação da canoa não era atingir a outra marg

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O devaneio poético é sempre novo diante do objeto ao qual se liga. De um devaneio a outro, o objeto já não é o mesmo; ele se renova, e esse movimento é uma renovação do sonhador" "Não saberíamos, sem os poetas, encontrar complementos diretos do nosso cogito de sonhador. Nem todos os objetos do mundo estão disponíveis para devaneios poéticos. Mas, assim que um poeta escolheu o seu objeto, o próprio objeto muda de ser. É promovido à condição de poético" "Temos tanta necessidade das lições de uma vida que começa, de uma alma que desabrocha, de um espírito que se abre!" "Ver e mostrar estão fenomenologicamente em violenta antítese" "No devaneio retomamos contato com possibilidades que o destino não soube utilizar. Um grande paradoxo está associado aos nossos devaneios voltados para a infância; esse passado morto tem em nós um futuro, o futuro de suas imagens vivas, o futuro do devaneio que se abre diante de toda imagem rede

Reflexões*

Quem se define se ausenta, se encerra, se enclausura e nem sequer se contenta ou se liberta. Quem se define, mente, sobretudo, para si mesmo. Honestamente quem se define de fato? Porque somente na hipocrisia puritanismos e moralismos são viáveis. Porventura, surpreende e não raras vezes o estranhamento alheio pela ausência do desejo de se definir. E se isso é uma postura ou impostura pouco importa, uma vez que o sustento dessa poesia é a própria indefinição que não se enquadra e nem se ajuste; e é mestiça, plural, vira-lata, marginal. Sim, as margens sempre compuseram o meu ninho, os meus caminhos, os meus descaminhos; os fluxos e os refluxos. As margens sempre foram a minha escolha e aquilo que eu privilegiei. Meus olhos sempre estiveram voltados para os subalternos. E assim, danem-se as convenções, as hierarquias que injustiçam socialmente; danem-se os julgamentos, em especial, daqueles que sequer se conhecem e desconhecem por onde caminhei para ser quem eu sou e par

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Relaciono-me comigo no éter de uma palavra que me é sempre soprada e que me furta exatamente aquilo com que me põe em contato" "O logos nada é fora da história e do ser, uma vez que é discurso, discursividade infinita e não infinidade atual; e uma vez que é sentido. Ora a irrealidade ou idealidade do sentido foi descoberta pela fenomenologia como as suas próprias premissas (...) Nenhuma história como tradição de si e nenhum ser teriam sentido sem o logos que é o sentido projetando-se e proferindo-se a si próprio" "Husserl sempre acentuou a sua aversão pelo debate, pelo dilema, pela aporia, isto é, pela reflexão sobre o modo alternativo em que o filósofo, no termo de uma deliberação, pretende concluir, isto é, fechar a questão, parar a expectativa ou o olhar numa opção, numa decisão, numa solução" "Esta superpotência como vida do significante produz-se na inquietação e na errância da linguagem sempre mais rica que o saber, tendo sempr

Sobre a arte de redigir silêncios*

Uma fenomenologia da espera descreve seu vocabulário pela quimera a se mostrar. A palavra refugiada na estrutura do silêncio parece dizer mais. Seu instante fugaz aponta entrelinhas por um esboço. Seu viés de anonimato multiplica-se nos enredos da expressão absurda. A suspeita de uma razão vigiada persegue eventos pelos contornos da ficção. Talvez a novidade, como um deslize da ideia não declarada, mostre-se nas páginas em branco. Esses episódios se sucedem em pretextos para um sentido à margem do sentido. Os manuscritos do inesperado podem ser anúncios ao cogitar invisibilidades. Ao interrogar esses indizíveis esconderijos das pérolas imperfeitas, um olhar perscruta a geografia dos exílios. Espaços desacreditados se protegem em códigos próprios. Os rituais da linguagem singular apreciam sua redescoberta. Espaços calados a exibir sua diversidade em seus rastros. Uma interrogação se desdobra para além das respostas conhecidas. A brevíssima divisão entre dizer e não dize

