Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de dezembro, 2011
Fragmentos filosóficos delirantes LXXVIII* "O futuro da loucura é o seu fim, a sua transformação numa criatividade universal que é o lugar perdido donde veio em primeiro lugar" "A loucura é a revolução permanente na vida de uma pessoa" "A loucura é a desestruturação das estruturas alienadas de uma existência e a reestruturação de um modo de ser menos alienado" "Desestruturar/reestruturar segue uma racionalidade dialética, uma racionalidade de superação. É esta a lógica de toda a forma de atividade criadora, e também a lógica da loucura e a linguagem da loucura" "Não-psiquiatria significa que o comportamento profundamente perturbador, incompreensível e 'louco' deve ser contido, incorporado na sociedade global e nela disseminado como uma fonte subversiva de criatividade, espontaneidade, não-doença" "O novo fator revolucionário é que as pessoas começam a fazer amor em vez de se limitarem a foder para procriar par
Simplicidade Beto Colombo Empresário, Filósofo Clínico, Coordenador da Filosofia Clínica na UNESC Criciúma/SC Querido leitor, que você esteja bem. Nosso tema hoje é discorrer sobre simplicidade. Você já reparou que o que está dando certo hoje são as coisas simples? O sistema de produção mais usado nos últimos tempos é o chamado Teoria das Restrições, Produção Puxada ou Teoria dos Gargalos, algo extremamente simples de ser compreendido e utilizado. O aparelho de celular mais desejado é o Ifone, exatamente o mais simples de operar, e assim por diante. Poucos aguentam as empresas sofisticadas, complicadas, metidas, arrogantes. Pessoas com comportamento simples, empresas simples, fáceis, terão boas chances de serem as vencedoras. Se o chique é ser simples, então, para que complicar? Pesquisas mostram que o principal atributo de profissionais que são os melhores colegas de trabalho é a simplicidade. E pessoas simples fazem uma empresa simples. E boa parte das pessoas tem pavor
Certas loucuras* Luana Tavares Filosofa Clínica Niterói/RJ A loucura por um amor! Quase inexplicável... Aliás, talvez seja melhor nem tentar. Pois como explicar o que se sente? Como entender o que se pensa? E, pior, como resistir? Ou melhor, para que resistir? Amores possíveis, alguns nem tanto... Amores sofridos, amores alucinados, amores inebriantes. Sentidos arrastados para tudo que invoca; Sensações tão intensas que até incomodam E muitas vezes confirmam incoerências. Qualquer som, cor, cheiro, toque ou sabor, qualquer outro sexto sentido; Qualquer trilha que a ele conduza, Através de tantos sentidos... até mesmo os incompreendidos. Amores que se vão, que nunca existiram, que se intui, que revolta e que extravasa Amor que transborda. Que confere magia, Que identifica, Que transforma. E até amor que paralisa... que não segue em frente, pois não se realiza. Amores que se perdem ou que se deixam perder, Que se efetivam a distância ou em ínfimos momento
QUEBRANDO O PARADIGMA* Ildo Meyer Médico, filósofo clínico, escritor Porto Alegre/RS Quando iniciei minha residência médica em anestesiologia, excitado com a possibilidade de controlar a dor perioperatória e suas conseqüências, dei vazão a meu lado filosófico e descrevi assim minhas expectativas em relação ao conhecimento por adquirir: “Tomei uma decisão, vou me preparar com o objetivo de fazer com que as pessoas não mais sofram, nem que para isso tenha que fazê-las dormir”. Eram palavras espirituosas, mas refletiam um sentido mais amplo para a anestesia. Além de aliviar a dor, fazer dormir e acordar, queria tratar, e se possível eliminar o sofrimento emocional decorrente do adoecer. Estava iniciando meu treinamento, não tinha a menor idéia de como lidar com emoções, mas imaginava que associado a outras alternativas, o sono poderia servir como um bálsamo para o sofrimento humano. Sofredores das mais varia
Felicidade Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Filosofa Clínica Juiz de Fora/MG Que nossa natureza é felicidade Podem ter certeza. Ela é nossa alma Independe do ter, Ela é e pronto. Acontece... Que, na maioria das vezes, A buscamos nas coisas. Ai...ficamos a chupar o dedo. Frustração. Não porque ficamos infelizes, Ficamos tristes pela falta de Realização dos nossos desejos. Tristeza e alegria São um estar. Felicidade é ser. Casa bonita, viagens fabulosas, Carros e príncipes e princesas, Estão na lista desejosa... Que podem trazer alegrias Momentâneas. Nas faltas sentimos tristeza. Na alma mora no que não esperamos, Gratuidade natural. Felicidade por nada, Pois o nada é tudo no sentir. E infelicidade o que é? Pode ser um vazio De tanto correr em busca Do ter e não ser. Somos felizes. Que tal lembrarmos sempre disto? Como? Encontrar a alma, que está dentro E também fora, no mundo.
