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Mostrando postagens de setembro, 2018

Desideias*

Só o meu é o caminho do meio. Já que só a mim me vejo ali. Nem a direita, ou a esquerda, ou ao alto, ou abaixo, outrem vejo eu... O caminho do meio é ermo. Nem o tabaco de Buko, nem o legado de Buda. É caminho que não se trilha trilha que não se abriu... nem os bebês cor de rosa nem as rosas do tango cálido! Melancólico até é e não... Já que aporta minha alegria caduca de quem está cabeluda de saber que não se tem mais a se tirar do mundo, por ninguém que esteja vivo, pisando sobre o planeta... É solitário, mas não é só - ou o contrário, sei lá... Tem a sombra amiga e perigosa das minhas convicções nada inflexíveis, no entanto fartas de conhecer que não há grande margem pra mudar segundo se pensa dos outros lados onde transitam os demasiado crédulos, que se dão ao desfrute da demasiada ilusão! O verdadeiro caminho do meio, não aporta o equilíbrio dos buscadores, nem a descompensação dos viciados... Distingue-se diametralmente desse outro de

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Terreno da liberdade, a crônica é também o gênero da mestiçagem. Haverá algo mais indicativo do que é o Brasil ? País de amplas e desordenadas fronteiras, grande complexo de raças, crenças e culturas, nós também, brasileiros, vacilamos todo o tempo entre o ser e o não ser. Somos um país que se desmente, que se contradiz e que se ultrapassa. Um país no qual é cada vez mais difícil responder à mais elementar das perguntas: Quem sou eu?" "Para Mário (de Andrade), a lei moral do artista digno era 'se realizar cada vez melhor em sua personalidade'. Ser simples, ou ser confuso, é uma consequência, não uma escolha"   "Escreveu Marina Tsvetaeva: 'A poesia é a língua dos deuses. O deuses não falam, os poetas falam por eles'. Via também os poetas como seres errantes, em eterno exílio, já que procederiam do Reino Celeste e estariam perdidos na Terra" "A literatura é um poço profundo, em que o chão nos escapa. Uma vez em seu inte

O leitor do século XXI consegue ser sartreano?*

“Eu queria que, ao renunciar à torre de marfim, o mundo me aparecesse em sua plena e ameaçadora realidade, mas não quero que, por isso, minha vida deixe de ser um jogo. Por isso endosso inteiramente a frase de Schiller: ‘O homem só é plenamente homem quando joga’.”                                     Jean-Paul Sartre (Diário de uma guerra estranha – Caderno XIV – 1940) “Se é verdade que apenas podemos viver uma pequena parte daquilo que há dentro de nós, o que acontece com o resto?”                                                          Pascal Mercier (Trem Noturno para Lisboa) Quais os olhares que existem sobre o Jean-Paul Sartre no século XXI, de que forma o l’adulte terrible é visto hoje, existe espaço para o homem sartreano neste século? Me vem essas questões quando busco uma de sua obras que mais admiro, O ser e o nada. Há uma pertinência na leitura histórica dos festejados filósofos do século passado, não sou adepto ao modismo, pelo simples fato, a afetação beir

Retrato do artista quando coisa*

A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

Filosofia Clínica e alguns desafios ao cuidado de si e dos outros*

“Parece-me que a aposta, o desafio que toda história do pensamento deve suscitar, está precisamente em apreender o momento em que um fenômeno cultural, de dimensão determinada, pode efetivamente constituir, na história do pensamento, um momento decisivo no qual se acha comprometido até mesmo nosso modo de ser de sujeito moderno.” (Michel Foucault, A Hermenêutica do Sujeito, 2006, p. 13) Ao abordar o cuidado de si, Foucault ressalta tratar-se de um fenômeno cultural que surge num determinado contexto e estende-se por um período também determinado caracterizando a filosofia antiga como “preceito de vida”, i. é, uma vida filosófica implica não somente o conhecimento de si, mas antes e principalmente o “cuidado de si”. Torna-se fundamental apreender, ou seja, “assimilar mentalmente, abarcar com profundidade, compreender, captar”, esse fenômeno para que se possa dimensionar sua importância e o seu impacto na história de vida das pessoas e da sociedade. O cuidado de si, como fenô

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Queremos ao menos uma vez chegar no lugar em que já estamos" "Citando Humboldt: 'Apreendida em sua verdadeira essência, a linguagem é algo consistente e, a cada instante, transitória. Mesmo a sua preservação na escrita é sempre uma preservação incompleta, mumificada, mas necessária quando se busca tornar perceptível a vida de seu pronunciamento" "A linguagem é, na verdade, o eterno trabalho do espírito de tornar a articulação sonora capaz de exprimir o pensamento (...)" "(...) o poder suave da simplicidade de um saber escutar" "Pensando a proximidade, anuncia-se a distância" "Os trechos nos quais e com os quais medimos a proximidade e a distância como intervalos constituem a sequência de agoras, ou seja, o tempo" "(...) uma coisa, chamada palavra, confere ser a uma outra coisa" "Falamos da linguagem dando sempre a impressão de estarmos falando sobre a linguagem quando, na ve

