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Mostrando postagens de junho, 2018

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) é preciso ler um grande livro duas vezes: uma 'pensando', como Taine, outra sonhando, num convívio de devaneio, com o sonhador que o escreveu" "(...) nos conduz para além de nós mesmos, para um outro nós mesmos" "Uma das funções do devaneio é libertar-nos dos fardos da vida. Um verdadeiro instinto de devaneio é ativo na nossa anima; é esse instinto de devaneio que dá à psique a continuidade do seu repouso" "Para as coisas, como para as almas, o mistério reside no interior" "De todas as escolas da psicanálise contemporânea, a d C.G. Jung é a que mais claramente demonstrou ser o psiquismo humano, na sua primitividade, andrógino" "Os poetas sempre imaginarão mais rápido que aqueles que os observam imaginar" "O devaneio nos põe em estado de alma nascente" "Ainda existem almas para as quais o amor é o contato de duas poesias, a fusão de dois devaneios. O romance por cartas exprime o am

Arvores e sementes*

Há algumas pessoas que enraízam tanto no terreno das suas próprias convicções que de repente se dão conta que tornaram-se árvores. E pouco a pouco fixadas no mesmo lugar, vão se entediando até que um dia todas as ilusões se tornam insuportáveis, fazendo com que as vaidades e os orgulhos caiam por terra para tornarem-se adubos compostos de nutrientes extraordinários. É justamente aí, nesse estado da arte que essas árvores já tão frondosas se frutificam inevitavelmente, atraindo para próximo de si mesmas as belezas dos pássaros que se alimentam dos seus frutos e gentilmente espalham distante as suas sementes. Porquanto, somente depois de um tempo que essas árvores aprendem que elas se tornaram florestas inteiras, é que finalmente se desprendem, se libertam e passam a caminhar num infinito sempre presente num agora fascinante de descobertas plenas de amor e de uma especial capacidade para dividir e somar toda vez que se fizer necessário num contexto irreversível onde prisões i

Aprendimentos*

O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura é o caminho que o homem percorre para se conhecer. Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim falou que só sabia que não sabia de nada. Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisas di-menor com a natureza. Aprendeu que as folhas das árvores servem para nos ensinar a cair sem alardes. Disse que fosse ele caracol vegetado sobre pedras, ele iria gostar. Iria certamente aprender o idioma que as rãs falam com as águas e ia conversar com as rãs. E gostasse mais de ensinar que a exuberância maior está nos insetos do que nas paisagens. Seu rosto tinha um lado de ave. Por isso ele podia conhecer todos os pássaros do mundo pelo coração de seus cantos. Estudara nos livros demais. Porém aprendia melhor no ver, no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar. Chegou por vezes de alcançar o sotaque das origens. Se admirava de como um grilo sozinho, um s

O que faz da Filosofia Clínica, filosofia?*

Em diversos lugares é possível ler a seguinte afirmação: “A Filosofia Clínica é a filosofia acadêmica aplicada à clínica” ou “Filosofia Clínica é filosofia porque é baseada em 2500 anos de filosofia” ou “A Filosofia Clínica tem seu fundamento no pensamento dos filósofos, só que adaptados à clínica”, só para citar alguns. Entretanto, essas afirmações dão ao senso comum ou a alguns filósofos, que ficam de “plantão” em busca de algo para criticar sem fundamentos, uma compreensão mal concebida. A impressão inicial parece ser que se toma a filosofia ou o pensamento dos filósofos e se aplica a clínica, e a única modificação parece ser a finalidade. Pois, os filósofos pretendiam um fim para seu pensamento e a Filosofia Clínica busca trabalhar questões existenciais de seus partilhantes. A questão a ser tratada nesse texto não é fundamentalmente voltada para os filósofos clínicos, mas para os que têm uma compreensão errada que uma apresentação limitada pode oferecer em relação ao en

