Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de abril, 2011
Fragmentos filosóficos delirantes XLII* "Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu tava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim" "Tem dias que a gente se sente Como quem partiu ou morreu A gente estancou de repente Ou foi o mundo então que cresceu" "Não sei se você ainda é a mesma Ou se cortou os cabelos Rasgou o que é meu Se ainda tem saudades E sofre como eu Ou tudo já passou Já tem um novo amor Já me esquece" "Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio o vento Na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade" "Vejo a multidão fechando todos os meus caminhos, mas a realidade é que sou eu o incômodo no caminho da multidão" *Chico Buarque de Holanda
A vertigem precursora* “Um símbolo sempre ultrapassa aquele que o usa e o faz dizer na realidade mais do que tem consciência de expressar.” Albert Camus Em um mundo onde a versão aceitável é a capacidade de se ajustar, é possível perceber a semelhança entre robôs, plantas e homens. As práticas ideológicas para manutenção da normal-idade estão distribuídas na invisibilidade cotidiana. No ritual bem pensado dos estádios de futebol, escolas, igrejas, hospícios se controla a produção do saber para manutenção do mundo vegetal. Mesmo assim algo mais se oferece num esboço fora da lei. Interseção por onde se procura uma saída dessa zona de conforto que sufoca. Esse lugar difuso oferece vertigens como porto de partida aos navegantes descobridores. O desmaio, a sensação de exclusão ou a lágrima, buscam uma entrada de ar para a singularidade desperdiçada. Como versão desclassificada aos códigos reconhecidos, o pré-sujeito assim disposto, além de estar perdido diante das novas verdades,
Jardins internos Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Uma as imagens mais inspiradoras que guardo na memória, provavelmente fruto de alguma leitura, é de uma bela moça caminhando em seu jardim. O toque poético fica por conta do tempo e espaço. Estamos na Grécia Antiga. E o movimento é de todo especial: caminha firme, suavemente, com aquele magnetismo próprio de quem sabe quem é, de onde veio e pra onde vai. Freud certamente explicaria. O fato é que esta imagem produz em mim efeito centrífugo. Por mais dispersos e fragmentados que estejam pensamentos e emoções, ao toque dela tudo pára, aquieta. Por uma fração de infinito, ousaria dizer, consigo ouvir aquilo que talvez possa ser chamado de a voz do silêncio. A relevância desse delírio, devaneio, esforço imaginativo ou qualquer outro nome que se dê, só se justifica nos limites dos meus próprios jardins internos. E não é pouca coisa, se julgarmos que cada ser humano é único, um universo em si mesmo. Quando me proje
Desvelando a Subjetividade Miguel Angelo Caruzo Filósofo Clínico Juiz de Fora/MG Quando nos deparamos com uma pessoa, criamos diversos juízos a seu respeito. E, em determinado momento, ou após longo tempo de convivência, costumamos dizer que a pessoa mostrou o que realmente era, que agora revelou sua identidade. No entanto, o foco deste texto não será as pessoas observadas, mas o observador. Será que as pessoas escondem tanto o que elas são? Será que o mundo é regido por dissimulação e falsidade? Pode a sociedade ser tão corrompida que a melhor forma de sobreviver é corromper a imagem pessoal diante dela? Suspeito que não. Às vezes somos nós, os observadores, que tendemos a olhar as pessoas com os nossos “pré-juízos”, nossas concepções e generalizações adquiridas ao longo da vida. Daí, no momento em que o reconhecimento atravessa a superficialidade, o véu é rasgado, e deixamos a visão inicial de lado. Quando aprofundamos nosso conhecimento acerca da pessoa com a qual no
