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Mostrando postagens de março, 2018

A palavra e o poema*

Palavras são apenas palavras para quem não sabe ler, para quem não sabe ouvir, para quem não sabe sentir, por exemplo, que há poesia em tudo e quando não inspira, ensina demais. A poesia sempre pode nos transformar e é você quem escolhe se será por dor ou por amor. Mas, se palavras fossem apenas palavras e nada mais, não haveriam escrituras, nem contratos, nem constituições inteiras e, pior ainda, não haveriam nos contatos humanos nem entendimentos, nem acordos, nem abraços, nem mesmo a poesia. Porventura, as palavras são a expressão das impressões, dos sentimentos, da consciência; são de forma pujante a expressão da vida. Afinal, a arte imita a vida e é por isso que as palavras pulsam tanto aqui e agora sempre em forma de poemas provocados por você. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Filósofo Clínico. Educador. Escritor. Livre Pensador. Uberlândia/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Era eu um poeta estimulado pela filosofia e não um filósofo com faculdades poéticas. Gostava de admirar a beleza das coisas, descobrir no imperceptível, através do diminuto, a alma poética do universo"  "(...) a poesia é espanto, admiração, como de um ser tombado dos céus, a tomar plena consciência de sua queda, atônito diante das coisas" "Há entre mim e o mundo uma névoa que impede que eu veja as coisas como verdadeiramente são - como são para os outros" "Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente (...)" "Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (...) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, caráter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as c

Poética*

Poesi a: procura de um agora e de um aqui.”                      Octavio Paz A poesia é o rastro da vida. O rastro de uma explosão no universo que estilhaça em milhões de objetos, imagens, que nem todas as línguas conseguem dar conta. Mas o fato de o signo estar colado no que existe, da nuvem de linguagens, certamente é o que consegue ver além do olhar preso na realidade. Caminhos que perdemos podem ser um leve encontro poético mediado por signos e objetos. Quem um dia atravessou, quem passou por estradas, ruas, águas e o mais distante nas alturas, pensou na construção de suas emoções? Nem tudo é poesia na vida, mas a poética está em todos os lugares. O fato de existir narrativas sobre todas as coisas não significa que daí há poesia, mas a poesia está nela, na narrativa que diante da linguagem se faz o poético mais oculto ou mais límpido aos olhos. Temos depois o processo da leitura da vida: o entendimento da vida nem sempre é poético mas a beleza da forma deixa o

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a certeza de que as coisas têm outro sentido além daquele que estamos em condições de reconhecer" "O outro é titular desconhecido dessa zona não minha (...)" "Aparentemente, essa maneira de introduzir o outro como incógnita é a única que considera sua alteridade e a explica" "(...) não há propriamente intermundo, cada um habita apenas o seu, vê unicamente segundo seu ponto de vista e entra no ser apenas por meio da sua situação; mas porque não é nada e sua relação com sua situação e seu corpo é uma relação de ser, sua situação, seu corpo, seus pensamentos não interpõem uma tela entre ele e o mundo; são, ao contrário, o veículo de uma relação com o ser, na qual terceiros podem intervir" "(...) este mundo que não sou eu, e ao qual me apego tão intensamente como a mim mesmo, não passa, em certo sentido, do prolongamento de meu corpo; tenho razões para dizer que eu sou o mundo" "(...) compreender é tradu

O Futuro Chegou!*

Drones voando por todos os lados com pessoas dentro na via suspensa. Será que um irá pousar no nosso jardim? O médico avisa pelo celular que preciso rever minha alimentação, pois a glicose subiu. Ele monitora minha saúde através de um chip instalado em meu corpo que ligado ao seu sistema informa em tempo real meu estado geral. Nosso grupo está animado, pois viajaremos para férias em Marte. Com óculos virtual passeamos em todos os museus pelo mundo afora. Não falo de ficção de Júlio Verne, mas do agora deste futuro presente. Nós, mais velhos, temos que adaptar ao novo paradigma. A revolução virtual destes últimos cinquenta anos está desenhando um novo tempo. Já estamos dentro do celular e do computador monitorados pelas redes sociais. Adaptar e aprender o viver neste futuro presente se torna um grande desafio. O que era já não é, o que será não se sabe. Indefinição traz ansiedade para quem não rende e experimenta a novidade do vir-a-ser. Tudo muda o tempo todo.