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Escrever é um caso de devir, sempre inacabado, sempre em via de fazer-se, e que extravasa qualquer matéria vivível ou vivida" "Não há linha reta, nem nas coisas nem na linguagem. A sintaxe é o conjunto dos desvios necessários criados a cada vez para revelar a vida nas coisas" "(...) Nesse sentido as coisas são mais perigosas que os seres humanos: eu não as percebo sem que elas me percebam; toda percepção como tal é percepção de percepção" "A interioridade não pára de nos escavar a nós mesmos, de nos cindir a nós mesmos, de nos duplicar, ainda que nossa unidade permaneça" "A questão não é a dos dois indivíduos, os dois autores, mas de dois tipos de homem, ou de duas regiões da alma, de dois conjuntos inteiramente diferentes" "(...) explorar os meios, por trajetos dinâmicos, e traçar o mapa correspondente. Os mapas dos trajetos são essenciais à atividade psíquica" "O trajeto se confunde não só

Certo ou Errado?*

Será que podemos universalizar que tudo é relativo? Foi difícil eu aprender que generalizar me fazia reduzir os fenômenos. Na multiplicidade e vastidão existencial precisei compreender que as singularidades marcam as diferenças. Por mais que prestasse atenção, volta e meia, eu me pegava escrevendo e falando: - Tudo! Vício comum em delimitar o mundo como certo ou errado. Existe a relatividade da singularidade assim como o existe o universal. Para o pré socrático Parmênides tudo É, para Heráclito existe o Vir a Ser em contínua mutação. A essência É, a existência muda continuamente. Compreendo que as coisas podem ser e não ser. Por que desta reflexão? Ao reduzir os fenômenos à “tudo” posso julgar, criticar, como se houvesse um certo e errado universal. Hoje sei que as coisas podem ser certas ou erradas para mim. O mundo é representação minha. Eu vejo e interpreto o mundo de acordo com minhas experiências, agendamentos, aprendizagens, cultura… Aprendi que parar, refle

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"As utopias consolam: é que, se elas não têm lugar real, desabrocham, contudo num espaço maravilhoso e liso; abrem cidades com vastas avenidas, jardins bem plantados, regiões fáceis, ainda que o acesso a elas seja quimérico"  "A ordem, sobre cujo fundamento pensamos, não tem o mesmo modo de ser que a dos clássicos" "(...) designações flutuantes" "(...) por mais que se diga o que se vê, o que se vê não se aloja jamais no que se diz" "(...) o rosto que o espelho reflete é igualmente aquele que o contempla" "(...) se a língua é uma ciência espontânea, obscura a si mesma e inábil - em contrapartida é aperfeiçoada pelos conhecimentos que não se podem depositar em suas palavras sem nelas deixar seu vestígio e como que o lugar vazio de seu conteúdo" "O que erige a palavra como palavra e a ergue acima dos gritos e dos ruídos é a proposição nela oculta" "O sentido das palavras é 'a lu

A senha do Paraiso*

Quando completamos um mês de namoro, Marta pediu a senha de meu celular. Alegou que seu telefone era desbloqueado, não tinha nada a esconder e gostaria de reciprocidade. Foi além, disse que concederia alguns dias para que excluísse conversas e fotos comprometedoras do passado, pois não gostaria de abrir meu aparelho e encontrar outras mulheres me abraçando, mesmo que estes fatos houvessem ocorrido cinco, dez ou quinze anos atrás. Fui pego de surpresa com este pedido, realizado sem anestesia nem aviso prévio. Aliás, na hora não consegui distinguir se aquilo era um pedido, uma ordem ou brincadeira. Confesso que também nunca havia pensado direito no assunto, mas uma coisa posso afirmar, não gosto de receber ordens, muito menos de uma namorada de trinta dias. Não sabia o que responder, talvez até liberasse a senha, mas imaginava que aquilo deveria ser iniciativa minha. Pressionado por seu olhar inquisitivo, contestei com a primeira obviedade que me veio à cabeça. Sabendo que me