Escolher para ter ou ser?* O futuro é um passado que ainda não se realizou. Clarice Lispector Os critérios de escolha do papel existencial acompanham a singularidade. Em meio às construções e desconstruções trilham seu caminho rumo às várias possibilidades. Obstáculos e dúvidas perpassam o caminho da maioria. O sucesso profissional tem muitas vezes, em suas raízes, momentos de incerteza e insegurança. Nesse sentido encontramos histórias curiosas, desafiadoras, intrigantes e aventureiras. Fruto de estruturações tópicas que determinam o compasso de cada pessoa. A representação de mundo girando entorno de status e retorno financeiro, são fatores influentes nessa escolha, para algumas pessoas. Buscam uma profissão que responda tal necessidade, pois, para eles, é importante estar bem colocado no mercado e ocupando um lugar de destaque perante a sociedade. Do outro lado encontramos os peregrinos em seu próprio mundo. Para esses a única certeza é o caminho: estradas, trilhas,
Fragmentos filosóficos delirantes XLI* "Pergunto aqui se sou louca Quem quer saberá dizer Pergunto mais, se sou sã E ainda mais, se sou eu Que uso o viés pra amar E finjo fingir que finjo Adorar o fingimento Fingindo que sou fingida Pergunto aqui meus senhores quem é a loura donzela que se chama Ana Cristina E que se diz ser alguém É um fenômeno mor Ou é um lapso sutil?" "Tenho uma folha branca e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma cama branca e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma vida branca e limpa à minha espera:" *Ana Cristina Cesar Poeta carioca - 1952-1983
Fragmentos filosóficos delirantes XL* ""Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas."" "Em mim também, que descuidado vistes, Encantado e aumentando o próprio encanto, Tereis notado que outras cousas canto Muito diversas das que outrora ouvistes. Mas amastes, sem dúvida ... Portanto, Meditai nas tristezas que sentistes: Que eu, por mim, não conheço cousas tristes, Que mais aflijam, que torturem tanto. Quem ama inventa as p
Escorrendo! Idalina Krause Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Por trás da janela coberta de digitais, o pensamento co-cria. Pingos de chuva mansa correm no fio de luz, teleféricos transparentes, translúcidos, aquosos, frenéticos movimentos. Por mais que pareça estranho há uma maresia no ar, vida escorrendo, ondas sedutoras, cânticos, prazeres de mar.
Sexualidade, uma questão de consciência Rosângela Rossi Psicoterapeuta e Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG A vida pulsa por todos os poros nos convidando ao encontro. Somos seres pulsantes desejosos do compartilhar corpo e alma. Para os filósofos pré-socráticos o corpo é alma, para os platônicos e cartesianos o corpo é separado da alma. O foco da sexualidade apenas no corpo e na realização do desejo leva a tornar o corpo e o outro como objeto de uso e de prazer momentâneo, muitas vezes sem vínculo, respeito e pior de tudo, um desprazer no final, um vazio existencial e uma busca compulsiva e ilusória de realização. O corpo almado, pleno em sua inteireza, vive a sexualidade como uma dança, uma poesia, uma celebração, onde o próprio corpo se entrega, sem medo e sem repressão. O outro é respeitado e cuidado com delicadeza e ternura. Sexualidade não se resume ao ato genital, é muito mais que isto, é um movimento onde corpo, alma e espírito vivem a realização plena de um encon
Controle e surpresa Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Repousa sobre nós uma consciência histórica sobre a relevância do controle, especialmente das nossas vidas. É preciso ter um projeto, saber para qual direção a existência avança. O sentido de quem somos, de onde viemos e para onde vamos é rascunhado por metas, sonhos, rotinas, para que não percamos o horizonte, o propósito, o foco... Isso tudo me encanta. Adoro bússolas, agendas, relógios... Com esses instrumentos, e tantos outros concebidos na contemporaneidade dos tempos, conseguimos mensurar tempo, espaço, velocidade, direção, frequencia, intensidade. Conseguimos fazer previsões, avaliar consequências, corrigir rotas. Tudo isso é muito rico quando se trata de promover autogenia e valor em nossas vidas. Navegar, sim, é preciso, como já disse o poeta. Mas viver é impreciso. Por mais que utilizemos instrumentos diversos para mensurar nossos avanços e resultados, sempre existirão os imprevistos. Já reside no