Fragmentos filosóficos delirantes LXXVII* "Há uma espécie de loucura da visão que faz com que, ao mesmo tempo, eu caminhe por ela em direção ao próprio mundo e, entretanto, com toda a evidência, as partes desse mundo não coexistam sem mim." "O outro é o titular desconhecido dessa zona não minha." "Um mistério familiar e inexplicado, de uma luz que, aclarando o resto, conserva sua origem na obscuridade." "A certeza de que as coisas tem outro sentido além daquele que estamos em condições de reconhecer." "Nossa vida possui, no sentido astronômico da palavra, uma atmosfera." "Aparentemente, essa maneira de introduzir o outro como incógnita é a única que considera sua alteridade e a explica." "Esse mundo que não sou eu, e ao qual me apego tão intensamente como a mim mesmo, não passa, em certo sentido, do prolongamento de meu corpo; tenho razões para dizer que eu sou o mundo." "O espetáculo tinha sent
Fragmentos filosóficos delirantes LXXVI* "Pois afinal de contas tudo está fora, tudo até nós mesmos: fora, no mundo, entre os outros. Não é em sabe-se lá qual retraimento que nos descobriremos: é na estrada, na cidade, no meio da multidão, coisas entre as coisas, homem entre os homens." "Para compreender as palavras, para dar um sentido aos parágrafos, é preciso primeiro que eu adote seu ponto de vista, que eu seja o coro complacente. Essa consciência só existe por meu intermédio; sem mim haveria apenas borrões negros sobre folhas brancas." "A medicina chama esses sonhadores acordados de esquizofrênicos, cuja particularidade, como se sabe, é a de não poder adaptar-se ao real." "O ponto de partida é o fato de que o homem nasce da terra: ele é 'engendrado pela lama'. (...) ele é o produto de uma das inumeráveis combinações possíveis dos elementos naturais." "Para rasgar os véus e trocar a quietude opaca do saber pelo espanto
A essência das brisas* Hoje amanheceu sol outra vez, A tarde ficou escuro e choveu, De noite o céu já oferecia estrelas, Amanhã ainda não sei, Pode chover_sol, depois anoitecer, Talvez uma inédita desordem, Instantes num tempo qualquer, Parece sempre existir algo mais, Depois que tudo acontece, As aparências vigiam paradoxos, Para sustentar ilusões, Entre nada e tudo, O presente está num e outro: Nada pode ser tudo, tudo pode ser nada, A brisa é suspeita por ser livre, Pra se saber quanto tempo resta, É só sentir se o coração ainda dispara, Entusiasma a si mesmo e indaga: Para saber se ainda lhe fica bem a vida, *Anônimo,
PONTO DE VISTA* Will Goya Filósofo Clínico, Poeta Goiânia/GO Conseguir no querer prédio intensamente, sem sentido. Quase palavras, nada mudo. Não deixa dizer! Imensidão mais forte alto. Va-ga-ro-sa-men-te. Para! ... Pera pira pora, puríssima. Do que mesmo você não se lembra? Sobre o que você não quer falar? Pensa que sou cozinheira já pensando o tempero... A bebida e o marido? Eu não sei. É... Talvez, hã? É... Hã? Eu não sei. Por que tudo eu, logo eu, sempre eu? Limão, navio... E adoro geleia! O carro é azul. – Silêncio, vou limpar o ouvido! O cotonete? Época de vestibular... Não imaginam que talvez eu seja feliz, desse jeito Em algum lugar entre lá e aqui. E me chamam de louco! Acha que isso não exige coragem? Nessa vida, quem não rala não faz pamonha. Eu me pergunto: De quem deve ser a compreensão, a compreensão? Há compreensão? *Apaixonado por Filosofia e Psicologia, perguntei-me sobre o que faz de alguém “louco” ou “normal”. A resposta é um po