Tabuleiro de cores*

O preto no branco, o branco no teto, o trato mal das ideias, O branco e preto, o feto, o acerto de contas, o branco dita – regras – dura e purifica linguagem, limpa o chão por onde pisa. O preto e o branco nos afetos, acerto histórico, a morte é o fim. Todas as cores no céu, sem luta não existe arco-íris. O branco é a ordem, a bandeira é da liberdade, a história é preta e branca, todas as cores, todos os olhos, linguagem é o que faz da vida o tabuleiro da imaginação. Amor à vida, olhos desnudos, corpo por cima, todas as cores feminino-masculino, o viés une os dois. Formas de expressar, diversidade de ver, recusar, deixar o céu da boca, saliva da LIBERDADE. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Exprimir-se é portanto um empreendimento paradoxal, uma vez que supõe um fundo de expressões aparentadas, já estabelecidas, e que sobre esse fundo a forma empregada se destaque, permaneça suficientemente nova para chamar a atenção. Trata-se de uma operação que tende a sua própria destruição, uma vez que se suprime à medida que se propaga, e se anula se não se propaga. Assim, não se poderia conceber uma expressão que fosse definitiva, pois as próprias virtudes que a tornam geral a tornam ao mesmo tempo insuficiente" "(...) jamais encontramos na fala dos outros senão o que nós mesmos pusemos, a comunicação é uma aparência, ela nada nos ensina de verdadeiramente novo. Como seria ela capaz de nos arrastar para além de nosso próprio poder de pensar, já que os signos que ela nos apresenta nada nos diriam se já não tivéssemos em nosso íntimo sua significação ?" "Nossa língua reencontra no fundo das coisas a fala que as fez" "(...) a linguag

Todo o mundo tem um pouco*

Diz a sabedoria popular que de médico e de louco todo mundo tem um pouco. De onde surgiu essa ideia? Não gosto muito de generalizações, mas, no meu caso particular, consegui o diploma de médico bem cedo na vida. Aos vinte e três anos já o tinha segurado nas mãos, levado para emoldurar e, poucos dias depois, estava lá, devidamente afixado em lugar nobre na parede do consultório. O título de louco foi muito mais difícil de conquistar. Exigiu um tempo bem maior para me aprimorar e, por enquanto, não está em exposição. Confesso que durante a faculdade, cheguei a pensar em ser psiquiatra, mas todos os que eu conhecia eram, digamos assim, “um tanto” estranhos, e não queria, de forma alguma, ficar parecido com eles. Na época, fugia de qualquer coisa que se assemelhasse à loucura. A brincadeira era fazer do velho ditado um trocadilho, e dizer que os psiquiatras tinham “um pouco” de médico e “muito” de louco. Generalizações, como é sabido, conduzem a equivocidades. Durante décadas,

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Percebi que é inútil falar aos outros sobre coisas que não sabem. Quem não compreende a injúria que inflige a seus semelhantes falando de coisas que ignoram é um ingênuo. Perdoa-se um tal descuido só ao prosador, ao jornalista, ao poeta. Compreendi que uma ideia nova, isto é, um aspecto inusitado das coisas só se afirma pelos fatos. Os fatos abandonados nem por isso desaparecem; um belo dia ressurgem, revelados por alguém que compreende seu significado"  "O que se é (...) só pode ser expresso através de um mito. Este último é mais individual e exprime a vida mais exatamente do que o faz a ciência, que trabalha com noções médias, genéricas demais para poder dar uma ideia justa da riqueza múltipla e subjetiva de uma vida individual" "Em muitos casos psiquiátricos, o doente tem uma história que não é contada e que, em geral, ninguém conhece. Para mim, a verdadeira terapia só começa depois de examinada a história pessoal" "(...) Foi um s