Princípio da humildade Miguel Angelo Caruzo Filósofo Clínico Juiz de Fora/MG O que sei a respeito do partilhante numa consulta? Nada. Como poderei ajudá-lo? Não sei. Quanto tempo levará a clínica? Impossível concluir até que aconteça. O que posso definir a respeito do partilhante então? Nada. A grande incógnita não necessariamente significa impossibilidade de ação. Também não faz do filósofo clínico um inútil. A partir da abertura ao outro propiciado pelas instruções da Filosofia Clínica, o terapeuta torna-se um estudioso do partilhante e acaba aprendendo mais do que ensinando. O mistério do ser humano é sempre um desvelar do que sempre se vela. Sabemos muito pouco do muito que não sabemos. A incompreensibilidade da totalidade do que nos aparece é o reconhecimento de que estamos diante de alguém digno de imenso respeito. Quando os trabalhos iniciam no consultório, pouco se sabe. Quando termina, o pouco tornou-se, muitas vezes, suficiente para ajudar o partilhante no caminh
Me engana que eu gosto Jussara Hadadd Filósofa Clínica e Terapeuta Sexual Juiz de Fora/MG O palco era aquela enorme cama king size completamente branca e macia. A peça era a noite de amor de um casal incandescente de desejo e paixão. E a cena principal era com a mulher que, como protagonista, convencia, como ninguém, o seu amado sobre a existência de uma explosão que no universo feminino muito se fala, mas pouco se conhece de verdade. O tema da peça: o orgasmo feminino. - Ai, meu Deus, você é demais. Assim você me enlouquece. Eu não estou agüentando mais. Ai, ai, ai. Ui, ui, ui, você é maravilhoso. Aiiiii, nossa, fui ao céu e quase não voltei. É mais ou menos dessa maneira que muitas de nós representa o orgasmo em uma relação sexual. E esta representação se dá quando ele acontece, ou não! Os motivos, bom, dos motivos nós vamos falar agora. Talvez não consigamos nos lembrar de todos, mas dos mais corriqueiros, com certeza. Vamos falar também, além da necessidade de representa
Fragmentos filosóficos delirantes XXXIX* "Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima, silêncio que fala, tempestades sem vento, mar sem ondas, pássaros presos, douradas feras adormecidas, topázios ímpios como a verdade, outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro duma árvore e são pássaros todas as folhas, praia que a manhã encontra constelada de olhos, cesta de frutos de fogo, mentira que alimenta, espelhos deste mundo, portas do além, pulsação tranquila do mar ao meio-dia, universo que estremece, paisagem solitária." "Sou homem: duro pouco e é enorme a noite. Mas olho para cima: as estrelas escrevem. Sem entender compreendo: Também sou escritura e neste mesmo instante alguém me soletra." "Assim como do fundo da música brota uma nota que enquanto vibra cresce e se adelgaça até que noutra música emudece, brota do fundo do silêncio outro silêncio, aguda torre, espada, e sobe e cresce e nos suspende e enquanto
Fragmentos filosóficos delirantes XXXVIII* "Rosas que já vos fostes, desfolhadas Por mãos também que Já foram, rosas Suaves e tristes! Rosas que as amadas, Mortas também, beijaram suspirosas... Umas rubras e vãs, outras fanadas, Mas cheias do calor das amorosas... Sois aroma de almofadas silenciosas, Onde dormiram tranças destrançadas. Umas brancas, da cor das pobres freiras, Outras cheias de viço de frescura, Rosas primeiras, rosas derradeiras! Ai! Quem melhor que vós, se a dor perdura, Para coroar-me, rosas passageiras, O sonho que se esvai na desventura?" "Quando Ismália enlouqueceu, pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, queria descer ao mar... E, no desvario seu, na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, estava longe do mar... E como anjo pendeu as asas para voar... queria a lua do céu, queria a lua do mar... As asas qu
