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Mostrando postagens de maio, 2018

Uma didática da invenção*

I Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber: a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos f) Como pegar na voz de um peixe g) Qual o lado da noite que umedece primeiro. etc. etc. etc. Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios. II Desinventar objetos. O pente, por exemplo. Dar ao pente funções de não pentear. Até que ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha. Usar algumas palavras que ainda não tenham idioma. III Repetir repetir — até ficar diferente. Repetir é um dom do estilo. IV No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava escrito: Poesia é quando a tarde está competente para dálias.

Intervenção literária já!*

Intervenção literária já!!! Esse é o meu apelo!!! Uma vez que o povo precisa urgentemente conhecer as suas histórias locais, a história do Brasil, a literatura brasileira e a poesia pelo menos...  Depois disso, o discernimento seria irreversível e se tornaria epidêmico; e a farra dos três poderes certamente sucumbiria porque não se sustentaria nesse novo cenário orientado por justiça social e sustentabilidade.  Enfim, temos que ser radicais sim, temos que nos entregar a prática da leitura e da escuta atenta para conhecer pelos nossos próprios sentidos a história verdadeira do nosso país - pelo menos do século XX - tão continental. Musa! Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Educador. Escritor. Filósofo Clínico Uberlândia/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Se há trinta anos você tivesse perguntado pelas ruas de Milão: 'Qual é a personalidade mais importante da sua cidade ?", lhe teriam respondido: Pirelli ou Falk. Hoje lhe responderiam que é Giorgio Armani, Silvio Berlusconi ou o Cardeal Martini. Em Milão, os poderosos não são mais aqueles que produzem bens materiais, como Pirelli ou Falk, mas sim os que se relacionam com imateriais"  "A subjetividade é um fenômeno complexo. Significa que eu possuo uma tal autonomia de julgamento, que posso me permitir uma escolha baseada nas minhas necessidades e recursos, e não no fato de pertencer a algum grupo" "O coração desta sociedade é a informação, o tempo livre e a criatividade, não só científica, mas também estética" "(...) derrotar uma doença endêmica do seu sistema, a principal inimiga da criatividade: a burocracia" "A experiência do nomadismo difuso obriga a nossa mente a uma dupla elasticidade: a elasticidade menta

O papel do filósofo clínico*

  Uma pessoa do senso comum e até especialista em alguma área, como a de humanas e terapêuticas, pode pensar no papel do filósofo clínico de modo bem controverso. Em primeiro lugar por não conseguir compreender a junção de duas palavras opostas em seu sentido usual, uma vez que filosofia conota algo teórico, abstrato, enquanto clínico remete à prática, à cura do corpo e do psíquico.   Poderíamos responder a essas questões demonstrando-as seu equívoco, apresentando o sentido correto do termo ao que corresponde. Isso seria fácil, pois filosofia clínica, em suma, aborda o referencial teórico inspirado na tradição filosófica e a clínica a essa aplicabilidade da riqueza filosófica no auxílio existencial das pessoas que procuram o profissional da filosofia clínica. Por outro lado, fazermos um percurso entre três grandes referenciais da filosofia clínica no país pode nos esclarecer alguns pontos e enriquecer nossa proposta de reflexão. Por isso, vamos nos remeter ao Will Goya,

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o devaneio nos dá o mundo de uma alma, que uma imagem poética testemunha uma alma que descobre o seu mundo, o mundo onde ela gostaria de viver, onde ela é digna de viver" "(...) o sonhador de devaneios tem consciência bastante para dizer: 'Sou eu que sonho o devaneio, sou eu que estou feliz por sonhar o meu devaneio, sou eu que estou feliz por graça deste lazer em que já não sou obrigado a pensar" "Que benefícios nos proporcionam os novos livros! Gostaria que cada dia me caíssem do céu, a cântaros, os livros que exprimem a juventude das imagens. Esse desejo é natural. Esse prodígio, fácil. Pois lá em cima, no céu, não será o paraíso uma imensa biblioteca ?" "As belas palavras são já espécies de remédios" "(...) Os grandes livros, sobretudo, permanecem psicologicamente vivos. Nunca terminamos de lê-los" "Lembrando Baudelaire: 'A verdadeira memória, considerada do ponto de vista filosófico, não