Milagres*

Ora, quem acha um milagre alguma coisa demais ? Por mim, que nada sei que não sejam milagres: ou ande eu pelas ruas de Manhattan,  ou erga a vista sobre os telhados na direção do céu,  ou pise com os pés descalços bem na franja das águas pela praia,  ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo,  ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem amo,  ou à mesa tome assento para jantar com os outros,  ou olhe os desconhecidos na carruagem de frente para mim, ou siga as abelhas atarefadas junto à colmeia antes do meio-dia de verão, ou animais pastando na campina ou passarinhos,  ou a maravilha dos insetos no ar,  ou a maravilha de um pôr-de-sol ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes,  ou o estranho contorno delicado e leve da lua nova na primavera,  essas e outras coisas, uma e todas - para mim são milagres,  uma ligadas às outras ainda que cada uma bem distinta e em seu próprio lugar.  Cada momento de luz ou de treva é para mim um mil

Segredos incompreendidos*

“(...) certas conquistas da alma e do conhecimento não podem existir sem a doença, a loucura, o crime intelectual (...).”                                                                          Thomas Mann A estética do delírio é uma das maneiras da natureza exercitar seus dons, transgredir definições, emancipar horizontes, transbordar limites. Via de exceção por excelência, esses milagres possuem linguagem própria, nem sempre acessível. Esse vagar incompreendido pelo mundo das ideias se desdobra nas fendas dos padrões discursivos. Uma expressividade assim poderia ficar impronunciada, refugiada nalguma peça de ficção, desconsiderada pelo saber especialista. É admirável ao vislumbre descritivo, a interseção onde ingenuidade e descoberta se tocam. Seu momento de atração irresistível sugere, entre influência e agendamento, novos roteiros de saber incerto.   João do Rio: “A rua continua, matando substantivos, transformando a significação dos termos, impondo aos dicionários

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) todos grandes descobridores no terreno do sublime (...) com misteriosos acessos a tudo que seduz, atrai, compele, transtorna, inimigos natos da lógica e da linha reta, cobiçosos do que seja estranho, exótico, enorme, torto, contraditório (...)" "Todo mundo elevado requer que se tenha nascido para ele; ou melhor, que se tenha sido cultivado para ele: direito à filosofia - no sentido mais amplo - obtém-se apenas em virtude da ascendência, os ancestrais, o 'sangue' decide também aqui. Muitas gerações devem ter trabalhado na gênese do filósofo; cada uma de suas virtudes deve ter sido adquirida, cultivada, transmitida, incorporada, e não apenas o passo e curso ousado, leve e delicado de seus pensamentos, mas sobretudo a disposição para grandes responsabilidades, a elevação de olhares que dominam e olham para baixo, o sentir-se apartado da multidão e seus deveres e virtudes, a afável proteção e defesa do que é incompreendido e caluniado (...)"

Limitação e possibilidade*

"Com as grandes obras, os sentimentos profundos significam sempre mais do que têm consciência de dizer." (Albert Camus) Não se trata de inconsciente. O assunto aqui é o reconhecimento da limitação humana. Camus postula que o mundo é um absurdo. Este se dá com a incompatibilidade da razão em querer compreender a ordem e o todo do mundo, com o mundo e sua impossibilidade de ser completamente abarcado pela razão. Um filósofo clínico compartilha da limitação com que o filósofo do absurdo postula. Mas, essa concordância é referente à pessoa humana. Dado que esta não pode ser totalmente abarcada pela razão. O partilhante é um mundo a ser desvelado. Não mais em sua totalidade, mas no que for possível para auxiliá-la em sua existência. Há ausência de verdade absoluta, talvez uma das afirmativas mais polêmicas da Filosofia Clínica. Há representação singular do mundo, mesmo que à primeira vista tente-se buscar um ponto de vista no âmbito coletivo.