Entropia da Calêndula*

“Mas não tenho nenhuma certeza de que o porvir de vocês coexistia assim com o seu presente.” Henri Bergson A ordem é a desordem. Havia um tempo que a desordem era o momento em que as coisas começavam a tomar um ponto a seguir, que as direções se distribuíam conforme os seguimentos da existência pediam passagem. Hoje, o caos não é mais dessa proposição, ou seja, a expressão verbal dos conceitos deixa de ter legitimidade diante dos fatos que atropelam o uso da linguagem. Se o juízo de algo é mais do que uma verdade, se ele passa a ser um acontecimento destruidor, a proposição do que estou aqui a pensar não tem importância alguma de sua veracidade de enunciado. Esse pequeno esforço recreativo, quase um jogo do pensamento, é porque ando a refletir sobre os efeitos benéficos e maléficos das Verdades seculares, sejam elas de ordem das ideias, dos grandes movimentos e correntes do pensamento, ou da heresia quase suicida de afrontar ao uso analítico de conceituar tudo através da

Coração é Terra que Ninguém Vê*

Quis ser um dia, jardineira de um coração. Sachei, mondei - nada colhi. Nasceram espinhos e nos espinhos me feri. Quis ser um dia, jardineira de um coração. Cavei, plantei. Na terra ingrata nada criei. Semeador da Parábola... Lancei a boa semente a gestos largos... Aves do céu levaram. Espinhos do chão cobriram. O resto se perdeu na terra dura da ingratidão Coração é terra que ninguém vê - diz o ditado. Plantei, reguei, nada deu, não. Terra de lagedo, de pedregulho, - teu coração. Bati na porta de um coração. Bati. Bati. Nada escutei. Casa vazia. Porta fechada, foi que encontrei... *Cora Coralina

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a ideia de verdade continua sendo o lugar por excelência do dogmatismo, pedra angular de todas as ortodoxias, sejam religiosas, filosóficas ou científicas"  "Para pensar essa efervescência, talvez devamos voltar aos autores intempestivos, poetas, filósofos ou pensadores anômicos que, como Nietzsche, exortam a 'trazer à tona o contra-senso nas coisas humanas, sem se assustar (...) com isto fazendo avançar o conhecimento humano" "É aí que tropeça o pensamento moderno. Obnubilado pela busca das causalidades e finalidades mecânicas, ele se mostra incapaz de apreender uma vida social sem projeto. A volta do nômade e outra formas do homem selvagem" "Devo frisar que, desde sempre, o ato de pensamento esteve voltado para os que se fazem perguntas, e não para os que já têm as respostas" "O sentido para a pessoa é fornecido pela pluralidade das máscaras que a constituem, e pelo contexto no qual suas diversas máscaras po

As palavras iniciais*

As expressões preliminares possuem um teor de anúncio de incertezas. Sua linguagem cifrada, em um discurso incomum, abre espaço, compartilha desafogo, reapresenta as formas do indizível. De antemão, tem-se um imenso nada a se mostrar na crise desconstrutiva pessoal. Essas palavras desarticuladas realçam um caos subjetivo em ação. Nesses conteúdos de rascunho, já se pode vislumbrar endereços existenciais, descrever a novidade chegando. Por esse começo é possível investigar o mundo das vontades, das representações. Nos ditos de assunto imediato, nem sempre confirmados no discurso posterior, os relatos oscilam em busca de legitimidade. A partir desse acolhimento, pode-se qualificar a relação clínica, regular o ângulo da visão, ajustar a lógica desse encontro singular. O teor de con-fusão entre o passado e o agora passando, além de traduzir um viés im-paciente, proporciona atenção a esse sujeito em estado nascente. Após essa antítese com as anterioridades, existe um lugar para

