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Mostrando postagens de janeiro, 2022

Prática da Filosofia Clínica*

“Nesse sentido, a nova abordagem possui uma representação diferenciada do fenômeno humano; as pessoas passam a ter nome, sobrenome, uma história de vida singular, linguagem própria, expressividade peculiar, estabelecendo um abismo com as lógicas da tipologia, da classificação desumana dos manuais psiquiátricos, os quais, ao oferecer diagnósticos, prognósticos, curas, normalidades, destituem a pessoa de seu ser sujeito em ação.” – Hélio Strassburger em: “ Filosofia Clínica: anotações e reflexões de um consultório ”. Ed. Sulina. Porto Alegre/RS. 2021 Pode ser que muitos que não sejam terapeutas e leiam as linhas acima.   se perguntem, meio frustrados ou estupefatos pela afirmação feita, “Mas não é assim com qualquer terapia séria? Não é assim que todas fazem? Como poderia uma terapia ser diferente disso? Então, qual é a vantagem da filosofia clínica ao afirmar tudo isso?” Vamos começar pelo maior contraste, já que, às vezes, o mais próximo é o mais difícil de enxergar as nuances. Hél

Coleção de Filosofia Clínica da Editora Vozes. Mais uma parceria de qualidade com a Casa da Filosofia Clínica.

 

Prendedor de Sonhos*

“pedaço de mar, iça, onde moras, sua capital, a inocupável.”     Paul Celan                                                       Vou no som do murmúrio das águas, das mãos estendo histórias sobre o dia até o sol se pôr. Da voz escorre a umidade das letras em pele e olhos negros se perdendo nas entranhas do tecido. Das vestes, cores roçando o corpo e dedos que dedilham mais uma pintura da carne, o toque na tela, um riso perdido no ar, o arejar das pernas no vento que traz o aroma da eternidade do tempo. Pendurar a vida nas cercas da casa próximo ao mar, deixar escorrer na leveza do amor morto na natureza, dormir relendo o noturno da insônia do ano que não acabou. Acordar em frente à janela escancarada do novo dia, um cheiro vindo da manhã com café e calor. O vento de chuva passou longe de meu sonho, do suor da vida acumulada pela idade, o correr cedo para ir nadar em fuga do que já é mofo, molhar a alma, folhear as ideias em nascentes de rios e livros que insistem em viver. Sec

Recortes do Cotidiano*

“(...) O rosto do silêncio é o olhar que se percebe através dele. São muitas as mensagens à espera das representações de não-dizer. Natureza de difícil acesso em seus contornos mutantes. Costuma deixar pistas nos sussurros contidos por entre os espaços da intencionalidade. Lá onde o indizível se contém em enigmas de silenciar. (...) Lugar para relação da liberdade reflexiva com uma sublime aptidão criadora. Espaço para reorganização do mundo. Tempo de seguir os vôos e mergulhos com esses fenômenos de aparência desestruturada. Um vislumbre para a intuição de originalidades contidas entre o ser e o nada da condição humana. Contradição em curso na negação que os afirma.                                                                           (...) Aparente vazio onde a inspiração inscreve suas ideias e delírios em forma de traço. Onde o ser se objetiva além da palavra. Interseção das ausentes realidades com o silencioso abandono das horas. As expressividades do silêncio podem elabora

Depoimentos compartilhados***

  Na correria do dia a dia, quase todo mundo já tentou controlar o tempo e sentiu em algum momento que não estava cumprindo como gostaria todos os papéis existenciais, seja o de filha, mãe, executiva, líder e tantos outros que assumimos ao longo da vida. Tudo isso causa uma ansiedade em nós e a pandemia aguçou ainda mais esse sentimento, não é mesmo?  Em uma época da minha vida eu vivi isso, um atropelo existencial que refletiu forte em mim. Sei o quanto é frustrante esse sentimento de que você se dedicou tanto no trabalho, mas no fim do dia percebeu que só encheu esse pote e os demais papéis de sua vida ficaram meio vazios. O que me ajudou a centralizar e enxergar tudo para me organizar melhor foi a Filosofia Clínica. Para quem não sabe, a Filosofia Clínica tem uma abordagem terapêutica e usa os conhecimentos filosóficos na prática. Um dos princípios fundamentais dela é a singularidade, em que cada pessoa é única e tem sua EP (Estrutura de Pensamento). Esse método pode ser aplicad

As palavras e o horizonte existencial*

Primeiranistas de graduação em Filosofia às vezes "refutam o perspectivismo" com o seguinte joguete lógico que remete a uma contradição: "Não há fatos - somente interpretações. Isto é um fato." Ou, na notação da lógica proposicional, P^~P P, logo não-P. Isto é: a afirmação de que não há fatos, mas só interpretações, conduz a uma contradição e, por conseguinte, não pode ser verdadeira. A refutação parece persuasiva, não? * * * O diabo é que as palavras não são planas. Há profundidades hermenêuticas variáveis em cada uma delas. No caso que expus acima, a primeira palavra "fato" corresponde ao plano ôntico, enquanto a segunda corresponde ao plano ontológico. Uma coisa são os "fatos" ("não há fatos") que lemos em um jornal, que sabemos numa conversa, que usamos para tomar decisões na vida. Outra coisa, bem diferente, é uma afirmação metafísica universal a respeito do funcionamento da estrutura da realidade ("isto é um f

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