A brisa e o poema*

Receba este poema Não faz mal Que eu não veja Não faz mal Que eu não seja É para que o mundo Te veja mais bonita. Só ria, neste dia Voa, vai você Eu fico Com a brisa suave Da saudade Que me leva Para onde moram Os olhinhos teus. Que seja Receba este poema Para fazermos um abrigo Nos braços dos abraços A janelinha por onde espio O nascente e o poente É uma espécie de melodia Da minha poesia...! *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Especialista em Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o interesse da vida onde sempre esteve foi nas diferenças" "(...) a pintura não é mais do que literatura feita com pincéis. Espero que não esteja esquecido de que a humanidade começou a pintar muito antes de saber escrever" "A literatura já existia antes de ter nascido" "É bem verdade que na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se aproveita" "Entre o martelo e a bigorna somos um ferro em brasa que de tanto lhe baterem se apaga" "Duvida-se, por exemplo, ainda que seja sempre de boa prudência duvidar da própria dúvida" "Quem não sabe deve perguntar, ter essa humildade, e uma precaução tão elementar deveria tê-la sempre presente o revisor, tanto mais que nem sequer precisaria sair de sua casa, do escritório onde agora está trabalhando, pois não faltam aqui os livros que o elucidariam se tivesse tido a sageza e prudência de não acreditar cegamente naquilo que supõe saber, que daí é q

O homem como objeto abstrato da ciência*

O positivismo não é criticado pelo valor que a ciência possui ou adquiriu na sociedade. O problema não é a ciência, que demonstra a cada dia seu valor a partir das suas conquistas e resultados. O problema da mentalidade positivista está postular o conhecimento científico como o único possível e aplicável a todos os âmbitos da realidade, inclusive às relações humanas e sociais em geral. O grande problema de reduzir todo o conhecimento ao científico está em despersonalizar o homem. Pois, para que o homem seja o centro de referência da investigação científica, ele precisa ser concebido de modo abstrato. Ou seja, o homem é despojado de suas determinações singulares, reduzindo-se a um objeto de investigação. Mais do que isso, ele é convertido a um sujeito formal e genérico e inserido em uma rede de relações abstratas e estruturas quantitativas. Desse modo, a mesma ciência que tem como procedimentos metodológicos o trabalho com esquemas, mensuração, repetição, relações e regular

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"É com seu próprio deus que as pessoas são mais desonestas: não lhe é permitido pecar" " O amor a um único ser é uma barbaridade: pois é praticado às expensas de todos os outros. Também o amor a Deus" "O sábio como astrônomo - Enquanto você sentir as estrelas como 'algo acima', falta-lhe ainda o olhar do conhecimento'" "A mulher aprende a odiar na medida em que desaprende a - enfeitiçar" "Experiências terríveis fazem pensar se aquele que as vive não é algo terrível" "Não existem fenômenos morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos" "Na vingança e no amor, a mulher é mais bárbara que o homem" "É o baixo ventre que impede o homem de considerar-se um deus" "Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você" "O que se faz por amo

O Movimento da Vida, o Livro*

É claro que o que move o livro é o acesso ao leitor, vice-versa, o leitor só faz o livro ter alguma importância se tiver o livro em mãos. Aos olhos, o pensamento movente e o que Bergson entoou: “O conhecimento que você me traz incompleto, eu o completarei”. Eis a questão: que tipo de livro, qualquer livro, qualquer texto, um romance, um ensaio, uma biografia, autoajuda, técnico, filosofia, qual mesmo? O desconexo para muitos não precisa ser e nem assim deseja a unificação mas o livro é nexo dos desconexos, é texto que vai da vertigem da linguagem à compreensão das páginas. Eu digo que tenho minhas preferências, como leitor, como alguém que busca escolher a partir do que lê, do que gosta, mesmo que isso tenha sua complexidade, que não contemple o todo do meu gosto, porque o negócio do livro é o negócio, mas eu aprendi mesmo sobre a importância do livro foi com o negócio Vida, com as relações que tive até aqui... até o século XXI desbancar o século passado. Nada de excepcion

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