Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2021

A cidade das palavras esquecidas*

"É possível que desde Sófocles todos nós sejamos selvagens tatuados. Mas na arte existe alguma outra coisa além da retidão das linhas e do polido das superfícies. A plástica do estilo não é tão ampla como toda a ideia (...) Temos coisas demais para as formas que possuímos"                                                                                        Flaubert   Num cotidiano de atividade limite existe uma aproximação com a subjetividade do não dito. O não sentido concede vestígios ao artesão das palavras. Uma nova conjugação se anuncia na rasura do texto conhecido. Manuscritos assim costumam se expressar em linguagem própria.   A expressividade desses fenômenos, um pouco antes de significar-se no traço da autoria, insinua-se nalguma forma de transbordamento. Sua subjetividade acolhe essa intencionalidade para resignificar seus dias. Busca compartilhada da contradição com a estrutura do delírio.   Um leitor de incompletudes desvenda esse horizontes por vir. Sua

Dialogar*

Sobre a Filosofia Clinica Dialogar ou não com as outras linhas Terapêuticas.   Estudei por sete anos Psicologia e por questões circunstanciais, tive contato direto com a Psiquiatria, estudando e aprendendo durante 12 anos. Convivi com terapeutas do Brasil inteiro, tive uma clinica de terapia comportamental e eu mesma como paciente fiz terapia cognitiva, Gestáltica, psicanalítica até chegar na Filosofia Clinica.   Com isso , acho que posso dizer alguma coisa enquanto paciente e como estudante e pesquisadora. Entendo que se tem uma linha que dialoga com as outras é a Filosofia Clinica, primeiro por ser honesta no sentido de dar o mérito de sua fundamentação a mãe de todas, ou seja a própria Filosofia, que por si só já é um oceano tão grande e recheado de conteúdos que poderíamos dela já ter múltiplas e infinitas linhas terapêuticas.   Segundo porque profissionais de todas as áreas podem fazer o certificado B, que da a base teórica a clinica filosófica, porem para a pratica e para o certi

O avesso do avesso*

  Às vezes, há instantes que – como respirações suspensas e eternizadas pelo tênue ar que mantém a fugacidade do momento – traduzem os infinitos que nos compõem e transpiram a vitalidade da essência de que somos feitos, como se conseguissem concentrar num átimo toda a potencialidade da existência. Momentos assim são como pérolas escondidas em conchas vigorosas que resistem em se revelar, temerosas de que seu valor jamais seja devidamente apreciado.   E, no entanto, expressam uma preciosidade que não pode ser transposta na insanidade da realidade que ofusca e que muitas vezes nem mesmo se percebe. A vida é mais do que o avançar do tempo, muito mais do que o contar dos batimentos. A vida não se esgota e não se permite rótulos, embora as vendas se acumulem nos olhos de quem se recusa a verdadeiramente engolir a pílula vermelha... cor do sangue de que nos alimentamos, da maçã que nos incita a não resistir tanto às tentações, da vibração que nos mantém aquecidos e atentos ao instante segu

DSM-5: Thomas Insel, Thomas Szasz e Simão Bacamarte*

Em 2013, o neurocientista Thomas Insel criticou o lançamento do DSM-5. Ele escreveu que "diferentemente das definições de isquemia cardíaca, linfoma e Aids, os diagnósticos do DSM são baseados em conjuntos de sintomas clínicos, e não em medidas objetivas de laboratório." Aqui lemos um eco da crítica à instituição psiquiátrica feita por Thomas Szasz no artigo "The myth of mental illness" (de 1961!). https://www.technologyreview.com/.../nimh-will-drop.../        Só que em vez de criticar por inteiro a idéia de doença mental, como fizera Szasz, Thomas Insel simplesmente decidiu estabelecer critérios científicos para diagnosticar esse tipo de "doença". Insel passou anos trabalhando com neurociência e com a genética das desordens mentais. Foram 20 bilhões de dólares que, segundo o próprio, só serviram pra financiar muitos artigos científicos inúteis. https://www.wired.com/.../star-neuroscientist-tom-insel.../ Agora ele se volta para as questões comportame