O relativismo subjetivo é universal em Filosofia Clínica? Pedro de Freitas Junior Filósofo Clínico Florianópolis/SC Quando falamos em relativismo a primeira impressão que podemos ter é pejorativa. Parece que quando “tudo” é relativo as certezas se perdem. Como achar algo que se perde? A Filosofia Clínica responde em uma palavra: singularidade. O se perder no relativismo subjetivo é um dos grandes achados para a Filosofia Clínica. Reconhecer que o intersubjetivo se compõe de subjetivos que não podem ser enquadrados em nenhum universal objetivador da subjetividade. Objetivar e universalizar a subjetividade se mostra uma tarefa impossível em Filosofia Clínica. Cada subjetividade ou traduzindo para termos filosóficos clínicos cada Estrutura de Pensamento (EP) não pode ser classificada em uma universalidade que tenta deixar o desigual igual, o paralelo em serial. O relativismo geral passa a ser uma singularidade que se mostra em universo. O universo da Estrutura de Pensamento que
Discursos da água* “Tanto no líquido derramado quanto nas folhas levadas pelo vento, a desordem existe só para o observador incauto. Águas e folhas movem-se rigorosamente dentro de leis estabelecidas pela natureza.” Donaldo Schüler Uma fonte de matéria-prima se oferece num curso provisório que perdura. Ao ser incapaz de descrever idas e vindas, suas rotas e desvios parecem rumar para lugar nenhum. Um ponto onde tudo começa e se acaba para reiniciar. Sua transparência se dissolve em rastros de horizontes verticais, aprecia contar sobre suas origens ancestrais na confluência entre hoje e amanhãs. Riachos e córregos deságuam em rios a história plural. A interseção mista com as margens alterna a leveza dos passeios com a força dos tsunamis. É possível creditar-lhe a inspiração da vida ao seu redor, embora também ela seja refém de origens desconhecidas. Sendo uma versão sempre outra, se institui transgressora aos frascos que tentam lhe aprisionar, assim apodrece para se reinventa
Qualidade dos encontros Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre/RS O mundo em que vivemos é um convite explícito para encontros e conexões, seja de forma mais profunda ou superficial, pessoalmente ou por via eletrônica. Todos os dias, esbarramos, encostamos, tocamos e até nos fundimos com outras pessoas. São vozes, rostos, peles, maneiras de pensar e sentir, também de ver a existência, que de alguma forma acabam por integrar o nosso jeito de ser e estar no mundo. A qualidade das interseções é definida por vários fatores, entre eles a natureza de cada um, sua história, intenção, os objetivos e também o contexto.... Maior ou menor grau de intimidade ou de troca intelectual é estabelecido pelo quanto nos sentimos à vontade com a outra pessoa, o quanto confiamos nela, o quanto nos dispomos à exposição... Com o passar do tempo, vamos ficando mais ‘espertos’, com a percepção mais refinada, na avaliação daqueles com quem temos contato. Com alguns nos sentimos à vontade, aconc
O que aconteceu em 2009 Lúcio Packter Pensador da Filosofia Clínica Talvez cada vez mais podemos dizer cada vez menos de um ponto da história, uma vez que os elementos se combinam e muito do que aparece em uma época pertence a outra. Parece que em 2009 não deu para Aécio Neves, foi Serra, foi Dilma, foi Sarney ao contrário. Mas em 2010 poderemos saber que nada foi assim e que quem aconteceu de fato em 2009 sequer apareceu. Mas é parte significativa da história comemorar fantasmas. Eles enfeitam, distraem, porém também podem sustentar e erguer os eventos importantes que às vezes necessitam de um fantasma de prefácio. Como ficou aquele voo 447 da Air France? O apagão? A dinheirama na cueca, nas meias? O que de fato foi mais marcante em 2009? As mulheres iranianas protestando, a China novamente, a recessão acabando, Michael Jackson? Se depender da subjetividade, Claude Lévi-Strauss, em Filosofia, vem antes. John Updike também partiu, mas nos fios que constroem a história, não