O que a filosofia tem a ver com o amor?*

Provavelmente você já ouviu falar que o termo filosofia pode ser explicado etimologicamente como a junção de dois termos: philos (amor, amizade etc.) e sophia (saber, sabedoria, conhecimento). Então, filosofia nada mais é do que o amor à sabedoria. Também é possível que você saiba que, conforme atestam os manuais de filosofia, se atribui a Pitágoras a célebre história de que ao chamá-lo de sábio, o pensador — que também deu o nome ao teorema cuja criação lhe é atribuída — disse que a sabedoria é própria dos deuses e que ele era apenas um amante do saber, isto é, um filósofo. Mas, ainda ficou a ser dito que a noção de filosofia remete a um pensamento que não estava presente somente em Pitágoras e, muito menos, na explicação etimológica da palavra. O sentido do amor, para o grego, é algo que constituirá seu modo de pensar. Compliquei muito? Tentarei explicar. (OBS: Espere uma exposição simplificada e não um artigo acadêmico). Para explicar, recorro a dois pilares da filos

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Mas dado o manual, o cientista criador pode começar suas pesquisas onde o manual a interrompe e desse modo concentrar-se exclusivamente nos aspectos mais sutis e esotéricos dos fenômenos naturais que preocupam o grupo" "Abandonar o paradigma é deixar de praticar a ciência que ele define. Descobriremos em breve que tais deserções realmente ocorrem. São os pontos de apoio em torno dos quais giram as revoluções científicas" "(...) Mesmo os que, trabalhando no mesmo campo de estudos ou em campos estreitamente relacionados, começam seus estudos por livros e realizações científicas idênticas, podem adquirir paradigmas bastante diferentes no curso de sua especialização profissional" "A ciência normal, atividade que consiste em solucionar quebra-cabeças, é um empreendimento altamente cumulativo, extremamente bem-sucedido no que toca ao seu objetivo: a ampliação contínua do alcance e da precisão do conhecimento científico" &quo

Ins-piração*

Muito Bom quando… Não precisar seguir a expectativa do mundo. Poder fazer o que der na telha. Tirar a máscara de bonzinho e perfeito. Descer do salto e tirar a maquiagem. Se permitir comer sem culpa. Conseguir brincar com a vida, ser palhaço. Compreender que na queda o rio cria energia. O trabalho se faz prazer e realização. Deixar o controle e a posse. Souber que a doença é caminho. Não julgar ou criticar os outros. Compreender que queixar não muda nada. Deixar a simplicidade facilitar a vida. Compreender que somos seres da escolha. Deixar de ser mindset fixo Se transformar em mindset em crescimento. Neste instante tudo fica mais fácil e Viver valerá realmente mais a pena! Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Escritora. Livre Pensadora. Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O espanto certamente foi, no passado, aquele espelho, de que tanto nos agrada falar, que trazia os fenômenos para uma superfície mais lisa e tranquila. Hoje, esse espelho está despedaçado, e os estilhaços do espanto tornaram-se pequenos. Porém, mesmo no mais minúsculo estilhaço, já não se reflete apenas um fenômeno isolado: impiedosamente, este arrasta consigo o seu reverso - o que quer que você veja, e por menos que veja, transcende a si próprio a partir do momento em que é visto"  "Um poeta é original, ou não é poeta" "Saber que não há nada depois da morte, algo terrível e que jamais poderá ser inteiramente compreendido, lançou sobre a vida um novo e desesperado caráter sagrado" "Não se detém por muito tempo em lugar algum: parte tão rápido quanto chegou. Foge dos verdadeiros senhores e habitantes das gaiolas" "(...) quando se recolhe com as palavras (...) a possibilidade de exprimir algo de outro modo inexprimível (.

O livro sobre nada*

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou. O meu amanhecer vai ser de noite. Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção. O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo. Meu avesso é mais visível do que um poste. Sábio é o que adivinha. Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições. A inércia é meu ato principal. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore. Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma. Peixe não tem honras nem horizontes. Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas

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