O Ser Sem Representação*

Esse futuro nos iludira, mas não importava: amanhã correremos mais depressa, estenderemos mais os braços... E, uma bela manhã... F. Scoott Fitzgerald                   Ícones do corpo, espaço da não representação, o olho furado tem espaço no mundo virtual, ganha a expressão das cores em notas musicais, a tribal eletrônica Björk expande os sentidos dos meus dias, os tambores me levam para longe das máscaras, o Brasil virou uma sinfonia de arrepiar, um sonho fora do lugar... essa é a distância entre o devir e o isolamento absoluto de uma realidade neurotizada pela tentação do conhecimento único. O próprio movimento do que é feito os corpos, os sons e a imagem que vem da unidade do ser e do nada, e como bem disse Heidegger: “...a realidade do mundo não pode consistir em um ser”. Eu olho no horizonte a tua partida a outro país, a tua arte ficou no caos do cotidiano, a inquietação das coisas é que dá ânimo ao sonho à sinfonia da Terra... É como o ciberespaço que não se con

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Quando parcerias institucionais são possíveis, com hospitais pediátricos, por exemplo, a Cor da Letra ensina ao pessoal (nesse caso, ao pessoal da saúde, do médico-chefe às enfermeiras e aos encarregados da limpeza) a entrar no universo das narrativas, a conhecer e respeitar a diversidade das culturas, dos tempos, das escolhas, a ler um texto em voz alta, exatamente como está escrito, e a acolher as palavras ou respeitar o silêncio das crianças" "Ao longo da vida, procuramos as bolas que nos são lançadas e que nos permitirão discernir melhor o que existe ao redor de nós, e mais ainda o que acontece dentro de nós e não conseguimos exprimir. Precisamos do outro para 'revelar' nossas próprias fotografias" "(...) a biblioteca, em particular, seja um ambiente 'natural' para a oralidade: é o lugar de milhares de vozes escondidas nos livros que foram escritos a partir da voz interior de um autor. Quando lê, cada leitor faz reviver essa vo

A pele e a poesia*

Sua pele era litoral Um limite sensível Entre um mundo de dentro E um mundo de fora Sua pele era o contato De dois mundos Ora enrubescida Ora suada Ora tatuada Ora arrepiada.. Sua poesia era Sua segunda pele A linguagem da poesia Era sua pele substituta Parecia assim como Se sua linguagem poética Tivesse dedos nas pontas Das palavras...!! *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Especialista em Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Trata-se do ser falante que, imerso na linguagem como todos nós, de repente ou aos poucos, apropriando-se da tradição e de terceiros, exerce sua autonomia e cria uma arte original ou um discurso novo durante a construção de sua obra ou em sua análise" "Para chegar à vida instintiva, o artista deve suprimir todo ruído exterior e colocar-se na escuta da vida de um modo extremamente atento, como se escutasse um deus que profere a verdade. O instinto fala, anuncia e exige a escuta, tal como um oráculo. O talento consiste em ter a disposição necessária para exercer a exigente pulsão de ouvir e perceber a mensagem" "(...) uma capacidade aguda de entender uma mensagem lançada aos quatro ventos, que o escritor capta e com a qual o leitor do texto publicado se encontra" "(...) a obra esconde (recepta) um segredo que tenho que descobrir a cada leitura, um segredo sempre diferente" "É impossível saber a origem da escritura, a dos