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A palavra 'filosofia' fala agora através do grego. A palavra grega é, enquanto palavra grega, um caminho. De um lado, esse caminho se estende diante de nós, pois a palavra já foi proferida há muito tempo. De outro lado, ele já se estende atrás de nós, pois ouvimos e pronunciamos esta palavra desde os primórdios de nossa civilização. Desta maneira, a palavra grega philosophia é um caminho sobre o qual estamos a caminho" "(...) facilmente se pode apontar para o fato de que a filosofia mesma e a maneira como ela concebe sua essência passou por várias transformações, nos dois milênios que seguiram o estagirita. Quem ousaria negá-lo ? Mas não podemos passar por alto o fato de a filosofia de Aristóteles a Nietzsche permanecer a mesma, precisamente na base destas transformações e através delas. Pois as transformações são a garantia para o parentesco no mesmo" "O espanto é, enquanto páthos , a arché da filosofia" "O espanto carrega

Ensaio dos Possíveis*

“Cada indivíduo é o centro do universo, e é apenas porque o universo está repleto de tais centros que ele é precioso.” Elias Canetti Um belo dia, manhã, uma manhã cinza no dia de um homem, ele acorda. Os pensamentos são formados nas madrugadas, nos dias, no silêncio do sono. A sua formação não é uma enciclopédia, um compêndio, um quadro estático na parede sem cores nem relógios. O formato que se tem é que a vida é uma sucessão de acontecimentos. Teorias ao longo dos séculos. Esse homem atravessou parte do ocaso do século XX, vivendo intensamente as mudanças sofridas e impostas no Ocidente. O Ocidente impôs. O pensamento no mundo ocidental, uma parte viva do mundo, que está na Complexidade de Morin, já não serve mais como uma simples descrição de fenômenos, mas o é, também. Nesse belo dia, o homem percebe que é o mesmo dessas alterações, que é parte de uma mesma coisa, de tudo no mundo.  Não é literatura; é a realidade esfacelando-se a partir do momento de cada manhã em

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Veremos então que a vida não pode ser compreendida numa contemplação passiva; compreendê-la é mais que vivê-la, é efetivamente impulsioná-la" "Roupnel diz assim: 'O que pode haver de permanente no ser é a expressão não de uma causa imóvel e constante, mas de uma justaposição de resultados fugidios e incessantes (...)'" "(...) o tempo é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas" "(...) uma intuição não se prova, se vivencia" "Como realidade, só existe uma: o instante. Duração, hábito e progresso são apenas agrupamentos de instantes, são os mais simples dos fenômenos do tempo" "Há decerto forças históricas que podem reviver, mas para isso elas devem receber a síntese do instante, assumir o 'vigor dos atalhos' - nós mesmos diríamos: a dinâmica dos ritmos" "Mais que uma doutrina do eterno retorno, a tese roupneliana é, pois, uma doutrina do eterno recomeço. E

O que ela tem que eu não tenho?*

Sou jovem, bonita, magra, elegante, inteligente, culta, viajada, analisada, independente, bem humorada e desimpedida. Ano passado nos conhecemos e namoramos por um certo tempo, depois rompemos. Ontem te vi acompanhado de uma mulher bem mais velha e um tanto fora de forma. Pareciam muito felizes. Poderias me contar o que ela tem que eu não tenho, ou o que ela faz que eu não fiz? Claro que posso contar, sem problema algum. Ela tem 50 anos, 56 Kg, algumas rugas, um doutorado, duas filhas, um beagle e uma mãe bem velhinha que precisa de atenção. Tem também a consciência de que assim como a vida de sua mãe, nossa relação não vai durar pra sempre. Física e/ou espiritualmente, um dia vai terminar. Não adianta cuidar, agradar, presentear, fazer as vontades, se embelezar, submeter, comprometer. Poderíamos até mesmo tentar mais filhos. Tudo isso pode ajudar, mas não é garantia de união eterna. Não está em nossas mãos. Não temos controle sobre nossos sentimentos, e por vezes, nem