Farol da Vida Pe. Flávio Sobreiro Filósofo Clínico,Poeta Cambuí/MG Na antiguidade, quando os faróis ainda não existiam, acendia-se uma grande fogueira no alto de uma torre para que os barcos que se encontravam em alto mar pudessem se orientar. Ver a luz da fogueira à distância era sinal de que a tripulação do barco não se encontrava mais perdida em alto mar. Com a luz da fogueira o barco poderia chegar com segurança em terra firme. Com o surgimento dos faróis, o trabalho ficou mais fácil, porém a utilidade dos mesmos até hoje continua sendo a mesma da antiguidade: orientar o barco de maneira segura. O farol tem sua utilidade principal quando é noite. Mesmo a grandes distâncias no escuro da noite ou no meio de uma tempestade o farol cumpre a sua função: indicar por meio da luz o caminho certo a seguir. Na escuridão o farol é guia seguro para quem se perdeu em alto mar, e sozinho não é capaz de regressar à terra firme. Muitas vezes nos encontramos como um barco perdido em
Luz-cidez Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Filosofa Clínica, Escritora Juiz de Fora/MG Não sou minha profissão Sou minha alma Não preciso dos titulos para me apresentar Sou o que sou Sem máscaras e disfarces. Consegui minha carta de alforria Apenas vivo com coração pensante Por vezes apaixonada, fogo intenso Em outra hora, lago amoroso pura poesia Vento nos voo da borboleta, ar sutil Sou terra com pés caminhantes Peregrina no agora Cansei de estar sucumbida pela sedução Joguete das multimidias Objeto a ser consumido Não preciso me submeter a mediocridade Estar escrava das ilusōes da maioria Posso escolher trilhar a liberdade Sou hoje tudo que construi Ninguém me tira a dignidade de ser Por inteiro Abro a janela Mesmo sem sol lá fora O aqui de dentro brilha
Exercícios de Liberdade Jussara Hadadd Terapeuta Sexual, Filosofa Clínica Juiz de Fora/MG Não existe tempo na história do homem para definir o início do seu tempo de liberdade. As pessoas confundem liberdade com vários outros aspectos da vida. Talvez sem censura, talvez sem limites, talvez segura, talvez indiferente, talvez sozinha, talvez congruente, onde um mais um é um. Talvez imaturo ou maduro demais, ou ainda talvez, representando ser um ou outro. Ou então, ainda fingindo não ser nada nem ninguém. A verdade, para mim, é que o tempo de liberdade, hoje, é aquele em que conto os minutos para deixar de vez, de lado e para trás, qualquer incomodo, mazela, arrependimento, tristeza, mágoa, rancor, ciúmes, inveja, medo, principalmente o medo. Deixar para trás o medo de ser livre e feliz. Deixar para trás, toda minha incapacidade de amar, todo o meu medo de me doar por inteiro, sem esperar nada em troca. Para muitos não é fácil, mas certamente é alvo. Talvez inatingível em um pr
Janelas e ventos* Existem janelas a espera de ventos, Onde nunca será cedo ou tarde, Ventos em busca de janelas, Lugar a sugerir vazios, Rastros invisíveis, pegadas sem pé, Embala procuras, esconderijos, Um agora oratório, confessionário, Anuncia anjos decaídos, O inesperado amanhã, Intui desejos inconfessáveis, Alvoroço de asa sem voo, Imensidão de vontades sem lei, A janela persegue ficar, O vento sugere partir, Um e outro são instantes, Rascunho aproximado, lonjuras, *Anônimo
Fragmentos filosóficos delirantes LXXV* "Há em cada pessoa, uma pluralidade, uma coexistência de léxicos; o número e a identidade desses léxicos formam o idioleto de cada um." "O sentido obtuso parece desdobrar suas asas fora da cultura, do saber, da informação; analiticamente tem algo de irrisório; porque leva ao infinito da linguagem, poderá parecer limitado à observação da razão analítica; pertence a classe dos trocadilhos, das pilhérias, das despesas inúteis; indiferente às categorias morais ou estéticas, enquadra-se na categoria do carnaval." "O fílmico é o que, no filme, não pode ser descrito, é a representação que não pode ser representada. O fílmico nasce exatamente onde cessam a linguagem e a metalinguagem articulada." "Dionísio é um deus complexo, dialético; é a mesmo tempo um deus infernal e da renovação; é o próprio deus desta contradição." "É necessário lembrar que a classificação das vozes humanas - como toda classif