Fragmentos filosóficos delirantes XXXVII* "Se não fizesse versos Enlouqueceria. Minha saúde mental Depende da poesia. Se não fizesse versos Me suicidaria. Só na estrofe retorna A perdida alegria. Só no poema ultrapasso O limite do tédio. Para o poeta, a metáfora É o único remédio." "Cansei de amor de brinquedo Eu quero amor de verdade Quero sentir que a saudade Está judiando de mim Não quero dizer amor com o coração sossegado Quero pecar sem pecado E andar sorrindo sozinho Até que falem de mim Talvez me chamem de louco Esta loucura eu desejo Eu quero amor de verdade Cansei de amor de brinquedo." “Toda a página em branco Merece um poema. Não devemos viver Cada minuto da vida?” “Um dia eu caminharei na paisagem azul Com a surpresa de nascer de novo. E se tiver sede na jornada eterna Beberei orvalho em lírios transparentes” * Prado Veppo - Médico psiquiatra e poeta santamariense. Querido professor de literatura. Já na década de
Fragmentos filosóficos delirantes XXXVI* "Se se morre de amor! — Não, não se morre, Quando é fascinação que nos surpreende De ruidoso sarau entre os festejos; Quando luzes, calor, orquestra e flores Assomos de prazer nos raiam n'alma, Que embelezada e solta em tal ambiente No que ouve, e no que vê prazer alcança! (...) Amar, e não saber, não ter coragem Para dizer que amor que em nós sentimos; Temer qu'olhos profanos nos devassem O templo, onde a melhor porção da vida Se concentra; onde avaros recatamos Essa fonte de amor, esses tesouros Inesgotáveis, d'ilusões floridas; Sentir, sem que se veja, a quem se adora, Compr'ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos, Segui-la, sem poder fitar seus olhos, Amá-la, sem ousar dizer que amamos, E, temendo roçar os seus vestidos, Arder por afogá-la em mil abraços: Isso é amor, e desse amor se morre!" "E eu amei tanto! — Oh! não! não hão de os homens Saber que amor, à ingrata, havia eu dado;
Escritura Idalina Krause Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Escrever é desacordar Uma solidão brutal Somos "pugilistas" Socamos hipocrisias Vitórias momentâneas Lutas marcadas E o mundo lá fora Mas um "cheiro" cai bem Aquece entranhas Tempera criações Tchau!
Por que estudar a Filosofia da Mente ? Mônica Aiub Filósofa Clínica São Paulo/SP Alguns pensadores defendem que a filosofia da mente é a metafísica contemporânea, ou seja, aquela que se dedica à busca dos fundamentos de nossas formas de vida. Esta é uma pergunta muito comum. Algumas respostas iniciais assemelham-se aos motivos pelos quais estudamos o cérebro. Mas mente e cérebro são a mesma coisa? O que vem a ser a mente? Não seria esse, um campo da psicologia? Ou seria um estudo próprio da medicina, em especial da psiquiatria? Ou ainda, não seria melhor abordar o problema a partir da neurociência? Mais precisamente, o problema da filosofia da mente é o problema mente-corpo. John Searle, em Mind, aponta alguns motivos pelos quais os métodos utilizados pela ciência para estudar a natureza são insuficientes para estudar o mental, entre eles: subjetividade, consciência, intencionalidade e causação mental. Podemos mapear o cérebro com tomografias, ressonâncias e outros exames,
Agendamentos Miguel Angelo Caruzo Filósofo Clínico Juiz de Fora – MG Recebemos ao longo de nossa existência uma série de agendamentos. Entenda-se agendamento como influência recebida por diversos meios e que exercem algum tipo de reação em nós, moldando o que somos. Na sociedade encontramos uma série de influências que são aceitáveis coletivamente por se tratar de conteúdos geralmente expressos por autoridades como a ciência, a psicologia, os meios de comunicação, a religião, etc. Ao nos depararmos com situações diversas do nosso cotidiano, os que tendem a querer uma explicação plausível, recorrem a essas explicações prontas. Por exemplo, uma pessoa se encontra triste e resolve ficar fechada em seu quarto por um tempo. Na primeira tentativa de explicar o que está acontecendo com essa pessoa o que comumente pode vir é o diagnóstico de depressão. Pronto! Já sabemos o que nosso amigo, parente, ou nós mesmos temos. Como se tudo fosse tão fácil de definir desse modo. O erro pare