Passagens*

  “Somos uma barragem onde se acumula o tempo, que se precipita em nós mesmos quando surge aquela que esperamos.”                                                             Walter Benjamin (Passagens)   Faz luz, faça chover, faça bolo, o café acorda antes de mim, Faço rímel, risos dos olhos escuros, Coração guarda um segredo, flanar do mal, A dor expõe o silêncio da vida, a pele arrepia as cores. O equilíbrio das pernas combina mais com o movimento, O tempo dos braços é tão longe, tão perto do coração, Distante do vírus de uma modernidade em fuga, O contentamento do corpo pela casa, pensamento pelo mundo. Um convite, um gole, uma filosofia, um vão da alma, O que escorre é o suor do medo, o tempo acalma, As mãos tão distantes, o beijo atrás da vidraça, A lágrima é pura intimidade, vives tão só. Um Benjamin nos boulevards internos, à margem do rio, O passante leva consigo o poema, retorno ao mar, A passage de Montmartre é para além do medo, O voltar

Reflexões de um Filósofo Clínico*

  O privilégio de um espaço terapêutico O espaço terapêutico pode ser um âmbito privilegiado de construções compartilhadas. Nele, filósofo clínico e partilhante ensaiam hipóteses de outras vias. Onde antes parecia haver uma bifurcação, um dilema entre duas vias igualmente ruins, podem surgir outras direções antes impensadas. Na história de vida relatada pelo partilhante, podem emergir indícios de caminhos abertos, mas não trilhados. Vendo isso, o filósofo tem a possibilidade de construir a clínica por essas vias. A singularidade dos casos não nos permite dizer quais são essas vias e para onde elas levarão a pessoa. Mas, há chances consistentes de lograr êxito quando tais caminhos estão de acordo com as direções para as quais a pessoa se dirige existencialmente.                                                       ******************* O que significa dizer que o filósofo clínico é um aprendiz? Embora seja apresentado em cursos que variam entre 18 e 24 meses, o conteúdo da fi

A Arte de Ouvir*

Querido leitor, que você esteja bem.   Hoje vamos refletir sobre um texto oportuno de Rubem Alves: “Saber Ouvir”.   De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania é a audição. Disse o escritor sagrado: “No princípio era o Verbo”. Eu acrescento: “Antes do Verbo era o silêncio.” É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar.   Diz Rubem Alves: Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio.   Não nos sentimos em casa no silêncio. Quando a conversa para, por não haver o que dizer, tratamos logo de falar qualquer coisa, para por um fim no silêncio. Vez por outra tenho vontade de escrever um ensaio sobre a psicologia dos elevadores. Ali estamos, nós dois, fechados naquele cubículo. Um diante do outro. Olhamos nos olhos um do outro? Ou olha

A Clínica do Filósofo*

"Qual é esse projeto secreto, inacessível e inexistente cuja pressão constante se exerce, de fato, sobre os homens, e particularmente sobre os homens problemáticos, os criadores, os intelectuais, que estão, a cada instante, como que disponíveis e perigosamente novos?"                                                                              Maurice Blanchot   Venho pensando sobre o lugar onde a clínica acontece. Não o endereço físico dos atendimentos, seja ele no consultório, na beira da praia, em um café, hospital... Essas ideias buscam dar visibilidade ao território onde a interseção se realiza. Uma transcendência no esboço dos propósitos, os contornos, as derivações, os significados. Essa inquietude sobre as dialéticas do instante terapêutico quer pensar sobre a natureza desse encontro. A própria eficácia das sessões é refém desse vazio à espera de preenchimento. Nesse vislumbre de foco caleidoscópico, o filósofo clínico exercita sua arte cuidadora. Seu perambular

Oito sinais de que sua mente lhe sabota*

O invisível rege o visível. Platão há mais de dois mil anos, já falava sobre as ideias habitarem um mundo próprio, todo seu, até serem canalizadas para a mente humana e então se materializarem, se tornarem realidade. Sermos criativos, portanto, dependeria de cultivarmos uma mente saudável e em perfeitas condições para receber esse fluxo de energia. Mas você sabe identificar quando sua mente não lhe ajuda? A verdade é que nem tudo que passa pela sua mente serve. Conheça alguns sinais de que a sua mente está lhe sabotando:   - Não deixa você descansar. Você deita a cabeça no travesseiro à noite, para dormir, e a mente não para. Passeia infinitamente pelos acontecimentos do dia, pelos compromissos que virão, pelas coisas que não deram certo, gerando estafa e ansiedade. Um dos resultados é a falta de energia e irritabilidade no dia seguinte.   - Faz você se comparar com os outros. Por falta de um referencial próprio, interno, sua mente faz com que você preste atenção no desempenho dos

Visitas