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Era vital e necessário levar uma vida ordenada e racional como contrapeso à singularidade do meu mundo interior" "Estamos longe de ter liquidado a Idade Média, a Antiguidade, o primitivismo e de ter respondido às exigências de nossa psique a respeito deles" "Tanto nossa alma como nosso corpo são compostos de elementos que já existiam na linhagem dos antepassados. O 'novo' na alma individual é uma recombinação, variável ao infinito, de componentes extremamente antigos" "Nietzsche perdeu o solo debaixo dos pés porque nada mais possuía senão o mundo interior de seus pensamentos - mundo que o possuiu muito mais do que Nietzsche a ele" "(...) Dessa forma deparava com processos psíquicos de natureza surpreendente; eu os registrava e classificava sem a menor compreensão de seus conteúdos que, uma vez rotulados como 'patológicos', pareciam suficientemente caracterizados" "(...) sempre constatei que

Chuva lá fora*

Que delícia dormir e acordar com a chuva lá fora! Cheiro de mato entra pela fresta da janela. O barulho da chuva acalenta e nina. A cama fica mais fresca e a serenidade traz um bem estar natural. Na noite as luzes da rua ficam tênues, pois a neblina acende a poesia da alma e as memórias do coração. Os pingos a escorrer na vidraça são lágrimas de alegrias de tristezas. Uma leve nostalgia promove um clima retrô, vintage. O tango tocado entre velas acesas enche a taça de vinho de gozo . Na manhã a chuva convida a preguiça entre os lençóis. O café sobre a bandeja com a toalha de renda e o pão de queijo quentinho lambuzado de geleia de jabuticaba, convida ao espreguiçar do renascer e ler a revista do jornal sem pressa. Por que chove lá fora e a alma agradece a paz do amanhecer. Chuva criadeira em águas de março realmente é promessa de vida no coração. Apreciar e contemplar a natureza acende o percepcionar, os sentidos se aguçam e o viver se torna encantado. Coisas

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Segue-se que, um único sujeito, mais o objeto, chegariam para constituir o mundo considerado como representação, tão completamente como os milhões de sujeitos que existem; mas, se este único sujeito que percebe desaparecer, ao mesmo tempo, o mundo concebido como representação desaparecerá também" "Lembrando Shakespeare: 'somos feitos da matéria de que são tecidos os sonhos e a nossa vida tão curta tem por fronteira um sono'" "A peculiaridade da filosofia é que ela não pressupõe nada de conhecido, mas que, pelo contrário, tudo lhe é igualmente estranho e problemático, não só as relações dos fenômenos, mas os próprios fenômenos" "Sem dúvida, poderá alegar-se que cada um sabe o que é o mundo, sem procurar tão longe, visto que cada um é o sujeito do conhecimento e o mundo é a sua representação" "A ação do corpo é apenas o ato da vontade objetivado, isto é, visto na representação" "(...) além disso o me

Tão só desejo*

Sobre e com a costura do algodão içando calor extremo fricciono o rosado botão e a dor dói mais assim quando ao veneno das estancias do calor em solidão... Partida em sudorese e lacrimais espasmos não mais frasco de sonho ou catacrese! O que aqui dentro não mais perece parece ao longe imagético quando ao pensamento estético estático cresce... E ainda assim é você sendo em pessoa ou ensejo sendo com raiva ou prazer sendo com ou sem gracejo... Algo em mim assim escorre em rio que sim nunca morre nas torrentes da luta ou do porre perdida nos breus do desejo... *Jullie Vague Pesquisadora e Roteirista no Cine Culte Français. Musicista. Poeta. Especialista em Filosofia Clínica Curitiba/PR