As dores e suas réguas*

As recepções de hospitais costumam exibir um cartaz que informa o nível de prioridade no atendimento aos pacientes. É uma espécie de tabela de risco, com cinco níveis, desde ‘emergência’ até ‘pouco urgente’.   O atendimento imediato, por exemplo, contempla pacientes com parada cardiorrespiratória, em estado de choque ou com perfurações e hemorragia. O nível mais brando de risco (não urgente) contempla pacientes com dor leve, escoriações e pode levar horas e horas até um enfermeiro ou médico se ocupar do problema… Já complicações de saúde como crise de asma, dor de cabeça intensa, taquicardia e dor abdominal correspondem aos níveis intermediários: muito urgente, pouco urgente e urgente. Já pensou se as dores e desconfortos emocionais também pudessem ser medidos com uma régua tão objetiva? Dor de amor: emergência. Dor de saudade: muito urgente. Dor de decepção: urgente. Dor de tédio: pouco urgente. Dor de reprovação: pouco urgente. Outro sujeito poderia apresentar tabela diversa.

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) um par de anos depois, topei com esse nome nas inesperadas páginas de De Quincey, onde se refere a um teólogo alemão que, em princípios do século XVII, descreveu a imaginária comunidade da Rosa-Cruz - que outros fundaram mais tarde, à semelhança da que ele preconcebera (...)"  "(...) em vida padeceu de irrealidade (...)" "Todo estado mental é irredutível: o mero fato de nomeá-lo - de classificá-lo - implica um falseamento" "São numerosos os sistemas incríveis, mas de arquitetura agradável ou de caráter sensacional. Os metafísicos de Tlon não buscam a verdade nem sequer a verossimilhança: buscam o assombro. Julgam que a metafísica é um ramo da literatura fantástica" "A base da geometria visual é a superfície, não o ponto. Esta geometria desconhece as paralelas e declara que o homem que se desloca modifica as formas que o circundam" "Um livro que não inclua seu contralivro é considerado incompleto"

A escuta das palavras*

                                            A palavra, em deslocamento por seus muitos territórios, também busca uma legibilidade para sua escuta escutando-se. Aptidão rara em meio as ditaduras da semiose verbal. Ao conviver sempre no mesmo lugar, ainda que em línguas diferentes, é excepcional vivenciar as dialéticas da aventura.       Em um mundo apropriadamente imperfeito, pode ser indizível, ao dicionário conhecido, encontrar o melhor para si. Essa suspeita se insinua nas possibilidades do instante perfeito nas entrelinhas da imperfeição. Essa transgressão da zona areia movediça de conforto existencial, se aproxima de um mundo razoável e suas contradições. Assim pode acolher e dialogar com a mutante medida de todas as coisas em cada um.      Ao destacar o viés dessas poéticas da irreflexão, se esboça uma negação de que tudo já foi dito, pensado, tentado. Nele um espaço desconhecido se abre como proposta. Talvez a escola, ao ensinar a ler e escrever, também pudesse in

Motivo*

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada. *Cecília Meirelles

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) um mundo de 'realidades múltiplas', causa e efeito da intersubjetividade" "O filósofo americano Thoreau fala em algum momento de um quarto Estado. Ao lado da Igreja, do Estado e do povo, o estado do 'andarilho errante'. Que podemos entender através de todas essas figuras nômades que recusam a estabilidade sexual, ideológica, profissional"  "A escolástica tem medo da vida. E toma a si a missão de inculcar por todos os meios esse temor" "(...) esse conhecimento glacial da ciência oficial se arvora de ser normativo e judicativo. Atitudes pretensiosas, vãs e que perderam o contato precisamente com aquilo que explicam" "(...) a conexão social é feita mais de 'afinidades eletivas' que de contratos racionais. Ter ou não o 'feeling' será o critério essencial para julgar a qualidade de uma relação. E é nesse aspecto no mínimo evanescente que repousará sua durabilidade" "O gênio

Singularidade*

As nossas singularidades são composições de origens diversas porque se trata de um fenômeno que indica que já houve uma diversidade de pessoas com as quais convivemos seja por um minuto seja por décadas inteiras que por alguma razão nos tocaram em alguma proporção e de algum modo. E se as vezes me utilizo de frases longas talvez seja porque haja na intencionalidade certa pretensão para fazer-lhe perder o fôlego, provocando em você leitor uma necessidade de respirar profundo, tendo por consequência uma oxigenação que fará as suas ideias e percepções fluírem melhor em tempos urgentes de ressignificações e mudanças. A verdade é que ninguém consegue sair ileso de um relacionamento e quase sempre é nos exemplos alheios e na história de tantos feitos é que habitam referências de muito do que vale a pena replicar e do que é necessário repelir para não se repetir os mesmos erros tão prejudiciais a vida e a tantas dignidades. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Educador. L