Sou imperfeita*

O dia que descobri que posso ser imperfeita e que isto me libertou da expectativa e da frustração a vida tomou outro rumo. Que bom que posso ser eu mesma, sem modismos, sem corresponder a expectativa de um mundo consumista e cheia de regras limitantes e escravagista. Passo tentar fazer bem feito na dimensão do possível. Observo o sofrimento de muitos que se preocupam com o que os outros acham e vão dizer. Que deixam de fazer muitas coisas com medo do julgamento e da crítica. Deixam de viver e se arvoram em apontar o dedo acusando o outro. Colocar a vida numa caixa e tentar ser perfeito traz excesso de tensão julgando e criticando os imperfeitos. Jogo de critica e projeção. Loucura. A síndrome da perfeição atormenta muitos que não só infernizam suas vidas como a dos outros. O dia que aprendi que posso ser imperfeita ganhei minha carta de euforia e caminho levemente como eterna aprendiz e que o outro é livre para pensar de mim o que quiser. Como ser da esc

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Eu, alquimista de mim mesmo. Sou um homem que se devora ? Não, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus" "E se eu falar, que eu me permita ser descontínuo: não tenho compromisso comigo. Eu vou me acumulando, me acumulando, me acumulando - até que não caibo em mim e estouro em palavras" "O principal a que eu quero chegar é surpreender-me a mim mesmo com o que escrevo. Ser tomado de assalto: estremecer diante do que nunca foi dito por mim" "Escrever é difícil porque toca nas raias do impossível" "Refugio-me nas rosas, nas palavras" "Sou como estrangeiro em qualquer parte do mundo. Eu sou do nunca" "Ângela não sabe que é personagem. Aliás eu também talvez seja o personagem de mim mesmo

Sobre os deslizes das margens*

Um cotidiano inacreditável compartilha suas origens na contradição com o mundo normal. Seu viés, ao surpreender a lógica dos princípios de verdade, descreve um saber estrangeiro. Sua expressividade insinua uma pluralidade estética. Sua dialética existencial se apresenta nas escolhas, atitudes, alternância de papéis existenciais. Pressentindo seus deslocamentos e a linguagem por onde se diz, pode-se acolher e traduzir a pátria exilada em si mesma. Sua irrealização aprecia reescrever para além de uma vida acumulando raízes. Ao espírito de rebanho, normalizado pela drogaria psiquiátrica, ser singular é doença. Nesse imenso território de dúvidas, inseguranças, um sujeito ameaça surgir. Seu deslize pessoal, ao mencionar os labirintos da subjetividade, amplia o fenômeno humano desconsiderado. Esse rascunho permanece invisível ao olhar cotidiano. Manuscritos precursores em tratativas de libertação. Sua lógica delirante esboça uma poética da singularidade. Com o vislumbre desse

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a imagem hipnagógica, por outro lado, permanece no terreno da quase-observação. É o que já mostramos. Sem dúvida, seu objeto se dá com uma vivacidade tal que podemos, por um instante, acreditar que iremos apreender através de uma observação metódica suas diversas particularidades" "Ler é realizar nos signos o contato com o mundo irreal. Nesse mundo há plantas, animais, campos, cidades, homens: em primeiro lugar aqueles de que o livro trata e depois uma porção de outros que não são nomeados, mas que estão no fundo e dão espessura a esse mundo" "Na realidade, tanto na leitura com no teatro, estamos em presença de um mundo e atribuímos a esse mundo tanta existência quanto a que experimentamos no teatro, isto é, uma existência completa no irreal" "(...) para descrever corretamente o fenômeno da leitura, é preciso dizer que o leitor está na presença de um mundo" "O ato de imaginação, como acabamos de ver, é um ato mági

Sobre leituras aprofundadas*

Não é possível ler com profundidade todos os livros que desejamos conhecer. Acho até complicado seguir o método de leitura proposto por Mortimer Adler para ler satisfatoriamente todos os livros indicados por ele e mais outros que nós escolheremos para nossa própria pesquisa. Essa dificuldade se agrava se tomamos conhecimento dessa obra e/ou inicia sua vida intelectual depois de certa idade. Uma orientação adequada na adolescência é diferente de quando é adquirida na vida adulta. Basta observar nossa educação básica, para constatarmos que essa é a realidade da maioria dos brasileiros. Não há uma fórmula mágica para solucionar esses limites. Então, o jeito é nos esforçar para superar a precária educação recebida e buscar progredir diariamente. Outro ponto importante é saber escolher o que vamos ler e, entre estes escolhidos, distinguir o que leremos minuciosamente e o que será lido de modo mais panorâmico em busca de elementos específicos na obra. Ainda dentro desse