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o privilégio de minha perspectiva parece absoluto e minha percepção indeclinável, tal privilégio só o adquiro a título provisório: não é o de uma série 'subjetiva' reservada para mim, faço de alguma forma tudo o que de mim dependa para que o mundo vivido por mim seja acessível a outros, já que apenas me distingo como um nada que não lhe tira nada, ponho no jogo do mundo meu corpo, minhas representações, meus próprios pensamentos enquanto meus e tudo o que se chama eu só é, em princípio, oferecido ao olhar estrangeiro, se este quiser aparecer" "(...) o mundo só é nosso lugar natal porque somos, de início, como espíritos, o berço do mundo" "(...) o segredo do mundo que procuramos é preciso, necessariamente, que esteja contido em meu contato com ele. De tudo o que vivo, enquanto o vivo, tenho diante de mim o sentido, sem o que não o viveria e não posso procurar nenhuma luz concernente ao mundo a não ser interrogando, explicando minha fr

A palavra devaneio*

É incomum notar a existência de algo que restaria silenciado, não fora um olhar absorto, indeterminado. Sentir improvável de sonhar acordado. Esse lugar de refúgio a esteticidade acolhe um viajante das quimeras.    Nessa região, onde eventos sem nome rascunham invisibilidades, é possível descobrir vias de acesso de essência não epistemológica. Seu teor de matriz intuitiva, ao pluralizar versões desconsideradas, faz acordar aquilo que dormia. Ao desalojar esses fenômenos, desconstrói o aspecto irrealizável das promessas. Esses momentos reivindicam a singularidade alterada para se mostrar. Assim a pessoa, deslocando-se por esses labirintos da interseção, ao ser ela mesma, já é outra.    As estéticas do devaneio convidam ao exercício de ficção. Um desses lugares onde o inesperado atua. Inicialmente desconfortável nesse chão desconhecido, o sujeito pode vivenciar insegurança, dúvida, receio. No entanto, ao persistir as visitas por esse ambiente especulativo, pode desvendar-se e

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Reconhecer no estranho o que é próprio, familiarizar-se com ele, eis o movimento fundamental do espírito, cujo ser é apenas o retorno a si mesmo a partir do ser diferente. É por isso que toda formação teórica, mesmo o cultivo de idiomas e concepções de mundos estrangeiros, é a mera continuação de um processo de formação, que teve início bem mais cedo" "O artista livre cria sem receber encomenda. Parece que o que o caracteriza é a completa independência de seu trabalho criativo, o que, por isso, lhe confere, mesmo socialmente, as feições características de um excêntrico, cuja formas de vida não podem ser mensuradas de acordo com as massas que obedecem aos costumes públicos" "Em princípio, compreender é sempre um mover-se nesse círculo, e por isso é essencial o constante retorno do todo às partes e vice-versa. A isso se acrescenta que esse círculo está sempre se ampliando, já que o conceito do todo é relativo, e a integração em contextos cada vez ma

Auto de fé da resistência*

“Assim se explica que até nossos dias acreditem mais firmemente na existência de uma cor quimérica do que na de Deus.” Elias Canetti Canetti, nasceu na Bulgária, judeu de origem serfadita, a língua materna espanhola, teve sua formação em mais de um lugar, circulou pela Inglaterra, depois Viena e adotou o alemão para escrever. Com doutorado em Química, a escrita literária nunca foi deixada de lado, tornou-se um estudioso da psicologia. Como Otto Maria Carpeaux[1] escreveu: “Precisava-se, aliás, de um esforço de reportagem literária para identificar a personalidade desse autor esquivo.”  O romance que ofuscou os nazistas, que foi destruído na época da cegueira humana, Die Blendun – que ganhou em inglês o título Auto de Fé –, abriu meus sentidos nos anos 1980. Ainda hoje, volta e meia retorno a ele, o inesperado surge nas leituras e no que separa o leitor de uma grande obra. Logo uma obra que tem o personagem que se afunda em sua erudição, na incompletude do mundo, no que o

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