Sons da alma Luana Tavares Filósofa Clínica Niterói/RJ Existem sons que vem de algum lugar que não distinguimos. Até conseguimos ouvi-los, mas eles nos surpreendem como se fossem brumas sonoras a se espalhar pelo ar... Essas ondas se espalham, penetram os sentidos e invadem expectativas, preenchendo entranhas e formando novos sonhos. Às vezes, formam delírios e transportam a outros mundos. Outras vezes, recordam instantes de êxtase que se propagam como impulsos a invadir destinos. Mas podem também massacrar como ferros, rasgando e ferindo, sepultando lembranças. E há os sonhos que cristalizam o momento, não permitindo que o tempo caminhe... ou talvez apenas o torne lento para que seus passos sejam marcados pelo deleite de um clímax anunciado. Esses momentos são como pérolas resgatadas que reverberam a concha que as abriga. Esses acordes iluminam os corações em sua mais íntima vibração, mas em segredo, de forma quase imperceptível, num ímpeto que ninguém consegue perceber
Freios existenciais Lúcio Packter Pensador da Filosofia Clínica Quando você for à bela cidade de Dourados, interior do Mato Grosso do Sul, observe que ela não possui subidas e descidas. Tudo é plano, tudo é povoado de planícies, poucos prédios, bicicletas por todo lado, árvores. Caso comprasse algum patinete para transitar pela região, provavelmente não seria necessário que tivesse um daqueles freios de mão. Para quê? Em lugares assim, a gravidade é o melhor e o mais suave freio ao embalo macio que traciona as rodinhas delicadas do patinete. No entanto, há modelos importados que já trazem o freio, modulado por um cabo, que naturalmente faz parecer necessária esta peça acoplada ao veículo. Acredito que alguns ficariam surpresos se soubessem que um patinete não precisa de freios. Talvez não comprassem, talvez devolvessem achando que tivesse um defeito. Lembro disso quando encontro seguidamente no consultório pessoas cujas construções semânticas, sintáticas, gramaticais trazem
Alegoria da Matrix Pedro de Freitas Jr. Filósofo Clínico Florianópolis/SC Quando Platão escreveu a “Alegoria da Caverna”, ele provavelmente não previu que seria adaptada a qualquer outra forma de mídia. No entanto, o filme Matrix conseguiu trazer a metáfora de Platão, ao século 21. Para começarmos a entender esta comparação vamos a um trecho da Alegoria: Imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresen
Poentes do que ficou Pe. Flávio Sobreiro Filósofo Clínico, Poeta Cambuí/MG Saudade é a palavra que se foi, o abraço que não se despediu, o olhar que se eternizou, a lágrima que ainda não rolou. Talvez uma das palavras mais complexas de se definir seja a saudade. O que não se pode explicar o silêncio eterniza. Saudade eternizada é aquela tarde que ainda vive nas estações da alma. É a chuva que ainda caí nas manhãs de inverno da alma. O que fica da saudade é uma cicatriz silenciosa. Após a vida cumprir seu processo de cicatrizar a dor do que se foi, o silêncio não consegue verbalizar o que ainda vive. A vida que ainda cumpre seu ritmo nas esquinas das lembranças faz-nos deparar com aquilo que ficou estacionado no semáforo das emoções. Andamos por ladeiras e navegamos em oceanos tempestuosos de sentimentos que não conseguimos expressar. Será a saudade um lugar perdido nas montanhas de nossa alma? Ou será que a tendo encontrado não conseguimos mais abandoná-la e lhe juramos fidel
Diálogo Anormal Beto Colombo Filósofo Clínico, Empresário, Coordenador da Filosofia Clínica na UNESC Criciúma/SC Querido leitor, que você esteja bem. Hoje vamos fazer um diálogo anormal. Dias desses, atendi um novo partilhante que entrou no consultório e, de pronto, me disse: “Eu não consigo me adaptar nesse mundo. Será que eu sou anormal?” Confesso que a frase me pegou de chofre e me fez refletir alguns segundos, enquanto ele se ajeitava na poltrona. Perguntei-me silenciosamente naquela fração de segundos: O que é ser normal? Minha resposta, naquele momento, foi mais ou menos assim: Bem-vindo querido amigo! Normal, como o nome já diz, é todo aquele cidadão que está de acordo com a norma, com um padrão pré-estabelecido. Mais do que isso: é parecido com todo mundo nas ações, que é como todo mundo é, pensa parecido como todo mundo pensa, vive como todos vivem, sente como todo mundo sente. - Então eu não sou normal. - Afirmou meu partilhante. Meus pensamentos teimavam em v