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Como se visse alguém beber água e descobrisse que tinha sede, sede profunda e velha. Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações" "E havia um meio de ter as coisas sem que as coisas a possuíssem?" "(...) para nascer as coisas precisam ter vida (...)" "Já agora nem sabia se vira o céu por si mesma como quem vê o que existe ou se pensara em céu e conseguira inventá-lo (...)" "(...) a vida que se leva por dentro não é a vida terrena" "(...) alguma coisa que se estava construindo e que só o futuro veria" "Toda a parte mais inatingível de minha alma e que não me pertence - é aquela que toca na minha fronteira  com o que já não é eu, e à qual me dou. Toda a minha ânsia tem sido esta proximidade inultrapassável e excessivamente próxima. Sou mais aquilo que em mim não é" "(...) na sua busca viajava dentro de si b

Levitação-Imagem*

  “Iluminei a escuridão de minha invisibilidade – e vice-versa.”                                          Ralph Ellison A imagem eu não inventei, as cores eu não as criei, a técnica já existia antes de eu criar o método de levitar para fotografar, o método alpinista de captar imagens, detalhes que só conseguimos ver de uma grande lente, movie, de movimento, tomadas aéreas. A levitação-imagem é aquela em que busco fisgar naquilo que o olho sonha ver. Só ele, o olho naquele ângulo, a partir de uma música ao fundo (inaudível até hoje quando volto a sonhar), em um estilo que pode arrebatar até o mais cético em relação à existência de coisas sobrenaturais. É mesmo, sobrenatural, eu levito (mas isso tem uma altura, no máximo 15 metros), isso causou espanto na primeira vez quando subi até a torre de um velho prédio público, e com minha lente diminuta de um celular, fui de um lado ao outro, cercando a torre, discorrendo meu pensamento, o olhar que se afinava na captação das

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"É característico da natureza do homem não estar limitado a uma única abordagem específica da realidade, mas poder escolher seu próprio ponto de vista e assim passar de um aspecto das coisas para outro" "A arte (...) ensina-nos a visualizar as coias, e não apenas conceitualizá-las ou utilizá-las. A arte nos propicia uma imagem mais rica, mais viva e mais colorida da realidade, e uma compreensão mais profunda de sua estrutura formal (...)" "Uma criança que joga não vive no mesmo mundo de fatos empíricos rígidos que o adulto. O mundo da criança tem uma mobilidade e uma transmutabilidade muito maiores" "Quando a poesia perde de vista o maravilhoso, perde seu significado e sua justificativa. A poesia não pode prosperar em nosso mundo trivial e corriqueiro. O milagroso, o prodigioso e o misterioso são os únicos temas dignos de um tratamento verdadeiramente poético" "Poetizar a filosofia e filosofizar a poesia - tal era a mais

Ou eu ou ela*

Poderíamos trazer Tudo isto de volta E se por vezes Por um pouco que chorávamos Fascinava-me o seu jeito E a sua facilidade De sorrir por um motivo qualquer E meus olhos parados Já se punham tristes Na hora da despedida E o adeus, até breve Que nós murmurávamos Muito mais parecia Como um lamento ausente Das saudades Que já sentíamos..!! *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Filósofo Clínico. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Para apreender mais de perto a operação da imaginação criadora, é preciso portanto virarmo-nos para o invisível interior da liberdade poética. É preciso separarmo-nos para atingir na sua noite a origem cega da obra" "Falar mete-me medo porque, nunca dizendo o suficiente, sempre digo também demasiado (...)" "No escritor o pensamento não dirige a linguagem do lado de fora: o escritor é ele próprio como um novo idioma que se constrói (...)" "Contrariamente ao Ser e ao Livro leibnizianos, a racionalidade do Logos pela qual a nossa escritura é responsável obedece ao princípio da descontinuidade" "Husserl é já, no seu estilo de pensamento, mais atento à historicidade do sentido, à possibilidade do seu devir, mais respeitador daquilo que, na estrutura, permanece aberto" "O ato de compreender, que opõe á explicação e à objetivação, tem de ser o caminho principal das ciências do espírito" "Artaud teve

Poéticas do indizível*

“(...) Graças às sombras, a região intermediária que separa o homem e o mundo é uma região plena, de uma plenitude de densidade ligeira. Essa região intermediária amortece a dialética do ser e do não-ser.”                                                                          Gaston Bachelard Uma crença muito antiga aprecia atualizar-se nesse enigmático hoje que um dia foi amanhã. Poderia ser o pretérito imperfeito de uma busca ou aquele quase nada onde tudo acontece. Atualização de um dialeto nem sempre dizível, se alimenta nas fontes inenarráveis, nos paradoxos, nas desleituras criativas. Seu visar inédito sugere desvãos ao mundo que se queria definitivo. Costuma ser abrigo do acaso na versão do avesso das coisas. Ao referir o encantamento das pequenas devoções, parece ter a vocação de traduzir esse texto interminável, por onde a vida escoa seus segredos. Realiza um esboço sobre as tentativas de decifrar por inteiro um mundo que é mistério por natureza.       A ca

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