Papel existencial ou escolha nossa de cada dia Rosângela Rossi Psicoterapeuta e Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG Televisão desligada. Que delícia! Nem novela, nem BBB. Noite quente com céu estrelado. Janela aberta para o mundo. Ar entrando no peito e reflexão sobre os papéis existenciais e as escolhas nossas de cada dia. Em nossa incrível singularidade vamos escolhendo o que fazer e o como fazer num mundo cheio de possibilidades. A ação nossa de cada dia imprime nossa marca registrada. Em cada lugar e circunstância fazemos um tipo de escolha. Somos multiplos e plurais. Capazes de diversificação e papeis diferentes. Se assim não acontecesse estaríamos engessados atrás de uma persona, máscara. Porque somos livres, seres da escolha, vamos trocando de papéis e de máscaras. Ilusoriamente pensamos que temos que apenas ter um só papel existencial em todos os lugares. Se isto acontecesse... O professor ao invés de ter o papel de pai, ou de marido, ou de amigo, seria em to
Simples assim Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Mais do que o refrão de uma das mais famosas músicas do Cazuza poeta, ‘ideologia, quero uma pra viver’ parece ter se tornado um mantra sagrado ou grito desesperado de muitas pessoas. Qual é o sentido da vida? Pra que viver? Qual é o verdadeiro significado de tudo isso? Questões como esta acompanham as pessoas todos os dias, colocando pontos de interrogação em acontecimentos, situações, relacionamentos, coisas... Algumas pessoas encontram sentido para a própria existência no desenvolvimento profissional. Para outras, a família é o centro de tudo. Algumas ainda orbitam sua existência em volta da satisfação dos sentidos, da busca dos prazeres... As opções são tão numerosas quanto são as pessoas vivas neste planeta. Algumas pessoas, inclusive, fazem da busca de um sentido para a vida o próprio sentido da vida. E nisso não reside novidade alguma. O que seria da filosofia e da história do pensamento da humanidade, nã
Fragmentos filosóficos delirantes XXXV* "Esperar clarear, para andar no calçadão. Quando me recomendou arejar o juízo andando no calçadão, meu combativo analista me disse: "Você vai fazer uma coisa que vai mudar a sua vida." Como todo mundo, principalmente escritor, quer mudar de vida, topei. De fato mudei, agora fico bestando, esperando clarear para andar no calçadão." "Recebo uma beijoca de uma senhora encanecida, que se confessa minha fã. Emocionado, fecho os olhos e penso que foi a moça do saiote. Agradeço penhoradamente e sigo em frente glorioso." "Ao atravessar a avenida para tornar à casa, topo com Zé Rubem Fonseca, barbado e embuçado, que finge que não me vê. Deve ter ingressado na carreira de crítico literário. Ou então deve ter acatado um conselho do analista dele. Deixo-o em paz. Mais tarde telefono e digo a ele que meu computador é maior que o dele. Isso mata o bicho." "Primeiro o expediente. Dois fax ( faxes ? Pensando
Fragmentos filosóficos delirantes XXXIV* "A vida só é possível reinventada. Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas... Ah! tudo bolhas que vem de fundas piscinas de ilusionismo... — mais nada. Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada." "Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: — Em que espelho ficou perdida a minha face?" "Não te aflijas com a pétala que voa: também é ser, deixar de ser assim. Rosas verá, só de cinzas franzidas, mortas, intactas pelo teu jardim. Eu deixo aroma até nos meus espinhos ao longe, o vento vai falando de mim. E por perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim.&quo

Visitas