Fragmentos filosóficos delirantes LXXIV* A Mulher Madura O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos. De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé. Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda. A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as c
Sexo e Desejo Rosângela Rossi Psicoterapeuta e Filosofa Clínica Juiz de Fora/MG Corpo quente e ardente de tanto querer. Alma saindo pelo coração de tanta paixão. Humanos sedentos de encontro e tesão. Tudo seria lindo e perfeito se compreendessemos nosso corpo do desejo. Com certeza o sexo seria poesia e a alma agradeceria. Mas, somos humanos, demasiadamente humanos com todas as imperfeições que temos direito. Aprendizes, se humildes. O desejo nasce da falta. O que nos falta? Nos falta o outro. Assim nosso corpo deseja a fusão para sentirmos, por um só momento, plenos. Somos todos seres incompletos na falta. Desejosos do gozo, do nirvana , do morrer e do nascer no encontro. Por que então o sexo não tem cumprido sua função transcendente? No tempo que a imagem se faz mais importante, o foco não é mais o encontro, porém o desejo narcisista de se mostrar para seduzir e competir. Busca-se o corpo ideal renascentista, sempre jovem. E como a maioria não serve para capa de rev
Debaixo de sol e chuva Luana Tavares Filosofa Clínica Niterói/RJ Nos nasceres e ocasos, percebemos o tempo, o vento, o cotidiano e tudo o que nos aquece ou nos esfria. Percebemos o mundo girar e caminhar em direção ao que não importa, pois ninguém nos pergunta se queremos ir ou não. Tal como o olhar do pescador que se perde no horizonte e cumpre seu destino desvendando o improvável – apenas pelo sentir da serena brisa na face ou pelo tremular da onda que vem ao longe – também somos impelidos aos dias e noites, como marionetes que indagam e que se encantam, sem saber exatamente pelo que. E assim, da mesma forma que o pescador pressente as respostas, mas não interfere, apenas observamos e executamos nossa parte, na rede quase eterna que mal começamos a vislumbrar. Vivemos num mundo e numa época de extremos, onde o que é percebido nem sempre coincide com a realidade. Na estreita faixa atmosférica na qual organizamos nossa realidade, nem sempre chove ou faz sol; na verdade, nem
CONJUGAÇÕES NO TEMPO DE AMAR Will Goya Filósofo Clínico, Poeta. Goiânia/GO Caminhava à janela por um instante de vida, para vê-la. Ela sorriu pra mim. O que dizer? Meus pensamentos tinham perfume, cheiro de céu azul. As palavras de tão leves desapareciam-me como folhas de arco-íris ao vento... Sem corpo, sem licença, eu me abandonei a ela Como quem se abandona à cama, ao sabor do sono, Com desejos de sonhar. Ainda que estivéssemos no inverno, A aurora, que doura todas as coisas, queimava Emoções de baunilha em toda parte. O vento morno da primavera lhe arrancava pedaços De um fino e discreto cheiro gostoso de mulher, Que em mim se deitava à pele. Sua honestidade silenciosa de apenas me olhar e me sorrir Ardia-me um desejo de ter direito a uma ternura Inesperadamente minha, Que não era outra coisa se não vida. Nos corredores da faculdade em que eu lecionava, as portas das salasde-aula tinham pequenas janelas de vidro. Então imaginei com os meus sentimentos