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O artista livre cria sem receber encomenda. Parece que o que o caracteriza é a completa independência de seu trabalho criativo, o que, por isso, lhe confere, mesmo socialmente, as feições características de um excêntrico, cujas formas de vida não podem ser mensuradas de acordo com as massas que obedecem aos costumes públicos" "(...) como princípio fundamental e geral de uma interpretação de texto o fato de que todos os aspectos individuais de um texto devem ser compreendidos a partir do contextus , do conjunto, e a partir do sentido unitário para o qual o todo está orientado, o scopus "  "O verdadeiro problemas da compreensão aparece quando, no esforço de compreender um conteúdo, coloca-se a pergunta reflexiva de como o outro chegou à sua opinião. Pois é evidente que um questionamento como este anuncia uma forma de alteridade bem diferente, e significa, em último caso, a renúncia a um sentido comum" "(...) pode-se compreender tudo so

A forma da distância*

Distância é uma coisa engraçada né? Tem tantas dimensões, tantos tamanhos, tantas formas… Tamanhos? Formas? É! Hoje em dia a distância pode ter forma de computador, de skype, de msn, de facebook. Forma de câmera com microfone. Ou mais moderno ainda, forma de telefone celular que mostra a pessoa do outro lado, como nos Jetsons (do arco do velha, mas que também sentiam saudade, aposto). Quanto mais o tempo passa, quero dizer, a modernidade chega, mais as distâncias diminuem. Antes era tão difícil falar com alguém. Telefone não existia, carta demorava dias, meses e até anos. Hoje não. A tecnologia melhorou tudo (ou não, pode ter afastado ainda mais as pessoas que agora se escondem atrás da tela de um computador). Hoje existe avião, barco, navio, helicóptero, carro, moto, ônibus… até espaçonave existe. E existe telefone, celular, internet, sedex, sedex 10, skype, Viber e Whatsapp pros mais moderninhos. Tantas formas de chegar… chegar onde quer, do lado de quem deseja, no luga

Cromatismo dos sentimentos*

“O temor de ferir e o medo de ser ferido estão nas próprias falas.” Maurice Blanchot A possibilidade de driblar a escrita, a ideia falseada num tipo de cromatismo andante, quase permanente contínuo, fugindo do sentimento, a se mostrar na própria linguagem de uma performance.  A ida é proporcional ao tema, como se fora a combinação numérica, de linha a linha, na tela, o texto se forma, reconstrói o pensamento sem sair da ideia de outro texto que poderá não chegar em algum outro lugar, pois sua combinatória é ir no andar dos corpos, simétrico no lançar dos braços na água, no ritmo do nadar, do correr...ad infinitum, a contar que o tempo não se esgota, a configuração da linguagem poderá ir adiante, atravessar o oceano, descansar em terras de um dos últimos universalistas da história da música, morar ao lado de Saint-Saëns. Poder acordar no som silencioso da vida que adormece na fuga, no domingo cinza de um fim de mundo tomado de vegetal cerebral, um afronto à flora, ao

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Que coisa morro quando sou ?" "Toda a vida da alma humana é um movimento na penumbra. Vivemos, num lusco-fusco da consciência, nunca certos com o que somos ou com o que nos supomos ser. Nos melhores de nós vive a vaidade de qualquer coisa, e há um erro cujo ângulo não sabemos. Somos qualquer coisa que se passa no intervalo de um espetáculo (...)" "Deus é o existirmos e isso não ser tudo" "Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado" "Transeuntes eternos por nós mesmos, não há paisagem senão o que somos. Nada possuímos, porque nem a nós possuímos. Nada temos porque nada somos. Que mãos estenderei para que universo ? O universo não é meu: sou eu" "Há metáforas que são mais reais do que a gente que anda na rua. Há imagens nos recantos de livros que vivem mais nitidamente que muit

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