Fragmentos filosóficos delirantes LXXIII* "Ele perde tudo - até a si mesmo. É só tocar o fundo de um inferno sem Deus, que a identidade desaparece." "Ele não diz quem é porque não sabe. Seu nome é uma mentira, e com essa mentira desaparece a realidade de seu mundo." "Pedir vida as palavras é arriscar-se a ser esmagado por elas." "A obra que desperta nosso senso de literatura, que nos dá um novo sentimento do que a literatura pode ser, é a obra que muda nossa vida. Muitas vezes, parece improvável, como se surgisse do nada, e por estar tão implacavelmente fora da norma, não temos escolha a não ser criar um novo lugar para ela." "O indizível gera uma poesia que ameaça continuamente ultrapassar os limites do dizível." "O poeta como errante solitário, como um homem na multidão, como um escriba sem rosto. A poesia como uma arte da solidão." "Poesia é exílio e uma forma de chegar a um acordo com o exílio que, de a
Alquimias* Arquétipos, milagres, feitiços, Muambas, mucambos, tendas, Atabaques, rituais, senzalas, Danças, molejos, desenvoltura, Cor, sabor, agridoce, Suor, calor, frescor, Banho de mar, de lua, de sol, Território de promessa, Miscelânea de ilusões, paixões, ressacas, Saudades, ruas desertas, um talvez, Viagens, utopias, poesia, Sereias, elfos, fada, Tachos, riachos, sonhos, Miragens, vadiagens, orgasmos, Pinturas, texturas, aromas, Interseção supernatural, filosofia, *Anônimo,
Fragmentos filosóficos delirantes LXXII* "Para compreender o delírio devemos fazer um salto de um mundo vital para outro, no qual todos nós temos uma obscura aptidão, não pelo fato de termos delirado, mas porque podemos fazê-lo" "Quando a vida se torna invivível, deve-se inventar uma vida nova" "No decorrer da existência, cada indivíduo experimenta, então, diferentes versões de si mesmo, que incluem trechos não traduzidos na linguagem das camadas seguintes" "O sujeito delirante é incoerente e absurdo somente em relação ao mundo compartilhado, porque é muito coerente e razoável na ótica do mundo 'substituto'" "O delírio dilacera o cenário opaco do mundo da vida, dado por todos como pressuposto, e o coloca em discussão abertamente. Onde nada é óbvio, tudo deixa de ser familiar, tudo é submetido a um exame cuidadoso e a uma revisão radical" "Mais do que um defeito ou uma ausência, encontra-se no delírio uma plenit
Um copo de leite e duas vidas Pe. Flávio Sobreiro Filósofo Clínico, Poeta Cambuí/MG Há histórias que podem mudar nossa maneira de pensar e olhar para a vida. Não sei se a história que vou lhes contar é verdadeira ou não. Mas de uma coisa eu sei: ela pode modificar seu modo de ver o mundo. Ela pode tornar você uma pessoa mais agradecida. Havia um menino muito pobre. Vendia doces para ajudar a família. Muitas pessoas fingiam que ele não existia. De fato, milhões são os invisíveis de nossa sociedade. Você se lembra de alguém que fingiu não existir? Certa manhã fria, este mesmo menino bateu à porta de uma casa, na qual morava uma moça muito pobre, porém o coração da mesma era de uma solidariedade imensa. Ao se deparar com aquele menino de olhar triste e trajes humildes, seu coração foi tocado de uma ternura e compaixão sem limites. Ela disse a ele que não possuía um centavo naquele dia, o que de fato era verdade. No entanto ela o convidou para adentrar em sua humilde casa e l
Porque nada está pronto* “Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam” (João Guimarães Rosa) Em nenhum lugar está escrito que a vida seria um mar de rosas em tempo integral. O mais provável é que os caminhos sejam, para a grande maioria dos seres mortais, de desafios que alternam as estruturas e surpreendem até a si mesmos, sem prévio aviso e regado com profusão de ritmos. Mas parece que de alguma forma acreditamos nesta possibilidade. Nesta esperança que impulsiona sentires em direção a algo no qual acreditamos. Todo amanhecer pressupõe renovação, até mesmo quando nada se manifesta. É como uma flecha se encaminhando de forma precisa para onde supomos não haver nada. Quantos vazios se escondem na multidão... quantos temores vãos se reconhecem e se proliferam, na tentativa de ganhar espaço nas veias abertas das dores e dos dissabores... quantos

Visitas